quarta-feira, julho 22, 2009
Futuro do pretérito
Nos meus comentários nos blogs amigos, sempre termino com as frases: “Carpe diem. Aproveite o dia e a vida”. É uma espécie de marca pessoal, para saberem que aquele Marco que comentou sou eu mesmo. Mas tem uma outra razão, esta mais filosófica.
É uma recomendação para que as pessoas cuidem de seu presente, para que no futuro, quando ele se tornar passado, se transforme em uma doce e antiga ternura. O nosso futuro do pretérito é construído hoje, é preciso lembrar sempre disso. Um deslize cometido no presente, manchará nosso futuro e se tornará uma nódoa indelével em nosso passado. E arrepender-se não vai adiantar muito.
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Há algum tempo eu escrevi um post falando sobre viagens no tempo e desenvolvi uma hipótese onde afirmei que se uma pessoa entrasse em coma e depois de algum tempo despertasse, faria uma espécie de viagem no tempo. E que isso talvez trouxesse um certo choque cultural. Criei até uma historinha para exemplificar isso, onde um homem brasileiro entrou em coma em 1986 e despertou em 2006, no auge do “mensalão”, ao lado da esposa e do médico.
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- Uhnn...Onde estou?
- Waldemar! Você acordou? Olha só, Dr. Duarte! O Waldemar acordou! Ô, meu querido! Você esteve em coma por 20 anos!
- 20 anos? Então já estamos no Século 21?
- Desde 2001, meu bem. Aliás, um ano bem complicado...
- Tivemos a nossa odisséia no espaço? O Brasil já foi ao Cosmos?
- Já, já...E o assunto já encheu o saco. Ninguém agüenta mais o astronauta de Bauru.
- O que? O Brasil mandou um astronauta de Bauru pro espaço? Uau! Deve ter custado muitos milhões de cruzados para...
- Reais.
- Hein?
- Reais. A nossa moeda é o Real. Não é mais Cruzado. Aliás, deixou de ser Cruzado, deixou de ser Cruzado Novo, deixou de ser Cruzeiro... e sei lá mais o quê. A moeda mudou tanto que nem lembro mais quais foram.
- O que você está me dizendo, Dirce... Quando eu apaguei o presidente era o bigodudo, o que fez o Plano Cruzado. Quem mudou pra Real?
- O topetudo. O Itamar Franco.
- Heim? O Itamar foi presidente depois do Zé Sarney?
- Não. Depois do Sarney veio o Fernando Collor...
- Collor? Ué! Não era aquele governador que caçava corrupto em Alagoas?
- Era. Virou presidente e foi impichado.
- Por que?
- Porque era corrupto.
- O que você está me dizendo, Dirce... Mas essa festa vai acabar quando o socialismo sair da União Soviética e chegar ao poder no resto do mundo. Aí essa...
- Waldemar, a União Soviética acabou. Não existe mais desde 1990. A Rússia, a China, a Cortina de Ferro, virou tudo capitalista, adorando a economia de mercado!
- Mas...mas...O que você está me dizendo, Dirce... E depois do Itamar? Quem foi presidente?
- Fernando Henrique Cardoso.
- Aquele sociólogo metido a besta? Meu Deus... Só rico vira presidente nesse país! Ah, mas um dia o PT vai chegar ao poder. Quando um trabalhador chegar na presidência esse país vai ter jeito, vai acabar a roubalheira...
- Er...Waldemar...
- ...Não, Dirce, eu tenho esperança de que um dia um companheiro chegará à presidência e aí os corruptos vão ver só...
- Waldemar...
- ...É isso aí, Dirce! Só o PT no poder para acabar com a bandalheira!...
- Doutor Duarte! Vamos fazer o seguinte? Bota ele em coma novamente!*
Vamos supor que o Waldemar dessa história não acordasse em 2006 e sim hoje, julho de 2009. E alguém dissesse para ele que Lula tinha chegado à presidência. Certamente ele ficaria feliz. Mas e se lhe mostrassem essa foto aí ao lado, com a legenda: “Lula diz que o senador Collor tem sido um apoio para ele no Senado”. E que exibissem para ele um outro jornal, onde o mesmo Lula diz que o senador José Sarney – a quem ele muitas vezes chamou merecidamente de “ladrão, safado” - não é uma pessoa qualquer, é uma pessoa especial. O choque destas revelações não poderia ser fatal para o pobre doente?
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É por isso que eu recomendo a todos: “Carpe Diem. Aproveitem o dia e a vida”. Escolham hoje o seu presente. O seu futuro e especialmente o seu passado, dependem disso. Para que haja antigas ternuras é preciso que seu presente seja igualmente terno. Seu passado começa hoje.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “O Amor”, de Caetano Veloso e Ney Costa Santos com letra do sempre ótimo Vladimir Maiakovsky.
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20 comentários:
Querido amigo, estou aqui ouvindo e ouvindo esta música que gosto tanto. Ela me lembra muita coisa de minha vida, coisas importantes que passei. Viver o que me cabe, mesmo que com restrições.
Sobre estes hiatos seria muito complicado. Eu passei um mês apenas em of e quando descobri sobre o ataque terrorista nos EUA achei que era mais um filme. Imagine anos...
Seu recado é claro, é importante o hoje, porque será nosso ontem amanhã. Mas muitas vezes não podemos driblar nossas esquinas. Coisa complicada é viver. É sempre muito custoso!
Beijo e Carpe Diem!
Ora, tenho que agradecer pelas palavras que li aqui...sempre bom lembrar...
Aff! Coitado do Waldemar, nessa altura melhor mesmo voltar pro coma, a coisa aqui tá preta, quinem a musica do Chico...
Cuidemos do hoje pois o ontem já foi e o amanhã só Deus sabe.
Amigopratodavida, tenha um lindo dia.
beijos
Gente, vocês levam as coisas demais a ferro e fogo... as declarações do molusco eram simplesmente brincadeirinhas de miguxos... huhuhuhuh
Grande abraço, Marcão!
marco, acabei até lembrando do Adeus, Lenin... que belo filme. e verdade que essa viagem no tempo pode mesmo ser traumática...
abraço!!
Perfeito, especialmente pela bela foto final (já me apaixonei por uma bela moça de belas pernas perdida em seus pensamentos asism num ônibus...) e pelo afiado humor do Sr. Duarte! E tudo pela governabilidade e pela banalidade! E viaje para a lua com o índio analfabeto desconhecido homenageado nos Morcegos: nosso papo rendeu um gostoso 'post'!!! Abraço carpediendo!
ERRATA: Sr. Waldemar, não Sr. Duarte!
SHow de bola seu post.
Big Beijos
Marco,
Como sempre, você faz suas críticas utilizando a arma letal do humor. E como disse, parece que a Márcia, melhor seria para o Waldemar continuar em coma. Um abraço.
O Theo lembrou muito bem! "Adeus, Lênin" é uma ótima pedida, aliás!
E obrigado pela força, amigo Marco!
Acho que qdo o Waldemar soubesse tudo que o Pinócchio fez e está fazendo,ele mesmo ia pedir pra voltar pro coma,MARCO,rsss.
Muito bom!!
Abração e CARPE DIEM !!
:)
Marco, querido amigo! Estive tão longe dessa nossa vidinha "blogueira". Mas, voltei e vim abraçar você.
Enquanto estive longe, terminei de ler o Popularíssimo! Amei! Eas referências sobre Guaratinguetá, minha cidade natal, me deixaram toda orgulhosa...
Você continua "afiado" nas críticas. Ótima história contou. E eu acho que lembra aquele quadro do Jô Soares, que ficava querendo arrancar o soro do braço( lembra disso?).
Carpe diem prá você, também!
E o braço apertado!
Dora
Marco, lembro muito bem dos candidatos que votei nas últimas eleições e do arrependimento não sofro! Calculo o choque que Waldemar sofreria se presenciasse tais acontecimentos. Nós, ao contrário dele, recebemos doses homeopáticas, mesmo assim estamos saturados de tantos #carasdepaus. Me lembrei de meu avó, quando ele dizia que antigamente a palavra de um homem bastava, não era necessário assinar documentos. Estes senhores não honram as calças que vestem. Bom fim de semana! Beijus
oi Marco,como sempre vc escreve coisas da vida real e nos ajuda aver com outros olhos o futuro e o presente,brigaduuuuuuuuuuuuu por existir e ser essa pessoa tao especial,te adoro,bjssss
Hauahauahauahauah. Lembrei do "Me tira o tubo" do Jô...
Beeeijos, Marco!
Marco querido, estou postergando meu comentário "carpediento" nesse seu post por uma grande razão:todos os comentários têm chegado com uma pitada de humor(nada contra, por favor!) e o meu não possui nada, e já digo o motivo.
Sabe,amigo, ninguém melhor do que eu no momento está eternizando essa expressão latina, sabe por quê?
Simplesmente porque me médico me disse com a maior calma:- A senhora está com calcificação na aorta!
Me diga:Posso não "carpendiar", depois de ouvir uma declaração dessas?
Beijos mil em seu terno coração e olha:gracias por nos acordar!!!!!
Fique com Deus.
Graça
Muito bom!
Carpe diem! ;)
Marco, querido!
Acordei e perguntei : donde estas Marco? Segui a trilha da inteligência, do bom humor, da boa música.
Te encontrei. Algumas coisas não mudam, deve ser o tal Carpe Diem:)
amei o texto, a sacada, a ironia.
beijos
Após prolongado coma acordei e, para não sofrer muito com o choque de realidade, procurei logo o Antigas Ternuras. Aqui, sim, encontrei o que sempre espero encontrar: textos deliciosos, escritos com delicado humor e um toque ligeiro de realidade. A descrição do encontro com seus amigos chegou a me comover. Talvez por já não mais tê-los, pois os meus se perderam nas brumas do tempo.
Abração.
Marcão,
Ainda bem que não falaram pro Waldemar que São Paulo Maluf também faz parte dos amigos do chefe. Isso seria fatal, né mesmo?
Abração.
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