segunda-feira, junho 26, 2006

Noite chuvosa

Como a minha radionovela do gênero "ai que mêda!" fez muito sucesso, vou postar mais uma das que escrevi no tempo em que gravava na Rádio comunitária.

Uma história de autor desconhecido, adaptada por Marco Santos
Personagens:
Narrador
Zé Ruço
Homem do caminhão
Pedestre
NARRADOR - Zé Ruço, um lavrador do interior mineiro, tinha acabado a sua lida e foi para a beira da estrada tentar uma carona para voltar ao povoado. Já estava escurecendo e, para piorar a sua situação, começou a chover. Um chuva miúda, fria, boa para fazer a semente germinar, ótima para congelar os ossos de um cristão. Mas eis que aparece um caminhão na estrada. Zé Ruço faz sinal para que ele pare.
ZÉ RUÇO - ´Noite. Será que os distintos me davam uma carona até Jacutinga?
HOMEM NO CAMINHÃO – Ocê pode amuntar aí na traseira que nós tamo indo pra lá.
NARRADOR – O lavrador subiu na boléia do caminhão, encolhido de frio e molhado como um pinto saído do ovo.
ZÉ RUÇO – Minha Nossa Senhora! Tomara que esse caminhão chegue logo se não vou gripar...Se ainda tivesse alguma coisa para cobrir...Êpa! Tem um trem grande aqui, sô! É um caixão de defunto!
NARRADOR – O matuto, respeitoso, foi para o outro lado da boléia, se afastando do caixão. O caminhão seguia pela estrada, a chuva começou a apertar...
ZÉ RUÇO – Ô chuva desgostosa! Será que o caixão ali tem finado dentro?
NARRADOR – Com receio, Zé Ruço abre o caixão e, para a sua alegria, constata que está vazio.
ZÉ RUÇO – Quer saber? Vou me deitar aqui e fugir dessa chuva. Pode até ser meio esquisito, mas pelo menos não vou ficar encharcado. Quando chegar em Jacutinga, tomo uma branquinha com limão e mel e fica tudo certo.
NARRADOR – E ele se ajeitou como pôde no pijama de madeira. O forro poderia ficar um pouco molhado, mas o finado que o usasse certamente não iria reclamar. O caminhão seguia pela estrada, com a noite trazendo de vez o seu manto púrpura. Mais adiante, outro pedestre resolve pedir carona.
HOMEM DO CAMINHÃO – Tá indo pra onde?
PEDESTRE – Vou pra Jacutinga. O senhor tá indo pra lá?
HOMEM DO CAMINHÃO – Pois amunte.
NARRADOR – O outro lavrador subiu na boléia e se deparou com o caixão no canto. Fez o sinal da cruz em atitude de respeito e se encolheu como pôde no outro canto. Resolveu cochilar para passar o tempo. Ainda não tinham passado cinco minutos, e o tabaréu foi acordado com o ruído de uma dobradiça. Com os olhos esbugalhados ele viu a tampa do caixão se abrir e um vulto se levantar lá de dentro...

ZÉ RUÇO – Boa noite. Já parou a chuva?
PEDESTRE – UÃÃÃÃÃÃIIIIIIIIII...Jesus! Me acode aqui! Me acode!
NARRADOR – E o homenzinho assustado nem esperou o caminhão parar. Pulou da boléia e desapareceu no turbilhão da noite, gritando mais que porco na faca.
M.S.
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Eu ouvia essa história quando ia passar férias, em Minas. Quer dizer, não era bem assim, eu inventei umas coisas...
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Na Rádio Antigas Ternuras você ouve “Minhas mãos, meu cavaquinho”, do inigualável Waldir Azevedo.

17 comentários:

Dilberto L. Rosa disse...

Rapaz, adoro o Waldir! E sobre este post, adoro estes causos, especialmente os mineiros!!! Sobre a novela do terror, só li a parte inicial, e, como está muito tarde, salvei aqui, lerei as três últimas com calma e depois comento, OK? Abração!

Anônimo disse...

Mano Marco!

Recém chegado de uma quadrilha
à 1 hora em ponto da madruguê,vim aqui e me deparo com um post novinho em folha! Um sorriso de desforra se me assomou nos lábios: Vou ser o primeirão!

Qual! O estraga-prazeres do Dilberto(brincadeira,meu chapa...)achou de empanar minha gana.

Com seu perdão,mas esta adaptação superou o tríbio episódio anterior.

Meu grande,não negue,Você é da lira!

"UÃÃÃÃÃÃIIIIIIIIII...Jesus! Me acode aqui! Me acode!".

Mal terminei o epílogo e larguei uma insuspeita gaitada,um frouxo de riso que quase me fez mijar no calção imaculado do meu pijama,fato que só ocorre numa reassistida das trapalhadas do "Inspetor Clouseau".

Amigo,tu estás amando!

Obrigado!

PS: digitei na mesma hora que o nosso camarada acima,mas só estou enviando o comentário agora. Saí do micro por 55 minutos.

Roby disse...

Ahh!!!
Mas eu tb levaría um susto "daqueles" se visse um vivente sair do caixão, assim, sem mais , sem menos.rsr
*
Marco..essas suas histórias estão dando o que falar..prende os leitores de uma maneira incrível..e não é pra menos né?
São ótimas!

E por falar em ótima, adorei o blog da nossa querida Claudinha...obrigada Marco por ter sido uma ponte desta nova amizade, minha e de Claudinha!
Valew mesmoooo viu?
*
Aquele upa pra ti cheio de carinho.

Anônimo disse...

Seus textos me divertem, mas os comentários também são uma obra à parte!! rs... Aposto que a surfista não tem fãs tão criativos. Tenha uma boa semana, amigo!!

Anônimo disse...

Marco querido,
muito boa a história,pobre mineirinho deve estar correndo até hoje,rsss
linda semana meu anjo,
beijosssssssssssss

Fugu disse...

Muito boa! Adoro esses causos, bons de contar em noite de chuva, com cachacinha e luz baixa ... que meda!
Mas, olha, não recebi email nenhum seu. Tem certeza de que está enviando para o endereço correto? É baiacu2005@hotmail.com
beijo você!

Evandro C. Guimarães disse...

Rapaz, esta tua rádionovela além de elementos de terror, teve, na minha opinião, elementos de humor. Não consegui deixar de rir ao pensar no pobre coitado pulando do caminhão desesperado!hehe!
Logo reconheci o talento de Waldir Azevedo. Que coisa linda essa música! É o meu compositor de chorinho favorito!
Um grande abraço!

Anônimo disse...

Huhuahuahauahauhaa... cara , isso não é conto de terror , é causo de humor!

Abração!

Anônimo disse...

oxi. kd meu comentario?

Claudinha ੴ disse...

Marco Fantástico...
Estou rindo até agora, um caipira igualzinho os daqui destas bandas... Me fez lembrar o causo do galo bão: O cara da cidade queria apostar na rinha de galos e perguntou ao caipira mineiro qual era o galo bom. O caipira prontamente falou: O galo bão é aquêidali ó. O cara apostou todo o dinheiro no tal e este perdeu a briga. Foi nervoso até o caipira e disse, mas você não falou que este era o galo bom? Ao que ele respondeu: Uai, êss é o bão, mas aquêi que ganhou é o Marvado... Hahaha. Valeu pela radionovela, pelo riso e por falar de Jacucity.
Um beijão e até mais.

(* adorei conhecer a Roby, ficaremos amigas certamente. Você sempre me trazendo pessoas maravilhosas! )

Anônimo disse...

oieeeee meu querido,brigaduuuuuu,pelas gentis palavras que sempre deixa no meu cantinho,te adoro e to achando que me conheces em,rss,vc é muito gentil,quanto esse fundo musical que delicia me senti numa fazenda ouvindo alguem tocar uma viola e ouvindo essas historias de assombração,rsssrss,fala sério né ,imaginei o susto de ver o caixão abrindo numa noite chuvosa ,acho que eu tb pularia da boléia do caminhão,rssssssss,deixo meu carinho a ti e uma linda terça feira ,te adoro,bjssss

Cristiano Contreiras disse...

Interessante, e olhe que nao sou um conhecedor eximio de radionovela..

boa semana!

Anônimo disse...

Marco, ficou muito legal essa história. O humor foi tratado com mais leveza. E há verossimilhança nas ações. Gostei muito. A música se integrou às ações.
Agora, se tivesse um som de ventania, mesmo brando, e barulho de gotas caindo num telhado... (deixe de dar opinião, Rubo!)
Abraços amigo. Nota 1000!

Anônimo disse...

Gostei do verbo "amuntar" e do jeito que o motorista falou. Bem típico do mineiro, que tem mania de colocar um "a" antes de alguns verbos como "alembrar", etc.
PS - gente, não precisa brigar comigo não! Também sou mineiro, alembram?... rs.
Abraços, Marco!

Marco disse...

Gostaram da minha novela de terrir?

Grande Dilberto: Waldir Azevedo nunca me falha...Bom que você curtiu.

Mano Paulinho: Gostou, né? De se mijar? Maravilha! Gosto quando as pessoas se mijam com minhas histórias...

Querida Roby: Fico imensamente feliz por você e a Claudinha estarem se dando bem. Vocês, borboletas, se entendem muito bem! Ré! Ré! Ré!... Já imagino as duas tricotando as asas, falando de filhos, marido...
E feliz fico eu por apresentar as duas e por te agradar com minhas historinhas!

Querida Carlinha: A Bruna nem deve responder aos comentários! Eu nunca fui lá, mas me disseram que ela recebe uma média de 1500 visitas por dia. Além disso, ela deve estar com as mãos ocupadas... Contando o monte de dinheiro que está ganhando com a venda do livro.
Eu respondo a cada comentário com o maior carinho. Vocês, meus diletos amigos, merecem!

Querida Vendetta: Ter uma amiga e leitora tão apaixonante como você é só o que eu quero da vida!

Querida Marcinha: Ah, se não deve... Aliás, quem não correria, né mesmo?...

Cara Claire: Que bom que gostou! Pois é, eu que sou tão prolixo, consegui fazer uma história curtinha!

Querida Fugu: Ô coisa boa, né não?
Eu adorava (e ainda adoro!) ficar ouvindo esses causos.

Grande Evandro: O waldir era the best. Que bom que você apreciou meu terrir.

Grande Mutante: Pois é!

QueriDira: Cadê?

Minha doce Claudinha: Eu imagino o quanto você conviva com caipirinhas como estes da história. E essa do "galo bão" é ótima!
Tô feliz por apresentar vocês duas.

Linda Samara: Você está certíssima! Nada como ouvir causos em uma fazenda, numa roda de viola...Eu sou o carioca mais caipira do Rio de Janeiro!

Valeu, Cristiano! Legal que tenha curtido!

Grande Rubo: Imagina! Suas sugestões são mais que bem vindas! Se eu soubesse onde tem arquivos midi de ruídos eu os usaria, com certeza!
Sombre o "amuntar", uai, ieu num sei como se fala em Minas? Sou de família mineira. Meu coração é um pão de queijo, sô!

Valeu, moçada! Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim!

Anônimo disse...

Muito bem inventado, querido amigo! Contei pro meu pai (mineiro véio - completará 95 em julho! que gosta de ouvir e contar histórias)e ele adorou! Beijos
(gostei do seu comentário na fábula do "f"!)

Luma Rosa disse...

Cheguei atrasada à novela. Quem ri por último ri melhor!! Imagine, o mineirinho deve ter chegado em Ouro Fino com a língua atrás da orelha! Adorei!! Beijus