quarta-feira, março 08, 2006

Que seja infinito enquanto dure


Dia desses, eu estava assistindo a um seriado na TV a cabo (acho que era “Supernatural”, na Warner) e naquele episódio, tinha uma cena em que uma mulher e um homem travavam um diálogo mais ou menos assim:
- Você deixou de me amar?
- É... Aconteceu.
Mais tarde até foi explicado porque ela parou de gostar do rapaz. Mas nem deixou tanto assim. Ainda rolou alguma coisa entre os dois.
A cena me fez pensar: como alguém se desapaixona? Quais são os caminhos que levam ao desamor? Deixar de amar é mais fácil ou mais difícil do que deixar de sentir paixão?
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Eu já escrevi recentemente sobre amor e paixão aqui no Antigas Ternuras. Aquele texto sobre a célebre frase da Daniele Winits (“Dores e delícias”, no arquivo, em janeiro de 2006). Mas não me aprofundei sobre o desapaixonar. Posso falar sobre as minhas experiências (ninguém melhor do que a gente para falar de nós), e posso refletir sobre fatos acontecidos com outras pessoas.
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Nós nos apaixonamos com relativa facilidade. Não é difícil preencher o que está vazio. É como admitir um inquilino em uma casa vazia. Ele entra facilmente, mas na hora de sair pode dar algum trabalho. Por conta disso, tenho minhas dúvidas sobre a efetiva capacidade de se banir definitivamente uma paixão, como se desinsetizasse uma cômodo. Especialmente nas chamadas paixões mal resolvidas.
Já no desamor, aceito com menos ressalvas a finitude completa. O processo do desamar é mais lento, o amor é desconstruído ao longo de muitos perdões (ou muitas concessões), até que já não haja o que perdoar ou conceder. O fim de um amor pode ser o início de uma longa amizade. Raramente quando se esvai a paixão os envolvidos se tornam amigos. A intensidade da tsunami apaixonante costuma deixar marcas e destroços não facilmente reconstruíveis.
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Acredito que já aconteceu com qualquer um rever uma antiga paixão e de repente uma fagulha se acender. Dependendo da situação, um ou outro ou os dois vão tratar de abafar esta faísca. Ou avivá-la. Já quando revemos um amor antigo, não raro nos deixamos imbuir de uma sensação de carinho. Mesmo que seja pelos bons momentos vividos com aquela pessoa. No desamor, somos mais transigentes. No fim da paixão, somos implacáveis.
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Florbela Espanca escreveu em “Fanatismo”:
Minha alma de sonhar-te anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Mas, pergunto eu, e quando a cegueira se cura e a alma se encontra? E quando se vê graça e verdade na assertiva “tudo no mundo é frágil, tudo passa”? Quando enfim chega o crepúsculo daquele “deus” e não há mais princípio, só fim?
A própria Florbela, eterna ternura minha, responde em seu outro poema “Amor que morre”:
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
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A paixão queima e se destrói em cinzas fumegantes. Mas havemos de ter cuidado. Ela pode ser fênix e insistir em deixar uma semente adormecida. O amor, bem mais sólido que é, termina como um monumento antigo ao grandioso passado dos dois. E mesmo que as areias do tempo, inexoráveis, o cubram, ainda assim estará lá e poderá servir de alicerce para novas construções.

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Dedico este post às maravilhosas mulheres que costumam me honrar com a visita. Então, Claudinha, Isabela, Carlinha, Helena, Giovana, Dira, Belisa, Fernanda, Claire, Jade, Yumi...Esse é pra vocês, neste Dia Internacional das Mulheres. Meu beijo e meu carinho.
M.S.

14 comentários:

Anônimo disse...

Querido!! Que honra figurar entre suas visitantes "gratas"... Quanto ao desamor..."...Quando foi que rompeu o cordão emocional, este corte fatal, que congelou nossas frases, que enterrou nossas pazes, que deixou que o amanhã fosse mais importante que o agora..." é mistério meu amigo, para onde vai o amor quando não amamos mais, "ais" e "uis" é só o que sobra...beijos de mim

Anônimo disse...

Marquito!
Muito grata pela lembrança, nao só minha, mas de todas nós que aqui sempre vimos. O seu texto sobre o amor está belíssimo, e tens razao quando falas do amor mal resolvido, do amor passado que, de repente, nos surge.

Um grande abraço pra vc.

Y. Y. disse...

aiiii q lindoooooo!! =D é isso aí, parabéns pra nós, mulheres, e parabéns pros homens q sabem cuidar das suas mulheres! um beijooo

Bruno Capelas disse...

Eu me pergunto
Se é tão normal ter desamor
Se o quadradismo dos meus versos
Vai de encontro aos intelectos... etc etc etc!

Seja como for , vivam elas!

Um abraço!

Anônimo disse...

Oi meu anjo

esse texto dá samba...folia e aché...rsrs
( funk não porque dá licença....vira uma bagunça...rsrs)
sabe que adoro falar de amor e de paixão...esses sentimentos por vezes se misturam em mim...e eu fico, me perguntando...porque a gente se pergunta tanto.
Acho que já cheguei naquela idade de deixar as coisas acontecerem...
Obrigada pela homenagem ali...com meu nome, isso é delicioso.

um beijo grande
no coração

Anônimo disse...

Grande Marco:

Definitivamente tu te superaste neste post que é um monstro de sensibilidade.

E tuas escolhas das imagens a cada dia que se esvai beira a sublimação.

Vou ecoar com Elizabeth Barret Browning,que pediu ao seu transcendental e puro amor Robert:

Ama-me por amor do amor somente
Não digas: «Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua.» Porque pode mudar
Isso tudo,em si mesmo,ao perpassar
Do tempo,ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga,pois se em mim
Secar,por teu conforto,esta vontade

De chorar,teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor,e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.

Que relembrou:

As minhas cartas! Todas elas frio,
Mudo e morto papel! No entanto agora
Lendo-as,entre as mãos trêmulas o fio
da vida eis que retomo hora por hora.

Nesta queria ver-me — era no estio —
Como amiga a seu lado... Nesta implora
Vir e as mãos me tomar... Tão simples! Li-o
E chorei. Nesta diz quanto me adora.

Nesta confiou: sou teu,e empalidece
A tinta no papel, tanto o apertara
Ao meu peito que todo inda estremece!

Mas uma... Ó meu amor,o que me disse
Não digo. Que bem mal me aproveitara,
Se o o que então me disseste eu repetisse...

E finalizou:

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minhalma alcança quando, transportada,

Sente, alongando os olhos deste mundo,

Os fins do Ser, a Graça entressonhada.



Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do Sol, na noite sossegada.

E é tão pura a paixão de que me inundo

Quanto o pudor dos que não pedem nada.



Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,

E a fé da minha infância, ingênua e forte.



Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quiser,

Ainda mais te amarei depois da morte.

Dito isto,não continuo,caro amigo Marco,porque não tenho a tua capacidade de discorrer sobre o mais sublime sentimente que o Amor Maior reservou para a carne mortal!

Abraços saudosos,e te peço perdão por ter comentado nos outros posts tão maiorais sobre a semana em que estive de molho da grande rede!

Fique maiormente com a Suprema Sabedoria.

Anônimo disse...

Quis dizer:

Abraços saudosos,e te peço perdão por NÃO ter comentado nos outros posts tão maiorais sobre a semana em que estive de molho da grande rede!

Anônimo disse...

Eu sou a mais acaba expressão do desleixo. É de irritar minhas correções por aqui,não?

No último soneto de Miss Browning ficaram espaços entre os versos. Peço-te desculpas.

Anônimo disse...

Oi, Marco!!!

Muito obrigada pela homenagem!!!

Kisses

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco, agradeço os elogios e gostei bastante da sua visita ao TP. Vim conhecer seu blog e gostei muito, pois cheguei aqui e me deparei com uma homenagem linda . E que todos os dias sejam das mulheres e dos homens, que se respeitam, que se curtem. Volte sempre, eu voltarei... E quanto ao moça, é só aderir a minha nova matemática moderna, mas valeu, não sou tãomocinha assim, rsrs.

Marco disse...

Que coisa linda ver o meu jardim de novas e sempiternas ternuras florir com a presença de meus diletos amigos!
E se ando descrente da natureza humana, da natureza “mulherana” não tenho do que me queixar. Acreditem: é mais que ótimo amar o gênero feminino!
Mas vamos às respostas a tão gentis comentários:

Querida Giovana, Madame Mim que é Nossa: Eu é que me sinto honrado por tê-la aqui neste recanto. E o seu comentário tão poético assim mo comprova. Para onde vai o amor que finda? Ora, ele faz o mesmo caminho de nossos espíritos: transforma-se e renasce, reencarnado de outra forma em um outro ser. E se o amor tiver de acabar, que ele vá seguir o seu curso. Os “ais” e “uis” serão degraus galgados no rumo de nossa evolução. Meu beijo carinhoso para você.

Claire, a iluminada: os amores mal resolvidos precisam ser resolvidos. Até para que os “E se?” sejam respondidos. Só assim será lançada a corda que nos tirará do poço de angústias. Mas que não nos escravizemos nesta tentativa de resolução. Em muitas vezes a solução está em dizer “adeus”. Como diz a música: “Adeus também foi feito pra se dizer”... Um zéfiro de beijos para você.

Carlinha, amiga de pra sempre: Nenhuma homenagem é suficiente para vocês, mulheres. Nossas carnes são criadas dentro de vocês. Por isso, mesmo o homem é um pouco mulher. A paixão que não se resolveu pede resolução. Pode ser com uma nova chance. Pode ser com um definitivo ponto final. Beijos.

Yumi, minha passional nova amiga: Que bom que você gostou. Em questões de amor, nós, homens, precisamos sempre estar no banco escolar para aprender com vocês. Sinta-se beijada.

Claudinha, anjo meu: Não sei se este modesto texto dá samba ou axé (certamente não dá funk nem rap porque estes gêneros não cabem no amor). Certamente pede uma música. (Todas as minhas antigas paixões tiveram trilha sonora).
Claro que eu sei que você adora falar de amor e paixão. Quisera eu ter o seu talento para discorrer sobre estes temas...
Sim, eu também estou na idade de deixar as coisas acontecerem. Afinal de contas, “a vida é o que nos acontece enquanto estamos fazendo planos”, não é? Pra você, abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim...

Dira, meu bem: Nenhum homem consegue desvendar o segredo, o mistério desse ser iluminado chamado mulher (talvez só o Chico Buarque...). Eu posso te garantir que estou tentando. Sei que é meio o esquema tentativa/ muitos erros/ poucos acertos. Mas vou prosseguindo. Você não imagina a minha felicidade em receber estes elogios de você, uma artista toda mulher, que me ilumina em cada palavra que eu te leio. É certo que o amor acaba – ou se transforma, ou se encanta – como todos nós acabamos – nos transformamos, nos encantamos. E que é duro passar pela situação descrita na poesia de Vitor Martins e musicada por Ivan Lins (“Bilhete”): “Eu limpei minha vida/ Te tirei das entranhas/ Fiz um tipo de aborto/ E por fim nosso caso acabou/ Está morto...”. Ter a convicção de que está mesmo morto não é fácil. E deixar que ele siga adiante, como a vida que segue, é mais duro ainda.
Você me é muito querida e indispensável. É maravilhoso como ampliamos nossas amizades na internet. E encontramos tantas afinidades que acabamos virando amigos de infância de quem nunca vimos. Um beijo de carinho imenso pra você.

Querida Fernandinha, minha mais nova amiga de infância: Que bom que você gostou. Beijo.

A outra Claudinha: O prazer sempre é meu em conhecer blogs de pessoas talentosas como você. Eu também acho que todos os dias devam ser de homens e mulheres que se respeitam. Você está certíssima! Com certeza, farei constantes visitas ao seu Transmimento de Pensação e ficarei muito feliz toda a vez em você estiver por aqui.
Se você me permite, tanto na nova quanto na antiga matemática, você é uma (bela) moça. Uma moça que escreve muito bem, por sinal. Um beijo procê.

Agora vamos aos homens, especialmente estes que têm na alma o gosto pelo perfume que as mulheres emanam.
Caro Bruno, grande Mutante: É...é normal ter desamor, concordando dos versos da música de Antonio Carlos e Jocafi. Aliás, você abusou ao lembrar desta musiquinha tão legal. Aquele abraço.

Meu bom Paulinho grande Patriota: Que bom você ter voltado!... Esta página não é a mesma coisa sem o seu comentário. Aliás, e que comentário, heim!!! Você diz que eu complemento suas croniquetas, mas você É parte integrante dos meus textos. Eles continuam nos seus comentários.
Esta conversa poética entre Elizabeth e Robert é uma página belíssima, que eu li com o coração aos saltos. Muito obrigado, meu amigo. Pela sua contribuição, por você ser meu dileto amigo e por existir.
Suas intervenção NUNCA são irritantes. Mesmo, se a pressa de postar, o faz deixar passar pequenos e insignificantes deslizes, o seu cuidado em corrigir é digno de aplausos, nunca de reprovação.
Um grande abraço!

isabella saes disse...

Querido, que texto bacana! Obrigada pela homehangem, viu?! Agora, fugindo um pouco do assunto, como assim "Match Point" é ruim??? Eu amei!!! Beijos grandes, Bella.

Marco disse...

Isa, a Bela: Fico feliz por ter gostado. Sobre o "Ponto Final", a minha opinião é a que está lá no post. É o mais fraco de todos os filmes do Woody Allen.

Dira: Ora, ora! Seja benvinda!

Marco disse...

Doce Jade,
Este post é para pessoas que amam. Como você.
Fico muito feliz por você ter gostado.
Beijo, querida.