
Gostaria de convidar os meus diletos e caríssimos amigos especialmente os que moram no Rio de Janeiro, é claro, para que assistam ao espetáculo “Anne Frank – O Musical”, em que atuo. A peça estará em cartaz no mês de dezembro, de sexta a domingo, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro).
O elenco é formado pelo grupo “Amigos de Anne”, basicamente formado por jovens e adultos de origem judaica, com eventuais convidados não-judeus (eu, por exemplo).
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O espetáculo é a versão musicada do livro (e peça e filme) “O Diário de Anne Frank” (também denominado “Anne Frank – O diário de uma jovem”). Este musical, originalmente com o nome de “Yours Anne”, foi apresentado na Broadway e na Europa sempre com enorme sucesso e é inédito no Brasil.
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Imagino que muita gente deve ter lido o livro ou assistido ao filme dirigido por George Stevens, de 1959, que foi indicado para oito Oscars, tendo vencido em três categorias. De qualquer forma, falarei um pouco sobre a história.
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Quando Hitler assumiu o poder na Alemanha, em 1933, e deixou claro que perseguiria os judeus, Otto Frank pegou sua família e se mudou para Amsterdam, na Holanda, imaginando que estaria a salvo. Lá, ele estabelece uma fábrica de condimentos para a fabricação de geléias. Com a II Guerra Mundial, os nazistas invadiram os Países Baixos, em 1940, ocupando a região e expandindo a sua política anti-semita. Em 1942, pouco depois do aniversário de 13 anos de sua filha mais nova, Annelise Marie, Otto Frank decide se esconder com sua esposa e filhas e mais alguns amigos – a Família van Pels – no sótão de sua fábrica, transformado num esconderijo ou Anexo Secreto. Alguns meses depois, eles receberam mais um refugiado judeu, o dentista Fritz Pfeffer, que foi indicado para se ocultar naquele refúgio oculto.
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De junho de 1942 a agosto de 1944 eles permaneceriam ali, sem poder fazer barulho, falando o mínimo possível para não despertar as suspeitas dos funcionários da fábrica que não sabiam que o seu patrão estava escondido no sótão (veja na foto ao lado a entrada secreta para o esconderijo). Durante todo este tempo, Anne Frank escrevia em seu diário, descrevendo como era a vida ali, no Anexo Secreto. Como pretendia publicar os seus escritos depois da guerra, resolveu trocar o nome da maioria dos judeus ali escondidos e também de boa parte dos ajudantes que forneciam o suporte necessário para queles conseguissem sobreviver ali. Nas páginas do diário, os van Pels viraram “van Daan” e Fritz Pfeffer se transformou em “Albert Dussel”. Em agosto de 1944, bem próximo do momento em que os Aliados expulsariam os nazistas da Holanda, alguém denunciou os judeus escondidos. Eles foram presos e remetidos ao campo de concentração de Auschwitz. Lá, homens foram separados das mulheres.

Família Frank

Entrada para o campo de concentração de Auschwitz
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Posteriormente, Anne e sua irmã Margot foram enviadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, onde morreram de tifo três semanas antes do campo ser libertado, em março de 1945. Edith Frank, a mãe, morreu de fome e exaustão em Auschwitz. Albert Dussel ou Fritz Pfeffer morreu em dezembro de 1944, no campo de concentração de Neuengamme, na Alemanha; Herman van Pels (ou van Daan, no diário) morreu na câmara de gás, pouco antes delas serem desativadas.

Sua esposa, Auguste van Pels, faleceu no campo de Theresienstadt, na República Tcheca. O filho deles, Peter, participou da “Marcha da Morte”, viagem forçada a pé, entre Auschwitz e Mounthausen e morreu pouco antes do campo ser libertado pelos Aliados. Dos oito do Anexo Secreto só Otto Frank sobreviveu a Auschwitz. Com o fim da guerra, em 1945, retornou a Amsterdam tentando descobrir se suas filhas ainda estavam vivas. Quando soube que tinham morrido, recebeu de Miep Gies, um dos anjos protetores dos judeus escondidos no Anexo, o diário de Anne Frank. Em 1947, ele o publica e em algum tempo depois, o livro se torna um sucesso mundial. É um dos livros de não-ficção mais lidos no mundo, sendo traduzido para 67 idiomas.

Vagão que transportava cerca de 80 judeus para os campos de concentração

Judeus prisioneiros no campo de concentração de Bergen Belsen

Memorial de Anne e Margot Frank, em Bergen Belsen
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Para mim, foi uma enorme honra ter sido convidado para fazer parte deste projeto. O meu personagem é o dentista Fritz Pfeffer, que no livro é chamado por Anne de “Albert Dussel”. A peça o apresenta a partir do ponto de vista de uma adolescente, com quem ele dividia o quarto. Os dois viviam se bicando.

Mas, lendo sobre este dentista, descobri que era uma pessoa afável, apaixonadíssimo por sua companheira Charlotte (era católica e Hitler tinha proibido o casamento entre judeus com não-judeus; todavia, ela se casaria com Pfeffer, em 1952, mesmo após transcorridos oito anos da morte do dentista, em cerimônia simbólica. Bonito isso, não é?), enfim, um bom sujeito.
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Como bem é de meu feitio, tão logo entrei no projeto comecei a pesquisar enlouquecidamente sobre Anne Frank e os escondidos no Anexo Secreto. Com tanta pesquisa, acabei virando uma espécie de “consultor” do diretor da peça, Isaac Bernat e dos demais companheiros de elenco. No início de novembro, fomos convidados a fazer uma apresentação de algumas músicas da peça numa cerimônia sobre o Holocausto. Eu e Rodrigo Amém, um outro rapaz do elenco, fomos escolhidos como “mestres de cerimônia” e a mim coube dar as explicações de cunho histórico (por que será?...). Descobri tanta coisa sobre a cultura judaica que fico mais e mais interessado em me aprofundar nos estudos.
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Como vocês puderam observar na foto do elenco, a maioria é de jovens (o elenco feminino tem titulares e substitutas). Boa parte deles não tem experiência. Ator profissional mesmo, só eu. Há duas cantoras líricas do Coro do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A peça terá três músicos. Posso garantir a vocês que as músicas são belíssimas, o espetáculo é tocante. Até a gente que faz a peça se emociona, imagina quem assiste. Já teve gente chorando só de ver os ensaios!
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Fica então a recomendação aos queridos amigos que desejem me dar o prazer e a honra de assistir a este meu trabalho. Estreamos no dia 5 de dezembro (sexta-feira) e ficaremos em cartaz até o dia 21 (domingo, antes do Natal). Sextas e sábados, às 19h30min; domingos às 18h. A entrada é franca, com retirada de senhas a partir de uma hora antes do início da peça.
Shalom!


Eu, como Dussel, entre os personagens Kraler e Miep

Eu, como Dussel, e Anne Frank
(vejam um trailer da peça “Yours Anne” apresentada nos EUA. As músicas são as mesmas que cantamos no nosso espetáculo, só que as interpretamos em português, é claro. E obviamente não temos nem de longe a mesma disponibilidade de recursos de produção que eles tiveram. Mas mesmo assim nosso espetáculo é feito com muita dignidade)
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê o trailer do musical “Yours Anne”, feito por estudantes de uma escola de Teatro de San Diego, na Califórnia.