Bem, amigos do Antigas Ternuras... O Horário Eleitoral Gratuito está no ar.
(Pausa para ouvir a música que a minha, a sua, a nossa Rádio Antigas Ternuras – a rádio que toca no seu coração – reservou para ilustrar este post. É só clicar na setinha)
Pois é. Mais uma eleição se aproxima. Lembro da primeira vez em que fui votar para presidente. Isso alguns anos depois de ter participado do famoso comício das Diretas Já, o do milhão de pessoas na Candelária. Naquela época, eu fui para a rua, cheio de botom na camisa, distribuindo folhetos, com o ideal de vencer o Collor, nem que fosse só aqui, no Rio de Janeiro.
*
Mas essa não foi primeira vez que eu meti no buraco da urna. Nem vou dizer qual foi porque vocês vão achar que eu fui cabo eleitoral do Epitácio Pessoa. Não sou tão velho assim. Mas assisti ao nascimento do Horário Eleitoral Gratuito, desde o tempo da Lei Falcão, quando só podia aparecer na telinha o retrato 3x4 do candidato, nome e número. Depois, deixaram os caras falarem e foi quando ficamos com saudades do tempo das fotos...
*
Hoje, não vejo o Horário Eleitoral, porque Deus se apiedou de nós e criou a TV por assinatura, louvado seja! Estou livre de ver candidato que diz: “eu sou o Baixinho do Gás. Você me conhece! Conto com o seu voto!”.
*
Já tem algum tempo em que eu não dou aqui as devidas explicações sobre a origem de expressões de uso corrente, seção mais ou menos fixa deste blog. E desta vez, escolhi duas delas que, entendo eu, tem a ver com estas próximas eleições. As expressões são:
Dar com os burros n’água e
Tirar o cavalo da chuva.
O que elas tem a ver com as eleições? Ah, isso eu deixo por conta da imaginação de vocês...
*
A expressão “dar com os burros n’água” vem do tempo do Brasil Colônia, quando não tinha trem, avião, caminhão, nem um mísero skate para transportar os produtos produzidos em nossa Terra Brasilis. Portanto, o ouro, o cacau, o charque, o açúcar e posteriormente o café eram levados em lombo de mulas e burros pelas estradas de então, na direção de portos e de grandes centros que se incumbissem de fazer a distribuição e exportação.
*
Agora vocês imaginam as condições das estradas do interior daquela época. Não tinha pontes, acostamento, viadutos, nada! Eram áreas secas e outras embrejadas ou mesmo alagadas. Quando o dono da tropa decidia enfrentar as poças, às vezes ele descobria que o que parecia ser uma “pocinha” na verdade era uma baita lagoa e os pobres dos burrinhos, ó... Glub! Glub! Glub!... se afogavam. Por conta disso, criaram a tal expressão para se referir a algo que era feito com grande esforço, mas que acabava em insucesso.
E aí? Vocês conhecem algum candidato que vai dar com os burros n’água nessa eleição?
*
O “tirar o cavalo da chuva” que os mais eruditos e pernósticos preferem dizer: “tirar o mamífero equídeo da precipitação atmosférica” vem de tempos um tantinho mais recentes. Consta que no Século 19, quando alguém ia na área rural visitar um parente, um amigo, ia com seu cavalo, ou com sua charrete. Se a visita fosse vapt! vupt!, o visitante deixava a sua Ferrari (a escuderia do cavalinho) amarrada na frente da casa. Se estivesse chuviscando ou fazendo sol de rachar o coco, o pobre bucéfalo permanecia ali. Quando a visita era demorada, o dono tinha permissão para levar o cavalo para o estábulo, ou a área protegida reservada aos animais. Mas a ida do animal para o estábulo, sempre dependia da autorização do dono da casa. Se a prosa estivesse boa, se o anfitrião se agradasse da conversa e quisesse estendê-la, convidar o visitante para o almoço ou para a merenda da tarde, dizia para a pessoa: “pode tirar o cavalo da chuva”.
*
E quando o visitante dizia ter compromisso, algo a fazer que o impedia de se demorar, mas era do interesse do dono da casa retê-lo ali por questão de educação, de desejar esticar a visita por ser agradável etc. e tal, e o cabra insistia em ir embora? Aí o anfitrião mandava essa: “pode tirar o cavalo da chuva, porque você não vai sair daqui agora!”
Por conta disso, a expressão passou a significar um convite à desistência de alguém para fazer o que imaginava.
Há algum candidato para quem você diria “pode tirar o seu cavalinho da chuva, que meu voto você não terá nem se o saci pererê cruzar as pernas!”?
M.S.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve "Brasil", na voz de Cazuza e Gal Costa.