sexta-feira, maio 27, 2005

Estatística do c(@#$%&*)aralho

Este é um texto da série: "quem não tem o que fazer só pensa m(@#$%&*)erda!.
Estava eu outro dia pensando no falecimento da fêmea jovem do gado bovino quando me ocorreu uma idéia de jerico: Até que ponto os palavrões viraram coisa banal?
Há coisa de uns vinte, trinta anos – ou seja, há uma geração atrás – os meios de comunicação não poderiam sequer pensar em divulgar uma "palavra de baixo calão, ofensiva à moral e aos bons costumes". O jornal O Pasquim, por exemplo, foi processado, em 1975, com base na Lei de Segurança Nacional, por ter feito um cartum onde se lia "Porrada’s Bar". Não demorou muito e esta palavra sequer passou a ser considerada palavrão. Não me admiraria se a Fátima Bernardes dissesse no Jornal Nacional que a taxa de juros já "aumentou uma porrada de vezes neste ano".
Ao tempo dos "Mamonas Assassinas", víamos criancinhas cheirando a leite cantar bobagens como o "sabão Crá-Crá que não deixa os cabelos do saco enrolar". E nenhuma freira carmelita se enrubescia de ouvir tal coisa.
Ou seja: até certo ponto, o palavrão ficou mesmo banal. Já não choca como antes. Não sei se é bom, se é mau. Nem cogito de entrar neste mérito. De vez em quando, eu mesmo solto os meus, que me escapam como perdigotos faiscantes.
Mas não vamos digressionar. Até que ponto o palavrão se banalizou nos meios de comunicação? Quis verificar na Internet, por exemplo. Escolhi oito expressões consensualmente consideradas como de baixo calão. Fui ao Google e escrevi cada uma delas, anotando em quantos "saites" apareciam. O resultado desta estatística não deixa de surpreender.
A expressão que menos aparece é uma das mais utilizadas no nosso cotidiano: "vá para a puta que o pariu", com 31 menções. As variações "vá para a puta que pariu" (19 vezes) e "vai para a puta que pariu" (4 vezes) tiveram menos aparições ainda. Não é fantástico isso? Em qualquer discussão hoje em dia, uma das primeiras recomendações que um dos contendores faz ao outro é recomendá-lo para a senhora de vida airada que o pôs no mundo. Mas na Internet, como se vê, não faz muito sucesso.
Uma outra surpresa acontece com o tradicionalíssimo "vá se foder", com míseras 633 inserções. Tá certo, temos que ver outras variações. Daí pesquisei o "vai se foder" (968 vezes) e os "vá se fuder" (794 vezes) e "vai se fuder" (8.060 vezes). Somando tudo, dá um total de 10.455 menções. Mas eu ainda acho muito pouco! É um xingamento muito mais rápido do que o "vá para a puta que o pariu" – hoje em dia as pessoas preferem palavras e expressões menores – de disparo rápido e só aparece com insignificantes dez mil e pouco aparições em páginas da Internet? Convenhamos: é pouco. Vale destacar, também, que a forma incorreta "fuder" prevalece sobre a certa "foder". Provavelmente porque os usuários da primeira forma sabem que a palavra vem do latim "futere" e aí fazem a grafia com "u".
Outra quebra de expectativa veio com o famosíssimo "vá a merda": só 744 aparições. A variação "vai a merda" teve número parecido – 796. Ora, uma expressão que até os evangélicos utilizam só aparecer 1540 vezes (somando as duas variações) é uma decepção!
Querem saber de outro fraco desempenho? O "vai tomar no cu" chegou somente a 4.650 aparições! Na variação "vá tomar no cu", somente ridículas 272 menções. Uma decepção do tamanho daquela de Brasil x Itália, em 1982, não é mesmo? Uma das expressões mais redondas (tudo bem, vale o trocadilho) da língua portuguesa e tão poucos a inscrevem em suas páginas da Internet.
Outra que não faz o menor sucesso é o "seu veado", com ínfimas 210 inserções. Está certo, as pessoas "preferem" grafar com "i". Daí o "seu viado" ter um desempenho um pouco melhor: 907. Mas qualquer um há de convir que ainda é pífio! Hoje em dia, em qualquer berçário, qualquer creche, se ouve um "sai daí, seu veado!" e na Internet só aparece tão poucas vezes?
Uma expressão que tem o intuito de encerrar qualquer discussão, desconstruindo qualquer argumento que o outro venha a estabelecer aparece menos de mil vezes, vejam vocês! O famoso "é o caralho!" só está em 876 páginas. Talvez porque na forma escrita não tenha a mesma força da versão falada, no calor de uma discussão. É, vai ver que é isso...
As duas expressões campeãs de utilização não constituem surpresa: "filho da puta", com 43 mil aparições e a campeoníssima "foda-se", com 102 mil.
Acreditem: eu já imaginava que ia dar "foda-se" na cabeça. Ninguém resiste ao "foda-se". Seja na dúvida cruel, no momento de fúria, na tomada de decisão, no fim de uma discussão, nada é melhor que um bom "foda-se".
Bem, é isso. Sim, o palavrão virou banal tanmbém na Internet, mas não tanto quanto se imaginava. Mesmo assim, jovens, velhos, crianças, homens, mulheres, todos se utilizam deste incrível relaxante e distensionador recurso.
Você não concorda? Bem, lá vamos então para o 102 mil e um...
M.S.

4 comentários:

Anônimo disse...

Genial, Marco. Q bela pesquisa, vc fez. Mais uma coincidência: ontem ou antes de ontem, deu um filme do Renato Aragão na Sessão da Tarde, e numa das cenas q eu vi, espantosamente, o personagem do Renato exclamava um sonoro "merda"... imagine o quanto aquilo me chocou. Em plena Sessão da Tarde. Não é falso moralismo, porq eu falo palavrão direto, o lance é: num filme, supostamente infantil? Pronunciado por aquele que já foi "ícone" para as crianças? É... os tempos mudaram mesmo.
Vou recomendar este post a um amigo, ok?
Beijos.

Anônimo disse...

Aproveito pra indicar o blog do meu amigo, também, q é jornalista:
http://glorioso.blogspot.com
No meu blog tem um link pra ele: é o Cabide d'Askhalsa.

Anônimo disse...

Oi, Marco. Vim deixar um beijinho, pra vc não ficar com ciúme do Paulo (risos...). Adorei os comentários q vc deixou, em breve os respondo, ok? Ando bem enrolada estes dias... e a tendência é piorar com a proximidade do fim do bimestre... mas tudo tem sua hora.
Um abraço, e beijo!
Ah, vê se para de me "mimar" com tantos elogios... vai q eu acredito, depois ninguém me atura.

Anônimo disse...

Oi, Marco. Vamos com calma... meu time não está na final "só porq pegou times da 2ª divisão", ok? Há algum mérito nessa história toda. E vamos ver o q acontece. Ainda não há nada "realmente ganho"... Beijos.