Vou escrever uma coisa aqui que vai fazer muita gente gritar: “Heresia!” e começar a rasgar as roupas, jogar terra sobre a cabeça, bramindo: “Vendetta! Cão infiel!”
Imagino um monte de cinéfilos decretando uma “fatwa” contra mim, mas mesmo assim eu assumo o que vou escrever. Lá vai:
Eu prefiro a série “Harry Potter” à trilogia Senhor dos Anéis.
Pronto! Falei. Já posso ouvir daqui os gritos irados dos adoradores da saga do J.R.R.Tolkien.
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Antes que alguém caia de cimitarra no meu pescoço, deixa-me esclarecer que não acho ruins os três filmes “Senhor dos Anéis”, ao contrário. Reconheço que foi um enorme feito filmar tudo aquilo direto e depois editar em forma de trilogia. Os desempenhos são excelentes a direção do Peter Jackson é memorável etc. etc. etc. Mas... em se tratando de ambientes mágicos, considero os filmes Potter muito mais instigantes à minha imaginação do que aquela porradaria sem fim das aventuras tolkianas.
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Eu não li nenhum dos livros em questão, nem os da série do bruxinho inglês, nem os tijolaços que contam a saga do anel mágico. Estou falando estritamente dos filmes. Eu até pretendo ler os livros da J.R. Rowlings, assim que eu terminar o que estou lendo. Sei que nos livros existem muito mais tramas que não cabem num filme de duas horas, duas horas e pouco.
Acabei de sair do cinema, onde assisti a “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, quarto filme da série. São 157 minutos da mais pura magia cinematográfica. Entretenimento dos bons. Se o filme durasse umas cinco horas eu ficaria sem nem me mexer na poltrona, acompanhando tudo com o maior interesse. Já tinha sido assim com os outros três.
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É impressionante a imaginação dessa mulher! Eu vi, certa vez, num documentário, que ela teve a idéia de escrever o primeiro dos livros sentada em uma lanchonete, enquanto pensava no que daria para a filha comer naquela noite. A Sra. Joanne Kathleen Rowling estava numa pindaíba de fazer gosto e não conseguia arrumar um emprego fixo. Escreveu o “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, enviou-o para trocentas editoras, foi recusado por quase todas até que uma topou. E o resto é conhecido...
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Quando o primeiro livro chegou aqui e eu li as resenhas, arqueei as sobrancelhas: “êpa! Isso aí, até o visual, é o “Livro da Magia”!”
Para quem não é iniciado em quadrinhos: Neil Gaiman (ave, meste!), autor de Sandman e um dos maiores escritores de quadrinhos de todos os tempos, escreveu em 1991 a série “Livros da Magia” em gibi, onde o garoto Tim Hunter, lourinho de franja e óculos, é especialmente vocacionado como um (futuro) grande bruxo.

Aparecem alguns mentores para iniciá-lo nas artes mágicas e com isso ele e a sua coruja vivem grandes aventuras. Para mim, estava claro que a dona Rowling tinha chupado descaradamente a história do Gaiman para compor o seu Harry Potter.
Quando eu assisti ao primeiro filme, vi que a chupação não foi total. Foi, digamos, uma inspiração na série em quadrinhos. Depois fiquei sabendo que a criadora do personagem Tim Hunter era a inglesa Diana Wynne Jones. Em 1982 ela o apresentou no livro “Witch Week”. Gaiman leu e pediu autorização para desenvolvê-lo em uma história em quadrinhos. Se você quer saber mais detalhes,
clique aqui ..
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Não vou nem me preocupar em escrever um resumo da história desse novo filme “Harry Potter”. Vou simplesmente recomendá-lo para quem gosta de fantasia, de um bom entretenimento, de assistir a uma obra que tem o ritmo dos gibis, enfim, para quem gosta de ver um show de imaginação. Tem uma cena que eu vou destacar por ter me dado umas boas idéias: na abertura do filme, Harry e seus amigos vão assistir ao jogo final da Copa do Mundo de Quadribol num estádio gigantesco. O jogo: Irlanda x Bulgária. Quando a seleção irlandesa entrou em campo, quer dizer, entrou no ar, estouraram vários fogos de artifício em tons de verde, formando no céu um Leprechaum – aquele duendezinho símbolo da Irlanda – que começou a dançar ao som de uma música típica. Na hora, me veio à mente uma final de campeonato no Maracanã: o Flamengo entrava em campo, estouravam fogos em preto e vermelho formando um urubuzaço de asas abertas, fustigando com suas garras a bunda de um portuguesinho com a camisa do vasco, que gritaria: “sucorro! sucorro!”. Heim, que tal? O jogo nem precisaria ser contra o vasco mas a imagem tinha de ser esta para fazer a gloriosa torcida do Mengão delirar de prazer.
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Ainda sobre o filme, o crítico de O Globo escreveu que não é grande coisa, logo... o que você está esperando para assisti-lo? Corra! Se os caras dizem que não presta é porque é muuuuuito bom! De fato, é.
M.S.