segunda-feira, junho 19, 2006

Na República do Sossego - 1a. Parte

Começo aqui a “Semana ‘Ai que mêda!’ de histórias de Terror”. São textos que eu escrevi no tempo em que gravava radionovelas em uma emissora comunitária. Como esta história é um pouco longa, eu a dividi em três partes, exatamente como a apresentei na época das gravações. O segundo capítulo será postado na próxima quarta-feira.
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Um original de Marco Santos

Personagens:
Manda
Batatinha
Lígia
Fernando
D. Lola
Narrador

NARRADOR – Em Ouro Preto, Minas Gerais, existem muitas repúblicas de estudantes. Universitários de vários lugares do Brasil chegam à cidade para estudar na Federal de Minas e procuram pensões de estudantes, as repúblicas, em busca de hospedagem barata. A República do Sossego, administrada com pulso forte por Dona Lola, é uma das mais conhecidas. Lá vivem três amigos. Companheiros para estudos e para algazarras. O primeiro deles se chama Oswaldo, mas por viver liderando os colegas recebeu o apelido de Manda-Chuva, ou Manda, como aquele personagem de desenho animado. O segundo, seu escudeiro, não poderia ter outro apelido a não ser...Batatinha – aliás, era o mais baixinho da turma também. A terceira parte do trio é Lígia, uma moça tão sonsa quanto estudiosa. Os três adoravam pregar peças nos demais colegas, especialmente nos estudantes novatos, os calouros. E havia um que era o preferido dos três quando queriam ludibriar alguém: o tímido Fernando, recém-chegado à República do Sossego. Num certo dia, depois das aulas...
*
MANDA – Lígia, você viu a minha nota em mineralogia? Caramba! Se o meu pai souber vou ouvir até o dia do Juízo Final...
LÍGIA – Eu te falei para estudar. Você preferiu ir para o bar com o Batatinha...
MANDA – E por falar nele, cadê esse supositório de caranguejo?
LÍGIA – Está vindo aí, ó...
BATATINHA – Pessoal! Vocês não sabem o que eu acabo de descobrir!
MANDA – Fala, Batata.
BATATINHA – Estava no banheiro, dentro do reservado quando ouvi o Fernando conversando com aquele paulista, falando que ele morre de medo de enterro, caixão...Velório, então, ele disse que não vai nem no dele!
MANDA – Hummm...Quer dizer que o franguinho de mamãe tem medo de velório...
LÍGIA – Qual é a idéia, Manda?
BATATINHA – Vamos armar pro cara...Calouro tem que pastar!
MANDA – Seguinte: Lígia, vem comigo comprar umas flores. Batata, leva um papo com o Seu Osório da Funerária, diz a ele que a gente precisa fazer um trabalho pra faculdade...
(Voz dos rapazes vai baixando. Entra o Narrador)
*
NARRADOR – Naquela noite, Fernando estava com outros colegas, estudando até mais tarde. Por volta das onze, o grupo se desfez e cada um tomou o seu rumo. Fernando se despediu e veio andando pelas ladeiras de Ouro Preto, ouvindo o som de seus passos naquelas pedras centenárias. Amanhã ele teria que acordar cedo para a aula, por isso resolveu apressar o passo. Dona Lola abriu-lhe a porta.
D. LOLA – Quer jantar, Fernando?
FERNANDO – Não senhora, obrigado. Estou cansado. Vou direto para a cama que amanhã tenho aula às oito. Boa noite.
D. LOLA – Come alguma coisa. Você está muito magrinho. Depois a sua mãe vai dizer que eu não cuido de você!
FERNANDO – (rindo) Pode deixar que amanhã eu tomo um café reforçado.
NARRADOR – O rapaz caminhou para o seu quarto, andando com cuidado para não fazer barulho e acordar os colegas. Abriu a porta, acendeu a luz e...
*
FERNANDO – Ô MEU DEUS!!! QUE É ISSO? Ô MEU DEUS!!!
NARRADOR – Sobre a cama de Fernando, estava um caixão fechado, com um maço de flores por cima...
FERNANDO – Ai...ai...Jesus...
NARRADOR – Saltando detrás das cortinas do quarto, Manda, Lígia e Batatinha, tendo convulsões de tanto rir, se deliciavam com o trote que pregaram...
MANDA – Rá! Rá! Rá!...Mas tu é medroso mesmo, hein Fernando! Rá Rá! Rá! Ô bicho frouxo!...
BATATINHA – (imitando) “Ô meu Deus...Ô meu Deus...” Rá! Rá! Rá!...
LÍGIA – Desculpe, Fernando. Mas a gente não resistiu! Rá! Rá! Rá!...
MANDA – Ei, Fernando, levanta. Já passou, cara! Isso é para você deixar de ser cagão! Rá! Rá! Rá!...
BATATINHA – Levanta do chão, mané! E ajuda a gente a desarmar o velório...Rá! Rá! Rá!...
LÍGIA – Fernando...Levanta, cara...Fernando...
BATATINHA – Fernando...Ei! Ô Fernando...Você tá de gozação com a gente?
LÍGIA – Será que ele desmaiou?
MANDA – Sacode ele aí...
BATATINHA – Ô cara...acorda...acorda, cara! Não faz isso com a gente, sô!
MANDA – Tenta ouvir o coração dele!
LÍGIA (depois de uma pequena pausa) – Gente...Eu não estou ouvindo nada!
BATATINHA – Não é possível! Ouve de novo, Lígia!
(Pequena pausa)
LÍGIA – Nada!
MANDA – Ih, caramba! Faz massagem! Faz massagem no peito dele, que nem nos filmes!
(Pequena pausa)
LÍGIA – Não reage! O cara morreu, Manda! Nós matamos ele!

MANDA – Ele não pode fazer isso com a gente! Aposto que ele morreu só pra me sacanear!
NARRADOR – O que eles não sabiam é que Fernando tinha um problema congênito do coração. Qualquer esforço súbito ou um susto grande poderiam precipitar um colapso. Os três se entreolhavam sem saber o que fazer.
BATATINHA – E agora, Manda? E agora, o que é que a gente faz?
APRESENTADOR – Não percam na próxima quarta-feira a continuação desta história.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Noturno”.

15 comentários:

Anônimo disse...

AFF!
Acho que eu também teria um mal súbito, mas voltaria na boa para pegar esses amigos da onça, brincadeira besta sô!
Essa novela no rádio deve ter sido deliciosa e de dar medo.
Linda semana meu querido,
beijosssssss [os mais gostosos possíveis, rsss]

Claudinha ੴ disse...

Ah Marco... me fazendo voltar aos bons tempos... Esta é uma história que se casa muito bem com as tantas que já ouvi e vi por lá. Mas terá mesmo o moço morrido de susto? Ou seria este um espertalhão que deu o troco de maneira triunfal? Aguardo o próximo capítulo...
Beijos e achei muito legal citar a terrinha, aqueles lampiões, aquelas travessas escuras, gente quanta história sempre tiveram...A música ainda não ouvi, o site não abriu, mas eu volto até ouvi-la. Beijo!

Anônimo disse...

Amigo Marco! Posso perder o jogo do Brasil, mas essa novelinha... certamente que não! Ô trem bão de se ler... deve ter sido interessante no rádio, também. Lembro que minha avô escutava rádio-novelas do Manoel Durães (creio que na Rádio São Paulo, ou talvez Record)e nós (as crianças da casa) ficávamos ora assustadas, ora maravilhadas com o som do rádio - na época sem a sonoplastia adequada a novela ficaria 'insossa', não é mesmo? Até o próximo capítulo! Beijos

Roby disse...

Marco, eu amo rádionovelas, nossaaaaa, a primeira vez que ouvi, foi no interior na casa de meu avô...eu devia ter uns 7 -8 anos de idade...
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E esta histórinha hein??
Uiiiii...tadinho do moço..
Não gosto destas brincadeiras..
Lembro-me que eu assustei um primo meu , mais ou menos neste gênero, fiquei com remorso até hoje.
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Ahh mas eu tb levei sustos terríveis....
Meu mano me aprontava cada uma,(fiz tanto xixi nas calças..rsrs)
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Vou aguardar na espectatica Markito, o próximo episódio.rs
Manda bala!!!

Aquele upa !!!!

Fugu disse...

Adoro histórias de terror. E adoro os textos radiofônicos. São difíceis de escrever ... Uma vez, tive que redigir uns roteiros para rádio. Foi um sofrimento. Só achei o tom na hora em que comecei a fechar os olhos para escrever. Tive que apagar todas as imagens visuais para poder criar um mundo sonoro ... Estou curiosa para saber como a história vai continuar. Tem tudo para surpreender ... beijo você.

Y. Y. disse...

MARCOOOOOOOOOOO, esse é o meu noturno preferido!! amooooooo Chopin!!

Luma Rosa disse...

Vou logo avisando que tenho um problema congênito do coração e morro de medo de enterro, caixão, velório, histórias de almas penadas, filmes de terror e pé gelado!
Beijus

Anônimo disse...

HHHHHH... por enquanto essa história de terror me cheira a todo mundo em pânico... :D. Mas vamos ver o que acontece.

Um abraço!

PS:Você já pensou na hipótese de gravar essas radionovelas e fazer um podcast?

Anônimo disse...

Marco, até aqui, humor negro, a estilo de Desperate Housewives. Gostei! Quero ver a continuação., Cá entre nós, estou prevendo uma reviravolta aí... rs.
Abraços.

Anônimo disse...

Rs... Radio-teatro!! Eu sabia que vc iria se animar com isso!!! Que saudade do microfone!! rs... E "supositório de caranguejo" vai entrar pro meu vocabulário, rsrs...
Smackk!!!

Anônimo disse...

Noite linda querido,
beijossssssss

Dilberto L. Rosa disse...

Sensacional, rapaz! "Como nos filmes"... Não vejo a hora de continuar "assistindo" a este conto! E a morte da bezerra?! Não pude evitar de lembrar Tudo que você queria saber sobre sexo... do mestre Allen, rs! Muito bom, especialmente por ter pensado nesta estranha expressão recentemente! Abração, sumido! Vais gostar muito dos posts atuais dos Morcegos! Até lá!

Anônimo disse...

Mano Marco:

Gostei da postagem em conta-gotas.

O suspense me suspendeu da minha excepcional narcose madrugal que está-me acometendo.

Aliás,ontem estive aqui pelas altas horas,mas não consegui concatenar as idéias,como se estivesse preenchido de láudano.

Vamos ver no que vai dar o epílogo,mas de antemão acho que vais nos pregar uma bela peça.

Tanto quanto a que concebeste,certamente.

Abraço.

Marco disse...

Estão gostando? Tenho mais algumas histórias do gênero terror que escrevi no tempo em que gravava radionovelas. De vez em quando vou postar uma ou outra.

Doce Marcinha: Vamos ver o que vai acontecer com esses pregadores de peças. Espero que o meu “público” goste do desfecho. Ou melhor: que sinta medo de dormir com a luz acesa!

Cara Claire: Então veja a segunda parte e aguarde pelo final que será postado na sexta. Eu também fico ansioso mas é pela reação de vocês.

Minha doce Claudinha: Eu sabia que você iria gostar das referências a Ouro Preto. Você bem conheceu este cotidiano das repúblicas, não é? Espero que ninguém tenha inventado uma idéia de jerico como essa.
Quanto ao que vai acontecer...tchan, tchan, tchan, tchaaaaaannnn!

Querida Giulia: Pelo menos eu espero que a minha novelinha seja mais empolgante que uns jogos que andam passando por aí...Ré, ré, ré...
Rádio é um troço mágico mesmo...Eu sou fascinado por esse meio de comunicação! Quando eu gravei essas radionovelas que escrevi, tinha sonoplastia, sim! Tudo nos trinques!

Querida Roby: Está gostando da semana “Ai que mêda!”? Pois é. Tem uns trotes que são realmente exagerados. Eu também gostava de aprontar das minhas, quando pequeno. Mas nada tão sério. Fique atenta, que o segundo capítulo já está no ar!

Fugu, minha querida: eu também sou fascinado por histórias de terror. No cinema, não perco uma. Pode ser a mais trash que eu estou lá!
Não é difícil escrever para rádio. Se pegar as manhas, não tem erro.
Olha o segundo capítulo aí!

Gosta de Chopin, querida Yumi? E da minha história, ó amada parceira?

Vendettinha, minha querida: E quem gosta da morte? Mas a adrenalina de uma história de terror é realmente fundamental, né não? Vai acompanhando aí e depois me diz o que achou.

Luma, querida: RÁ! RÁ! RÁ! RÁ! RÁ!... Adorei o seu comentário! Olha, tome o seu remedinho pro coração que esta história que eu escrevi tem tudo isso que você tem mêda! Até pé gelado!
Seu senso de humor é fantástico...

Grande Bruno Mutante: Rapaz, eu não entendo dessas tecnologias. Sim, eu adoraria gravar as minhas novelas de novo. Nem sei que fim levou as que fizemos há quatro anos atrás, não sei se a Rádio comunitária ainda as transmite... Vou ver isso que você me falou...
Agora, esta minha novela não tem nada do Todo mundo em pânico, não...está mais para Além da Imaginação, Galeria do Terror...

Grande Rubo: Acho legal essa movimentação de vocês, tentando imaginar como vai acabar essa história. Como autor, me sinto gratificado! Vai acompanhando aí e depois me diz o que achou.

Querida Ana Carla: Ré! Ré! Ré!...Eu criei este xingamento pra baixinho (supositório de caranguejo) pra essa novela. Nunca chamei nenhum “verticalmente prejudicado” assim, não...Mas se algum me provocar...
Mas, querida, não entendi o seu comentário sobre eu me animar com radionovela. Eu estou envolvido com Rádio desde 1994, já escrevi mais de 50 novelas (a maioria foi gravada e transmitida por uma rádio comunitária daqui do Rio) e ando postando de vez em quando alguns por aqui. Se eu tenho saudades daquele tempo? Você não imagina o quanto!

Grande “primo” Dilberto: Eu, sumido? Pode olhar lá...Todo os seus posts tem um comentário meu... Você é que não vem muito por aqui. Está gostando? Vai acompanhando que tenho mais surpresas...

Mano Paulinho: Pois é. Como esta novelinha foi escrita para ser apresentada em três capítulos, decidi mantê-la assim aqui no blog. Está gostando? Aguarde que vem mais coisa por aí.

Valeu, moçada! Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim!

Anônimo disse...

ai ai ai. eu odeio estórias de terror, ainda mais quando são contadas de noite... hehehe. coitado do moço. haja coração, haja coração. vamos lá ver no que vai dar. beijo.