quarta-feira, janeiro 11, 2006

Produtores do riso


Mel Brooks é um caso sério...Quando eu era, humm, digamos, mais jovem, estava apaixonado por uma certa garota. Tímido de dar nojo como eu era, foi uma dificuldade para arrumar coragem e convidar aquela criatura fêmea para ir comigo ao cinema. Com o coração aos pulos fiz o convite. E as coronárias quase explodiram quando ela disse que aceitava. Entramos num cinema em que o filme – um faroeste – já tinha começado. No que sentamos, vimos na tela uma cena típica de filmes de bangue-bangue: caubóis sentados em roda junto a uma fogueira. Nisso, um dos caubóis levanta a perna e... BRAAAAP!...Solta um pum! Eu gelei. Paralisado. Como é que eu levo a minha deusa para assistir um filme onde um caubói manda um punzaço logo de cara? Para o meu desespero, o pistoleiro seguinte também levantou a perninha e...BRAAAP! O outro também, e o próximo. Todos os caubóis, em seqüência, liberaram seus gases, um por um! Eu eu querendo achar um buraco para eu mesmo me transformar em pum e desaparecer de vergonha! A menina achou graça, ela não tinha dessas frescuras. Ainda bem.
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Pois essa é uma amostra do humor iconoclasta e irreverente de Mel Brooks em seu filme "Banzé no Oeste" ("Blazing Saddles"). Embora tivesse me deixado em palpos de aranha (que delícia de expressão, heim?), adorei o que vi e virei fã do cara, assistindo a todos os seus filmes seguintes. E os produzidos anteriormente também, como por exemplo, "Primavera para Hitler" ("The Producers", 1968).
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Eis que não se sabe a razão, Brooks parou de filmar as suas deliciosas paródias. Eu pelo menos não sei o porquê. Mas depois de ter feito sucesso na televisão (ele é um dos criadores do "Agente 86") e no cinema, Brooks resolveu tentar a Broadway. Desencavou o roteiro do filme "The Producers", compôs um baita set de canções (letra e música) e botou nos palcos um dos maiores sucessos recentes de New York (venceu 12 prêmios Tony!).
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Do palco, a história dos dois picaretas que resolveram produzir um fracasso retumbante para ganhar dinheiro fácil voltou para a tela em sua versão musicada. E "Os Produtores", com direção de Susan Stroman, chega às nossas telas.
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O argumento é bastante curioso. Max Bialystock, um produtor fracassado, recebe a visita do contador medíocre Leo Bloom, que vai examinar a sua contabilidade. Bloom comenta que um produtor desonesto poderia ganhar mais dinheiro com um fracasso do que com um sucesso. Era só captar, digamos, dois milhões de dólares, produzir uma peça muito ruim com uns 60 mil e quando o espetáculo saísse de cartaz exatamente por ser muito ruim, ele não teria lucros para devolver aos investidores (No caso de Bialystock, os investidores eram velhinhas assanhadas a quem ele prestava favores sexuais).
Era tudo o que Bialystock queria. Ele consegue convencer Bloom a tornar-se seu sócio e vão procurar a pior peça, para ser montada com o pior diretor e o pior elenco. E a encontram em "Primavera para Hitler", escrita pelo admirador do nazifascismo Franz Liebkind.
A peça é montada e, talvez por ser extremamente ruim acaba ficando "ótima" como sátira ao Fuhrer e seus nazistas. Ainda mais com um Hitler bichona roubando a cena.
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No primeiro filme, os papéis principais ficaram a cargo de Zero Mostel (Bialystock), Gene Wilder (Bloom) e Lee Meredith (Ulla, a secretária boazuda sueca). No novo filme, estes personagens couberam a Nathan Lane (Excelente! Não me admiraria se recebesse o Globo de Ouro) e Mathew Broderick (não tão bom quanto o parceiro) – ambos originais da montagem na Broadway, e Uma Thurman (Ótima. Nicole Kidman, que tinha sido anteriormente convidada e que não pôde aceitar, não teria feito melhor). Vale destacar também Will Ferrel (que eu tinha detestado em "A Feiticeira"), como Liebkind e especialmente Gary Beach, como o efeminadíssimo diretor e ator principal "Roger De Bris" e Roger Bart (o "George Williams" da série televisiva "Desperate Housewives") como o impagável (e bichérrima) "Carmen Ghia", assistente de De Bris.
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Em diversos momentos eu me vi gargalhando com o filme. Até quando Bloom e Ulla fogem para o Rio de Janeiro e aqui dançam rumba vestidos como se estivessem em pleno Caribe. Nem vou destacar nenhuma cena (embora a do balé de velhinhas com andador seja antológica), pois foram muitas as que me deixaram rolando de rir. O humor corrosivo e politicamente incorreto de Brooks (ainda bem!) continua afiadíssimo. Aliás, desde os tempos em que a sua graça deixou um rapaz tímido mais sem graça que deputado surpreendido com a mão no cofre.
M.S.

11 comentários:

Anônimo disse...

Grande Marco:

O teu texto inicial me produziu um riso digno das impagáveis paródias de Brooks (adeus,Bancroft...)

Ainda bem que a tua dadivosa paquera foi cúmplice do diretor novaiorquino.

Assim com existem várias realidades,há vários humores,e o que pertence ao grandíssimo Melvin Kaminsky já me fez verter água íntima pelo impulso de gargalhadas(bem lembrado o balé das velhinhas!)tanto quanto Blake Edwards me faz sair da linha de represa urinal até hoje - talvez precise usar fralda descartável nas próximas reassistidas de um dos ambos cineastas citados.

Só me resta ficar mui treloso pela descoberta de pontos em comum conosco.

Já que me expandi demais no post anterior,para neutralizar fiquei bem sucinto neste aqui.

Sou mais Você.

Tenha uma boníssima quinta-feira,meu lorde!

Anônimo disse...

Querido Marco, como pôde ver em meu blog, escrevi um pequeno texto inspirado no seu texto anterior (sobre arrependimentos)rsrsrsr... espero que tenha gostado... Quanto a este teu texto, só vou lê-lo depois que assistir ao filme, já que adoro Brooks...rsrsr... depois te falo se concordo ou não com você...beijos de mim

Anônimo disse...

Grande Marco:

Muito obrigado pelos toques lá no Mural do ZOOM. O que vos digita é mui displicentemente aluado. Vou no recanto indicado,viu?

Ganhei uma revista ontem,e lá existe uma matéria sobre o poeta - que também é arquiteto de profissão - Jessier Quirino; não poderia deixar de fincar aqui estes trechos de versos antigas ternuras do arretado paraibano:

"Vou-me embora pro passado
Lá sou amigo do rei,
Lá tem coisas 'daqui,ó!'
Roy Rogers,Buck Jones
Rock Lane,Doris Day
Vou-me embora pro passado.

Vou-me embora pro passado
Porque,lá,é outro astral
Lá tem carros Vemaguet
Jeep Willys,Maverick
Tem Gordine,tem Buick
Tem Candango e tem Rural".

Aprovou?

Meu abraço porreta pra vosmicê...

Gustavo H.R. disse...

Saudações, Marco.

Aparentemente, na sua juventude, você era bem parecido comigo! Bem, sendo um cinéfilo relativamente novo, confesso que desconheço grande parte da filmografia de Mel Brooks - essa refilmagem parece ser uma oportunidade perfeita para conhecer melhor esse artista tão aclamado.


Cumps.

Lena Gomes disse...

Queridíssimo, e agora, dulcíssimo amigo... foi um prazer inenarrável conhecê-lo ao vivo, a cores, e ainda por cima, com fundo musical da melhor qualidade...!!! Só que pra variar, estou de passagem. Sabe como terminou o evento de ontem? No cinema de hoje: fomos assistir o inigualável, poético, magnífico, e sei lá mais quanto adjetivos há para ele: "Vinícius". Fiquei encantada com o filme. Mas como vou viajar na quinta, meus próximos dias estão meio atolados, então, prometo (sim!), voltar aqui com a calma q vc merece, pra ler seus posts recentes, e RELER, o q vc escreveu sobre "Vinícus", ok? Desde já um bom domingo, e uma ótima semana. Beijocas. Vc é um encanto de pessoa.
PS> Não esqueça de me enviar as fotos, e pode enviar outras em q eu não esteja, mas q estejam os "astros" da noite, ok?

Lena Gomes disse...

Voltei. Vc deve conhecer esse site, né?
http://www.viniciusdemoraes.com.br/

Muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito bom!!!
Beijos.

Paulo Assumpção disse...

Meu caro amigo virtual e, agora, também real, pensando cá com os meus botões e longe do burburinho da festa, cheguei à conclusão de que você estava certo quando disse que "Primavera para Hitler" está datado. Nem diria pelo tipo de humor, pois eu não parava de rir (se bem que cabeça de professor de História é deslocada no tempo), mas por alguns personagens e situações, como o "LSD" e sua banda psicodélica e a Ulla-mulher objeto. A propósito - momento Mofolândia - a Mulher Gato da série do Batman (ou melhor, uma delas, já que a personagem foi interpretada por pelo menos 3 atrizes - disso eu me lembro bem), não se chamava Lee MERIWETHER? Se bem que a Ulla original não me é mesmo estranha. Já a vi em algum outro filme ou série de TV. No mais, como nossa doce Helena adiantou, ontem assistimos ao "Vinicius". Também gostei muito e entendo porque ele encabeça a sua lista dos melhores filmes nacionais de 2005. Ainda assim, sou mais "Cinemas, Aspirinas e Urubus". E quanto à imagem que lhe mandei, aprovada? Por falar nisso, estou ansioso para receber as prometidas fotos do casamento da Luciana e do Antônio. Pode deixar que não farei nada de inescrupuloso com a sua imagem. :-D
Por enquanto é só. Grande abraço!

Marco disse...

Hummm, visitas ilustres...
Paulinho grande Patriota: você tem razão. Com Mel Brooks e Blake Edwards não dá para manter "represa urinal" (você tem cada uma...).
Sobre o poema, você marcou mais um golaço. Ele é a cara do Antigas Ternuras.
Madame Linda: Eu tinha percebido, sim, que o meu modesto texto sobre amores, paixões e arrependimentos serviu de incentivo para o seu belo post. E nos comentários do seu texto eu contei um de meus arrependimentos. Veja o filme com as minhas bênçãos. É diversão garantida!
Gustavo: Obrigado pela visita. É uma honra tê-lo aqui. Realmente, na minha juventudo eu era muito tímido com a mulherada. E agora, quando estou mais, digamos experiente, tenho que continuar sendo tímido, senão a minha namorada corta as minhas asinhas. Mas recomendo a todos os jovens: deixem a timidez de lado. Ou vocês, no futuro, vão ficar escrevendo textos de arrependimento em blogs...
Queridos Helena e Paulo: Para mim também foi um enorme prazer conhecê-los pessoalmente. Vou enviar as fotos do nosso encontro hoje mesmo. Paulo, você está coberto de razão: a "mulher-gato" era a Meriwheter (um pitéu!) e a Ulla do "Primavera..." é Meredith. Falha nossa! (Que vergonha!) Vou já acertar no texto.
Vocês devem ter ido assistir ao Vinícius na sessão das 17h 15min, não foi? Na sessão das 21h30min do Estação Botafogo eu estava lá revendo esse maravilhoso filme, levando a Sylvia, a Jade e o Guilherme, que não tinham assistido. Respeito a sua opinião, mas embora tenha gostado do "Cinema, Urubus...", ele não é melhor de jeito nenhum, na comparação com o documentário sobre o Poetinha. Escreverei mais nos e-Mails para vocês.

Marco disse...

Doce Helea: Ia me esquecendo. O meu post sobre o maravilhoso filme "Vinícius" está no arquivo novembro de 2005. Beijo e boa viagem!

Paulo Assumpção disse...

Marco, nós assistimos "Vinicius" ainda mais cedo. Na sessão das 13h. Helena pensou ter visto você por lá. Em outro horário estaria certa. Olha, acabei de visitar o blog do meu xará Patriota e li os seus comentários a respeito do "Cinelândi@". Não sei se somos mesmo tudo aquilo, mas lhe agradeço muito pelos elogios. Aguardo seu e-mail.

Lena Gomes disse...

Oi, doce amigo. Olha, vou te escrever um e-mail pra falar sobre o nosso papinho de hoje, ok? Mas não será hoje q escreverei, desculpe ter "interrompido" o papo. Mas olha só, o post sobre o Vinícius, eu li e deixei um comentário lá, depois me diz se vc conseguiu lê-lo, tá? Beijos!