terça-feira, janeiro 17, 2006

Exemplo de caridade cristã


Meio dia. Na esquina de Figueiredo de Magalhães com Avenida N. S. Copacabana, dezenas de pessoas cruzam a faixa de pedestres ou aguardam o sinal abrir. Ou simplesmente passam, misturados aos muitos camelôs que estão parados por ali.
Uma senhora de 75 anos tropeça na calçada e cai. Corte feio no braço, começa a sangrar.
Dezenas de pessoas cruzam a faixa de pedestres ou aguardam o sinal abrir. Ou simplesmente passam, misturados aos muitos camelôs que estão parados por ali.
Ninguém faz o menor gesto para ajudá-la a se levantar. No máximo, olham e seguem adiante.
O povo alegre e hospitaleiro do Rio de Janeiro continua passando, seguindo com suas vidas alegres e hospitaleiras.
Ela podia ser a mãe, a avó, a tia, a irmã de algum deles. Mas não era. Então, para que se envolver?
Imagino que muitos daqueles que passavam freqüentam igreja, ou centro, ou templo. E rezam a Deus, pedindo misericórdia para suas vidas alegres e hospitaleiras.
Aquela era a minha mãe. Felizmente, ela não quebrou nada (como verificamos depois de eu tê-la levado ao hospital, saindo correndo do meu trabalho, alertado pelo telefonema dela).
A vida segue aqui no Rio de Janeiro. As dezenas de pessoas continuam a cruzar a faixa de pedestres ou aguardam o sinal abrir.
Minha mãe também continua a tocar a sua vida. Só que mais desiludida com os exemplos de caridade cristã das pessoas dos dias de hoje.
Na próxima encarnação, eu quero voltar como golfinho.
M.S.

16 comentários:

Anônimo disse...

Grande Marco:

Chocante!

Mas quando saio da província aqui,onde ninguém usa gravata,mas todos são extremamente polidos - diria Drummond - e vou passar temporada em São Paulo,constato o que disseste.

Espero que tua genitora se restabeleça o mais depressa possível.

Difícil mesmo é regenerar,hoje em dia,a crença em nossos semelhantes.
Você foi corretíssimo quando falou de sua desilusão na raça humana.

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NOTAS

1 - O termo vulgívago (do latim vulgivagus) também significa: que se vulgariza; que se abandalha,que se dá ao desprezo. Coloquei,no outro post,no sentido da mais ordinária das prostitutas.

2 - Segundo minha "Larousse Cultural" (me ajudou imenso nos dias pré-Net) Ademilde Fonseca nasceu em Vitória de Santo Antão-PE.


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Ronnie: o nosso amigo está certo. Pulhas existem em qualquer lugar.

Mais dois pernambucanos arretados à listinha: Joaquim Nabuco e Barbosa Lima Sobrinho...

Abraço para ambos.

Anônimo disse...

Estranho que tendo o Google à mão fui confiar mais na minha memória,mas se até aqueles editores porretas erraram fincando que a grandíssima intérprete de chorinho nascera na "Suíça Brasileira"...

Ponto pra Você,Marco: Ademilde Fonseca nasceu em Macaíba (RN), em 4 de março de 1921.

Estamos aqui para aprender.

Tchau.

Anônimo disse...

Hey Mr. Dolphin, é incrível como a espécie humana está cada vez mais banalizada. Não se respeita ninguém!!! Um absurdo, uma vergonha. Melhoras para a Grande Mãe Ternurinha.

Anônimo disse...

Porcos... Que a sua mãe se reestabeleça e supere a tristeza pelos tempos em que vivemos e fazemos do mundo um chiqueiro.

Anônimo disse...

Oi
Espero que esteja tudo bem com sua mãe...

E eu aqui...pensando, (rs...um perigo) louca para falar um palavrão.
Porque por mais que eu odeie palavrão...tem horas, que não dá para dizer outra coisa né?
E essa é uma das horas...
Onde será que andam as pessoas?
Acho que até um animal da mesma espécie acaba socorrendo o outro, dependendo da situação...
Nem dá para chamar esse pessoal de animal, é ofender a raça.
Beijo pra ti.

Lena Gomes disse...

Puxa, Marco, q coisa chata... espero q tudo esteja bem com sua mãe, ok? De coração... e q isso não volte a acontecer, com ninguém!!!
Minha última navegada antes da viagem, ok? Passei pra me despedir. Boa semana pra vc. Retorno dia 28 à net. Ah, adoro golfinhos!
Beijos.

Anônimo disse...

Grande Marco:

Adivinha de quem são as fotos da inauguração do ex-bistrô (set./2005)Padre Nosso de minha mana Silvinha? Nome do restaurante e "design" da placa foram idéia do Patriota aqui - (risos.)

(Você sabia?... O Parque do Ibirapuera,tão verdejante,não tem cheiro de clorofila.)

Abração.

PS: e tua mãe,meu caro,já está toda pimpona mesmo? Restabelecida do tombo?

Anônimo disse...

Em tempo: golfinhos formam gangues para espancar concorrentes na época do acasalamento, vários contra um só.

Marco disse...

Obrigado a todos pela preocupação com a minha mãe. Do tombo ela está se restabelecendo bem. Sente algumas dores, mas a dor maior ela sente na alma. Ela é uma pessoa que constantemente ajuda aos outros. Sempre foi assim. Noutro dia, uma jovem que estava calçando um desses tamancos modernos, tomou um tombo perto dela e ela foi a primeira a correr e ajudar a moça a se levantar, perguntar se tinha se machucado, oferecer para levá-la a uma farmácia... E ela caiu, machucou-se, e ficou jogada no chão, sangrando, tendo que se levantar, sem forças e sem uma mão amiga.
Eu tento animá-la, digo que vivemos dias em que a mentalidade é o "salve-se quem puder", todo mundo nas grandes cidades está auto-centrada mesmo... Mas ela anda muito tristinha.
Eu, cada vez mais decepcionado com a natureza humana, especialmente nos grandes centros, reforço a minha decisão de sair do Rio de Janeiro, quando ficar velho, que isso aqui não é lugar para idoso. Vou-me embora pra Passárgada. Ou para outro lugar distante e pequeno onde reencontre valores que aprendi em minha infância.

Marco disse...

Respondendo aos comentários.
Paulinho grande Patriota: A Ademilde Fonseca me conheceu bebê. Ela morava próxima aos meus pais. Recentemente, eu a chamei para fazer uma participação especial no meu espetáculo, "Nas ondas do Rádio". Eu a entrevistei e ela me disse ter nascido no RN.
Mas você também é designer de restaurantes? Mas que menino talentoso...
Claudinha: Imagino o quanto este tipo de coisa que aconteceu com a minha mãe seja absurdo para você que mora em cidade bem menor que o Rio. Olha, eu nem pensei em palavrão, não. O meu desgosto com a raça humana descamba mais para a tristeza do que em outra coisa.
Lúcio: quando eu era pequeno, criávamos porcos no quintal da minha casa. Acredite: nunca vi eles tratarem seus semelhantes desta forma. Mas, se até os golfinhos formam gangues (o "bonde" do Flipper), meu Deus...Tudo bem. Na próxima encarnação, volto como hipopótamo! (eles se ajudam em caso de perigo. Eu vi no Discovery).
Ronie: Quando eu faço campanha contra os que falam com celular nos cinemas, conversam alto durante o filme, estacionam os carros de qualquer jeito, os que ignoram regras mínimas de convivência civilizada, falo deste sentimento de puro egoísmo que tomou conta dos brasileiros das grandes cidades.
Doce Helena: Boa viagem e bom descanso! Aguardademos a sua volta.

Anônimo disse...

Caridade eu faço. Cristã não. E fico cada vez mais abismado quando vejo pesquisas estrangeiras sobre o Rio.

Um abraço!

Fernando Palma disse...

Comovente. Difícil até acreditar que iso ainda aconteça. Realmente, desilude, não só a sua mão, mas a qualquer um que fique sabendo da história.

[]´s

Fernando Palma disse...

*mãe :)

Marco disse...

Caro Mutante: Que bom vê-lo por aqui. Mas acredite: as estatísticas de violência sobre o rio não são piores do que as de São Paulo, Porto Alegre, Recife...
Viver em cidade grande cobra um ônus pesado de nós. Você que é feliz com a qualidade de vida que a sua São Caetano proporciona.
Fernando: Prazer em relê-lo. Eu, pessoalmente, ando muito desiludido com a natureza humana. Histórias como a ocorrida com a minha mãe acontecem aos montes. Você nem imagina o que ouvi e li de pessoas que me contaram depois de ter lido o meu post!
Abraço aos dois!

Paulo Assumpção disse...

Episódio lamentável! Espero que sua mãe esteja bem. E, ainda que descrente dos seus semelhantes, não mude o seu modo de agir. Caridade cristã não é a hipocrisia dos que nada fizeram por ela. Caridade cristã é o que ela faz há muito tempo: o bem sem olhar a quem (ainda que este tenha sido um dos que ignoraram sua aflição). Acredito sinceramente nisso.

Marco disse...

Eu também penso assim, meu caro personal teacher. Para você ver: eu ajudo financeiramente a um orfanato há um tempão e nunca declarei isso no meu Imposto de Renda. Se é caridade, não tenho que usufruir nenhum benefício disso, não é?
Eu ando mesmo, muito desgostoso da natureza humana. Não só pelo ocorrido com a minha mãe. Os dias estão realmente muito difíceis. Continuarei fazendo a minha parte, como o beija-flor daquela fábula, é claro. Mas totalmente desiludido com a natureza humana...