quinta-feira, agosto 21, 2008
Mais dois artistas no Céu
Eu estou com a cabeça longe, pensando nas coisas do Machado de Assis, para poder falar sobre ele na minha palestra neste final de semana (vide post abaixo). Mas mesmo estando com a cabeça nas coisas do Bruxo do Cosme Velho, recentemente tive notícias ruins de dois grandes artistas que me acompanham desde o tempo das antigas ternuras.
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Primeiro foi o Isaac Hayes. E quando li que ele tinha cantado para subir, automaticamente me lembrei do tempo em que eu e meu amiguirmão Luiz tínhamos nossos gravadores e conseguimos gravar do Rádio o tema do filme “Shaft”. Era maravilhoso ouvir aquela usina de som, despejando metais em brasa, uma guitarra com distorção esplêndida, e, mais importante, aquele vocal com voz de negro, com voz de alma.
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Pois é. O Isaac Hayes que eu curtia desde tanto tempo, resolveu tirar o time de campo. E eu estava me lamentando pela partida do cara quando soube que aqui mesmo, no Rio de Janeiro, um cantor também de voz grossa, com voz de alma, silenciava de vez.
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A televisão disse: “Morreu Caymmi”. E na hora me veio na cabeça o tanto de músicas dele que eu conhecia e gostava. Entre tantas, eu tinha preferência por “Acalanto”. Ele fez essa música nos anos 40, para a acalentar a Nana Caymmi ainda em bebê. O Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, adorava esta música. Se bem me lembro, o velho Dorival contou uma vez que o Chatô viu a música e a Nana nascerem. Quando a TV Tupi foi pro ar, essa era a música que encerrava as transmissões. Foi a canção que eu escolhi para tocar aqui, ilustrando este post, mas não achei o arquivo midi.
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Dorival era um artista maravilhoso. Especialmente era um ser humano maravilhoso. Eu não o conheci pessoalmente, mas gostava de vê-lo e ouvi-lo contando suas histórias. Me parecia uma pessoa do bem, uma pessoa simpática, da qual era impossível não gostar. O seu jeitão de baiano preguiçoso, malemolente era uma delícia! Uma vez ouvi, não sei quem, dizer: "existem três velocidades baixas – lenta, muito lenta e Dorival Caymmi”. Soube que ele levou doze anos para fazer a música “João Valentão”. Ué! E precisa pressa?
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Hoje eu li na coluna do Luis Fernando Veríssimo, ele falar que todo mundo tem a sua frase preferida de uma das músicas de Caymmi. Há quem prefira “oh, insensato coração, por que me fizeste sofrer?”, de “Só Louco”; há quem prefira “e assim adormece esse homem que nunca precisa dormir pra sonhar porque não há sonho mais lindo do que sua terra”, de "João Valentão"; ele, Veríssimo disse que prefere: "os clarins da banda militar, tocam para anunciar, sua Dora vai passar”...
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Fiquei pensando. Qual seria a minha frase favorita de Caymmi? É uma escolha difícil. Mas fico com “quem inventou o amor, não fui eu, não fui eu, nem ninguém”, de "Nem eu". Pelas músicas que fez, desconfio que quem inventou o amor foi Dorival Caymmi.
Fica com Deus, Isaac! Fica com Deus, Dorival!
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “O Bem do Mar”, com Dorival Caymmi, o homem que cantava as coisas do mar como ninguém.
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26 comentários:
Muito bem sacada a frase que vc pinçou,MARCO.
Bem a cara dele.
:)
Um otimo fds à vc.
Grande abraço!
Todos cumprem o seu tempo, como descrito em Eclesiastes, porém poucos são os eternizados por seus feitos. A obra de Caymmi perpetuará em nossa História, e as gerações futuras sentirão orgulho das frases primorosas de um Brasileiro, que cantava todo o seu amor pelo mar.
Um Abraço a Todos!
Tem uma história/lenda do Caymmi que é mais ou menos assim. A nata bahiana reunida em uma cidade do interior para gravação do filme ...(coloque aqui o nome de qualquer filme 'bahiano'-tieta, dona flor, qualquer um, não faz diferença). Na recepção do hotel de quinta categoria, Caymmi vira-se para Caetano e diz (com sua voz incrivelmente preguiçosa): "Meu filho, venha até o quarto ver uma coisa". Caetano imagina que será apresentado a um novo clássico praieiero, quando é fulminado: "...veja bem o que fiz... peguei o ventilador e ... coloquei em frente à poltrona... não vou precisar levantar prá fazer nada..." .
Não sei se é lenda ou verdade, também não precisa ser verdade, basta a lenda. Graaaaaaaaaaaaaande Caymmi.
Belíssimas homenagens, Marco.
O Dorival jamais morrerá de fato.
Ficou na nossa alma.
Na forma de recordação.
No lamento das suas músicas bem interpretadas.
No próprio retrato dessa pessoa que se imortalizou pela arte.
Uma ótima palestra, meu amigo.
Bom final de semana.
Marco. O que seria da gente sem estes mágicos criadores que descem ao mundo dos mortais para criar sons que nos fazem viajar no tempo? Eu não viveria sem música, sem livros. Fico triste quando partem, mas me consola saber que vou continuar ouvindo o que criaram, lendo o que escreveram.
bj saudoso
Tem outra frase dele que eu adoro: "Não sou preguiçoso, sou contemplativo"...
De fato, ninguém sabia apreciar o mundo a sua volta como ele, ruminando tudo, bem devagar, e transformando o dia-a-dia em músicas, lindas.
A frase que mais gosto: só eu velo por você, meu bem, dorme anjo... (Acalanto)
Bisous e obrigada por essa delícia de post.
Amigopratodavida meu querido,
os bons se vão para alegrar o andar de cima, que graça tem se eles só ficam olhando a farra aqui embaixo?;)
lindos dias,
beijos
Ano passado escrevi um post em que dizia que o homem mais bonito do Brasil não é Gianechinni, Paulo Zulu ou qualquer um dos bonitões que aparecem nas telas e levam as mulheres ao suspiro profundo. O homem mais bonito do Brasil é Dorival Caymmi. Com sua partida perdemos muito, muitíssimo da beleza do Brasil.
Músicos assim deixam um vazio quando partem, não é mesmo?
Espero que tenha saído tudo bem na palestra, Marco.
Beijo grande.
Essa hora, a da mais indesejável das visitas, como você diz, infelizmente chega.
Que eles possam inspirar outras pessoas aqui!
Marco-Ternurinha, fiz post especial para você no dia de hoje.
meu beijo muito carinhoso
Marco: o Dorival era um grande compositor. Todas as músicas que fez são inquestionáveis e prefiro não cifrar apenas um texto ou frase do mesmo. Seus versos nos encantam!
Um abraço...
Marco,
Acho tão difícil escolher uma música, um verso, um trecho do Caymmi. Fica o legado de amor a Bahia e ao Brasil. Fica o talento de sua obra e de sua família.
Mas ele foi "tanto" que até mesmo na sua morte, as pessoas sorriam ao falar dele!
Saudade pra sempre!
beijos
É verdade, meu caro, Dorival cantava as coisas do mar como ninguém. Espero que o seu "encontro" com Machado tenha sido o melhor possível. Abraços.
Amigo, estou louca para saber como foi a palestra!!!!
Dê notícias.
Bisous
Eu gosto demais dos Caymmis. Todos eles. Ô família pra ter sensibilidade e voz bonita, né?
Eu tava lendo a Mimi agorinha... você não vem fazer lançamento de livro aqui em Goiânia não é? :(
Beijos, Marco!
Quem não ama Dorival Caymmi? Ele é uma das poucas unanimidades...acho...na música.
Eu gosto de lembrar aquele trechinho: " Você já foi à Bahia, nêga?". Acho lindo ele perguntar isso. Você já foi, Marco, à Bahia? Se não foi, vá. Dorival mandou.
Ele não morreu, não é mesmo?
Beijos!!
Dora
Nossa, Marcos, não sabia que o cantor de "Shaft" havia morrido. Música maravilhosa, você tem razão.
Caymmi era, para mim, um deus. Um deus imenso e perfeito desses de que a Bahia é pródiga. Todas as músicas dele são belíssimas. Gosto especialmente de João Valentão e da Suíte dos Pescadores. Mas gosto de todas.
beijos, saudades.
P.S. Como já avisei, até o final de novembro, estarei um tanto ausente (ai, ai, que tristeza) porque o trabalho não está me dando tempo. Nem escrevo mais!!!
Espero que tenha paciência comigo.
Beijo, Ternuróviski!
Fica com Deus!
Estou rindo com o seu perfil. És mesmo do Rio de Janeiro? Depois de um perfil desse,fiquei em dúvida. rsrs
E o livro qual o assunto? Quanto é para chegar em Recife, com frete?
abraços
Conheço essa música. Confesso, foi por uma novela que passou cá em Portugal. Mas, adorava a voz do homem, imponente!
Estão no sítio certo, do lado do Criador que adora contemplar a sua obra! :)
Boa semana! *.*
Marco, parabéns por mais um belo texto.
Gostei muito da desconfiança com que o termina. Também sinto a mesma coisa: que foi ele o inventor do amor.
E sua palestra?
Abração.
Olá Marco!
Realmente duas perdas muito sentidas. Caymmi fez parte de minha infância e adolescência, começando com Acalanto, que minha mãe sempre cantava pra mim e depois, no colégio, tantas outras. Havia uma das Irmãs, fã dele que nos ensinava português com suas músicas. Eu não saberia selecionar um frase dele, selecionaria Acalanto inteira.
Estou esperando para saber como foi a palestra e a noite de autógrafos. Conte-nos!
Beijo.
Primos virtuais acabm fazendo posts irmãos: até a canção que escolhi foi a mesma sua, só que na voz da Nana... Nem comentarei sobre o Mestre baiano, deixarei para que você leia meu post, mas concordo plenamente quanto à dificuldade de pinçar uma "frase memorável", uma vez que tantas são elas nesta obra pequena, porém precisa e genial! Quanto ao Isaac, o mundo perde swing bem mais cedo que se esperava...
E o Machado, para mim, só não é "maior" porque nasceu brasileiro: ele é um dos gênios maiores da Literatura mundial, mas o dito "mundo" não o conhece o quanto deveria...
Abração, meu caro, e excelente palestra: não deixe de publicar um trecho dela por aqui!
P.S.: Ah, e o "adedanha", por aqui, é conhecido como "stop"!
Amigo Marco, vou de férias!
Até dia 15!
Depois visito, em busca de novas histórias! :D
Beijos *.*
p.s.- nada de choradeira, eu volto! loool
Oi querido! Estou tentando voltar a escrever :) Saudades do seu blog!
Caymmi foi realmente uma grande perda. Aprendi a gostar da sua música por intermédio de meus pais.
um beijo
Não consigo imaginar o Caymmy cantando e o Hayes acompanhando, mas foram duas perdas enormes. Só serve de consolo o fato de que, no caso do Caymmi, ele deixou dois filhos talentosíssimos e uma obra inesquecível.
abração
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