quarta-feira, junho 14, 2006

Adeus, meu amor...


Lá vamos nós para mais explicações sobre expressões que usamos no dia a dia e nem sabemos de onde vêm. Quer dizer: não sabíamos! Os leitores do Antigas Ternuras já podem animar rodinhas de bate-papo com amigos, esclarecendo de onde surgiu aquela tal frase que todo mundo diz, mas não sabe a origem.
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Falaremos hoje sobre:
Pensando na morte da bezerra

Vou logo avisando. A história é triste. Os mais sensíveis talvez enxuguem uma furtiva lágrima ao final. Bem, foram avisados.
Essa expressão costuma significar estar distraído, com o pensamento longe... E aí, sempre aparece alguém, com muita originalidade, para perguntar: “Tá pensando na morte da bezerra?”. E quase sempre não tem nenhum representante do gado bovino na jogada. A pessoa pode estar com outras preocupações naquele momento, como em quem votar nesta melda de eleição que vem aí, ou, se for homem, por que a Juliana Paes não está ali com ele agora; se for mulher, o que o Brad Pitt vê na Angelina Jolie que não vê nela... Coisas palpitantes assim que levaram os gregos a desenvolverem a Filosofia e a busca pelo “Sentido da Vida”.
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Mas houve uma pessoa que realmente ficou com o pensamento distante por conta de uma vaca teen. Voltemos aos tempos bíblicos. Houve uma época em que os hebreus sacrificavam bezerros a Deus em altares. Aliás, segundo Moisés, os hebreus adoravam, literalmente, um bezerro. Quem leu a Bíblia ou viu o filme “Os Dez Mandamentos” sabe do que estou falando.
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Pois é. Naqueles tempos em que não havia supermercado nem shopping center, quem quisesse sacrificar um bezerro tinha de criá-lo. E Absalão criava os seus, para cumprir com suas obrigações de bom hebreu. Só que ele já tinha sacrificado todos os seus bezerros e estava precisando limpar a barra com Jeová. Tinha sobrado uma bezerra, que segundo consta na Bíblia, era de grande afeição de seu jovem filho.

Vamos abrir um parêntesis. O rapaz tinha “afeição” por uma bezerra? Hummmm...Sei... Naquelas lonjuras...Sem mulher por perto...Os hormônios em ebulição... O rapaz conheceu o mistério, o charme e o veneno da vitela palestina. E aquela bezerrinha jeitosinha, ali, com cara e corpitcho de Scheila Carvalho...Pode ter rolado um sentimento entre os dois. Obviamente, o Livro Sagrado não tocou nesse assunto, mas está mais do que claro que a bezerra era noiva do rapaz. E que ele andou machucando aquela alcatra... Mas deixemos de ser futriqueiros e vamos fechar o parêntesis.
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Por mais que o rapaz argumentasse perante seu pai, Absalão, o velho estava resolvido a passar a faca em “Judith” (num exercício de imaginação, vamos supor que o jovem chamasse assim a novilha). No dia do sacrifício, o rapaz chorava feito bezerro desmamado. Ele olhou para “Judith”, que lhe devolveu os olhos baços, como se compreendesse que aquela afeição chegava ao fim ali naquele momento.
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Absalão conduziu a quase nora, quer dizer, a pobre bezerra até o altar tosco, fez suas orações e a matou friamente, dedicando-a ao Deus de seus pais. Em seguida, como era de praxe, acendeu a pira feita com lenha aromática para agradar a Deus, e assim, fazer jus aos seus rogos. Finda a cremação de “Judith”, Absalão voltou para casa com a consciência tranqüila.
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Seu jovem filho permaneceu ali, e voltaria todos os dias àquele mesmo altar, ficando sentado por perto, com a cabeça longe, distante... pensando na morte da bezerra. Ele nunca esqueceu “Judith”. Lembrava dos momentos felizes que passaram juntos, a descoberta do amor ali, naquele prado, em um maravilhoso dia de sol...
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Pelo que consta, segundo Câmara Cascudo, o jovem apaixonado morreu de tristeza alguns meses depois.
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Mas o amor deles não seria esquecido. Toda vez que alguém ficasse distraído haveria quem lembrasse da triste história do rapaz anônimo e “Judith”...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo o tema de “Somewhere in Time”, música favorita deste escriba, que a dedica a estes dois enamorados daqueles tempos bíblicos...

22 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Marco! Sacrilégio! Com quem anda aprendendo a dar nomes aos bois? Vai ver que até entende o dialeto bovino...Meu Deus,pobre do rapaz! (E precisava fofocar tanto da vida do pobre, rsrsrs) E quantos sacrifícios, principalmente humanos, não foram motivo de tristezas profundas e também de orgulho por parte dos pais que cediam seus filhos a um Deus vingativo... Mas... você conseguiu esclarecer a expressão e ainda fazer a gente rir dela... tsc,tcs, só você mesmo...
Beijão e uma ótima semana prá você!

Y. Y. disse...

huahuUAUHuhaUAHUAHUHAhuahhu ~yumi seca uma lágrima furtiva~ Detalhe: a partir de hoje vou começar a usar a expressão 'chorando a morte da Judith' huahuahuahuahua um beijooo

Saramar disse...

Marco, boa noite.
rsrsrsrsrsrsrs...há tempos, não leio nada tão divertido. Chorei de rir.
Ótimo, excelente, perfeito e outros adjetivos semelhantes.

Beijos

Luma Rosa disse...

Ele ficou voltando ao altar até morrer?? Pelo menos era perto? Imagina se a bezerra tivesse sido vendida para algum mercador e morasse onde Judas perdeu as botas, o caminho seria mais longo!
Estamos em dia santo, então nem vou falar besteira!
Bom feriado! Beijus

Anônimo disse...

Mano Marco...

Mais uma para encetar conversê...

E o desavindo episódio também não teria feito "Judith" saudosa,se o fatal fosse inverso?

Sabemos de casos pelo Interior em que azêmolas viciosas baixam as ancas no mais leve triscar humano por sobre suas "cadeiras",que elas distingüem de sobrosso entre o másculo e feminil tato.

Certas almalhas mimosas não substituem a imemorial prática prazerosa,em solitude,da palma da mão dos púberes de buço; ficou-se provado pela melancolia mortífera do filho de Absalão!

Bela e enriquecedora garimpada,amigo.

E,pedindo perdão,para não me desabituar,já que falas sempre do inigualável natalense Mestre Cascudo,deixo-te mais uma propaganda pernambucana: o saudoso Mário Souto Maior também foi um dos maiorais folcloristas brasileiros.

Um abraço ferial para ti.

Roby disse...

"Naquelas lonjuras...hormônios em ebulição"...IAIAIAIAIAI....
Fiquei imaginando na Arca de Noé então..eita farra boa que foi.
( ai como sou herege..rs)
Marco, se lendo estas suas maravilhas já fico assim,mais faceira que mosca no xarope, imagine se eu te visse contando ao vivo e a cores?!
Kedo guri, tu me fazes rir aos montes!
*
Pobre da Judith...pobre do guri!
*
Aquele quebra costelas Markito.

Anônimo disse...

Quis dizer:

Certas almalhas mimosas substituem com louvor a imemorial prática prazerosa,em solitude,da palma da mão dos púberes de buço; ficou-se provado pela melancolia mortífera do filho de Absalão!

Anônimo disse...

Marco, se o rapaz te pega contando num blog os seus segredos de alcova, não gostaria de estar na sua pele. *risos

beijo grande

Anônimo disse...

Marco querido,
Sou muito sensível e senti muito a história de morte da pobre Judith.
Ri tanto aqui com essa aula, caraca!! você é um gênio meu querido e lógico que o rapazinho naquela lonjura andou machucando aquela alcatra e por isso tanto sofrimento,rssss
Agora quando estiver com pensamento longe saberei em quem estou pensando,rssss
Lindo dia de feriado e ótimo findi,
beijossssssssssss

Anônimo disse...

No mesmo clima de sacrilégio, lembrei da estória que o pai de um amigo contou de um sujeito que se enamorara com uma fêmea de boto (Não entendi se queria dizer que era fêmea ou se ela estaria, a la Flipper, dando pulos na cerca - ou argola). Dia após dia, o sujeito descia para a beira do rio e a dita esperando...até que algum desalmado veio e matou a Julieta. O coitado passou tempos e tempos macambúzio, pensando na morte da "bota". Chegando atrasado pro post anterior, achei que talvez a música do Gnarls Barkley combinasse, especialmente a "Last time". Ouça em http://www.myspace.com/gnarlsbarkley e em site indicado lá no blogteco.

Anônimo disse...

Abraços virtuais.

Anônimo disse...

Amigo Marco, meu escriba predileto!
Muito ouvi essa expressão, da 'bezerra', mas desconhecia a origem, até então... bem esclarecida fiquei e ainda diverti-me com a historia.
Linda a música escolhida, mas acho tão triste e melancólica (vou buscar na minha memória a razão para tal...) Beijos

Fugu disse...

Céus! Se eu fosse uma bezerra, estava perdida ... rsss Pois não é que andei pensando na morte da bezerra e perdi os prazos todos? Entrei aqui hoje toda animada para comentar a Mrs Jones ... E a pobre já tinha sido jogada pros arquivos. Restou a bezerrinha.
Em tempo, mais atrasada ainda, botei no Fruit de la passion o texto sobre a paixão. beijo você, meu querido.

Fugu disse...

Marco, meu amigo querido. Você pode me mandar quantos emails quiser ... mas não sei para onde você enviou. Na minha caixa postal, não chegou nada ..rsss.

Anônimo disse...

tenho ficado pensando na morte da bezerra estes dias muito...muito mais do que preciso...

que coisa viu...rs

beijos no coração

Anônimo disse...

Rsrsrs... só mesmo às vésperas de um feriado prolongado e bem acompanhado, alguém teria inspiração tão alcoviteira!!! rs...
Que o fim de semana seja muito bom, sem mortes de bezerras, nem sacrifícios, nem chororôs!!
Beijão!!

Anônimo disse...

Marco, meu amigo, onde vc encontrou tudo isso? Vou te contar uma: eu tenho um flog que uso ditos populares como esse da bezerra, mas como descobrir a origem do dito requer muita profundidade (aqui vc foi até nas entrelinhas da Bíblia, pq essa eu não conhecia), forneço o dito popular e dou apenas um ligeiro significado. Se vc quiser conhecer é http://nabocadopovo.flog.oi.com.br, embora esteja um pouco desativado.
Quanto às histórias que vc veicula aqui, é cultura pura (a sonoridade foi de propósito). Quem quiser saber o que rolava ontem, acesse Antigas Ternuras.
Outra: imprima mesmo o post sobre a Alemanha. Aquilo é apenas um grãozito nos mares e oceanos.
Abraços, amigo. E bom fds.

Anônimo disse...

Vai um PS - vou escrever aquele número pra vc em alemão. Por enquanto, estou tentando colocar o blog em dia depois da volta das férias.
Rubo

Anônimo disse...

oie meu querido,vim deixar um carinho pra ti e desejar um domingo feliz ,esperamos né,rss,Brasil..sil..sil...,rsss.brigaduuuuuuuuuuuuu,pelas palavras gentis que deixa no meu cantinho ,adoro seus elogios ,um abraço apertado um beijo

Anônimo disse...

amore, tu não prestas. num sabia que tu eras fofoqueiro desse jeito. e o pior, levantando um falso contra as Escrituras. Ui. Ui. Vou pedir a Deus que tenha misericórdia de tua alma....kkkkkkk

Vim deixar um beijo. Dizer que estou bem (eu acho) e regar nossa amizade. Claro, depois desse texto, tu vai precisar mesmo de orações...hahahahahaha

te adoro.
Dira

Anônimo disse...

Isadora tem um espaço só prá ela. Todos estão convidados para visitá-la.

Marco disse...

Queridos amigos, perdoem a minha iconoclastia. Mas explicar com humor sempre fica mais interessante, não é? Além disso, como disse Caetano na música “Paula e Bebeto”, “toda maneira de amor vale a pena”. E vamos aos comentários, depois de um pequeno recesso que fiz nesse feriadão.

Minha doce Claudinha: Ah, eu dei o nome aos bois, sim. Que me perdoem as Judiths mas este é um bom nome para uma bezerrinha apaixonada, não é? Não quis me arriscar a dar nome para o “Romeu” palestino, mas da criatura bovina, não vi mal algum. Que bom que você gostou.

Querida parceirinha Yumizinha: Gostou, né? Pois é, tenho certeza de que o “casal” se sentiria honrado em ser lembrado por você nas suas horas de distração...

Querida Saramar: Puxa, que legal saber que você gostou! Vamos nos visitar, não é? Então vou tratar de fazer um link aqui no “Outras Palavras”.

Querida Luma: Voltou, sim, querida. Morreu de tanta tristeza, pensando na morte da bezerra. Imagino que o altar ficasse perto de casa, pois seria meio complicado arrastar um bezerro para lá se fosse longe. E você lembrou bem: uma das próximas expressões que esclarecerei será justamente “onde Judas perdeu as botas”.

Mano Paulinho: Ah, tenho certeza de que se o rapaz tivesse morrido seria a Judith que definharia de amor! Esses amores costumam marcar forte...
Sim, eu conheço Mario Souto Maior. Mas tenho feito minhas pesquisas sobre a origem das expressões basicamente em Câmara Cascudo. Mas tenho certeza de que seu conterrâneo também tem muito o que dizer sobre folclore.

Querida Roby: Pois é...Na arca de Noé... E o velho patriarca tinha filhos e filhas. Diz a Bíblia que as meninas eram mesmo da pá virada. Chegaram a embebedar o pai para terem relações sexuais com ele, veja você.
Você gostou da prosa? Pra você ver como eram as aulas que eu dava nos meus tempos de professor...

Querida Suzy: O rapaz ficaria contente pois eu estou justamente celebrando o amor dos dois! A partir de agora, quando alguém estiver distraído, vai lembrar da história de amor entre o jovem hebreu e a vaquinha adolescente.

Doce Marcinha: Eu sei que, pessoa sensível que é, a história deve lhe ter tocado fundo. Quanto sofrimento do pobre rapaz e da mimosa bezerrinha, não é? São páginas de vida...

Grande Lúcio: Triste também a história da bôta que você contou... O amor se manifesta de diversas maneiras na vida das pessoas.
Sobre a música sugerida, vou dar uma escutada. Mas “Me and Mrs. Jones” tem significação especial pra mim.

Querida Giulia: Minha querida poetisa, que bom que você gostou da história. E ainda aprendeu um pouco, não é? “Somewhere in Time” tem um quê de tristeza e melancolia, sim. Mas é bonita de doer na gente. Eu sou fascinado por essa música.

Querida Fugu: Você pode postar em qualquer momento que eu sempre vou saber. Cada comentário postado cai na minha caixa de correspondência e eu o leio com o maior carinho e prazer. Já li o seu texto e o comentei. Então não chegou o e-Mail que eu te mandei? Vou mandar de novo.

Doce Claudia: Ah, é bom pensar na morta da bezerra... Eu prefiro dizer que estou escutando cabelo crescer. Imagino que seja desses momentos de contemplação que surge a inspiração para os seus belos poemas.

Oi, Jade!!! Você está no Rio? Puxa! Que legal! O Guilherme está sabendo? Que ótimo saber que você vai poder vir mais no ambiente bloguístico!

Querida Carlinha: Eu, alcoviteiro? Imagina... Só quis celebrar o amor de Judith e o jovem hebreu... Ré! Ré! Ré!...

Grande Rubo: As explicações para as expressões cotidianas que ponho aqui são fruto de minhas pesquisas desde muito tempo. Esta, da bezerra, achei em Câmara Cascudo. Claro que lá não está a história de amor, isso foi criação minha. Mas está dizendo que o filho de Absalão tinha “grande afeição” pela bezerra. Daí, eu construí toda a história. Vou lá conhecer as suas explicações para os ditos populares. Com prazer.

Doce Samara: Minha linda, o Antigas Ternuras fica sempre florido quando você aparece por aqui.

QueriDira: Nesse caso eu não levantei falso nenhum contra as escrituras. Eu apenas procurei ler nas entrelinhas. Ré! Ré! Ré!... E a explicação da expressão fica mais interessante assim, é ou não é?
Que bom saber que o temporal está passando. É ótimo saber que você já está sorrindo...

Grande Ronie: Ora, então diz aí onde está o espaço da Isadora!!!! Já nasceu?

Também estou com saudades, Vendettinha... Tá tudo bem cocê?

Valeu, moçada! Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim!