quinta-feira, maio 01, 2008

Só Esso dá ao seu carro o máximo


Na semana passada, os jornais divulgaram a venda da distribuidora de combustíveis Esso para a Cosan, um grupo alcoleiro brasileiro. Li a matéria e fiquei lembrando de como essa marca se tornou uma de minhas antigas ternuras.

Se você olhar acima, no painel que eu fiz para ilustrar o template deste blog, vai encontrar uma “gotinha” da Esso. Na fase pré-tigre, o símbolo dessa empresa norte-americana eram duas simpáticas gotinhas de óleo, uma com corpo de mocinha e a outra era um rapazinho. Eu tinha um chaveiro com esse bonequinho. Aliás, tinha adesivos também. E meu sonho de consumo, no tempo em que Napoleão Bonaparte trocava soldadinho de chumbo comigo, era ganhar um modelo das gotinhas em pano para a gente encher de algodão.
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Era um barato ver o desenho das gotinhas nos comerciais da Esso! Neste post estou trazendo alguns que cacei no You Tube. Acreditem: houve um tempo em que não havia controle remoto, a TV tinha imagem em preto e branco e a gente quase que só assistia à TV Tupi. Era lá que passava o Repórter Esso.
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Eu também ouvia este noticiário na Rádio Nacional, mas eram coisas diferentes. No Rádio, o locutor era o Heron Domingues, depois o Luís Jatobá e na época final do programa, era o Roberto Figueiredo. Na TV, as notícias eram lidas pelo Gontijo Theodoro (acho que destes, só o Roberto Figueiredo é vivo) Podem acreditar: de segunda a sexta, praticamente todos os aparelhos de televisão do Brasil, às 20h, estavam sintonizados na TV Tupi. Exatamente neste horário, entrava o famoso prefixo com rufar de tambores seguido de um solo de trumpete que até hoje é lembrado por quem foi garçom na Santa Ceia, como eu. Tem gente das antigas que até hoje chama o Jornal Nacional de “Repórter Esso”.
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Aliás, até onde eu sei, o Jornal Nacional é o último programa de TV que manteve o nome do patrocinador no seu título, como era comum no tempo do Teatrinho Trol, Resenha Esportiva Facit, Telejornal Pirelli, A Estrela é o Limite, Grande Teatro Imperatriz das Sedas, Sessão Dulcora e Repórter Esso. O JN inicialmente era patrocinado pelo extinto Banco Nacional. Mesmo com o fim do patrocínio mantiveram o nome porque ele dava uma idéia de telejornal para todo o país. Mas eu gostava mais de ver o Repórter Esso.
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Uma vez eu encontrei o Gontijo Theodoro num dos jantares que a minha querida amiga a comediante Nádia Maria costumava organizar uma vez por ano em homenagem aos velhos artistas do Rádio e da TV. Ela sempre me chamava para ir porque sabia que eu adorava circular entre aquele povo que tinha feito a delícia da minha infância e adolescência. Uma vez eu jantei ao lado da Neide Aparecida e conversamos bastante. Quase falei pra ela que eu costumava chamar minha mão direita de “Neide Aparecida”, mas isso é outra história...
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Pois é. Num desses jantares, encontrei o Gontijo e fiz a maior festa, falei que ele era uma de minhas lembranças de infância e ele ficou me olhando com uma cara de “você está me chamando de velho?”
Um dia desses eu faço um post só sobre o Repórter Esso.
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E então, a Esso está saindo do Brasil... Ela se instalou por aqui há quase 100 anos – desde 1912, quando chegou como Standard Oil Company, foi a primeira petrolífera a atuar no país, colocou o primeiro posto na rua, tinha o primeiro caminhão-tanque. Mais tarde, viraria Cia. Esso Brasileira de Petróleo e atualmente é ExxonMobil. No meu tempo de guri, as maiores rede de postos eram a Esso e a Shell. A Texaco e Atlantic corriam por fora. Eu gostava mais da Esso por conta dos comerciais e por usar seus produtos também.

Durante o racionamento de gás ocorrido nos anos 60, toda família tinha o seu Fogãozinho Jacaré, a querosene (caraco! Esse aí é do tempo em que eu jogava bola de gude com Matusalém!). Os mais antigos que me lêem sabem do que se trata. Os mais novos, nem desconfiam. Bem, coloquei aí ao lado uma foto do bicho. A gente comprava o querosene Jacaré para alimentar o pequeno fogareiro. Nele, eram preparados os pratos que mais demoravam a cozinhar, como feijão, carne assada. Para coisas mais rápidas, usava-se o gás parcimoniosamente.
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Nos anos 60, a Esso trocou de mascote. Saíam as minhas queridas gotinhas e entrava o Tigre da Esso. Lembro que, li sobre a origem deste símbolo. Nos EUA, certa vez, um homem parou num posto Esso para abastecer, calibrar pneus, enfim, dar um trato no veículo. Ele tirou algo do banco de trás do carro. A porta ficou aberta. Um tigre tinha fugido de um circo e resolveu justamente entrar no carro do cidadão, se refestelando no banco traseiro. O rapaz não percebeu, fechou a porta e saiu com seu automóvel. Quando ele estava numa avenida muito movimentada, ouviu um certo ronronar vindo de trás. Olhou pelo retrovisor e viu que estava dando carona para um baita tigraço!

Desesperado, ela socou a bota no acelerador, atravessando a avenida mais movimentada da cidade em segundos. Quando pôde parar, ele largou o carro e saiu gritando por socorro. O caso chegou aos jornais e a Esso aproveitou a deixa: mandou fazer um comercial em que dizia que o cara tinha posto a gasolina Esso no carro e que por isso fora como se ele colocasse um tigre no motor. A peça publicitária fez sucesso e os executivos resolveram investir no tigre como mascote. Ficou meio parecido com o “Tony”, o tigre da Kellog’s, gerou até protestos, mas acabou ficando do jeito que se conhece até hoje em dia. Trocaram o slogan: “Só Esso dá ao seu carro o máximo” por “Ponha um tigre no seu carro”.
Essa história pode ser considerada lenda urbana, mas é danada de boa, né não?
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Aqui no Brasil, o tigre da Esso também agradou. Especialmente às crianças. Eu ganhei um chaveiro com um tigrinho de plástico. Foi quando a Shell contra-atacou e lançou o Elefantinho Shell. E o jingle: “A Shell sempre dá/Aquele algo mais/Que está presente onde quer que você vá/Seja no campo, na cidade ou rodovia/Shell é o produto que você confia/Evidentemente, em cada posto Shell/Há sempre gente que gosta do que faz/Aquele algo mais/Que a Shell lhe oferece/Shell é o produto que você merece/Você pode confiar na Shell!” (moçada, eu tenho essa musiquinha na memória. Não existe essa letra na Internet, já procurei, só aqui no meu, no seu, no nosso Antigas Ternuras!).
Tigre contra Elefante e deu Tigre. Até hoje, o felino é o símbolo da Esso. Já o Elefantinho, só o pessoal que foi comissário de bordo do 14-Bis como eu é que lembra. Ah, sim. Eu também tinha um chaveiro com o Elefantinho Shell...
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A Esso já foi associada a imperialismo. No Rio, a sede da companhia ficava no Centro, defronte ao Consulado dos Estados Unidos. Sempre que algum grupo ia até o consulado para fazer algum protesto, aproveitava e quebrava uns vidros do prédio da Esso. Durante muito tempo eu passava ali na Av. Presidente Wilson, ou vindo pelo Aterro do Flamengo, olhava para o alto do prédio e me acostumara a ver ali a “lua oval azul e vermelha” da logomarca da Esso, conforme Caetano cantou na música “Paisagem Útil”. Um dia percebi que ela tinha sido arrancada. A sede da multinacional fora transferida para a Barra da Tijuca. Saía de perto de um território norte-americano diplomaticamente falando, para dentro de um outro, culturalmente falando. Como se sabe, não é possível andar cem metros na Barra sem se deparar com alguma palavra ou frase em inglês.
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Houve época em que a Esso era poderosíssima no mundo. Tem uma história que ilustra bem isso. John Rockfeller era o todo-poderoso presidente da Standard Oil (como vimos, o antigo nome da Esso). Ele foi até a China dos tempos pré-Mao evidentemente, e começou a distribuir gratuitamente fogão a querosene para a população. As pessoas riram dele, dizendo que ele tinha virado Papai Noel, que estava dando seus produtos de graça, que o lucro da companhia ia cair...

Ele ouvia isso e só sorria. Mas quando os chineses se afeiçoaram ao fogãozinho e precisavam de mais querosene, além do que ele tinha cedido em cada peça, o Rockfeller passou a gargalhar com os lucros da venda de Querosene Standard Oil para milhões de chineses... Visão empresarial é isso aí.
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Cada vez mais, vejo as marcas da minha infância/adolescência desaparecendo. Elas saem dos meios de comunicação, saem da minha vista e vão se alojar na parede da memória. É um espaço volátil, admito. Mas é um recanto para onde eu me recolho sempre e cada vez mais.
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você assiste a alguns antigos comerciais da Esso e a vinheta de abertura do Repórter Esso

27 comentários:

Moacy Cirne disse...

Maravilha de postagem. A Esso - ou seus agentes de divulgação publicitária - sabia de tudo em matéria de anúncio. No Brasil, o poeta concreto Décio Pignatari criou alguns de seus textos. E a sua revista de divulgação, nos anos 7o, distribuída nos postos de gasolina? Era muito bem feita. Um abraço.

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco!
Eu sou um poucquinho mais nova, mas também tinha os mesu bonequinhos de gotinhas. Eu os colocava em cima da tv assim que meus pais saíam para trabalhar e minha ama colocava os dela da jovem guarda, eram nosso pequeno segredo... Depois, eu mais mocinha, tive o Tigrão como marca registrada da Esso e de minhas férias na praia em Guarapari ES, onde tinha um posto Esso e um tigrão enorme que eu era louca para abraçar. São símbolos que marcaram épocas e as nossas vidas também. Que bom que tem esta memória incrível, assim pode nos levar a viajar no tempo! E, como você mesmo disse, você é muito didático meeesssmo!
Um beijo, ótimo feriadão!

Lulu on the sky disse...

Fantástico seu post sobre a Esso.
Parabéns.
Big Beijos

Anônimo disse...

Realmente a Esso fez história no Brasil!! Que pena que ela foi vendida!!

Ah, deixei um memê para você no meu blog!

Kisses

J.F. disse...

Marco,
Sensacional! Voltei aos tempos de criança, quando "o primeiro a dar as últimas" era ouvido em todos as casas. Tenho, até hoje e muito bem guardado, o chaveiro com a gotinha. A Esso marcou época, no Brasil. É uma pena desaparecer essa marca tão forte. Abração.

Anônimo disse...

Pô, cara, tu é mesmo apaixonado essa tal de Esso, vade retro! Eu também fui garçon da Santa Ceia e me lembro de tudo isso que você relata, mas o que eu mais gostava era da voz desses locutores citados. Gostei dessa idéia de chamar a mão direita de Neide Aparecida, quem sabe ela não gostaria de saber disso? Meu abraço.

Anônimo disse...

Sei bem o que vc quer dizer,MARCO. Às vezes,fico assim tbem,vendo muitos ícones da minha infância desaparecerem. Mas é a vida. É o preço da modernização.
Adorei a verdadeira aula que vc deu aqui. Não só sobre a ESSO,como a lembrança do elefantinho da SHELL que,inclusive,era apelido pejorativo de amigos de infância,hehe
Abração!!

Anônimo disse...

Por acaso, a Esso não faz parte da realidade portuguesa! Não há muita ligação, pelo menos que eu tenho conhecimento. lool
Nós é mais a Galp!
Depois há outras marcas: a BP, a Repsol.
Bom fim-de-semana! *.*

Francisco Sobreira disse...

Você, hein, Marco, sempre nos proporcionando diversão nesses seus relatos que falam de antigas ternuras? A vinheta que abria o Repórter Esso ficou na lembrança de todos nós que somos daqueles tempos. Então, foi amigo da Nádia Maria? Felizardo. Gostava muito dela. Um abraço.

Mimi disse...

Eu não sabia dessa história a metade!!!
Aff, Ternurinha, nem vou perguntar quantos anos vc tem, hahahahah!

E o mundo gira e o que é antigo se torna obsoleto e o que é novo se torna descartável... que tempos vivemos.

Ainda bem que vc aproveitou bem seus momentos de Ternura.
Acho que Carpe diem sempre foi seu lema.

Um beijão muito saudoso (hoje eu entrei só pra te ver, continuo sem tempo!)

Anônimo disse...

oi querido Marco,saudadess estive ausente ,mas to de volta e vim te ver,nossa to esperando o video da entrevista que vc deu na tv que nao pude assistir pois nao consegui pegar esse canal ,quando vc vai colocar o video?quero muito te ver e a entrevista tb é claro,ne, te adoro,bjsssss

Marcos Pontes disse...

Como só fui ver televisão aos dez anos de idade, quando a família mudou-se para Maceió, não coneci o Reporter Esso, o Vigilante Rodoviário, o Nacional Kid e outras legendas de que ouço falar, mas do elefantinho e do trigrão eu lembro bem. Me veio à memória agora uma musiquinha, mas não estou associando à marca: "quem não é o maior, tem que ser o melhor...", era da Esso?

benechaves disse...

Marco: me lembro do Reporter Esso e de outras 'antigas ternuras' relatadas por vc. Aquele era um tempo bom, não? E a Neide Aparecida, hein? Quantas mãos direitas não funcionavam por ela! Uma beleza de mulher! Pois é,mais uma bela postagem sobre fatos que se foram. E vc com a sua verve de sempre a nos garantir uma leitura saudável e humorística.

Um abraço...

ninguém disse...

Pôxa vida, Marco. Tô aqui lacrimosa da silva, lembrando de tannnnnta coisa que se foi. Mas lembrar é preciso. Brigadão.
bj

Anônimo disse...

Marco, ainda me lembro do Reporter Esso, mas vagamente.
Achei o texto delicioso (aliás, uma característica dos seus escritos).
Você tem razão: os ícones da nossa infância e juventude se foram e os atuais, muito mais numerosos e voláteis se vão também, porém sem deixar tanta saudade.

Beijos, boa semana para você.

Anônimo disse...

Eu SEI qu sou mais velha que você, mas a sua memória é muito mais velha que a minha...rs Não entendo isso! Claro que me lembro do Reporter Esso( que a gente falava emendado assim: reporteresso...rs), me lembro da musiquinha das gotinhas, mas, o resto fica tudo vago...Eu tenho a idéia de que eu vi, mas, nada é tão nítido como a sua descrição...
Eu adoro suas "conversas" aqui, entremeadas com suas "tiradas" de humor!
Fique bem. Dias felizes para você.
Beijos muitos.
Dora

Tina disse...

Oi Marco!

Nossa! Lembrar so Repórter Esso é atestado de velha idade... (rs) mas dá saudade e eu lembro. (pouco, mas lembro!) Viver faz bem. Adorei o post. Lembranças...

beijo grande e boa semana,

Stella disse...

Bem, Marco, é isso que a passagem do tempo causa: mudanças que levam sempre aquilo que tivemos como referência, como identidade pessoal.
Um dia é a Esso, em outro será alguma outra antiga ternura que sai para dar lugar a muitas outras. Porque, na verdade, o que não vai se apagar dentro de nós são aquelas coisas que nem mesmo a internet consegue preservar, por exemplo a música do elefantinho. Você lembra dela esta lembrança é a ternura eterna que você, Marco, é capaz de reavivar aqui em seu canto.
De lembrança passa a ser algo do hoje, porque tudo o que parece desaparecer, na verdade, apenas sai de cena para que você desfrute de novos horizontes, se encante com outras canções e outros objetivos e motivos dignos de rememoração.

Um abração para ti, moço!

Carpe Diem!

Dilberto L. Rosa disse...

Rapaz, que volta no tempo... Parabéns pelas alusões engraçadíssimas ("trocando com Napoleão"?! Rs), pelo texto bem escrito e cheio de paixão, coisa que vem faltando à net por esses dias... Também sinto falta de muitas coisas e marcas de meus idos anos 80, mas, apesar de não sermos contemporâneos, sabes que cultivo uma fascinação pelo passado e vi muita coisa do Repórter Esso: tanto que sei imitar o Jatobá, com todas aquelas inflexões e "erres", rs, com musiquinha e tudo! Parabéns, meu velho, esse post me tocou!

Amigo, os Morcegos voltaram, comemorando 4 anos de existência (30 de abril): aproveita e passa lá para a festinha! Abração!

P.S.: obrigado pelas palavras e pelo carinho de sempre. Uma última coisa: que tal pôr links nos sites que te premiaram? Gostaria de conhecê-los!

Renata Livramento disse...

ei querido, vim te dar um oi e deixar um bjo!

Janaina disse...

Rá! Eu tenho uma tia que foi oncinha da Esso. Ficava promovendo a marca nos postos de gasolina e enchendo os olhos dos moçoilos que iam abastecer os carros... :)
Marco, não sei se você já botou isso aqui... mas saberia dizer qual a origem da expressão "do tempo do onça"?

Beijos.

Anônimo disse...

Quanto tempo amigo Marco!!! Só prá recordar, todo mundo com as mãozinhas prá cima, cantando: "uh...uh...uh... que beleza (cadê o mengão?)".

Luma Rosa disse...

Marco, ao ler esse último parágrafo fiquei reflexiva e um tanto triste em imaginar que tudo um dia fará parte apenas de nossa memória e ficando remota, um dia pode se apagar. Não teremos passado, não teremos história, não existiremos mais e a agora modernidade, será exposição de uma época.
Eu lembro do tigre nos postos de gasolina e da chamada do jornal nacional, só!
Beijus,

benechaves disse...

Voltando aqui à cata de novidades. Tudo bem com sua mãe? Espero que todos estejam com saúde.
E que tenham um ótimo final de semana.

Um abraço...

bia disse...

oi Marco..

Sabe, talvez voce possa me ajudar....ando procurando um comercial antigo da Esso, na década 60, filmado na praia, no Rio....já era na época do Tigre. O comercial tinha um casal e duas crianças atrás no carro. Você tem alguma idéia como posso encontrar essa relíquia?

obrigada e parabens...adorei o blog!!

Anônimo disse...

Muito interessante o texto! A ESSO fez história, e nos deixou o querosene JACARÉ , que segue comercializado até hoje no Brasil! Fantástico!

Anônimo disse...

Minha mãe tinha o fogãozinho jacaré. Como usava pouco estava muito bem conservado. Não sei qual foi o destino do mesmo.