sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Se a canoa não virar, olê, olê, olá...


Já ouço daqui os clarins. Momo e seus súditos se aproximam para o reino da folia. Antigamente, no tempo das antigas ternuras (e até antes delas...), chamavam o Carnaval de "tríduo momesco". Hoje, o Carnaval nem dura mais três dias. Na Bahia, então, dura bem mais. Soube que o último trio elétrico do Carnaval de 1983 acabou de passar na Praça Castro Alves e os outros estão já desfilando; sabe-se lá quando vai acabar!
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Aproveitando o clima de folia que está no ar, junto com o agradável aroma dos Rodo Metálicos de antanho (os mais novos nem imaginam o que seja Rodo Metálico, aquela garrafinha dourada de esguicho geladinho e perfumado...), o Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Acadêmicos de Antigas Ternuras saúda os seus alegres leitores e pede passagem.
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Está em cartaz aqui no Rio, com enorme sucesso, o espetáculo teatral "Sassaricando", todo baseado em marchinhas de Carnaval. Lembro que em 1998/99, logo depois do mega-sucesso que eu e o ator e diretor Sergio Britto escrevemos, o musical "Cafona, sim, e daí?" (apontado pela crítica como um dos melhores espetáculos do ano), escrevi uma peça toda baseada em histórias de Carnaval e suas marchinhas. O Sergio tinha me perguntado o que eu achava de escrever uma peça baseada nos antigos Carnavais. E eu, com cifrão nos olhinhos, que nem o Tio Patinhas (tinha ganho um bom dinheiro com direitos autorais do "Cafona...", tanto que peguei a grana e fui me esbaldar e New York), sentei a rabiola diante do computador e em dois dias escrevi a peça, que submeti ao Britto, que a aprovou na íntegra.
Infelizmente, o projeto não foi adiante. Pena me$$mo!
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Hoje, vejo a peça Sassaricando causando o maior auê. Acho que a minha também causaria.
Como já ouço os ecos de Momo, deixo aqui uns trechinhos da minha peça. Neste Carnaval, estarei fora do Rio em merecido descanso. Ficam aqui, algumas histórias que faziam parte da minha peça inédita, que tem como nome "Alo, alô Carnaval" (dei este nome em homenagem ao célebre filme da Cinédia, da qual tenho uma cópia em videocassete).
Evoé!
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MULHER 1 - Vem cá, vocês já fizeram alguma loucura no Carnaval? Mas uma loucura daquelas que depois a gente pergunta: “Meu Deus! Onde é que eu estava com a cabeça?!?”...

TODOS - Ih....Já...Tantas...
MULHER 2 - Uma vez eu estava no Terreirão do samba, próximo do Sambódromo. Tinha bebido todas. Fui ver as Escolas de Samba agarrada com não sei quem, nem sei com quantos. Gente, foi uma loucura! Só me lembro que no dia seguinte, acordei no Cemitério do Catumbi, ali pertinho, dentro de uma cova, pelada da cintura pra baixo! Que doideira, meu Deus!
HOMEM 1 - Eu lembro que uma vez eu estava brincando com uns amigos em um clube. Tinha tomado um porre de “dudu”...
HOMEM 2 - Dudu?
HOMEM 1 - ...conhaque Dubar com vermuth Dubar. Pois é, eu já estava “lindão”. Além disso, já tinha cheirado muita lança-perfume. Aí eu vi numa mesa de uma família respeitável uma morena com uma bunda igualmente respeitável. Nós mexemos com ela. Um velhinho que estava lá ficou possesso. Cresceu pra cima da gente gritando: “Eu sou militar! Eu sou militar!”. Aí eu disse pra ele: “E nós temos culpa disso?” Um outro foi se meter, dizendo: “Calma, calma que eu sou advogado!” Eu respondi: “Bem feito! Quem mandou não estudar?” Aí fechou o tempo...
MULHER 1 - Olha, vocês nem vão acreditar. Mas uma vez eu saí de casa de manhã, só de biquini e canga para um banho de mar à fantasia e acabei em Salvador!
MULHER 3 - Como é que é?
MULHER 1 - Uma loucura! Lá ia eu pra Copacabana quando encontrei um homem lindo, que estava indo para Salvador e me chamou pra ir com ele naquele momento. “Mas, como? Eu só estou de canga?”, eu disse. E ele: “Vamos que eu compro roupas pra você lá!”. Me deu uma doideira e eu fui. Pior foi quando eu liguei pra minha mãe, dizendo que estava brincando o carnaval em Salvador! “Mas, como, minha filha? Você pegou o ônibus errado?”

HOMEM 2 - Olha, falar em loucura de Carnaval, eu lembro de um ano, eu na Avenida Rio Branco vendo bloco passar, de repente olho uma morena de enlouquecer, rindo pra mim. Eu já estava meio mamado, e não conversei: Tasquei-lhe um beijo na boca. De língua. A partir dali eu fiquei na maior saliência com a morena. Nós parecíamos duas enguias no cio se enroscando na rua, na frente dos outros. Teve uma hora que a morena pediu para fazer xixi. Eu fiz paredinha junto de um canto e vi a morena sacar uma jeba des’tamanho. Mijou, balançou e guardou sabe-se lá onde. Eu virei as costas e saí dalí de boca aberta. Não sabia se estava mais admirado com a morena que era homem ou com o tamanho daquela pemba, muito maior que a minha...
MULHER 3 - Teve uma vez que eu estava com um namoradinho, brincando num bloco pelas ruas da Tijuca. O bloco se dissipou lá na Barão de Mesquita, perto daquele quartel da PM. Era na época da ditadura. Eu sabia o que acontecia lá dentro. Falei com o meu namorado que ali eles torturavam e matavam presos políticos. Não é que o maluco baixou a bermuda e, balançando as “jóias da família”, ficou gritando: “Aqui, ó, pra vocês seus torturadores filhos da...” Eu tapei a boca daquele doido e tirei ele dali correndo. Sorte que passou um ônibus e a gente entrou rápido nele. Meu Deus! Se pegassem a gente!
HOMEM 3 - Teve um Carnaval que eu saí muito doido pelas ruas. Tinha tomado um litro de Fogo Paulista. Acho que tinha outro tipo de “lenha” naquele Fogo Paulista...Quem me deu a garrafa gostava de uma bolinha...Mas aí eu vi um garotão, com um nariz imenso, parecia um Cyrano de Bergerac, só que de verdade, não era fantasia. Eu cheguei pra ele e disse: “Com esse nariz, você deve cheirar muito “cheirinho da Loló”, fala a verdade. Você cheira, não cheira?” O garoto ficou assustado. Meteu a mão no bolso e tirou uma ampola de “Cheirinho...” e me deu. “Toma, seu polícia! Não me prende, não! Eu juro que não faço mais!” E saiu voado, pensando que eu era tira! Eu enchi um lenço daquilo, aspirei forte e quando o sininho bateu saí cantando “Mamãe eu Quero!”, pulando que nem perereca profissional...
TODOS – Mamãe eu quero...Mamãe eu quero... Mamãe eu quero mamar...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras você está ouvindo o “Balancê”, com Gal Costa.
Até Quarta-feira, pessoal!

12 comentários:

Renata Livramento disse...

Então bom carnaval e bom descanso!!!
bj

Anônimo disse...

"... eu chego lá!" É isso, no Carnaval todos acham que cachaça é água e pensam que a canoa está navegando tranqüila, até que... Bom, você já contou maravilhosamente o que acontece. Um beijo e ótimo Carnaval!

Anônimo disse...

Caro Marco,
Para te desejar um excelente Carnaval.
Divirta-se.
Forte abraço.

Luma Rosa disse...

Marco, você vai de barco??
Viu como as marchinhas estão voltando com tudo?? O povo anda nostálgico. E não é só marchinhas, as músicas antigas. Hoje, um vizinho ouvia "Se gritar péga ladrão, não fica um, meu irmão" uma, duas, três, ene vezes. Sou síndica. Veja se não teve reclamação!! Fui lá acordar o 'moço'.
Feliz você que está longe disso!! Aproveite! Beijus

Anônimo disse...

E eu ,só agora,sei que tenho um amigo competentíssimo na arte de escrever peças.
Calma,que logo sua carteira infla,Marco,hehehe
Abração e otimo carnaval.

Dira disse...

bom descanso, moço marco. felizmente nunca brinquei carnaval,nem cheirei, nem fiz nada que me desse dor de cabeça depois. hahahahaha
isso é um pecado?
mil beijos.

Roby disse...

Hahahhah..
Conhaque Dubar com vermuth Dubar!rsrs
Ah Markito, e quem não tem um historinha de carnaval pra contar?? rs
Adorei todas, perfeito post amigo.
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Grande upa procê e um bom descanso querido amigo.

Anônimo disse...

Adorei!!!

Quando fazia coral montamos uma apresentação em homenagem a Lamartine Babo... é muito bom re-ver as marchinhas carnavalescas...

beijos

Anônimo disse...

Com esse histórico do carnaval, você prova que o AT é de outros tempos mesmo, recheado de história.
Abraços, bom carnaval.
http://napontadolapis.zip.net
http://dulcineia.blgospot.com

Lena Gomes disse...

Fala, Doce Marco! Seu "post" carnavalesco está um estouro! Pra usar uma expressão das antigas, hehehe... adorei! Mas, te juro, eu não sabia o q é Rodo Metálico! Bem, espero q seu carnaval tenha sido do jeitinho q você queria. O meu, não foi muito legal, mas escolhi assim, pelo menos este ano. Mas ler o seu post me fez lembrar de carnavais anteriores, que foram bem legais, em especial os de 82, 93 e 2003. É isso! Beijocas pra vc!

jguerra disse...

Eu não gosto particularmente de brincar ao Carnaval.

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco!
Estou chegando atrasadinha para falar de Carnaval em plena quarta de cinzas...Mas ainda vale não é?
Eu não conheci o tal Rodo Metálico e nem sabia dos três dias. Sempre brinquei 4 ou 5. Minha primeira fantasia foi de Pedrita e meu primo Álvaro de Bambam, ambos com pouco mais de um ano de vida, rsrs. Foi uma pena não ter dado certo o seu projeto, mas com tanto talento, outros virão! Beijos grandes!