Conheci pessoalmente o Milani em 1993. Eu estava ensaiando a peça “O Cortiço”, com direção do Sergio Britto e ele entrou para o elenco, substituindo o Luis de Lima, que tinha acabado de deixar o projeto.
Milani pediu ao Sergio para ter horário especial nos ensaios, uma vez que estava em tratamento de uma úlcera – adquirida, segundo ele, durante o seu mandato de vereador pelo PCB – e precisava se alimentar em casa, nos períodos prescritos pelo médico. Sergio concordou, pela oportunidade de ter na peça um ator daquele quilate.
De cara, fizemos alta camaradagem. Além de trabalhar como ator, eu ajudava o Sergio como pesquisador nos assuntos históricos e literários. A peça contava a história do célebre livro de Aluizio Azevedo, mas prosseguia, narrando a trajetória política do Brasil da Abolição até o combalido governo Collor. Na verdade, eram dois espetáculos em uma peça. Milani era grande conhecedor da nossa História e deu valiosas contribuições para o texto final. Conversávamos sempre sobre fatos históricos brasileiros.
Lembro que tinha uma cena em que dois atores cantariam aquele velho sucesso de Alvarenga e Ranchinho, “Eram duas caveiras”. Milani propôs que ela fosse cantada com primeira e segunda voz, exatamente como costumam fazer as duplas caipiras. Começamos a ensaiar nós dois. Eu me recordo precisamente daquela gargalhada dele quando eu errava a minha voz. E eu dizia, “vamos de novo, Milani, que agora eu não vou errar!”.
Ele acabou não podendo prosseguir no ensaio. Precisava levar a sério o tratamento da úlcera e o ritmo forte dos ensaios estava atrapalhando. Com tristeza, ele anunciou que teria de sair da peça. Todos ficaram tristes e eu mais ainda, por conta da amizade que tínhamos entabulado. Sergio Britto chamou o Tonico Pereira para o lugar dele e foi muito bom também.
Sempre que encontrava o Milani ia falar com ele e minha admiração só aumentava por aquele ator consagrado que nunca deixou de ser simpático com um jovem colega que não tinha fama nenhuma. Estivemos juntos no enterro do meu grande amigo Brandão Filho (que era amigo dele também) e falamos sobre como a morte é implacável.
Voltei a reve-lo quando fui assisti-lo no Teatro, numa peça em que ele atuava ao lado do saudoso Rogerio Cardoso, com quem eu também tive a chance de travar camaradagem. Foi a última vez que eu o vi.
Eu costumo dizer que quando uma pessoa morre é como se uma enciclopédia fosse destruída. No caso do Milani, perdemos uma biblioteca inteira.
Embora fosse comunista ferrenho e, consequentemente ateu, Deus acreditava nele e certamente reservou-lhe um lugar entre os justos e bons. Até mais, Milani !
Milani pediu ao Sergio para ter horário especial nos ensaios, uma vez que estava em tratamento de uma úlcera – adquirida, segundo ele, durante o seu mandato de vereador pelo PCB – e precisava se alimentar em casa, nos períodos prescritos pelo médico. Sergio concordou, pela oportunidade de ter na peça um ator daquele quilate.
De cara, fizemos alta camaradagem. Além de trabalhar como ator, eu ajudava o Sergio como pesquisador nos assuntos históricos e literários. A peça contava a história do célebre livro de Aluizio Azevedo, mas prosseguia, narrando a trajetória política do Brasil da Abolição até o combalido governo Collor. Na verdade, eram dois espetáculos em uma peça. Milani era grande conhecedor da nossa História e deu valiosas contribuições para o texto final. Conversávamos sempre sobre fatos históricos brasileiros.
Lembro que tinha uma cena em que dois atores cantariam aquele velho sucesso de Alvarenga e Ranchinho, “Eram duas caveiras”. Milani propôs que ela fosse cantada com primeira e segunda voz, exatamente como costumam fazer as duplas caipiras. Começamos a ensaiar nós dois. Eu me recordo precisamente daquela gargalhada dele quando eu errava a minha voz. E eu dizia, “vamos de novo, Milani, que agora eu não vou errar!”.
Ele acabou não podendo prosseguir no ensaio. Precisava levar a sério o tratamento da úlcera e o ritmo forte dos ensaios estava atrapalhando. Com tristeza, ele anunciou que teria de sair da peça. Todos ficaram tristes e eu mais ainda, por conta da amizade que tínhamos entabulado. Sergio Britto chamou o Tonico Pereira para o lugar dele e foi muito bom também.
Sempre que encontrava o Milani ia falar com ele e minha admiração só aumentava por aquele ator consagrado que nunca deixou de ser simpático com um jovem colega que não tinha fama nenhuma. Estivemos juntos no enterro do meu grande amigo Brandão Filho (que era amigo dele também) e falamos sobre como a morte é implacável.
Voltei a reve-lo quando fui assisti-lo no Teatro, numa peça em que ele atuava ao lado do saudoso Rogerio Cardoso, com quem eu também tive a chance de travar camaradagem. Foi a última vez que eu o vi.
Eu costumo dizer que quando uma pessoa morre é como se uma enciclopédia fosse destruída. No caso do Milani, perdemos uma biblioteca inteira.
Embora fosse comunista ferrenho e, consequentemente ateu, Deus acreditava nele e certamente reservou-lhe um lugar entre os justos e bons. Até mais, Milani !
Como diz a canção: “qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar”...
M.S.
4 comentários:
Parabéns pelo "post". Como sabe, já rendi minha singela homenagem a ele. E, puxa, q grandes amigos vc tem, e teve! Assim q der volto pra ler mais. Beijos.
Ó doce Helena,
Deus me deu a felicidade de ter grandes amigos. Como você, por exemplo.
Lamento pela perda do amigo. E parabéns por tão belo post, em homenagem a ele. Grande ator! grande perda! um baluarte de conehcimento que se vai. COmo já disse o poeta: "Os bons morrem jovem".
Oi, Marco. Obrigada, vc é um doce amigo! Abraços.
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