terça-feira, maio 09, 2006

Para o seu governo, saiba que...

Como vocês já perceberam, eu sou fascinado por descobrir a origem de expressões populares. Volta e meia divulgo aqui algumas que garimpo em minhas pesquisas e leituras. Hoje, vou tratar de duas que, embora tenham sido cunhadas há séculos, guardam uma enorme contemporaneidade.
A primeira é:
O pior cego é o que não quer ver
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Costuma-se usar esta expressão quando tratamos de uma pessoa que não quer ver o que está à sua frente, à sua volta, Recusa-se a ver o que todos estão carecas de enxergar.
Tudo começou quando, na Universidade de Nîmes, na França, no ano de 1647, um professor-doutor de lá fez o primeiro transplante de córnea exatamente em um camponês chamado Angel. A operação foi coberta de pleno êxito, deixando a Universidade, o doutor e a própria coletividade extremamente satisfeitos. Só uma pessoa detestou. O próprio Angel.
Ele, que nada via antes, tão logo passou a enxergar se horrorizou com o mundo a sua volta. A realidade o enchera de pavor. Segundo ele, o mundo que imaginara em sua escuridão de cego era muito melhor.
Daí que ele pediu e depois exigiu que o cirurgião lhe arrancasse os olhos. Logicamente, o médico se recusou e o caso foi para os tribunais, chegando até a Corte de Paris e de lá ao Vaticano. Por incrível que possa parecer, Angel venceu a causa em última instância e ganhou o direito de não mais enxergar. Por conta disso, ele entrou para a História como o “pior cego”, exatamente aquele que não quis enxergar.

Existe uma variação da explicação deste ditado que passa por um certo presidente de um país do Atlântico Sul, que também se recusa a ver o que está na cara dele. Mas essa versão não merece ser levada em conta. Parece que a queixa do camponês Angel é mais genuína que a do trabalhador presidente.
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A outra expressão que gostaria de explicar é:
Casa da Mãe Joana
*
Diz-se que um lugar é uma Casa da Mãe Joana quando não há ordem, imperando a bagunça, onde todo mundo fala e faz o que quer, sem prestar satisfação a ninguém.

Sua origem vem do Reino de Nápoles, no Século 14, quando a rainha (e condessa de Provence) Joana (1326-1382) assinou um decreto real liberando os bordéis na cidade de Avignon, na França, onde estava refugiada. E mais: determinou que em cada um deles houvesse uma porta por onde todos pudessem entrar e sair ao bel prazer de cada um.

A partir daí, os inferninhos avinhonenses começaram a ser chamados de “casas de Mãe Joana”.

E como lá dentro ninguém era de ninguém, imperava o “fudevu de caçarolê”, a expressão chegou a outros países sendo definida como lugar onde ninguém se entende, não há ordem ou organização, com todos querendo apenas se dar bem.
A outra conhecida expressão “cu da Mãe Joana”, segundo Câmara Cascudo, tem a mesma origem, visto que nos bordéis de Avignon esta parte da anatomia das moças padecia da mesma desordem e do mesmo vai e vem da porta do estabelecimento.



Entretanto, há quem diga que o Parlamento de um certo país localizado majoritariamente abaixo do Equador foi o grande inspirador da expressão. Tal fato não procede. Mesmo porque boa parte dos ocupantes de tal Casa não possui genitoras conhecidas. Se eles não têm Joana, muito menos teriam “Mãe”.

Quanto a outra expressão similar, sim, pode haver alguma semelhança.
M.S.
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EXTRA! EXTRA! Vocês estão lembrados do meu post sobre lugares com nomes exóticos? (O que? Não leu? Então clique aqui). Pois é. O Estadão deu esta notícia: Terremoto de 4,5 graus assusta Boquete, no Panamá
Consta que terremoto em Boquete é muito comum. Principalmente no final, a pessoa se treme todinha.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Bezerra da Silva com “O Vírus da Corrupção”. Se segura, malandragem!

14 comentários:

Anônimo disse...

Hehehe... Muito bom!!

Claudinha ੴ disse...

Oi "Minino" Fantástico! Gostei de aprender mais das expressões. Sabe, sem querer me vangloriar, eu sou criadora de expressões que "pegam". Alguns ex alunos (já trintões) só atendem pelo nome que eu ponho neles. Todos chamam meu carro de MeuGibson, meu cel de Max (Méx) e por aí vai, rsrs. Tive alunos que andavam de Terezinha (minha brasília), outros já andaram de Carlinhos Brown (chevetinho pretinho e cheio de modas, Vinícius meu fiestinha preto (minha paixão, só foi embora roubado pelo Szafir que eu não venderia)... Gostei da comparação do cego com o grande presidente, afinal, imitando Jabor, coitadinho ele não viu nada, nós é que somos preconceituosos e maldosos. Gente feia! E quanto a Mãe Joana, ihhh, sujou! Este é o nome de minha sogra, hahahaha! Um abrássumbêjumpedássdiquêju!

Bruno Capelas disse...

Hehehehehe... a Casa da Mãe Joana eu já conhecia... mas o do cego eu achei inacreditável... fala sério!

Um abraço!

PS:Leia "Mas Será o Benedito" , do Mário Prata... você vai adorar!

Anônimo disse...

Meu querido,
genial postagem, o da Mãe Joana eu já sabia mas do cego fiquei boba,por pior que seja o mundo enxergá-lo deve ser melhor né? imagina se ele vivesse hoje em Boquete? AFF!
linda noite!
beijossssssssss

Anônimo disse...

To me vicindo em vir aqui... gosto do q leio...

Anônimo disse...

voltei pra corrigir (viciando) - eita vício bão sô...rs...

Anônimo disse...

Mano Marco:

Me desopilei completamente nesta madruga. Disparei num riso desordenado,tanto mais que as imagens cômicas remataram o texto de forma admirável.

Este post já entrou para minha galeria dos prediletos do Antigas...

A propósito do tema cegueira,a atriz Júlia Lemmertz está com a peça "Molly Sweeney – Um Rastro de Luz",do irlandês Brian Friel. É algo cômpar com a pessoa citada na tua atualização,mas ela aceitou ser vidente por imposição do amor.

Abraço.

Anônimo disse...

AT tb é cultura. Oba. Adorei o post. Menino, tu tá ficando perigoso com esse papo dos nomes esquisitos...hahahahaha

a história do cego, putz. que incrível. tadinho... e isso foi em 1647, imagina se tivesse acontecido hje...rsrsrs

Beijo, Marco. to com saudade demais, viu?

Anônimo disse...

Interessantíssimo seu espaço! Achei por acaso, vindo nem sei mais de onde, mas guardei o endereço pra poder voltar. Também amo saber a origem de certas expressões populares, algumas são divertidas e se encaixam bem no dito. Conhece a expressão "tirar o cavalo da chuva"? É interessante e vale a pena a postagem. *risos. beijão, volto pra ler mais depois.

Anônimo disse...

Marco querido ex [ainda bem que]vizinho,rss
Passando só pra dar boa noite,
beijossssssssssssssss

Anônimo disse...

Oi
Estou passandinho para deixar um beijinho volto amanhã para ler tudinho...
tô indo de mansinho.

( adoro riminha...rs)

beijo

Marco disse...

Como vocês perceberam, estou numa fase de escrever gracinhas...

Ana Carla: Que bom que você gostou!

Doce Claudinha: Como já te disse, você iria ser de extrema ajuda para Adão no Paraíso. Minhas recomendações à senhora sua sogra. Diga a ela que o post não é nada pessoal...

Bruno Mutante: estou falando sério. As duas histórias são absolutamente verídicas. O livro do Mário Prata é ficção. Eu só me interesso por explicações verídicas das expressões. Mas valeu pela recomendação.

Doce Marcita: Não tinha imaginado tal coisa. Realmente, se o Angel vivesse nos dias atuais e em Boquete, talvez mandasse retirar outros órgãos do corpo. Ou não...

Jéssica: E eu estou me viciando na sua presença aqui. Venha sempre!

Mano Paulinho: Fico feliz em ter te proporcionado frouxos de riso. É...Ando meio metido a engraçadinho, reparou?
Soube dessa peça da Lemertz. Ainda não fez temporada no Rio. Vale a indicação.

Doce Dira: Mas o Antigas Ternuras é cultura sempre!!! Né não?
Os lugares com nomes esquisitos não foram inventados por mim, ré, ré, ré! Eu só citei...
Se o Angel vivesse nos dias atuais, se fosse brasileiro, se fosse carioca, ele não só retiraria ele mesmo os olhos, como ainda cortaria os pulsos com barbeador elétrico cego!

Vendetta: Prazer em tê-la aqui. Vou tratar de retribuir a sua amável visita. Fico feliz por ter gostado dos meus escritos.

Suzy: Ora, seja benvinda aqui na minha cristaleira de velhas emoções! Se gostou, puxe uma cadeira e tome assento. O papo aqui é só o pratrasmente, como diria o Odorico Paraguassu.
Sim, conheço a expressão "tirar o cavalo da chuva", que, às vezes, só de graça, digo: "retirar o bucéfalo rocinante da precipitação atmosférica". Mas, não, não conheço a origem dessa expressão. Você sabe? Então me conte!

Doce Claire: Como disse, querida, ando na fase das gracinhas. Você também gosta destas coisas que relacionou? Eu também!

Docinha Claudinha: Leia tudinho/até acabar/que eu te faço um carinho/que você vai gostar.

Valeu, gente! Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim!

Anônimo disse...

Oi, Marco!

Primeiro, quero agradecer as apresentações. Gostei muito dos "transmimentos" e tenho certeza de que eu e a Claudinha ainda seremos ótimos amigos e vizinhos.
Agora, para o seu governo, saiba que a história do cego eu não conhecia, mas adorei. Imagine, uma operação de córnea bem sucedida em pleno século XVII! Espantoso!!! Imagine se o coitado vivesse no século XXI?! E no Brasil? Acho que não só se recusaria a continuar vendo como furaria os tímpanos, arrancaria a língua e, talvez, cortasse os pulsos.
Já a casa e o "cê" "ú" da mãe Joana, eu conhecia. Claro que apenas por leituras! Mas o tal do “fudevu de caçarolê”, achei demais. Tô rindo até agora.
Imagine se tudo isso acontecesse em Boquete?!

Abraços.

Marco disse...

Pra você ver, Zeca...
Legal você e a minha querida Claudinha estarem se entendendo. Ela é DEZ!
Um abração!