sexta-feira, março 09, 2007

Heloísa e Abelardo


- Abelardo? Onde estás?
- Aqui, meu amor. Siga a minha voz...
- Oh, adorado!... Faz um ano que nos encontramos neste mesmo lugar que nem mesmo sei onde é. Sou conduzida até aqui por meus passos tão logo o manto da noite vem nos recobrir.
- Amor meu... E eu sempre estou e estarei aqui. Mesmo que as sete muralhas de Jerusalém desabem; mesmo que o céu rasgue de alto a baixo como a cortina do Templo de Salomão, mesmo que...
- E eu também estarei aqui.
- Mas... Sinto tristeza na sua voz.
- A sombra de meu tio traz medo e terror ao meu coração.
- Eu já te disse que te amo muito?
- Já. Mas é sempre bom ouvir.
- E você sempre ouvirá. No vento roçando nas folhas das árvores, no murmurar das águas dos rios, nas voltas das ondas do mar deslizando pela areia...
- Nossas paralelas se encontram no infinito...
- Onde os encontros perenes acontecem...

- Tuas palavras são como a noite estrelada, que me abraça com seu manto e me protege.
- Em muitas ocasiões me aflijo por não estar ao teu lado, amada Heloísa, te estendendo o braço quando tropeças, te sorrindo quando tudo parece tão triste ao derredor... Mas, tolo que sou, não percebo que estou sim, perto de ti... No som do teu sorriso, Em cada um de teus pensamentos felizes, No calor do sol que te dá bom dia, No canto dos pássaros que vão te enfeitar as manhãs, aí estou...

- Abelardo, minhas mãos estarão nas suas, meu beijo em sua boca, meu perfume em suas narinas. Estudarei com afinco a maior magia do mundo para parar o mundo e o tempo, só para ter você e ser de você. Meu tio e tutor ergue-se entre nós feito intransponível muralha. Ergo as mãos aos céus pedindo forças para ultrapassar seus obstáculos.
- Pare o tempo e o mundo. Eu à espera, te espero. Te esperarei enquanto o firmamento se sustentar sobre nossas frontes.
- Shh... Silêncio, amado meu... Alguém se aproxima...
Passos ressoaram nas pedras do chão salpicado de prata clara da luz da lua que perfurava o vidro da janela. Os personagens se calam. Um rapaz vê um dos livros desalinhado na estante. Vai até ele e o acerta. Ao ver o título, sorri e diz mentalmente: “preciso escrever sobre isso”....
M.S.
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A história de Abelardo e Heloísa aconteceu na França, na Idade Média. Eu a li - e me encantei por ela - quando era bem jovenzinho, o que significa dizer que aí está mais uma de minhas antigas ternuras. Quem quiser saber de mais detalhes sobre estes dois religiosos, por favor clique aqui.
Já tenho postado aqui pequenos contos que escrevo baseados em clássicos famosos, contos estes que situo em uma biblioteca. Sempre achei que depois que eu vou dormir os personagens saem dos livros e das estantes para conversarem sob a luz da lua...
(Túmulo de Abelardo e Heloísa, no Cemitério Père Lachaise, em Paris.)


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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Nx-Zero e seu grande sucesso “Razões e Emoções”.

21 comentários:

Anônimo disse...

Confesso que não li tamanha minha dor de cabeça mas sinto saudade de amigopratodavida, então...
beijossssssssssssss

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco, como foi de férias?
Uma bela composição. Uma história triste,mas onde houve muito amor. Achei genial esta sua idéia de sondar os personagens e imaginar oq ue fazem quando ninguém está vendo. Um ótimo final de semana e uma semana excelente! Beijo.

Anônimo disse...

Marco, os diálogos são bem construídos. Dá pra imaginar a cena num teatro. E traz mesmo essa antiga ternura que está impregnada nos seus escritos.
Abraços.
http://napontadolapis.zip.net http://dulcineia.blogspot.com

Evandro C. Guimarães disse...

Grande Marco, rotorno após longo período de ausência. Após as férias que tirei da internet, tive um problema renal que me pertubou em todo o mês de fevereiro. Só foi resolvido com cirurgia.
Também ando repensando essa coisa de blog. Talvez dedique mais tempo para meus contos e romances e menos tempo para a Internet. De qualquer forma, não abandonarei seu blog que tanto nos acrescenta. Talvez as visitas só não sejam tão numerosas como antes. Mas certamente, não quero perder a sua amizade virtual e os textos sempre de excelente qualidade.
Um grande abraço!

Renata Livramento disse...

Oi Marco! Não vou dizer que adorei porque parece que essa é a única coisa que escrevo por aqui...rs...rs...
Muito legal essa coisa dos personagens sairem dos livros e se encontrarem na lua...fiquei com isso na cabeça...
Suas antigas ternuras são de fato ternas. Bjo gde

Anônimo disse...

Não conhecia,MARCO,mas vou la inteirar-me mais sobre a história deles.
Abração e otimo domingo

Roby disse...

Histórias de amor sempre são bem vindas Marquinho!
Esta é uma das que ficaram na história...jamais será esquecida!
*
*
Meu anjo..perdoe-me se eu estiver errada...
Mas acredito que tu interprestastes errado meu texto sobre mutilação genital..
"Aqui na Suiça este ritual, não existe..e nunca existirá"
O que acorre, que médicos suiços,recebem mulheres e crianças vindas dos outros países, para tratamento de infecções e seqüelas graves, decorrente da circuncisão genita...
E a Suiça está lutando contra a mutilação proviniente de outras culturas.

*
Será que compliquei mais ainda?? rsrs

Bjus querido..

Anônimo disse...

Amigo, obrigado por visitar meu blog anti - ciro gomes. É apenas uma brincadeira bem humorada pra denunciar um calote monstro que recebi dele... espero que isso ajude vc a formar uma opinião sobre o sujeito...calote denota um desvio ético , não concorda ??
abs
Ricardo

Anônimo disse...

Olá, amigo Marco!

Mais alguma coisa em comum... também conhecí a belíssima história de Abelardo e Heloísa na adolescência e me apaixonei pelo amor dos dois.
Suas antigas ternuras são também "tão minhas" que, sem resistir, deixei uma homenagem a você em minhas janelas. Mesmo um pouco ausente, elas permanecem abertas, recebendo a luz do sol e o clarão da lua.

Grande abraço.

Lara disse...

Querido adorei a história. Sempre que termino um livro também fico com essa sensação de "o que será que os personagens estão fazendo agora".
beijos!

Ana Carla disse...

Marco, você lembra de coisas de arrepiar! Beijãozão!

Anônimo disse...

Marco, conheço os dois. Sabe que tb vivo pensando e sonhando com o que os personagens fazem quando estamos todos dormindo? Já escrevi sobre isso no meu blog. Eu sempre pensei nisso, na possibilidade deles terem uma continuação sem q a gente saiba. Interessante, viu?beijo.

Anônimo disse...

Caro Marco,
Até hoje não li essa obra que é muito prestigiada. E você nos oferece esse belo trecho, que, apesar de curto, ´só faz confirmar o conceito de que ela desfruta. Gostei, principalmente, da frase: "chão salpicado de prata clara da luz da lua." Que coisa linda"! Sem nada a ver, me lembrei do verso "tu pisavas nos astros,distraída," do Orestes Barbosa de "Chão de Estrelas." Um grande abraço e uma grande semana.

Vendetta disse...

oi Ternurinha!!!!
Voltei das férias doidinha pra te deixar um beijão bem estalado na bochecha!!!
Saudades, viu?

Anônimo disse...

Olá, Marco. Estou compulsoriamente afastado da net. Acho que essa entressafra de início de ano pega todo mundo. Os projetos no mundo concreto têm bastante espaço, as obrigações são inadiáveis, então os blogs ficam meio largados.
Apesar disso, não deixo de passar aqui, que concretamente melhora meu estado de espírito. Sendo assim, acho que o blog, qq q seja, é válido.
Fiquei curioso sobre a sua peça.
Surpresa para mim essa guitarrada na Rádio AT. Legal. O estilo da música dessa banda é chamado de emocore, que é condenado por muita gente, e apreciado por mais gentes. Exdrúxulas as letras, como são as cartas de amor, né? Essas adolescices são saudáveis, vez ou outra. Quem não tiver emoções e sentimentos que leve sua carcaça enferrujada para museu. Até robots hoje em dia emulam sentimentos.
Me alongo. Um abraço.

Anônimo disse...

Marco:
Um amor eterno - que jargão - pode ser reproduzido através do conto. E dar a dimensão do que foi.
Em relação aos personagens, acho que eles têm vida própria. E a vivem.

Eärwen disse...

Trazer uma pérola incandescente no meu retorno, de dizer que nada mais lindo que uma história de amor.
Eärwen
12.03.07

gaijin4ever disse...

Muitas histórias de amor foram eternizadas através de troca de correspondência. Será que a distância faz o amor fortalecer? pois vc não vive o dia a dia doméstico, de arrumar a casa, pagar as contas, ver o rosto do companheiro (a) amassado de sono ao amanhecer... rsrsrsrs
Um grande abraço!

Anônimo disse...

Caro Marco,
Vou dizer o óbvio: gostei imensamente dos diálogos, cuja construção não dá margem a reparo algum. Isso, certamente, tem a ver com tua vocação para o Teatro.
Pabéns, meu caro, pela idéia e seu extraordinário tratamento.
Forte abraço.

Anônimo disse...

Poxa Marco , NX Zero é sacanagem comigo! Pode ser preconceito meu , mas eles são "emo" e não há algo que eu não deteste mais que emo. Bem , sei lá. Fica aqui a minha dica: o disco do libanês Mika , que lembra bastante Elton John e Queen. Bem bacana!

Abração!

Anônimo disse...

oie querido Marco,que linda historia de amor,uma poesia que canta aos ouvidos ,adoreii,mas existiu mesmo esse casal?.me perdoa a ignorancia ,mas gostaria de saber nao entendi direito ,amei a poesia de amor, bjsss