sábado, novembro 29, 2008
Anne Frank
Gostaria de convidar os meus diletos e caríssimos amigos especialmente os que moram no Rio de Janeiro, é claro, para que assistam ao espetáculo “Anne Frank – O Musical”, em que atuo. A peça estará em cartaz no mês de dezembro, de sexta a domingo, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro).
O elenco é formado pelo grupo “Amigos de Anne”, basicamente formado por jovens e adultos de origem judaica, com eventuais convidados não-judeus (eu, por exemplo).
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O espetáculo é a versão musicada do livro (e peça e filme) “O Diário de Anne Frank” (também denominado “Anne Frank – O diário de uma jovem”). Este musical, originalmente com o nome de “Yours Anne”, foi apresentado na Broadway e na Europa sempre com enorme sucesso e é inédito no Brasil.
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Imagino que muita gente deve ter lido o livro ou assistido ao filme dirigido por George Stevens, de 1959, que foi indicado para oito Oscars, tendo vencido em três categorias. De qualquer forma, falarei um pouco sobre a história.
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Quando Hitler assumiu o poder na Alemanha, em 1933, e deixou claro que perseguiria os judeus, Otto Frank pegou sua família e se mudou para Amsterdam, na Holanda, imaginando que estaria a salvo. Lá, ele estabelece uma fábrica de condimentos para a fabricação de geléias. Com a II Guerra Mundial, os nazistas invadiram os Países Baixos, em 1940, ocupando a região e expandindo a sua política anti-semita. Em 1942, pouco depois do aniversário de 13 anos de sua filha mais nova, Annelise Marie, Otto Frank decide se esconder com sua esposa e filhas e mais alguns amigos – a Família van Pels – no sótão de sua fábrica, transformado num esconderijo ou Anexo Secreto. Alguns meses depois, eles receberam mais um refugiado judeu, o dentista Fritz Pfeffer, que foi indicado para se ocultar naquele refúgio oculto.
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De junho de 1942 a agosto de 1944 eles permaneceriam ali, sem poder fazer barulho, falando o mínimo possível para não despertar as suspeitas dos funcionários da fábrica que não sabiam que o seu patrão estava escondido no sótão (veja na foto ao lado a entrada secreta para o esconderijo). Durante todo este tempo, Anne Frank escrevia em seu diário, descrevendo como era a vida ali, no Anexo Secreto. Como pretendia publicar os seus escritos depois da guerra, resolveu trocar o nome da maioria dos judeus ali escondidos e também de boa parte dos ajudantes que forneciam o suporte necessário para queles conseguissem sobreviver ali. Nas páginas do diário, os van Pels viraram “van Daan” e Fritz Pfeffer se transformou em “Albert Dussel”. Em agosto de 1944, bem próximo do momento em que os Aliados expulsariam os nazistas da Holanda, alguém denunciou os judeus escondidos. Eles foram presos e remetidos ao campo de concentração de Auschwitz. Lá, homens foram separados das mulheres.
Família Frank
Entrada para o campo de concentração de Auschwitz
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Posteriormente, Anne e sua irmã Margot foram enviadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, onde morreram de tifo três semanas antes do campo ser libertado, em março de 1945. Edith Frank, a mãe, morreu de fome e exaustão em Auschwitz. Albert Dussel ou Fritz Pfeffer morreu em dezembro de 1944, no campo de concentração de Neuengamme, na Alemanha; Herman van Pels (ou van Daan, no diário) morreu na câmara de gás, pouco antes delas serem desativadas.
Sua esposa, Auguste van Pels, faleceu no campo de Theresienstadt, na República Tcheca. O filho deles, Peter, participou da “Marcha da Morte”, viagem forçada a pé, entre Auschwitz e Mounthausen e morreu pouco antes do campo ser libertado pelos Aliados. Dos oito do Anexo Secreto só Otto Frank sobreviveu a Auschwitz. Com o fim da guerra, em 1945, retornou a Amsterdam tentando descobrir se suas filhas ainda estavam vivas. Quando soube que tinham morrido, recebeu de Miep Gies, um dos anjos protetores dos judeus escondidos no Anexo, o diário de Anne Frank. Em 1947, ele o publica e em algum tempo depois, o livro se torna um sucesso mundial. É um dos livros de não-ficção mais lidos no mundo, sendo traduzido para 67 idiomas.
Vagão que transportava cerca de 80 judeus para os campos de concentração
Judeus prisioneiros no campo de concentração de Bergen Belsen
Memorial de Anne e Margot Frank, em Bergen Belsen
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Para mim, foi uma enorme honra ter sido convidado para fazer parte deste projeto. O meu personagem é o dentista Fritz Pfeffer, que no livro é chamado por Anne de “Albert Dussel”. A peça o apresenta a partir do ponto de vista de uma adolescente, com quem ele dividia o quarto. Os dois viviam se bicando.
Mas, lendo sobre este dentista, descobri que era uma pessoa afável, apaixonadíssimo por sua companheira Charlotte (era católica e Hitler tinha proibido o casamento entre judeus com não-judeus; todavia, ela se casaria com Pfeffer, em 1952, mesmo após transcorridos oito anos da morte do dentista, em cerimônia simbólica. Bonito isso, não é?), enfim, um bom sujeito.
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Como bem é de meu feitio, tão logo entrei no projeto comecei a pesquisar enlouquecidamente sobre Anne Frank e os escondidos no Anexo Secreto. Com tanta pesquisa, acabei virando uma espécie de “consultor” do diretor da peça, Isaac Bernat e dos demais companheiros de elenco. No início de novembro, fomos convidados a fazer uma apresentação de algumas músicas da peça numa cerimônia sobre o Holocausto. Eu e Rodrigo Amém, um outro rapaz do elenco, fomos escolhidos como “mestres de cerimônia” e a mim coube dar as explicações de cunho histórico (por que será?...). Descobri tanta coisa sobre a cultura judaica que fico mais e mais interessado em me aprofundar nos estudos.
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Como vocês puderam observar na foto do elenco, a maioria é de jovens (o elenco feminino tem titulares e substitutas). Boa parte deles não tem experiência. Ator profissional mesmo, só eu. Há duas cantoras líricas do Coro do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A peça terá três músicos. Posso garantir a vocês que as músicas são belíssimas, o espetáculo é tocante. Até a gente que faz a peça se emociona, imagina quem assiste. Já teve gente chorando só de ver os ensaios!
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Fica então a recomendação aos queridos amigos que desejem me dar o prazer e a honra de assistir a este meu trabalho. Estreamos no dia 5 de dezembro (sexta-feira) e ficaremos em cartaz até o dia 21 (domingo, antes do Natal). Sextas e sábados, às 19h30min; domingos às 18h. A entrada é franca, com retirada de senhas a partir de uma hora antes do início da peça.
Shalom!
Eu, como Dussel, entre os personagens Kraler e Miep
Eu, como Dussel, e Anne Frank
(vejam um trailer da peça “Yours Anne” apresentada nos EUA. As músicas são as mesmas que cantamos no nosso espetáculo, só que as interpretamos em português, é claro. E obviamente não temos nem de longe a mesma disponibilidade de recursos de produção que eles tiveram. Mas mesmo assim nosso espetáculo é feito com muita dignidade)
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê o trailer do musical “Yours Anne”, feito por estudantes de uma escola de Teatro de San Diego, na Califórnia.
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27 comentários:
Caro amigo,
espero que essa peça faça muito sucesso e permaneça mais tempo em cartaz, para que eu possa vê-la, já que, em dezembro, será impossível ir ao Rio.
Saiba que essa é a mais antiga das minhas ternuras em termos de teatro, já que foi a primeira que assistí, com artistas profissionais, num teatro de verdade! Antes houve peças infantís ou peças encenadas nos teatros escolares.
Daí o meu carinho tão especial pela peça e a vontade imensa que tenho de assistir a essa montagem, até mesmo por tê-lo entre o elenco.
Um grande abraço.
Deve ser bacana a peça.
Big Beijos
Oi, amigo: sucesso com a sua peça! Eu conheço somente o filme e na época que vi gostei. E com essa versão musical no teatro acho que deva ser um espetáculo e tanto. Parabéns pelo personagem! Pena que não possa vê-lo atuando, pois moro um pouquinho longe...
Um abraço...
Amigopratodavida!!
Merda para todo o elenco!!
Estarei lá de camarote.
A história é terrivelmente triste, dura realidade que imagino emociona vocês a cada apresentação e ao público, que com certeza não se sentirá diferente.
Estive na cada de Anne em Amsterdã, arrepia passear por ela.
Obrigada pelo convite e conte comigo nos aplausos.
lindos dias,
beijos
Olá Marco!
Que maravilha, eu me encantei com esta história há muitos anos atrás e gostaria muito de assistir a peça. Desejo que ela faça muito sucesso e possa iajar pelo Brasil, assim quem sabe eu possa assistir...
As imagens estão ótimas e o photoshop também, parecem imagens da época.
Encantada, parabéns!
Beijo.
É uma belíssima pedida para o final do ano. Eu li o livro e é espantoso da primeira a última página. Como sou espectador frequente do CCBB, provavelmente deverei dar uma passada por lá. Desejo sorte!
Me parece imperdível, pena mesmo estar longee não poder ir.
Belo post, bem detalhado.
Bjo
Meu caro, encontrando-me momentaneamente em Natal, não poderei vê-lo na peça. Fica para a próxima. Aliás, gosto do filme e do texto teatral. Sucesso para todos!
Caro Marco,
Se estivesse no Rio, não iria perder a sua peça, que imagino deve ser boa. Desejo a ela e a você sucesso. Vi só uma vez, quando lançado, o filme e, na época, gostei com moderação. Gostaria de revê-lo. Um abraço.
Ah que pena eu estar tão longe....Eu conheci a história da Anne aos 13 e em senti tocada para sempre. A sua peça não corre o risco de viajar o Brasil não? Quem sabe? Um abrço bem grande!
Eu já li o livro, já vi um filme...
Gosto de me manter informada!
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Fico curioso comocertos temas viram musicais nas mãos dos norte-americanos... O livro é um docemente amargo retrato do mais negro período de nossa História, por isso fica a dúvida sobre o "musical", mas, enfim... Com o nobre primo à frente, com certeza será um trabalho que honrará a beleza deste momento histórico triste! Um abraço e merda pra vocês!
Marco, mais uma vez, estou orgulhosíssima de você!
Boa sorte nas apresentações, tenho a certeza de que será um grande sucesso!
Mande um abração aos seus colegas da peça. Não os conheço, mas desejo sorte mesmo assim!
ro
Infelizmente moro num Rio muito distante do seu...
Como se diz aqui, antes dos atores entrarem em cena, Marco, go break a leg!
Taí uma expressão que precisa ir para a sua seção “A origem de expressões de uso corrente”, embora seja em inglês. Significa "boa sorte" no meio teatral, onde todos são muito supersticiosos e acham que dá azar desejar boa sorte (???!!!).
Não vi o musical mas me lembro do filme que tinha a Shelley Winters e a Millie Perkins, no papel da Anne. O diretor passou o ambiente claustrofóbico e lembro nitidamente que passei mal...
Abraços!
Deve mesmo ser imperdivel,MARCO. Gostaria muito de ve-lo em cena. E tenho certeza que será um sucesso.
Parabens!!
Grande abraço!!
Querido,
Também estou com saudades das nossas antigas ternuras, mas, confesso, além da obra não ter terminado, minhas férias em dezembro estão sendo consumidas por estudo e atenção especial ao Espanhol...rsrssss
Aliás, é claro que iremos assistir a tua peça!!
Bisous.
Seus artigos estão cada dia melhores. Andei dando uma olhada nos anteriores e acabei aprendendo muita coisa e relembrando outras.
Confesso que prefiro as peças de humor, como aquela que o vi atuar, mas sei a importância de uma peça baseada em fatos reais. E essa história da Anne é comovente mesmo. Caso dê para eu ir e levar alguém te aviso antes.
Beijos de giros.
Marcos, vou fazer o possível para dar aparecer. Anne Frank é um tema universal e atemporal e com certeza deve ter dado um espetáculo muito bonito e emocionante.
Merda pra vocês e um grande abraço
Olá Marco: passando aqui pra conferir as novidades. Venho em outra hora... E mais uma vez, sucesso com sua peça musical.
Um abraço...
Eu li este livro num momento bem difícil para mim. Eu passei, aos dez anos de idade, três meses de cama, em repouso absoluto. E por isso e por todo o conteúdo dele, tem um significado muito especial para mim. Alguma chance da peça vir por aqui, em Goiânia?
Grande Marco, ainda não tive a oportunidade de ler o livro e assistir ao filme, porém não pretendo perder a sua peça. Já estou combinando com Helena para assistirmos. Falarei com Evandro também. Em tempo, conheço a história de Anne Frank há muito tempo, contada por minha mãe, que por sua vez leu o livro quando era criança. Recentemente, a presenteei com uma nova edição da obra. Obrigado pelo convite! Sucesso pra vocês! Abração!
Marco, se passar antes do natal pelo Rio, vou te ver!! Li o livro e assisti ao filme. Sempre bom saber do lado documental da história para compreendermos melhor os sentimentos que acompanham até hoje este povo perseguido. Boa semana! Beijus
Marco, farei o possível para ver seu trabalho. Mas tenho que te contar, esse assunto me causa tanto mal-estar que não sei se consigo assistir à peça inteira. A perseguição e o holocausto para mim são a expressão máxima da crueldade humana, do lado podre que faz parte de nossa natureza. Admito que Hitler era um psicótico, mas o fato de ter arrastado tanta gente com sua loucura é trágico demais.
Beijo e muito sucesso.
Viche! esqueci que não devia desejar boa sorte, senão dá azar!
(coisas de pisciana, sempre viajando, principalmente postando comentários tarde da noite...)
Merda, merda, merda, meu chapa!
isso sim!
Grande Marco!
Belíssimo espetáculo, parabéns a todos! Muito bonito ver um relato real feito com muita arte, sensibilidade e emoção, percebe-se a dedicação dos atores aos seus personagens.
A montagem recebeu todo o carinho e respeito que merece e é impressionante a riqueza de detalhes que a engrandece, luz, cenário, música ao vivo.
Tá lá no meu blog, na coluna "Palco Amigo" :
http://www.aguiaremcena.blogspot.com/
Amigos, prestigiem a peça e o talento de nosso amigo Marco Santos!
Desejo uma temporada longa e de grande sucesso.
Abração,
Ary Aguiar Jr.
Meu Nome eh Pamela e tenho 14 anos . conheci a historia de Anne semana passada e fiquei muito mechida com ela . queria saber se a peça ainda esta em cartaz ; moro em Minas mais sempre vou ao Rio e gostari de ter a oportunidade de assistir a peça : )
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