Este é um texto da série: "quem não tem o que fazer só pensa m(@#$%&*)erda!.
Estava eu outro dia pensando no falecimento da fêmea jovem do gado bovino quando me ocorreu uma idéia de jerico: Até que ponto os palavrões viraram coisa banal?
Há coisa de uns vinte, trinta anos – ou seja, há uma geração atrás – os meios de comunicação não poderiam sequer pensar em divulgar uma "palavra de baixo calão, ofensiva à moral e aos bons costumes". O jornal O Pasquim, por exemplo, foi processado, em 1975, com base na Lei de Segurança Nacional, por ter feito um cartum onde se lia "Porrada’s Bar". Não demorou muito e esta palavra sequer passou a ser considerada palavrão. Não me admiraria se a Fátima Bernardes dissesse no Jornal Nacional que a taxa de juros já "aumentou uma porrada de vezes neste ano".
Ao tempo dos "Mamonas Assassinas", víamos criancinhas cheirando a leite cantar bobagens como o "sabão Crá-Crá que não deixa os cabelos do saco enrolar". E nenhuma freira carmelita se enrubescia de ouvir tal coisa.
Ou seja: até certo ponto, o palavrão ficou mesmo banal. Já não choca como antes. Não sei se é bom, se é mau. Nem cogito de entrar neste mérito. De vez em quando, eu mesmo solto os meus, que me escapam como perdigotos faiscantes.
Mas não vamos digressionar. Até que ponto o palavrão se banalizou nos meios de comunicação? Quis verificar na Internet, por exemplo. Escolhi oito expressões consensualmente consideradas como de baixo calão. Fui ao Google e escrevi cada uma delas, anotando em quantos "saites" apareciam. O resultado desta estatística não deixa de surpreender.
A expressão que menos aparece é uma das mais utilizadas no nosso cotidiano: "vá para a puta que o pariu", com 31 menções. As variações "vá para a puta que pariu" (19 vezes) e "vai para a puta que pariu" (4 vezes) tiveram menos aparições ainda. Não é fantástico isso? Em qualquer discussão hoje em dia, uma das primeiras recomendações que um dos contendores faz ao outro é recomendá-lo para a senhora de vida airada que o pôs no mundo. Mas na Internet, como se vê, não faz muito sucesso.
Uma outra surpresa acontece com o tradicionalíssimo "vá se foder", com míseras 633 inserções. Tá certo, temos que ver outras variações. Daí pesquisei o "vai se foder" (968 vezes) e os "vá se fuder" (794 vezes) e "vai se fuder" (8.060 vezes). Somando tudo, dá um total de 10.455 menções. Mas eu ainda acho muito pouco! É um xingamento muito mais rápido do que o "vá para a puta que o pariu" – hoje em dia as pessoas preferem palavras e expressões menores – de disparo rápido e só aparece com insignificantes dez mil e pouco aparições em páginas da Internet? Convenhamos: é pouco. Vale destacar, também, que a forma incorreta "fuder" prevalece sobre a certa "foder". Provavelmente porque os usuários da primeira forma sabem que a palavra vem do latim "futere" e aí fazem a grafia com "u".
Outra quebra de expectativa veio com o famosíssimo "vá a merda": só 744 aparições. A variação "vai a merda" teve número parecido – 796. Ora, uma expressão que até os evangélicos utilizam só aparecer 1540 vezes (somando as duas variações) é uma decepção!
Querem saber de outro fraco desempenho? O "vai tomar no cu" chegou somente a 4.650 aparições! Na variação "vá tomar no cu", somente ridículas 272 menções. Uma decepção do tamanho daquela de Brasil x Itália, em 1982, não é mesmo? Uma das expressões mais redondas (tudo bem, vale o trocadilho) da língua portuguesa e tão poucos a inscrevem em suas páginas da Internet.
Outra que não faz o menor sucesso é o "seu veado", com ínfimas 210 inserções. Está certo, as pessoas "preferem" grafar com "i". Daí o "seu viado" ter um desempenho um pouco melhor: 907. Mas qualquer um há de convir que ainda é pífio! Hoje em dia, em qualquer berçário, qualquer creche, se ouve um "sai daí, seu veado!" e na Internet só aparece tão poucas vezes?
Uma expressão que tem o intuito de encerrar qualquer discussão, desconstruindo qualquer argumento que o outro venha a estabelecer aparece menos de mil vezes, vejam vocês! O famoso "é o caralho!" só está em 876 páginas. Talvez porque na forma escrita não tenha a mesma força da versão falada, no calor de uma discussão. É, vai ver que é isso...
As duas expressões campeãs de utilização não constituem surpresa: "filho da puta", com 43 mil aparições e a campeoníssima "foda-se", com 102 mil.
Acreditem: eu já imaginava que ia dar "foda-se" na cabeça. Ninguém resiste ao "foda-se". Seja na dúvida cruel, no momento de fúria, na tomada de decisão, no fim de uma discussão, nada é melhor que um bom "foda-se".
Bem, é isso. Sim, o palavrão virou banal tanmbém na Internet, mas não tanto quanto se imaginava. Mesmo assim, jovens, velhos, crianças, homens, mulheres, todos se utilizam deste incrível relaxante e distensionador recurso.
Você não concorda? Bem, lá vamos então para o 102 mil e um...
M.S.
Estava eu outro dia pensando no falecimento da fêmea jovem do gado bovino quando me ocorreu uma idéia de jerico: Até que ponto os palavrões viraram coisa banal?
Há coisa de uns vinte, trinta anos – ou seja, há uma geração atrás – os meios de comunicação não poderiam sequer pensar em divulgar uma "palavra de baixo calão, ofensiva à moral e aos bons costumes". O jornal O Pasquim, por exemplo, foi processado, em 1975, com base na Lei de Segurança Nacional, por ter feito um cartum onde se lia "Porrada’s Bar". Não demorou muito e esta palavra sequer passou a ser considerada palavrão. Não me admiraria se a Fátima Bernardes dissesse no Jornal Nacional que a taxa de juros já "aumentou uma porrada de vezes neste ano".
Ao tempo dos "Mamonas Assassinas", víamos criancinhas cheirando a leite cantar bobagens como o "sabão Crá-Crá que não deixa os cabelos do saco enrolar". E nenhuma freira carmelita se enrubescia de ouvir tal coisa.
Ou seja: até certo ponto, o palavrão ficou mesmo banal. Já não choca como antes. Não sei se é bom, se é mau. Nem cogito de entrar neste mérito. De vez em quando, eu mesmo solto os meus, que me escapam como perdigotos faiscantes.
Mas não vamos digressionar. Até que ponto o palavrão se banalizou nos meios de comunicação? Quis verificar na Internet, por exemplo. Escolhi oito expressões consensualmente consideradas como de baixo calão. Fui ao Google e escrevi cada uma delas, anotando em quantos "saites" apareciam. O resultado desta estatística não deixa de surpreender.
A expressão que menos aparece é uma das mais utilizadas no nosso cotidiano: "vá para a puta que o pariu", com 31 menções. As variações "vá para a puta que pariu" (19 vezes) e "vai para a puta que pariu" (4 vezes) tiveram menos aparições ainda. Não é fantástico isso? Em qualquer discussão hoje em dia, uma das primeiras recomendações que um dos contendores faz ao outro é recomendá-lo para a senhora de vida airada que o pôs no mundo. Mas na Internet, como se vê, não faz muito sucesso.
Uma outra surpresa acontece com o tradicionalíssimo "vá se foder", com míseras 633 inserções. Tá certo, temos que ver outras variações. Daí pesquisei o "vai se foder" (968 vezes) e os "vá se fuder" (794 vezes) e "vai se fuder" (8.060 vezes). Somando tudo, dá um total de 10.455 menções. Mas eu ainda acho muito pouco! É um xingamento muito mais rápido do que o "vá para a puta que o pariu" – hoje em dia as pessoas preferem palavras e expressões menores – de disparo rápido e só aparece com insignificantes dez mil e pouco aparições em páginas da Internet? Convenhamos: é pouco. Vale destacar, também, que a forma incorreta "fuder" prevalece sobre a certa "foder". Provavelmente porque os usuários da primeira forma sabem que a palavra vem do latim "futere" e aí fazem a grafia com "u".
Outra quebra de expectativa veio com o famosíssimo "vá a merda": só 744 aparições. A variação "vai a merda" teve número parecido – 796. Ora, uma expressão que até os evangélicos utilizam só aparecer 1540 vezes (somando as duas variações) é uma decepção!
Querem saber de outro fraco desempenho? O "vai tomar no cu" chegou somente a 4.650 aparições! Na variação "vá tomar no cu", somente ridículas 272 menções. Uma decepção do tamanho daquela de Brasil x Itália, em 1982, não é mesmo? Uma das expressões mais redondas (tudo bem, vale o trocadilho) da língua portuguesa e tão poucos a inscrevem em suas páginas da Internet.
Outra que não faz o menor sucesso é o "seu veado", com ínfimas 210 inserções. Está certo, as pessoas "preferem" grafar com "i". Daí o "seu viado" ter um desempenho um pouco melhor: 907. Mas qualquer um há de convir que ainda é pífio! Hoje em dia, em qualquer berçário, qualquer creche, se ouve um "sai daí, seu veado!" e na Internet só aparece tão poucas vezes?
Uma expressão que tem o intuito de encerrar qualquer discussão, desconstruindo qualquer argumento que o outro venha a estabelecer aparece menos de mil vezes, vejam vocês! O famoso "é o caralho!" só está em 876 páginas. Talvez porque na forma escrita não tenha a mesma força da versão falada, no calor de uma discussão. É, vai ver que é isso...
As duas expressões campeãs de utilização não constituem surpresa: "filho da puta", com 43 mil aparições e a campeoníssima "foda-se", com 102 mil.
Acreditem: eu já imaginava que ia dar "foda-se" na cabeça. Ninguém resiste ao "foda-se". Seja na dúvida cruel, no momento de fúria, na tomada de decisão, no fim de uma discussão, nada é melhor que um bom "foda-se".
Bem, é isso. Sim, o palavrão virou banal tanmbém na Internet, mas não tanto quanto se imaginava. Mesmo assim, jovens, velhos, crianças, homens, mulheres, todos se utilizam deste incrível relaxante e distensionador recurso.
Você não concorda? Bem, lá vamos então para o 102 mil e um...
M.S.
4 comentários:
Genial, Marco. Q bela pesquisa, vc fez. Mais uma coincidência: ontem ou antes de ontem, deu um filme do Renato Aragão na Sessão da Tarde, e numa das cenas q eu vi, espantosamente, o personagem do Renato exclamava um sonoro "merda"... imagine o quanto aquilo me chocou. Em plena Sessão da Tarde. Não é falso moralismo, porq eu falo palavrão direto, o lance é: num filme, supostamente infantil? Pronunciado por aquele que já foi "ícone" para as crianças? É... os tempos mudaram mesmo.
Vou recomendar este post a um amigo, ok?
Beijos.
Aproveito pra indicar o blog do meu amigo, também, q é jornalista:
http://glorioso.blogspot.com
No meu blog tem um link pra ele: é o Cabide d'Askhalsa.
Oi, Marco. Vim deixar um beijinho, pra vc não ficar com ciúme do Paulo (risos...). Adorei os comentários q vc deixou, em breve os respondo, ok? Ando bem enrolada estes dias... e a tendência é piorar com a proximidade do fim do bimestre... mas tudo tem sua hora.
Um abraço, e beijo!
Ah, vê se para de me "mimar" com tantos elogios... vai q eu acredito, depois ninguém me atura.
Oi, Marco. Vamos com calma... meu time não está na final "só porq pegou times da 2ª divisão", ok? Há algum mérito nessa história toda. E vamos ver o q acontece. Ainda não há nada "realmente ganho"... Beijos.
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