segunda-feira, novembro 19, 2007
Um atual mal passado
“A História se repete”.
Quem aí não ouviu esta frase porrilhões de vezes? Às vezes acho que vivemos numa espécie de looping, um continuum que volta sempre a um ponto de partida, feito quando a gente está perdido num lugar e reconhece que já passou por algum ponto mais de uma vez.
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Na moda, então, isso ocorre com uma freqüência alucinante. Noutro dia, eu estava num shopping, quando vi passar uma moça com um vestidinho-bata cheio de triângulos, círculos e quadrados coloridos. Cheguei a pensar que ali por perto estavam fazendo um filme passado nos anos 70. Que nada! A moça andava serelepe, crente que estava no auge da modernidade, com seu traje do tempo da novela “Selva de Pedra”. Aquela com a Regina Duarte fazendo papel de mocinha romântica.
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Na série “A origem de expressões que usamos sem saber de onde vieram”, hoje trago duas frases que tratavam de coisas de trocentos anos atrás, mas que cabem perfeitamente nos dias de hoje, feito pirulito em boca de menino.
A primeira é:
Pôr em pratos limpos.
O significado, como se sabe, é esclarecer coisas. Investigar algo que está nebuloso e dar uma explicação plausível. Jogar luzes sobre alguma coisa envolvida em sombras. Explicar suspeitas, deixar claro, enfim... você já entenderam, não é?
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Pois é. A origem dessa expressão vem da segunda metade do Século 18, na França, quando foi aberto o primeiro restaurante de que se tem notícia. (Parêntesis: restaurante no conceito que conhecemos hoje em dia, não estou falando de pousadas, estalagens e aqueles pé-sujos que a gente vê em filme de época. Fecha parêntesis). Foi estabelecido que a conta seria paga após a pessoa fazer a sua refeição. Não tinha essa de pegar ficha no caixa, pesar o prato, nada. O cliente entrava no recinto, sentava-se, o garçom vinha atender com o cardápio, escolhia-se o prato desejado, pedido feito na cozinha, quando pronto, entregava-o ao comensal, que caía de boca. Só depois de tudo isso é que chegava a “dolorosa”. Cabia ao cliente se coçar para pagar a despesa.
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Só que no meio da confusão, a novidade fazendo sucesso, um monte de gente lotando o recinto, tinha vez em que o garçom ou o dono do restaurante vinha com a conta para quem nem tinha feito o pedido ainda. O cliente reclamava, é óbvio. Ficava aquele clima “pagou, não pagou” e, para esclarecer, o cliente mostrava o prato limpo. “Ahhhh, então tá!”. Estava esclarecida a celeuma. Daí, o povo, essa entidade criativa que só, sempre que tinha alguma questão complicada pedia: “bota o prato limpo aí para eu ver!”
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A outra expressão que trago hoje, de certa forma, tem a ver com esta.
A emenda saiu pior que o soneto.
Ela significa que quando se tenta consertar alguma coisa, uma situação, pode ficar pior ainda. E tudo começou quando um candidato a escritor apresentou um soneto ao grande poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), o memorável Bocage (foto ao lado)que inspirou tantas piadas de sacanagem, com seus poemas satíricos cheios de saliências.
O tal poeta iniciante pediu uma avaliação para o seu soneto, solicitando que Bocage marcasse com uma cruz um erro porventura encontrado. O grande poeta leu tudo e não fez nenhuma marcação. O rapaz ficou empolgado: “Não marcastes nada? Está tão bom assim?”. E Bocage bateu de primeira, sem deixar a bola cair no chão: “Não marquei porque seriam tantas cruzes, que a emenda sairia bem pior que o soneto!”
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Agora vocês sabem a origem dessas antigas expressões. E o que elas tem de modernas? Bem, é só ler o jornal. Ou ver um telejornal. Ou ainda assistir a TV Senado, se vocês tiverem estômago de crocodilo. É tanta coisa que precisa ser posta em pratos limpos! E quando os caras tentam se explicar, a emenda fica sempre muito pior que o soneto!
Fico imaginando o dono do primeiro restaurante francês, num bate-papo imaginário com Bocage, lá no limbo:
- Povinho engraçado esse do Brasil, não é poeta?
- Muito. Gostam de uma sacanagem ainda mais que eu. Aliás, eles deram um novo significado ao termo “sacanagem”...
- Fico imaginando o que aconteceria aqui, no meu estabelecimento, se um brasileiro cá visse deitar os costados... No mínimo, iam arranjar um jeito de comer, não pagar e ainda mostrar o prato limpo...
M.S.
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Queridos amigos!
Mais uma vez quero agradecer a generosidade e confiança dos que adquiriram o meu livro. A noite de autógrafos foi um sucesso, em que pese a chuva prolongada pelo dia e noite inteiros.
Gostaria de pedir aos que solicitaram o livro que me avisem se ele chegou e em bom estado. Não confio nos Correios.
O livro pode ser comprado na minha mão e agora também em duas livrarias no Rio de Janeiro: a Leonardo da Vinci
e a Rio Antigo.
Ambas atendem por telefone e principalmente pela Internet, podendo enviar o exemplar para qualquer lugar do planeta. Nelas, ainda é possível comprar pelo cartão de crédito.
Eu consegui uma distribuidora para Belo Horizonte. O que significa que algumas livrarias da capital mineira, especialmente as ligadas a Teatro vão ter o livro.
Estou entabulando negociações para conseguir um ponto de venda forte em São Paulo. Aliás, pretendo fazer uma noite de autógrafos lá também.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “É”, do e com o Gonzaguinha. É ou não é?
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18 comentários:
Meu caro Marco,
Estive fora do ar (literalmente), mas agora retorno - e que bom retorno!- à sua erudição que, generosamente, partilha conosco.
Espero continuar te visitando e bebendo dessa água!
Um forte abraço.
Marco, tô mandando o comprovante do depósito online para você.
Confirme o recebimento, tá?
Adorei o post - esse país coloca poucas coisas em pratos limpos mesmo e quando coloca a gente logo desconfia.
Bisous!
Adoro Bocage! Desde muito nova que lia, às escondidas, as poesias do Bocage, nuns livros do meu pai. Descobri assim muito da sexualidade! loool
Parabéns pelo sucesso do livro! Tu mereces!
Caramba, devias vir até Portugal! Descer até ao Algarve! E aí, marcávamos um encontro. Fica em aberto! ;)
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Olá Marco!
É sempre muito legal saber o significado das frases, usamos, muitas vezes, sem prestar atenção no que significam.
Fico feliz que tenha conseguido livrarias e quando for lançar o livro em sampa, avise.
Beijo.
Caro Marco,
Primeiro quero dizer que recebi hoje, de manhã, o livro. Gostei da apresentação gráfica. Não sei quando começarei a lê-lo, pois no momento estou participando de uma comissão julgadora de um concurso de contos. Mas li a orelha, o prefácio Domingos de Oliveira e andei folheando o bichinho. Segundo, já lhe disse e volto a dizer: embora goste das suas postagens, tenho uma preferência especial pelo assunto de origem de expressões. Hoje você nos deu mais duas excelentes lições. E parabéns pelo sucesso do lançamento. Um grande abraço.
Já estou "afundada" nas páginas do seu filhote :)
E adorando....
Sucesso total na noite de autografos.. que bom.
Mondibeijos
Marco, recebi com muita alegria o livro, obrigada! Estou doida para começar ler! E muito obrigada também pela carinhosa dedicatória!
bjao!
Obrigado pela força com a "ação entre amigos". O bom nisso é que todos ganham. Eu, por exemplo, ganhei em conhecer seu excelente blog. Você está de parabéns!!!
Já respondi seu email. Se puder faça um link no seu blog pro JCF e ajude ainda mais a divulgar, ok?
abração
Marco:
Não conhecia a origem de "em pratos limpos" e sequer imaginava que tinha a ver com o pagamento das refeições nos primeiros restaurantes.
Como sempre, muito informativo.
Marco, no Dia 06 de Dezembro, será o lançamento do livro do Valter Ferraz
http://outrasestorias1.blogspot.com/
http://perplexoinside.blogspot.com/
E a Clarinha (Márcia), Denise (Drang) e Anninha Pontes (Esposa do Valter) estão promovendo um encontro blogueiro em Sampa. Porque não unir o útil ao agradável?
Você poderia linkar a página que está o livro no site! hehehe
Marco, eu uso muito expressões antigas, talvez por ter convivido muito com a "parentada" - Faz tempo estou para te perguntar sobre uma expressão, lembra? de onde veio "Afogar o ganso"?
Boa semana! Beijus
Opa,que noticia boa!!!
Eu já ia te mandar o email pra adquirir o livro,mas já que o senhor pode fazer uma noite de autógrafos por aqui,vou esperar.
Quem sabe ganho um abraço do amigo escritor,hehehe
Abração,MARCO!!
Querido amigo Marco, recebi seu livro e confesso que está difícil de parar com a leitura. Tenho predileção por biografias e seu trabalho está agradável, completo. Vou recomendar aos amigos todos. Já li quase a metade, li sobre 'minhas' ruas antigas e eu também estive no Teatro da Ópera um dia, muitos anos depois de Brandão.
Gostei imensamente!
Beijos!
ajhOlá,Marco!Sou sua leitora assídua! Nunca deixei comentários...porém gostaria de comprar o livro escrito por vc e nas livrarias indicadas não o encontrei! Como faço para adquiri-lo?Sem mais,parabéns pelo blog,pelo livro por tudo!!! Um abraço...Cristina
Eu gostei quando voltaram as calças à boca de sino :-) beijo
Cristina: Você pode encomendar o livro comigo pelo e-Mail popularissimo@gmail.com ou adquiri-lo no site da Livraria Rio Antigo onde ele já está disponível. Pela da Vinci, ainda estão atualizando o site, embora tenham o livro.
Obrigado. Carpe Diem.
Oi, Marco: aleluia, aleluia! Acabo de receber o livro.E corri pra te avisar. Pensei que o correio tivesse esquecido de mim(rs). Mas, tudo chegou em paz.
Olha: é vivendo e aprendendo.Não sabia a razão de tais 'expressões'.Bom para nós todos que saímos daqui com boas gargalhadas neste teu modo de narrar os atos e tb os fatos.
E parabéns mais uma vez pelo lançamento. É de se esperar risadas e mais risadas do livro.
Um grande abraço...
Amigopratodavida
perdoe minha falta de tato, ainda não encomendei seu livro,logo entrarei em contato imediato de primeiro grau, rss ;-)
Antigas Ternuras são Prazeres Novos, adoro!
lindo findi
beijos
Oi Marco!
Nossa, adorei saber disso, sério mesmo. Eu sou Historiadora e essas coisas muito me interessam. Obrigada por dividir.
E avisa mesmo quando a gravação do Jô for ao ar, faço questão de assistir.
Parabéns pelo sucesso do livro, você merece, tenha certeza.
beijo querido e boa semana,
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