terça-feira, dezembro 06, 2005

Entretenimento dos bons

Vou escrever uma coisa aqui que vai fazer muita gente gritar: “Heresia!” e começar a rasgar as roupas, jogar terra sobre a cabeça, bramindo: “Vendetta! Cão infiel!”
Imagino um monte de cinéfilos decretando uma “fatwa” contra mim, mas mesmo assim eu assumo o que vou escrever. Lá vai:
Eu prefiro a série “Harry Potter” à trilogia Senhor dos Anéis.
Pronto! Falei. Já posso ouvir daqui os gritos irados dos adoradores da saga do J.R.R.Tolkien.
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Antes que alguém caia de cimitarra no meu pescoço, deixa-me esclarecer que não acho ruins os três filmes “Senhor dos Anéis”, ao contrário. Reconheço que foi um enorme feito filmar tudo aquilo direto e depois editar em forma de trilogia. Os desempenhos são excelentes a direção do Peter Jackson é memorável etc. etc. etc. Mas... em se tratando de ambientes mágicos, considero os filmes Potter muito mais instigantes à minha imaginação do que aquela porradaria sem fim das aventuras tolkianas.
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Eu não li nenhum dos livros em questão, nem os da série do bruxinho inglês, nem os tijolaços que contam a saga do anel mágico. Estou falando estritamente dos filmes. Eu até pretendo ler os livros da J.R. Rowlings, assim que eu terminar o que estou lendo. Sei que nos livros existem muito mais tramas que não cabem num filme de duas horas, duas horas e pouco.
Acabei de sair do cinema, onde assisti a “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, quarto filme da série. São 157 minutos da mais pura magia cinematográfica. Entretenimento dos bons. Se o filme durasse umas cinco horas eu ficaria sem nem me mexer na poltrona, acompanhando tudo com o maior interesse. Já tinha sido assim com os outros três.
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É impressionante a imaginação dessa mulher! Eu vi, certa vez, num documentário, que ela teve a idéia de escrever o primeiro dos livros sentada em uma lanchonete, enquanto pensava no que daria para a filha comer naquela noite. A Sra. Joanne Kathleen Rowling estava numa pindaíba de fazer gosto e não conseguia arrumar um emprego fixo. Escreveu o “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, enviou-o para trocentas editoras, foi recusado por quase todas até que uma topou. E o resto é conhecido...
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Quando o primeiro livro chegou aqui e eu li as resenhas, arqueei as sobrancelhas: “êpa! Isso aí, até o visual, é o “Livro da Magia”!”
Para quem não é iniciado em quadrinhos: Neil Gaiman (ave, meste!), autor de Sandman e um dos maiores escritores de quadrinhos de todos os tempos, escreveu em 1991 a série “Livros da Magia” em gibi, onde o garoto Tim Hunter, lourinho de franja e óculos, é especialmente vocacionado como um (futuro) grande bruxo.

Aparecem alguns mentores para iniciá-lo nas artes mágicas e com isso ele e a sua coruja vivem grandes aventuras. Para mim, estava claro que a dona Rowling tinha chupado descaradamente a história do Gaiman para compor o seu Harry Potter.
Quando eu assisti ao primeiro filme, vi que a chupação não foi total. Foi, digamos, uma inspiração na série em quadrinhos. Depois fiquei sabendo que a criadora do personagem Tim Hunter era a inglesa Diana Wynne Jones. Em 1982 ela o apresentou no livro “Witch Week”. Gaiman leu e pediu autorização para desenvolvê-lo em uma história em quadrinhos. Se você quer saber mais detalhes, clique aqui ..
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Não vou nem me preocupar em escrever um resumo da história desse novo filme “Harry Potter”. Vou simplesmente recomendá-lo para quem gosta de fantasia, de um bom entretenimento, de assistir a uma obra que tem o ritmo dos gibis, enfim, para quem gosta de ver um show de imaginação. Tem uma cena que eu vou destacar por ter me dado umas boas idéias: na abertura do filme, Harry e seus amigos vão assistir ao jogo final da Copa do Mundo de Quadribol num estádio gigantesco. O jogo: Irlanda x Bulgária. Quando a seleção irlandesa entrou em campo, quer dizer, entrou no ar, estouraram vários fogos de artifício em tons de verde, formando no céu um Leprechaum – aquele duendezinho símbolo da Irlanda – que começou a dançar ao som de uma música típica. Na hora, me veio à mente uma final de campeonato no Maracanã: o Flamengo entrava em campo, estouravam fogos em preto e vermelho formando um urubuzaço de asas abertas, fustigando com suas garras a bunda de um portuguesinho com a camisa do vasco, que gritaria: “sucorro! sucorro!”. Heim, que tal? O jogo nem precisaria ser contra o vasco mas a imagem tinha de ser esta para fazer a gloriosa torcida do Mengão delirar de prazer.
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Ainda sobre o filme, o crítico de O Globo escreveu que não é grande coisa, logo... o que você está esperando para assisti-lo? Corra! Se os caras dizem que não presta é porque é muuuuuito bom! De fato, é.
M.S.

11 comentários:

Anônimo disse...

Sabe aquela música do Dalto? Não tenho muita paciência para filmes... mas aprecio ler os comentários de quem gosta. Vai entender? Faz um bom tempo que não vejo o final de nenhum filme, sempre durmo, não tem remédio melhor pra minha insônia. Já tentei 'Harry Floker' e 'O Senhor dos ... dos...' como que é mesmo o nome? Ontem assisti 'Como nascem os anjos', beleza de filme nacional, perdi o final, novamente. Sabe os filmes que gosto? 'Cães de Aluguel', 'Laranja Mecânica', 'O Carteiro e o Poeta' e a trilogia do Kristoxaewl Koslowekiyeasis (sei lá nome de polonôes!, rsrsrs), vermelho, azul e branco. Só escrevi isso pra poder palpitar, não ficar sem dar pitaco!

Anônimo disse...

ops, o correto é POLONÊS

Anônimo disse...

Concordo contigo,Marco,e não é puxa-saquismo. O "Senhor dos...",com licença do Ronie,é uma "anfetamina sonolenta" mesmo,e com uma fotografia sombria (será que falei alguma tolice?) demais para o meu gosto.

PS: estive fora da grande rede por cinco dias para esvaziar meu cansaço gripal.

Boa quarta-feira.

Marco disse...

Ronie: o nome do diretor é Krzysztof Kieslowski (quem é que sabe soletrar um nome desses?) e os filmes que você está falando são: "A Liberdade é Azul", "A igualdade é Branca" e "A Fratenidade é Vermelha". Eu não vi todos, só o primeiro (magnífico!). Curioso você dormir em cinema e gostar de filmes como estes que não são exatamente agitados. Tente dormir ANTES de ir ao cinema.
Paulinho grande Patriota: Senti falta dos seus comentários aqui no AT. Imaginei que você estivesse de férias. E aí? Já se livrou da gripe? Também andei baleado uns dois dias...

Anônimo disse...

Querido, adorei sua visita, venha sempre, madame quer te ver, quanto ao filme, levei meu filho no primeiro, só desculpa eu estava louca para assistir, mas ainda não tive a oportunidade de assistir aos outros, mas agora com sua recomendação...tô lá!!! rssrr... beijos de mim

Anônimo disse...

Cara, entendo que isso possa acontecer mesmo, he, he! Mas eu, particularmente prefiro mesmo Senhor dos Anéis! Não curto tanto o primeiro Potter...

Anônimo disse...

Assisti com uma namorada a um dos filme do Harry e gostei. Diversão garantida. Além de ter o mérito de incentivar a leitura entre os moleques. Esses críticos deviam se lembrar para quem escrevem.

Anônimo disse...

Grande Marco:

Teus posts porretas merecem comentário mais alentado de minha parte. Fiquei até "corado" por ser tão sucinto neste aqui. Perdão,não foi por preguiça. Mas sempre volto para reler.

É impressionante a qualidade dos blogs na Net,basta sair peneirando a ganga bruta que se acha o dourado metal de textos supimpas semelhante aos teus no ANTIGAS TERNURAS.

Quanto à gripe,já estou mais maneiro,mas como essa vilã da peste nos derruba fazendo-nos parecer um desgarrado,hein?

Abração. E "excelentável" quinta-feira.

Marco disse...

Querida Madame Mim, que prazer em tê-la a bordo! Pode ver a série toda com as minhas bênçãos que eu assino embaixo!
Marcelo: 9 entre 10 cinéfilos acham heresia eu preferir a saga Potter ao Senhor dos Anéis. Mas, como escrevi, minha imaginação não se instigou tanto por um quanto pelo outro.
Lúcio: Ora vivas! Quem aparece por aqui! Que bom que você apareceu. Você tem razão: quando eu vi a molecada enfrentando os tijolos da Rowlings, pensei que ela vale por cada centavo da imensa fortuna que ela ganhou.
Paulinho grande Patriota: No outro dia escrevi exatamente isso no blog da Ostra Nervosa. Que maravilha ver pessoas tão talentosas escrevendo tão bem como vejo nos meus passeios pelos blogs da vida. E certamente você é uma dessas pessoas.

Paulo Assumpção disse...

Pode me ouvir bradando "Herege!" daqui? Ok, não sou daqueles fãs radicais de "O Senhor dos Anéis", portanto entendo os seus argumentos. Os filmes do Harry Potter podem até ser visualmente mais fantásticos do que a saga do Um Anel, mas penso que falta a eles a capacidade de emocionar o público. Assisti a todos e, definitivamente, nenhum me empolgou. Sinceramente, se tivesse que ficar 5 horas assistindo a este "O Cálice de Fogo", penso que morreria. Estou seriamente inclinado a desistir de vez de acompanhar esta série. Mas como os próximos livros a serem adaptados me parece que tratam da guerra entre as forças de "Você-Sabe-Quem" e a galera do Bem, aproximando a trama dos épicos tolkien-jacksonianos (eita!), pode ser que eu ainda veja os derradeiros filmes do bruxinho. Sobre a história de J. K. Rowling, há quem diga que suas provações não passam de mais um conto de fadas. Na última semana mesmo, cogitaram até a não-existência de Mrs. Rowling. Esta história sim renderia um filmaço.

Marco disse...

Meu caro personal teacher: eu sabia que iria mexer em casa de marimbondo quando assumi que, em termos de ambientes mágicos, eu prefiro a saga Potter a trilogia Senhor dos Anéis. E vou mais além: ontem fui assistir a "Crônicas de Nárnia" e gostei dele mais do que da saga do Tolkien. Como escrevi, embora eu admita que os três Senhor dos Anéis sejam muito bem feitos, nenhum deles me emocionou nem um pouquinho. Não saí do cinema em nenhuma das três vezes com a cabeça fervilhando de idéias. Dos Potter, em todas as vezes fiquei bem mexido. Talvez por ser um apaixonado por quadrinhos e aquelas histórias têm uma estética bem "comics"...Sei lá. Sobre os mitos da Sra. Rowlings, chega a ser engraçado...É claro que a mulher existe (ela fala português, sabia? Morou em Portugal com o seu primeiro marido). Eu já vi um documentário no "People and arts" em que ela aparece falando sobre a própria vida e como escreveu as histórias do bruxinho. Eu não sei como será a carreira dela depois do sétimo e último livro da série. Espero que ela não vire uma espécie de Marion Zimmer Bradley, que só fez as Brumas de Avalon, como obra que prestasse. Ou como a Anne Rice que virou pastiche depois da trilogia Lestat.
Mas é isso: cinema é uma arte que "bate" de forma diferente nas pessoas. Divergimos nesta vez mas vamos concordar em muitas outras, estaja certo. Um abração!