
Atendendo a milhares de pedidos, vou relatar em rápidas linhas como foi a mais que agradável noite de sábado passado, quando fiz uma palestra sobre Machado de Assis e aproveitei para fazer uma noite de autógrafos com meu livro “Popularíssimo – O ator Brandão e seu tempo”.
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O que eu posso dizer? Gostei à beça! Foi muito, muito prazeroso para mim atender ao convite da Secretaria de Educação e Cultura de Mauá e palestrar sobre o “Bruxo do Cosme Velho” (minha namorada, Sylvia, foi quem conseguiu este evento para mim). Eu nem sou especialista em Machado de Assis. Eles me perguntaram se eu poderia fazer a palestra e eu disse que sim. Especialmente porque eles iam me pagar para isso. E, se querem me contratar para fazer palestra, eu podendo puxar o assunto por um viés de História e me dando algum tempo para me preparar, posso falar sobre muitas coisas, desde a “importância da farinha de rosca no bife a milanesa” até sobre a “vida sexual do bicho da goiaba fora da goiaba”. Bem, já faço palestras há mais de 15 anos...
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Mas como eu disse, gostei à beça. Aliás, vocês sabem de onde vem essa expressão? Não? Ah, então lá vai mais uma seção “A origem das expressões de uso corrente”, que, aliás, já faz tempo que não apresento nenhuma por aqui.
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Bem, como a maioria aí sabe, “à beça” significa “em grande quantidade”. Logo, se eu gostei à beça, é porque eu gostei muito demais da conta pra caramba às pampas.
O termo vem de Gumercindo Bessa, jurista sergipano (na foto abaixo), que ousou enfrentar ninguém menos que Ruy Barbosa na famosa Questão do Acre. Em 1904, o Estado do Amazonas queria que a terras do Acre, adquiridas à Bolívia por manobras do Barão do Rio Branco, fossem incorporadas no seu espaço territorial. Os acreanos desejavam que o Acre fosse estado a parte ou melhor ainda, que fosse território a parte (ele só virou território a partir de 1920). Os amazonenses contrataram o baiano Ruy Barbosa; os acreanos chamaram o sergipano Gumercindo Bessa. Na peleja judicial que se seguiu, Gumercindo apresentava copiosas razões, fartas argumentações favoráveis ao nativos do Acre. O cabeçudo Águia de Haia chegou a ficar tonto e tomou uma goleada do Bessa que mandou bem à beça no tribunal.
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O primeiro a usar esta expressão foi o presidente Rodrigues Alves (governou no primeiro mandato de 1902 a 1906), que ao ouvir um determinado rapaz, que defendia seus pontos de vista com tanta eloqüência, apresentando tantas razões, teria dito: “O senhor tem argumentos a Bessa”, querendo dizer que ele estava se portando como Gumercindo Bessa, que sempre ia para os julgamentos recheado de argumentações.
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Pois é. A expressão caiu no gôto do povo e ao longo do tempo, os dois “ss” deram lugar ao c cedilha, mas o sinônimo de muita quantidade, de copiosidade, de abundância pegou que nem pereba em menino. Todo mundo usa isso à beça.
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Ah, sim. Vocês querem saber como foi a palestra. Bem, eu falei à beça e parece que o povo gostou à beça. Eu certamente gostei. Tinha planejado falar por uma hora, mas quando me empolgo, falo mais que o homem da cobra. Fiquei lá, tagarelando que nem pobre na chuva por duas horas e o povo só me dando trela. O título da palestra foi “Viagem pitoresca com Machado de Assis no ano de seu centenário” e meu objetivo era falar um pouco sobre a vida dele, mas também apresentar o Rio de Janeiro de seu tempo, tanto citado em sua obra. Se conseguisse despertar nas pessoas o desejo de ler os livros de Machado, aí seria maravilhoso.
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E parece que eu consegui. Uma das pessoas que foram me assistir arrastou os filhos adolescentes para que também ouvissem um pouco de Machado. É claro que os meninos foram com uma tromba dest’amanho, achando que seria um saco, e que eles nem sabiam quem era esse tal de Machado de Assis. Pois bem. Via os dois na platéia e eles nem piscavam, acompanhando tudinho. Finda a palestra, os dois pediram à mãe para comprar os livros dele, pois ficaram com vontade de lê-los, especialmente “Dom Casmurro”, de que falei especialmente. Aliás, a mãe também disse que leria todos os livros do “bruxo” que pudesse. Ah, isso é que nem Mastercard... Não tem preço!
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Mas guardei a melhor parte por último. Terminada a palestra, vêm falar comigo duas pessoas especialíssimas, dois blogueiros que foram me fazer esse carinho, essa gentileza. A primeira foi a Milena (do Mente quem diz), acompanhada do esposo, e que encheu meu coração de alegria com a sua presença (nos lemos há três anos e nunca nos conhecemos). A outra, que aí fez meu coraçãozinho transbordar de felicidade, foi surpresa total: meu grande “amigo de infância” J.F. levou a família toda, incluindo a simpaticíssima esposa Nina, a filha e minha amiga Luciana (do ...EEEPA!) com seu marido Vagner, e as filhas Juliana e Vanessa. Só faltou levarem o cãozinho beagle Ed Wood, que também é blogueiro! E mais: a Luciana tinha acabado de lançar o livro que ela ilustrou na Bienal e ela e a família foram correndo para Mauá, só para me prestigiarem! Fiquei dois passos dentro do Paraíso com a visita da Milena e da família blogueira do J.F.
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Eu apresentei a Milena ao J.F. e família e, como são pessoas maravilhosas, se entenderam rapidamente, também viraram amigos de infância e se visitam. Foi, definitivamente, uma noite maravilhosa, me diverti e me alegrei à beça. A Milena escreveu um post muito lindo sobre aquela noite (dêem uma chegadinha no blog dela para ler...). O J.F. já escreveu alguma coisa também e avisou que ainda vai escrever mais.
Definitivamente, quem tem amigos tem um tesouro! Muito obrigado, Milena, JF, Luciana e família! Vocês são legais à beça!
Fico devendo mais essa ao Brandão Popularíssimo e ao Machado de Assis...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Noite do Prazer”, de e com Claudio Zolli. Verdadeiramente, aquela foi uma noite pra lá de prazerosa...
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E por falar em livro, gostaria de recomendar aos queridos amigos e leitores o mais novo lançamento do nosso amigo blogueiro Marcos, do Esculacho e Simpatia. O blog dele é fantástico, por conta disso até imagino como deve ser bom o livro. Eu já pedi o meu! Faça como eu! Vá até o blog dele e se informe.