sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Evoé!


Em 1998, depois do estrondoso sucesso de uma peça que escrevemos juntos chamada “Cafona, sim, e daí?, o ator e diretor Sergio Britto me chamou e disse:
- Marco, agora eu queria fazer uma peça sobre o carnaval. Poderíamos até usar os mesmos atores do “Cafona...”. O que você acha?
- Eu acho a idéia ótima. Vou já começar a pesquisa.
Ele teve esta conversa comigo numa quinta-feira. No domingo, eu liguei pra ele:
- Sergio, tá pronta. Já escrevi a peça.
- Jááá? Então me traz aqui em casa que eu quero ler.
Levei. Ele leu. Adorou. Disse que ia procurar patrocínio. Não conseguiu. Eu registrei a peça na SBAT em meu nome, para me garantir contra plágios e otras cositas. Tentei eu mesmo buscar patrocínio, anos mais tarde, também não consegui.
No ano passado, 2007, o Sergio Cabral e a Rosa Maria Araújo escreveram um espetáculo todo baseado nas antigas marchinhas de carnaval, chamado “Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha...”. Não tem texto, só atores cantando músicas carnavalescas. Foi e ainda é um baita sucesso. Ganharam prêmios e o escambau. É um espetáculo muito diferente do meu, que tem diálogo, personagens, histórias contadas e muitas marchinhas, incluindo as de letra bem safadinha...
Mas por muito tempo não conseguirei montar a minha peça, pois embora possa provar que a escrevi e registrei em 1998, sempre vai ter quem me chame de plagiador, aproveitador das idéias alheias...
Como estamos entrando no reino de Momo, vou postar aqui o início desta peça que escrevi e que tem por nome...
*
“MEU CARNAVAL BRASIL!”
De Marco Santos
Situação: É carnaval. Seis foliões mascarados e fantasiados brincam pelas ruas do Rio. Até que se encontram, se brincam, se reconhecem, se emocionam.

O cenário é uma rua do Rio que pode virar, na recordação dos foliões, um clube, o Teatro Municipal com seus gloriosos bailes, o Boulevard 28 de Setembro e seus corsos, a passarela das escolas de samba...Uma possibilidade seria uma foto, um grande painel no fundo. Muitas serpentinas. Máscaras dos antigos carnavais, pandeiros...
Os figurinos são fantasias dos antigos carnavais: Pierrot, Diabo, Arlequim, Pirata, Dama antiga e Colombina.


OS FOLIÕES VÃO ENTRANDO EM CENA DE VÁRIOS PONTOS DA COXIA. COMO SE ESTIVESSEM EM UM SONHO. UM SONHO DE CARNAVAL ANTIGO. CADA UM DELES LEMBRA, CANTANDO, UMA MARCHA-RANCHO FAMOSA: “AS PASTORINHAS”, “BANDEIRA BRANCA”, “RANCHO DA PRAÇA ONZE”, “ESSE ANO NÃO VAI SER IGUAL AQUELE QUE PASSOU”, “ESTÃO VOLTANDO AS FLORES”.ENTRAM, BRINCANDO, DANÇANDO. ELES SE OLHAM, SE RECONHECEM.
MULHER 2 - Nós estamos no mesmo sonho?
HOMEM 2 - Nós nos conhecemos, pelo menos? (TODOS SE RECONHECEM)
MULHER 1 - (Cantando) “Quem é você, diga logo que eu quero saber...”
HOMEM 1 - Ah, minha querida, no carnaval eu não sou de ninguém, eu sou da folia...
HOMEM 2 - Eu também. (CANTANDO) “Não me interessa saber ê-ê-ê, o que é que eu vou dizer em casa...”
MULHER 2 - Ih, menino...Eu não sei o que é ir em casa há muito tempo...Estou que nem pinto no lixo...
MULHER 3 - Se isso aqui for um sonho, eu não quero que me acordem...

HOMEM 1 COMEÇA A CANTAR “MÁSCARA NEGRA”. OS OUTROS ACOMPANHAM)

HOMEM 1 - “Tanto riso, oh, quanta alegria...”
TODOS - “Mais de mil palhaços no salão...Arlequim está chorando pelo amor da colombina...No meio da multidão...Foi bom te ver outra vez...Está fazendo um ano...Foi no carnaval que passou...Eu sou aquele Pierrot...Que te abraçou...Que te beijou, meu amor...Naquela máscara negra, que esconde teu rosto, eu quero matar a saudade...Vou beijar-te agora...Não me leve a mal...Hoje é Carnaval...
HOMEM 2 - Hoje somos sonho. Não temos nome, ninguém nos conhece...Vamos viver um conto de Carnaval...
MULHER 3 - Hummmm...Esse mistério me agrada...Mesmo porque depois do que eu já fiz nesse carnaval, se vocês me conhecessem...
MULHER 1 - (cortando) Então assim será! Seremos como o espírito dos antigos carnavais!
MULHER 3 - Aqueles carnavais é que eram pra valer!
MULHER 1 - Brincar naquele tempo era da pontinha!
MULHER 2 - Nossa! Você desencavou essa lá de trás, hein? “Da pontinha...”
HOMEM 1 - Meninas! Meninas! Eu acho a idéia ótima! A gente poderia começar pelo iniciozinho...como o carnaval começou, lá no Império Romano, as festas em honra a Saturno, “a Saturnália”...
HOMEM 1 - O entrudo...

HOMEM 2 - Aquela festinha de ricos, jogando uns nos outros limãozinho de cera com água perfumada...
HOMEM 3 - ...Isso no início. Depois o povão avacalhou, e jogava uma outra água com outro tipo de perfume...
HOMEM 1 - Ah, valia qualquer tipo de água. A confusão estava formada. O pau comia solto!
MULHER 1 - Alguém me contou que o Pedro I adorava um entrudo...Voltava todo molhadinho para o palácio...
HOMEM 2 - ...Depois de deixar muitas mulheres molhadinhas...

HOMEM 1 (Interrompendo) - Mas um grande personagem dos antigos carnavais foi o português José Nogueira de Azevedo Paredes, o “Zé Pereira”!
TODOS - “Viva o Zé Pereira
Pois que a ninguém faz mal
Viva a bebedeira nos dias de Carnaval!
HOMEM 1 - Um sapateiro português alegre, bonachão, que tinha a sua oficina na Rua São José, 22. Num dia de carnaval, ele e uns amigos tomaram umas e outras, alugaram uns tambores e saíram pela cidade. O Zé ia na marcação. E o povo foi atrás!
(O HOMEM 2 PODERIA FAZER O PAPEL DO “ZÉ PEREIRA” COM OS DEMAIS SEGUINDO ATRÁS)
HOMEM 2 - Essa foi a primeira música de carnaval que se conhece! Porque naquela avacalhação do entrudo não tinha música.
MULHER 1- Nos primeiros bailes carnavalescos tocavam de tudo, menos música de carnaval.

HOMEM 3 - E na cidade, o povão brincava nos cordões...
MULHER 3 - Na Rua do Ouvidor, onde o babado era forte...
HOMEM 1 - O João do Rio escreveu que, numa ocasião, mais de 50 mil pessoas dançavam e pulavam na Rua do Ouvidor ao som de centenas de tambores.
OS DEMAIS - Cinqüenta mil? Na Rua do Ouvidor? Estreitinha daquele jeito?
HOMEM 1 - A música de cordão mais bonita e que fez mais sucesso foi a que Chiquinha Gonzaga compôs para o “Rosa de Ouro”...
TODOS - “Ô abre alas, que eu quero passar...
Eu sou da lira não posso negar
Rosa de ouro é que vai ganhar!

E vai por aí a fora... Quem sabe um dia eu não consigo montar essa peça? Garanto que a platéia vai ferver! Vai ter gente cantando: “Alá-la-ô ô ô ô ô ô... mas que calor...ô ô ô ô ô...” e outros entoando: “Ai que calor, mamãe... na bacurinha, mamãe... Não é na sua, mamãe... Mas é na minha, mamãe...”
M.S.
***********************************************
Neste sábado, entra texto novo meu no Playground dos Dinossauros. Quem quiser saber sobre meus “Rosebuds”, dê uma chegadinha lá.
***********************************************
Queria agradecer muitíssimo à minha querida amiga Renatinha por ter me indicado para o selo “Amigos Virtuais”. Obrigado, querida. Você é sempre tão gentil com o Antigas Ternuras... Pela praxe desses post.correntes, eu devo indicar dez outros blogs. Como tenho feito ultimamente quando um amigo me indica, eu repasso para todos da minha lista “Outras Palavras”. Todos são maravilhosos amigos virtuais.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve seleção de antigas marchinhas de Carnaval. Evoé, Momo! Bom Carnaval para todos!

19 comentários:

Moacy Cirne disse...

Um ótimo início, meu caro. Uma pena que não tenha aparecido patrocinador na época... E a lança-perfume, hem? Criança, nos carnavais de Caicó, comprava-a na rua, na frente de todos,sem qualquer problema. Um abraço.

J.F. disse...

Marco, torço para que um dia você consiga montar. Percebe-se muita pesquisa, mas também uma certa vivência. Será um sucesso garantido. Abração.

Stella disse...

Marco, eu adorei esta peça que você escreveu. O que me penaliza é o fato de se criar tantas dificuldades em se encontrar patrocinadores. Mas torço para que isto mude e sua peça não apenas estréie bem como passe durante uma turnê pela minha cidade, Belo Horizonte. Adoraria poder prestigiar seu trabalho da platéia com muitas palmas.

Bom, mudando um pouco de assunto aviso-te que tem presente para você lá no Dominus. Passe lá depois e pegue-o, tá?

Um abraço e boas folias para você!

Anônimo disse...

É mesmo uma pena Marco. Infelizmente ter um bom contato conta mais que o conteudo da peça. Mas não perca a esperança, com persistencia voce com certeza consegue.

Abraço

Renata Livramento disse...

Coisas do Brasil...se fosse letra baixaria de funk aparecia alguém para "patrocinar" rapidinho...aff!

Nada tira seu mérito, marco, parabéns! Compreendo a sua frustração, eu também ficaria muito frustrada, mas acredite sempre em seu talento!

bjos e bom carnaval!

Anônimo disse...

As vezes sinto saudade de épocas que não vivi e a era de ouro do rádio e dos carnavais é um momento que eu gostaria de ter vivido.Era tudo tão romântico, era romântica a nossa visão sob as coisas.O máximo de liberdade que vivenciavamos eram as máscaras na rua,esta liberdade vigiada e contagiante.Hoje o carnaval é mais livre,porém menos romântico.O carnaval está tomado por uma eroticidade e sexualidade que me enoja em muitos momentos.Mas enfim, é carnaval e o riso está à solta, apesar de tudo.E a tua peça tão linda,amei!Torço para que vc consiga patrocínio!Um beijo baiano!:*

Luciana L V Farias disse...

AAAAAAAAH.... eu adoraria ver... :-(((

beijocas!!!

José Viana Filho disse...

É mestre Marco,

é dificil produzir uma peça sem patrocínio!!Bem sei disso!!. Adorei o inicio dela.

Mas acho eu que o tema carnaval vai voltar ainda esse ano, pois, como bem falaste, a peça do Sérgio cabral foi um sucesso!!

abs e bom carnaval!!

Janaina disse...

Ahhh adorei o início da sua peça, Marco. Amei as machinhas de carnaval. Detesto esse carnaval de música baiana de hoje.
Beijos!!

Chellot disse...

Marco creio que será uma peça muito divertida.
Seu livro está muito bom. Não dei um adjetivo melhor, pois ainda estou lendo-o, mas já posso adiantar que estou adorando o enredo e aprendendo muito a cada página lida.

Beijos de folia.

Lena Gomes disse...

Pois é, Doce Marco... acho q não se deve desistir. O seu livro é uma prova disso. A peça pode "sair" também. E independente de pensarem em "plágio" ou não... eu não assisti "Sassaricando" mas sei q o tema é comum às duas, ainda assim, será q daria pra pensarem nisso? Enfim, acho q vale a pena você continuar tentando. Bem, um ótimo fim de carnaval pra você... divirta-se. Adorei ouvir as marchinhas. Beijos.

Anônimo disse...

Oi Marco!
Sua peça é ótima!
Gostei muito do que li!
Quando sua peça sair eu vou estar lá sentadinha assistindo!!
De Sassaricando só assiti a novela mesmo! Não vi a peça.
Adoro as marchinhas de carnaval!! Lembram o carnaval da minha época de criança! Nessa época não existia funk!!!
Um ótimo dia pra vc!
Um beijo!

BABI SOLER disse...

Queria ser duas para ter vivido essas coisas e estar no presente.

Foi bom ler isso tudo.

dade amorim disse...

Marco, a política de cultura de "nossos guias", parece que trabalha contra. Mas o Sérgio Britto é uma testemunha acima de qq suspeita, você nunca vai ser acusado de plágio pela peça - que aliás deve ser uma delícia de assistir... Não desiste, não, tenta pro próximo ano.
Beijo e sucesso.

Anônimo disse...

Cada um diz o que quer,mas o importante e que VOCE sabe que e capaz.

Anônimo disse...

Adorei seu blog!!!
Voltarei!
Até
http://sex-appeal.zip.net
http://cara-nova.zip.net

Anônimo disse...

Ai, papai, Ternurinha!!!!!!

Que tantos talentos vc tem!

Cada dia mais viro tua fã, parabéns.

Agora a pergunta que não quero calar: CADÊ MEU LIVRO??? Se o lançamento em Sampa já foi eu perdi pq estou (ainda)com uma labirintite que me tirou do ar por dias a fio!

(sei que deveria fazer isso por mail, mas agora já foi!)

Muitos beijos de uma foliã-fã que ficou sem carnaval esse ano!

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco!
Realmente é uma pena, mas eu acho que você vai conseguir patrocínio e será um sucesso. Lembranças e saudades tocam o coração das pessoas!
Estou de volta no blog. Beijo procê!

Anônimo disse...

Gostei demais, meu querido amigo.
Adoro carnavais, principalmente essas belas lembras de antigos bailes, mascaradas e blocos, hoje tão raros (se é que ainda existem).
Espero que consiga montat o espetáculo que, já imagino, será lindíssimo.

beijos
P.S. Peço desculpas pela ausência, devida a problemas de saúde na minha família. Mas agora já está tudo bem e já estou voltando à normalidade.