“(...) mas num instante de eloqüência Bola-de-Neve arrastou a todos. Com sentenças ardentes, pintou um quadro de como poderia ser a Granja do Bichos quando o trabalho sórdido fosse sacudido de sobre os ombros de todos. (...)
Porém exatamente neste momento, Napoleão levantou-se e, dando uma estranha olhadela de viés para Bola-de-Neve, soltou um guincho estridente que ninguém escutara antes.
Ouviu-se um terrível ladrido lá fora e nove cães enormes, usando coleiras tachonadas com bronze, entraram latindo no celeiro. Jogaram-se sobre Bola-de-Neve, que saltou do lugar onde estava, mal a tempo de escapar àquelas presas. Num instante, saiu porta fora com os cães em seu encalço.” (pág. 45/46)
Eric Blair, vulgo, George Orwell (1903-1950)
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O trecho acima é do livro “Revolução dos bichos” (“Animal Farm”), em cuja história Orwell faz um paralelo entre a Revolução Bolchevique de 1917 e o ocorrido numa fazenda de sua fábula, quando os animais, liderados pelos porcos Sansão, Bola-de-Neve e Napoleão, tomaram o poder.
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“Havia uma claríssima evidência de prática sistemática de caixa dois. Eu tentei discutir isso na direção. Estavam amedrontados porque era o grupo do Lula e do Zé Dirceu, duas figuras da maior presença. Eu achei a questão tão grave que resolvi levar ao encontro nacional do partido, no Espírito Santo, onde havia de 600 a 800 delegados. Fiz um pronunciamento da tribuna, alertando o partido sobre a gravidade do que estava acontecendo. Comecei a falar, usei a expressão de que estávamos diante do ovo da serpente e que o partido claramente tinha de ter consciência do perigo representado pelo que estava ocorrendo. Eu estava falando e vi o Zé Dirceu levantar-se e ficar de frente para o plenário e de lado para mim. Eu continuei falando e o vi fazendo movimentos diante do plenário. Em seguida houve uma troca de gestos entre ele e alguns delegados do ABC (paulista).
Este grupo se levantou e partiu para cima de mim para interromper pela força o meu pronunciamento. Eram umas 20, 30 pessoas. Vieram para me dar porrada. Meus amigos levantaram, foi uma confusão. A convenção foi interrompida. Na seqüência eu fiz minha carta de desfiliação porque estava sendo eleita a nova direção nacional e o Zé Dirceu era candidato a presidente (...)”
Cesar Benjamim (economista e professor da UERJ, um dos fundadores do PT e membro do partido até 1995)
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No texto acima, Cesar relata, em entrevista à revista Época (27 de agosto/2005), o que aconteceu quando ele começou a descrever, na convenção nacional do Partido dos Trabalhadores, em 1995, as maracutaias do PT, ocorridas nas eleições do ano anterior.
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Qualquer semelhança entre as duas situações NÃO é mera coincidência.
M.S. (ex-eleitor militante do PT)
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9 comentários:
Percebeu que o Leônio não comenta esses posts? Parei de escrever sobre a decadência petista. Mas na casa dos outros pode não é mesmo? O petismo está totalmente desnorteado. Sempre foram os defensores da moral, da ética, do republicanismo, mesmo NUNCA sendo. Usavam ostensiva e sistemátiamente a máquina pública. Deveria ser para criar um novo humanismo. Fins justificam os meios, meios justificam fins. Não importa. O pior é que eu acreditava! Em 1999, ano que Roriz assume o segundo mandato (vocês falam do César Maia, mas precisam conhecer este cidadão), Brasília radicalizou chegando as beiras do insuportável. No serviço público não se podia vestir vermelho nem azul. Era rotulado imediatamente de petista ou rorizista. O pior, ou melhor, é que o cara está dando um show de administração priorizando obras viárias e concluindo a Esplanada dos Ministério. Ano que vem fica pronta a Biblioteca Nacional (é cariocas, perderam mais uma) e o Arquivo da República (não tenho certeza se é este o nome, a confirmar) e está pagando os passivos trabalhistas dos servidores. Brasília é um verdadeiro canteiro de obras. Alfinetada: sinceramente, acho que o Pan deveria ser aqui, temos melhores condições de organizar um evento deste porte e maior renda per capita do país (aqui as diferenças nacionais são acentuadas). Tá bom, tá bom, o Rio é mais bonito, tem o simbolismo do Maracanã, o lobby da Globo,blá, blá, blá... Falei demais, estou preparado para ser detonado pelos burgueses-do-capital-alheio que acreditam no Fórum Social Mundial (aquele encontro da UNE planetário) e no MST.
Ah, se for passar o final de semana em Brasília, pode fazer contato que tem festinha aqui em casa.
Tá aprendendo direitinho, acertou o relógio.
Meu comentáro é um post no Modos!
Eitcha! Que discussão só gosto assim: com sustança!
Vamulá, mestre Ronie: O PT foi ferido de morte. Mas não morreu. Provavelmente vai agonizar mas não vai desaparecer. Eu acreditava nele como alternativa ao neoliberalismo, ao Consenso de Washington que pregava (prega) uma única forma de se governar um país. O PT afirmava que poderia haver uma outra forma e eu (e muita gente) acreditei. No governo, eles dizem "ih, não tem outra forma, não! É só essa mesmo, de se abaixar até mostrar o rabo para a economia de mercado".
Pior: o partido optou por utilizar as práticas vis dos políticos de direita. Na verdade, o ovo da serpente já estava sendo chocado há muito tempo, vide a entrevista do Cesar Benjamin. Muita gente da militância está desiludido. Eu mesmo vou votar no partido 99 nas próximas eleições. Cansei de passar procuração para gente espúria governar em meu nome e fazer merda.
Ronie, sobre o Roriz, me desculpe, mas não levo a menor fé neste pusilânime fisiológico que é capaz de vender a mãe para alcançar o poder. Se realizou boas coisas, não fez mais do que sua obrigação. Tenho a impressão de que por trás destas coisas boas existem intenções más.
Caraco! Vamos perder a Biblioteca Nacional? Putz! Lá é um dos meus locais de trabalho! Tem época em que praticamente moro lá!
Sobre o Pan, não sei porque Brasília deveria leva-lo. Só porque você acha. O Rio tem muito mais vocação para eventos deste porte do que aí.
Infelizmente, neste final de semana estarei em São Paulo, para ver a minha namorada. Um dia vamos tomar um chopp. Com certeza.
Leônio, li o seu post no Modos. Respeito a sua posição de petista que ainda resiste. Eu pulei fora. Como escrevi antes, não acredito em Roriz. Ele não me inspira a menor confiança. Concordo com você em tudo o que escreveu sobre ele.
Marco. Não sou petista, na verdade sou apatidário, justamente por conta desta coisas que sei muito bem que acontecem. No entanto se tenho que escolher escolho com o qual acredito que pode fazer algo, mesmo o mínimo, para a população em geral. A abstenção, para mim e como se eu tivesse medo de errar e não querer a responsabilidade do meu erro para mim. Eu erro e assumo os risco. Por isso ainda voto no partido.
Respeito a sua posição mas...se eu erro, tento acertar na próxima. E hoje, 6 de setembro de 2005, minha escolha é pela mudança total. Se metade mais um anularem o voto, as eleições são canceladas e NOVOS candidatos terão que se apresentar para o escrutínio popular. Eu quero trocar tudo. Extirpar a gangrena social como um todo. Por isto, vou pro "99". Pode ser que eu reveja esta opinião amanhã, mas diante dos fatos que me são apresentados..."99"!
Cheguei do trabalho agora há pouco, vou assistir a novela e depois respondo. Também não acredito no Roriz, só escrevi o que ele fez! Por mim, ele voltaria para suas fazendas em Luziânia para passar seus dias finais, que nunca chegam.
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