segunda-feira, abril 11, 2005

Comédia de costumes

No outro dia eu assisti a um episódio do "South Park" em que a professora da 1a. série fazia sexo, de várias formas, com o professor do jardim de infância. Para quem conhece a série, nada de mais. Lá se vê coisa bem pior do que a "srta. Engasgapiru" (???) – é o nome dela – cair na saliência com outro professor.
Mas assistir àquela série me fez refletir em como os costumes se transformam com o tempo. E nem precisa ser muito tempo. Quando eu era guri, no tempo da TV a lenha, assistia a seriados como "Papai sabe tudo" ("Father knows better", no original), em que o protagonista era um modelo de caráter, honra e sabedoria. Seus três filhos o tinham como exemplo. Outra série daquele tempo, "Os Flintstones", o primeiro desenho a estrear no horário nobre das oito da noite, era tão vigiada pela censura que não permitiam que o "Fred" e a "Wilma" dormissem na mesma cama. Basta ver os desenhos reprisados até hoje para constatar que cada um tinha sua própria cama.
Isso foi nos anos 60. Na década seguinte, podíamos ver séries como "Os Waltons" (aquela do "Boa noite, pai...Boa noite, mãe...Boa noite, John Boy...") em que os mesmos valores do "Papai sabe tudo" eram passados.
Tempos depois, apareceu nos televisores "Os Simpsons". E aí a gente percebeu que os hábitos e costumes da carolíssima América estavam mudando. Curiosamente, a cidade dos "Simpsons" tem o mesmo nome da cidade do "Papai sabe tudo": Springfield. Mas as semelhanças acabam aí. Ninguém em sã consciência pode eleger o "Homer" como modelo de nada. Aliás, quase todos os pais apresentados na série não são exatamente modelos de virtude.
Depois dos "Simpsons", veio "South Park". E aí mesmo que parecia que a América protestante e moralista tinha enlouquecido. E no mesmo roldão, o resto do mundo, que mantém olhos e ouvidos ao que vem lá de cima.
Não estou fazendo juízos de valor. Sei perfeitamente que os costumes de um povo são extremamente dinâmicos. Na verdade, eu dou boas gargalhadas com todas as séries que citei. De forma alguma vou ficar aqui carpindo, dizendo que no "meu tempo a vida era bem melhor", mesmo porque este é tanto o "meu tempo" quanto aquele. Tenho suficiente discernimento para entender que a roda da História não cessa de girar. Aliás, creio mesmo que a História está aí para isso mesmo, analisar momentos no tempo e tentar explicar a evolução das sociedades.
Entretanto, minha curiosidade se aguça para saber: qual será o movimento seguinte? Em 40 anos saímos de uma moral rígida para uma bem mais, digamos, flexível. E daí vamos para onde? Liberar geral? Retroceder?
À proporção em que o futuro for abrindo seus véus saberemos estas respostas. Outras questões me perpassam a mente: toda esta liberalização nos costumes terá ou está tendo conseqüências? E são boas? São ruins? Em que medida a população daqui, de qualquer lugar, está sendo afetada por estes costumes tão flexíveis?
Obviamente, eu não tenho respostas para estas questões. O que não é nada mal. Quem as têm parecerá o "fool on the hill" da música dos Beatles, aquele "homem de mil vozes que tinha a cabeça nas nuvens, falando alto mas que ninguém ouvia".
Como escreveu Millôr Fernandes, "livre pensar é só pensar". E eu estou aqui só livre-pensando.
M.S.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tentei deixar um comentário outro dia pra este post e não consegui... agora estou com pressa, depois comento. Bjs.

Julio Cesar Corrêa disse...

Não considero o South Park uma comédia de costumes. Fiends, Everybody loves Raymond, Will & Grace, Sex in the city. Essas eram comédias de costumes, aliás, sit-cons ou sériados, como se diz hj em dia.South Park tem o objetivo de chocar, de gozar com a cara do politicamente correto que proliferou na década de 90. Inicialmente a idéia era ótima. Mas recentemente percebo que eles andam pegando um pouco mais pesado. Talvez pela concorrência do seu maior rival, Os Simpsons, que, por sua vez, também passaram a pegar um pouco mais pesado para competir com South Park. O festival de baixarias e grosserias e violências que eram engraçadas no inicio se transformou em algo de imenso mau gosto e até constrangedor. Uma lástima.
Meu amigo, um 2009 nota mil pra ti
abração