segunda-feira, fevereiro 06, 2006

O sumo do consumo


Quando estive em New York, em 1997, nos bons tempos do dólar a um real, tive a chance de descobrir como funciona realmente uma sociedade voltada para o consumo. Eu estava hospedado na casa de um brasileiro e cismei de tomar um café da manhã exatamente como via nos filmes e seriados de TV. Saí para o supermercado disposto a comprar sucrilhos, mel, suco de laranja, ovos... Só dispensava as tiras de bacon porque nesta época eu já não comia carne e também não achava graça nenhuma em entupir as veias com gordura de porco logo pela manhã.
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No supermercado lá de Queens – bairro onde eu estava – fiquei de queixo caído com a variedade de tipos de um mesmo produto. Imaginem prateleiras e mais prateleiras de sucrilhos Kellogg’s de inúmeros sabores, incluindo o “cherry flavor” que é uma mania deles. Tudo lá existe nessa variação “sabor cereja”. Acho até que se procurar a gente encontra ovo com este gosto...
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Quando eu resolvi ir a uma drugstore para comprar xampu e pasta de dentes, aí mesmo é que minha mandíbula desabou. Só de creme dental Colgate eu vi uns quinze tipos diferentes, incluindo, é claro, o indefectível sabor cereja. E a quantidade de xampus? Aqui no Brasil, qualquer drogaria fuleira tem uma infinidade de marcas e tipos de sabão para cabelos. Mas, acreditem, não se compara ao que se vê lá no templo mundial do consumo.
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No meu tempo de moleque não existia xampu, pelo menos eu nunca tinha visto nenhum. A gente lavava os cabelos com o mesmo sabonete com que nos ensaboávamos. Tinha quem preferisse enxaguar a cabelama com sabão de coco. Os mais antigos optavam por usar Aristolino. O detalhe a mais no cuidado com as madeixas vinha depois do banho, quando introduzíamos dois dedos num pote de Brylcream, espalhávamos nas mãos e dávamos aquele trato no pêlo. Daí, fazíamos deslizar o pente pela lateral do crânio, repartindo os fios. Um capricho no topete “Elvis não morreu” e estávamos prontos para tudo.

Às vezes aparecia lá em casa um vidro de Petróleo Menelik ou Loção Glostora, aqueles mesmos que enfeitavam as prateleiras dos barbeiros. Depois de cortar o cabelo, o fígaro sacolejava o vidro para misturar e dar uniformidade ao líquido, sapecava nas nossas cabeças, fazendo uma massagem logo em seguida. O cheirinho era inconfundível.
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Hoje em dia, temos no nosso país uma forte tendência a copiar o extremado consumo americano. Eu acho até engraçado quando levo o meu carrinho de supermercado até a seção de papel higiênico e fico escolhendo entre os tipos “neutro”, “com perfume floral”, “aroma de rosas”, “pêssego”, “óleo de amêndoas” e outros quetais.
Antigamente não tinha disso, não. Só existia papel higiênico do tipo “carinhoso”, que era, entretanto, multifuncional. Além de limpar o buzanfã, fazia peeling e servia para lixar as unhas. Não tinha nenhum aroma. Nem sabor cereja.
M.S.

15 comentários:

Anônimo disse...

rs
vc. é danado.
Onde acha tantooooo assunto.
( só consigo falar de amor...rs, brincadeira)

Mas, adoro consumir.
Somente o estritamente necessário.
Acredite.
Já comprei...muito.
Descobri que sobrevivia sem metade das coisas que eu comprava...
A duras penas...confesso.
Mas consegui.
Tenho os sapatos que preciso...
O jeans que preciso. A blusa que preciso. E isso é maravilhoso.
Optei pela qualidade
E não pela quantidade.
Nisso também...nas roupas e generos de primeira necessidade.
Até na poesia...curtinha...rs
Sou bem melhor agora.
Portanto, se morasse nos U.S.A, eles estariam ...mortos...rs
Um beijo.
No coração

( Aqui em casa meu pai usava...trin, parecia um tubo de pasta de dente...lembra?)

Anônimo disse...

ahhhh. foi no meu quintal na hora que eu tava atualizando???? sacanagem.

Ei... lembro de uma época em que ia visitar meus avós no sertão e a gente subia numa árvore de Juá para tirar as raspas e escovar os dentes. Pense. Onosso prazer era clarear os dentes. Pense num prazer.

beijo, parceirinho.

Theo G. Alves disse...

o sabão de coco eu já usei, nestas bandas não era estranho usa-lo nos anos 80, quando eu era ainda um menino recém-saído das fraldas. Devo ter usado sabão de coco até os 12 anos, por volta de 1991 ou 92...
mas tive sorte: o papel hiegienico por aqui não era carinhoso...
vou agradecer a Deus todo dia por essa dádiva a partir de hoje
eheheheheheheh
grande abraço!!!
obrigado, muito obrigado, pelo link!!

Anônimo disse...

Grande Marco:

É tudo muito saboroso por aqui. Miscelânia do afeto. Coisas variegadas do prazer!

Mesmo estando estremunhado,pois conecte-me em plena madruguê,fiquei mais desperto ao ler tua esperta postagem. (O termo para fiofó,que eu desconhecia,foi de lascar de engraçado.)

E repito Claudinha: tu és um endiabrado nas escolhas dos temas.

A propósito de cremes para cabelo. Já ouviu falar do imemorial "1010"? Aqui na província,gente míope o rebatizou de "Iôiô",naquelas priscas eras.

Tenha uma harmoniosa terça-feira.

PS: fui no palácio do Theo. Como ele inspeciona de antemão os comentários,espero que o meu descorado parecer seja aprovado por lá.

Obrigado,amigo. Você,como um archote generoso,ilumina os elos das novas amizades.

Anônimo disse...

Não é possível!, como alguém consegue dispensar tiras de bacon logo pela manhã? Só mesmo um fundamentalista vegetariano ou seria um vegetariano-fundamental?

Marco disse...

Eita, que quadro de comentários tem que ser assim: repleto de gente esperta!

Claudinha, minha pétala: Eu tenho de falar até de papel higiênico por que não consigo falar de amor com o talento e a propriedade que só você sabe fazer.
Nesses dias globalizados de hoje não há como não sermos consumistas. É tanto apelo na mass media, tanta variedade de opções... Ir ao supermercado hoje em dia é sofrer todo tipo de tentações. Quem tem juízo, leva uma lista para só comprar o necessário. Só que eu não tenho nem um pingo de. Eu não crio juízo por não saber que tipo de ração ele come...
Beijo carinhoso.
(P.S. - Claro que eu lembro do Trim! É que o pessoal lá de casa preferia Brylcream. Mas era o mesmo creme para pentear a cabelama! Tinha o Biorene, também. aliás, tem até hoje.)

Bela Dira: Eu estou sempre no seu quintal. Ador descansar à sombra daquelas frondosas árvores do seu talento. E sempre posso dispor da agradável companhia da sua Madalena, não é?
Raspa de Juá para escovar os dentes é um hábito mais interiorano. Nem sei se tem Juá por aqui... Uma vez me contaram que no interiorzão de Minas, usavam sabugo de milho como papel higiênico. Essa eu nunca vi. Talvez fosse até mais agradável que o "Carinhoso" de antanho...
Beijãozãozaço!

Grande Theo: Conheço muita gente que mesmo com essa profusão de xampus, ainda prefere o bom e velho sabão de coco para lavar as madeixas. Dizem que tem menos química. Você já deve ser do tempo do Neve. Eu, como sou um tantinho mais experiente que você, peguei o "Carinhosão".
Um abração! Meus amigos começam a te visitar. Sei que você os apreciará como eu aprecio os seus escritos.

Paulinho grande Patrita: É, a gente tenta variar, né? Afinal, este é um blog de variedades, sob o ponto de vista das antigas ternuras de todos nós.
Gostou do buzanfã? Eu sei um monte de sinônimo para esta parte da anatomia. de vez em quando eu soltarei alguns por aqui.
Claro que eu lembro do "1010"!!! Era o creme de pentear da Bozzano. Mas, como eu disse para a doce Claudinha, lá em casa a gente ia de Brylcream e Glostora, mesmo.
Você vai adorar os textos do Theo.
Um belíssimo dia para você!

Grande Ronie: Estava sumido, heim? Não vi os seus sempre clarividentes comentários nos meus textos recentes.
Olha, até que não sou vegetariano-fundamentalista, não. Eu como peixe, por exemplo. Mas mesmo nos tempos em que eu era um leão de tão carnívoro me daria ao gosto de encarar bacon logo pela manhã. Americano tem cada uma...
Aquele abraço, parceiro!

Bruno Capelas disse...

Meu único grande consumo é o de livros , discos e blogs. E comida , muiiiiita comida!

Um abraço!

Anônimo disse...

Que espetáculo!

Além dos inigualáveis posts do Grande Marco,há os deleitáveis comentários com suas devidas respostas papas-finas,pães-de-ló.

Ética blogueira é isso aí. Quem quiser aprender,que desvie a esta sêndita do respeito mútuo.

Sim,Theo é dos nossos: único e sem comparação.

Amigo antiga ternura,me dê um naco de tua expandida intuição ao melhor...

Abração "for all"!

Marco disse...

Grande Mutante: Que bom saber que você é um grande consumidor de livros. Estou aprontando um texto em que abordarei o assunto aqui no AT.
E o fato de você não se ter rendido à febre consumista é digno de louvores.

Paulinho grande Patriota: Escrever os posts para mim é um grande prazer. É onde eu exerço atualmente a minha profissão de jornalista. Mas eu considero o quadro de "coments" tão importante quanto. Nos jornais, a seção de cartas age como uma espécie de termômetro. Nos blogs, com os comentários a gente mede a pulsação da página, sua aceitação, o quanto ele mobiliza ou mexe com os leitores. Além do respeito a quem se dá ao trabalho de me fazer comentário, eu aprecio a troca de idéias, o debate com quem me lê. Por isso respondo sempre a quem me comenta.

Aos dois, um grande abraço!

Anônimo disse...

Amigo Marco,
Você acaba comigo, lembra de coisas do arco da velha aqui! Fico a ler seus textos e rir sozinha, tudo bem que às vezes você exagera e lembra de coisas que eu não vivi, mas o clima me faz recordar de coisas que meu filho diz que é mentira, rsrsrs... A balzaquiana aqui fica de boca aberta...Falando em papel-higiênico, eu lembo de uma propaganda tosca do papel Primavera, com uma musiquinha que não sai da memória, aí, estou assistindo TV ( coisa q faço só em caso de doença...) e descubro que eles ressucitaram o comercial??? Daqui à pouco vão reprisar os comerciais do extrato de tomate elefante "... o mais amado do Brasil..."rsrsr

Marco disse...

Grande Mutante: Que bom saber que você é um grande consumidor de livros. Estou aprontando um texto em que abordarei o assunto aqui no AT.
E o fato de você não se ter rendido à febre consumista é digno de louvores.

Paulinho grande Patriota: Escrever os posts para mim é um grande prazer. É onde eu exerço atualmente a minha profissão de jornalista. Mas eu considero o quadro de "coments" tão importante quanto. Nos jornais, a seção de cartas age como uma espécie de termômetro. Nos blogs, com os comentários a gente mede a pulsação da página, sua aceitação, o quanto ele mobiliza ou mexe com os leitores. Além do respeito a quem se dá ao trabalho de me fazer comentário, eu aprecio a troca de idéias, o debate com quem me lê. Por isso respondo sempre a quem me comenta.

Madame Balzaca: o objetivo deste blog é realmente o de fazer cócegas na memória de que me dá o prazer e a honra de lê-lo. O que pode parecer "exagero" para voc~e, ainda em sua flor da idade, cabe direitinho no tempo daquele mais, digamos, experiente.
Não conheço o jingle do papel Primavera (que pena, pois coleciono antigos jingles...). Pelo nome, imagino que o Primavera tenha a mesma maciez do "Carinhoso"...

A todos, um grande abraço!

Anônimo disse...

oi...
estilo the flash ...
estou saindo de férias...
vou sentir saudade...
tem um poeminha lá ( bem...sensual...rs)

um beijo coração

Marco disse...

Boas férias, Claudinha. Descanse esta cabecinha linda. Beijo.

Lena Gomes disse...

Oi, Marco, tudo bem? Comigo tudo na pressa, como sempre. Não tenho mais jeito pra dar conta da minha vida internetiana... hehehe... mas li este post, e mais uma vez confirmei seu humor genial... vc já leu um e-mail/power point sobre os diversos tipos de papel higiênico? É uma comédia. Se eu ainda o tiver, mandarei pra vc, num desses "momentos raros" em q me sobra tempo... Beijos.

Marco disse...

Doce Helena: Li sim, há um tempão. Nem me lembrava mais.
Espero que voc~e se ajeite nos seus afazeres. A internet não é a mesma sem a sua doce presença...