quarta-feira, outubro 21, 2009

Maria Solteirona


Numa noite dessas, tive um sonho enlouquecido. Bem, até aí nada de novo. Meus sonhos são sempre enlouquecidos. Eu nunca usei droga nenhuma e costumo dizer que nem preciso. Com os sonhos que tenho, parece que eu misturo LSD com Nescau e tomo um copo cheio na hora de dormir.
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No sonho, eu estava em alguma antiga cidade. Eu andava pelas ruas e ao cruzar com algumas pessoas elas me disseram: “Moço, cuidado com o fantasma da Maria Solteirona”. Eu achei aquilo muito curioso e perguntei que raio de fantasma era aquele e me explicaram que naquele lugar, houve uma mulher de nome Maria que morrera sem ter se casado. E como ela tinha cantado para subir virgem, sem ter colocado a baratinha no espeto, vagava à noite, com uma arma na mão, atrás de homens desacompanhados e quando os encontrava, os ameaçava com a garrucha. Disseram eles que teve muito homem que viu a Maria Solteirona, mas poucos sobreviveram para contar a história.
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Eu avisei a vocês que meus sonhos são coisa de maluco...
Bem, eu ouvi a história que me contaram e disse que não acreditava nisso, que estava com vontade de perambular pela rua porque queria chupar manga. E continuei a caminhada.
Daí que eu fiquei sozinho no lugar, ouvindo aquele zunido de vento nas árvores. Foi quando eu vi uma mulher vestida de noiva, com grinalda e tudo, com uma baita espingarda na mão. Ela era branquíssima, parecia que tinha talco no rosto. Nisso, o vento parou. Com o susto, cheguei a cair para trás. A aparição me apontou a arma e disse, com uma voz de filme do Vincent Price: “Você não acredita em mim, não? Pois vai ter que casar comigo ou vai morrer...”
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Eu me lembro da nítida sensação de aperto no peito e na garganta. Eu queria falar, tinha na mente a frase: “Espera... Calma... Vamos conversar...” Mas não saía nada! E aquela mulher branca, toda de branco se aproximando, dizendo que eu ia morrer.
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Foi quando minha namorada me acordou, perguntando porque eu estava gemendo e me debatendo. Meu pijama estava empapuçadão, meu coração batia no ritmo da seção de tamborins do Salgueiro. Caraco... Que mal estar!
Contei para ela o sonho que tive, rimos juntos e voltamos a dormir. Ela, bem mais rápido. Eu fiquei com receio de voltar para aquele pesadelo.
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A sensação de que eu estava vivenciando aquela história foi tão grande que depois procurei saber o que significa sonhar com fantasma. Há quem diga que são más notícias e há quem assegure que é sorte durante três dias.

Fiquei sabendo que noiva fantasma é coisa antiga, que existem muitas histórias, muitas lendas sobre isso, cada cidade tem a sua. Talvez pelo fato de vestirem branco com tecido transparente, talvez pela consequência social de uma mulher ser largada no altar... Aí já comecei a refletir sobre o assunto. Imaginei a pressão de uma sociedade machista e patriarcalista sobre a mulher para que ela exercesse sua função reprodutora que garantisse a perpetuação da família. E se ela era abandonada perto de deixar o celibato - uma anomalia que rotula a mulher como “solteirona” e antigamente a deixava estigmatizada por toda a vida, tendo que zelar pelo seu bom nome e sua virtude - aquele fato se transformaria numa carga excessivamente pesada que só poderia ser aliviada pela morte. E ela seria obrigatoriamente enterrada com o vestido de noiva (hábito que vem desde o Século XVII), acabando por se transformar um assombração.
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O assunto já estava ficando para lá de interessante. Resolvi pesquisar para saber se existiu mesmo alguma “Maria Solteirona”. Entrei na internet e... achei um monte de história de fantasmas de noivas e solteiras.
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Encontrei a lenda de “Ale Coelhinha”, uma mulher loura, solteira, razoavelmente bonita, embora dentuça, e que gostava de cair na noite, passando o rodo na rapaziada. Parecia que ela tinha calor na bacurinha e dava mais que chuchu na cerca. O comportamento liberal da moça provocou a inveja de uma vizinha solteirona que se incomodava com o fato da Coelhinha sair todas as noites caçando algum homem que quisesse afogar a cobra caolha nela. A rancorosa escreveu uma carta anônima, como se fosse de um dos rapazes que passaram pela cama da Ale, dizendo que tinha transmitido AIDS para ela. Desesperada, a moça foi fazer o exame. Quando saiu o resultado, ela nem quis abrir para ver. Acreditando que estava mesmo com a doença, foi para casa, colocou o envelope debaixo do travesseiro, tomou veneno e se matou. A invejosa, quando soube, deu boas gargalhadas. Mas quando foi dormir, sonhou que a loura lhe aparecia, fazendo acusações e prometendo que continuaria em espírito frequentando os mesmos lugares onde pegava os rapazes.
E muita gente viu suas aparições nas boates...
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Na Paraíba, em João Pessoa, no bairro de Engenho Velho, tem uma lenda que fala de Branca Dias, uma bela moça, noiva de um bom rapaz, que recebeu propostas indecorosas de um padre taradão, que queria botar a tora para serrar com ela. Como ela se recusasse, ele a denunciou à Inquisição e ela virou picanha assada nas fogueiras do Vaticano Grill. A partir daquele momento, muita gente passou a ver o fantasma da moça vagando pelas ruas do lugar.
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Em Minas Gerais, terra mater de todas as lendas urbanas que envolvem fantasmas, tem a da noiva de Congonhas que foi abandonada pelo noivo que resolveu virar padre. Em total desespero, ela se matou, cortando os pulsos, no próprio seminário (onde hoje está a Escola Municipal Fortunata de Freitas Junqueira) e a partir de então, ela vive assombrando os alunos, ora nos corredores, ora no banheiro feminino (ainda bem. Já pensou um moleque com o passarinho de fora, urinando, e dá de cara com a noiva fantasma? Na hora o pinto dele murcha e vira uma verruga!).
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Em Faxinal, no Paraná, certa vez uma família estava andando pela estrada a noite quando a criança que estava com eles viu uma moça de branco, sentada numa pedra, fazendo crochê. Ela disse para a mãe: “Olha que moça bonita!” A mãe olhou na direção que ela apontara e não viu nada. A mulher ficou intrigada e foi pesquisar para saber se havia alguma história esquisita acontecida por ali. Soube, então, que um noivo matou a noiva, pouco antes de se casar, e jogou o corpo exatamente naquele lugar.
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A história mais próxima da minha “Maria Solteirona” é a da “Noivinha fantasma do Cemitério da Água Verde”, em Curitiba. Diz-se por lá que uma noiva foi abandonada pelo noivo e acabou morrendo de desgosto. Então passou a vagar como alma penada pelo lugar, abordando homens desacompanhados que passam por ali, procurando um outro noivo. Ai que mêda!
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Vejam só que coisa... Eu tenho um pesadelo com noiva fantasma (que não sei como se instalou no meu subconsciente) e acabo descobrindo um assunto interessantíssimo para post.
E você, já viu alguma noiva fantasma?
M.S.

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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve o tango “Por una cabeza”, orquestrado por Astor Piazzola para o filme “Perfume de Mulher”.

17 comentários:

Anônimo disse...

Pelo menos a noivinha de Faxinal se ocupava de um servicinho qualquer, um crochê pra não ficar por aí vagando desocupada, já que ela não tinha nem uns paninhos pra lavar no tanque, porque "mente ociosa, oficina do capeta"...
Eu sou do tempo da Loira do Banheiro, que tinha morrido assassinada em um banheiro público e dava plantão de assombração com o nariz socado de algodão.
Eita, agora eu precisava tomar meu banho pra dormir e estou com medo de entrar no banheiro, carai!

Moacy Cirne disse...

Rapaz,
de um sonho a uma interessantíssima pesquisa foi um só pulo, e o seu texto - como sempre - é muito bom de se ler. A "sua" Maria Solteirona, em sua multiplicidade, é ótima.
Um abraço.

As Tertulías disse...

Voce já pensou, ema relacao ao seu sonho, no Ballet "Giselle"? Myrtha, a líder das "Willis", é o espírito de uma solteirona, amarga. Ela faz com que todos os homens que entram na floresta, dancem até a morte - mais uma versao da "Maria Solteirona". A "Myrthe" é uma flor branca que simboliza a pureza, a virgindade. Antes era muito usada na Europa nos bouquets das noivas... A Myrtha do Ballet - apesar de "pura" é uma mulher agressiva e quer a morte dos homens! Que coisa este teu sonho. Alguma coisa ficou aí "armazenada". Obrigado por dividí-lo conosco! Ricardo

Na Braga disse...

Acho que eu teria passado o resto da noite acordada se tivesse sonhado com algo assim... Aliás, ainda bem que estou lendo seu post de manhã porque senão demoraria um bocado a dormir! rs

Você já digitou "noiva fantasma" ou qualquer coisa parecida no Youtube? Existem "provas" desses fantasmas. haha

Minha avó diz que devemos ter medo dos vivos e não dos mortos. Eu prefiro não arriscar. Sou medrosa!! haha

MARCOS DHOTTA disse...

... Esta dama de branco não seria a "Noiva do Chucky" na pior das hipóteses? Vai saber...

DO disse...

Assunto interessante,mas assustador,né MARCO. Fico me perguntando,porém,pq raios será que vc foi sonhar com esta tal noiva?
Será que é algum tipo de "dica" pra te dizer que está na hora de se casar? rsss

abraços!!

guiga disse...

Eu vou casar e tu colocas estes posts?!?!loool
Eu sou noiva, mas de carne e osso! lol
*.*

Graça Lacerda disse...

Marco, Marco,
Freud explica...
Tem algo escondido, mas bem escondidinho mesmo, por trás desse teu sonho, meu rapaz!!!rsrs
Nossa, é de arrepiarrrrr.
Aqui em Minas essas lendas urbanas existem de fato, e como você disse, em grande número! E como todos aí de cima, eu tenho muito medoooo!
Credo!!!
Uma boa saída, segundo pessoas da minha cidadezinha onde nasci, era rezar o 'creindeuspai de trás pra diante'...
Cada uma!
Bjs, amigo, e por favor peça à sua namorada não ficar com ciúme, não precisa, são só sonhos...rs

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco,
pesadelos são assim mesmo, nos assustam. Estas lendas existem em muitos lugares.
Que bom que você foi acordado antes que a Maria solteirona te agarrasse!
Achei muita graça neste seu post!

Theo G. Alves disse...

vixe! que inveja! só consigo sonhar chegando atrasado no trabalho e acordo desesperado no meio da madrugada e só percebo que foi sonho quando estou no meio do banho às 3h da madrugada.

vou procurar saber quem é essa maria solteirona.

abraço!

Luma Rosa disse...

Noiva abandonada no altar que perambula na madrugada? Essa lenda contavam quando eu era criança. Algo do tipo: Criança tem que dormir cedo para não ver a noiva... ou a mula sem cabeça...faz parte do imaginário infantil, associar o escuro da noite com coisas ruins e, os pesadelos nada mais são do que a repercusão dos nossos medos. Vê aí Marco, o que está te afligindo! (rs*) Bom fim de semana! Beijus,

Francisco Sobreira disse...

Caro Marco,
Faço minhas as palavras do nosso amigo Moacy. Agora, não existe nada mais absurdo, difícil de explicar, do que sonho. Acho que cada pessoa poderia escrev er um livro enorme só com os sonhos que tev e. Um abraço.

* Quanto ao livro, acho que o mais certo seria você entrar em contato com a UFRN. Não acho que vá haver lançamento no Rio. Vou procurar saber o e-mail da UFRN e depois lhe informo.

Mimi-lele-nana, a gatinha ;-) disse...

meu querido Ternurinha!

Quem resiste a um chamado seu?
e que delícia de post!!!
Ainda bem que já saí do caritó, ou era capaz de eu andar vagando atrás de alguma boa alma, mas ambos vivínhos da silva!
Não sei de histórias da mulher de branco, mas se ela aparecer, vou pedir pra ela ir para a Luz e ter paz, pra nunca mais ela invadir seus sonhos!

beijos, Queridíssimo-Querido meu!

Samara Angel disse...

oiieeeeeeeeeee meu querido Marco,me perdoa mas eu me afastei mesmo nao ia voltar mais,mas os verdadeiros amigos,estao aqui como vc,e voltei,brigaduuuuuuuuu por estar aqui ,por ser essa pessoa linda,por existir e ser meu amigo,aa essa musica eu amoooo de paixão,e o filme tb,meu querido,brigaduuuuuuuuu por tudo,fico feliz e honrada em ver o THE BEST 2009 ja postado em seu blog que admiro muitooo,são só 3 que ofereço todo fim de ano,e vc nao poderia estar de fora,parabens por mais um ano com o The best do Paginas Viradas,é com muito carinho que escolho a dedos,te adoro,deixo meu carinho e um domingo maravilhoso,bjssssssss em seu coraçao lindo

Tina disse...

Oi Marco!

Aff quanta noiva "perambulando" por aí... rs Essas histórias devem ter algum fundo de verdade, vai saber.

beijos querido, boa semana e obrigada pelo carinho de sempre.

Dilberto L. Rosa disse...

Rapaz, olha só que coincidência: andava lendo os encadernados de Monstro do Pântano e Sandman; daí para ter pesadelos foi um pulo, rs! Mas a coisa toda nem passou perto dos personagens lidos, mas de situações como sufocamento ou perseguições... Acredito que gerados pelas leituras na alcova! Sobre noivas fantasmas, nunca tive o desprazer... E sobre lendas aterrorizantes e dias de bruxas americanizadas, os Morcegos andam relembrando também como é bom sentir medo! Olha que coisa... Cruzes! Abração!

Anônimo disse...

parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.