
Eu posso dizer que tenho uma boa carteira de shows internacionais no meu currículo. Alguns shows que assisti foram absolutamente memoráveis para mim. Não dá para descrever em palavras a emoção de ter visto ao vivo e em cores Paul McCartney, James Taylor, George Benson, Ray Charles, Frank Sinatra, Elton John, The Police, Stevie Wonder... Só para falar alguns. Mas tem um outro show que eu incluiria nesta minha lista de créme de la creme: Burt Bacharach.
*
No sábado passado fui pela segunda vez assistir ao show desse que é um de meus inegáveis ídolos na canção internacional. Já tinha ido vê-lo em sua outra estada entre nós, em 1999. Mas eu acho que desta vez foi melhor ainda.
*
Eu já disse num post anterior que no show do Elton John que assisti no ano passado eu revi a trilha sonora da minha juventude. Pois com Burt Bacharach revi muito mais desta trilha. Já padeci de amores e coração partido ao som de “A house is not a home” (na telinha em anexo), “One less bell to answer”, da belíssima “April Fools”... Tenho quase todos os seus discos, a maior parte ainda em LP, visto que não relançaram em CD a sua discografia no Brasil.
*
E lá estava eu, assistindo ao “The Hit Maker”, como ele é conhecido por ter composto tantos sucessos, a maior parte deles com letras de Hal David. O cara está com 80 anos e ainda tem disposição (e simpatia, esbanjando simpatia!) para uma turnê mundial! Acho que é a sua última, aliás, creio que ele disse isso, se meu inglês macarrônico não me enganou. Mas tenho certeza de que ele falou que aquela seria sua última vinda ao Brasil para fazer shows. É compreensível. Se ele esteve aqui há dez anos atrás, fica óbvio que com 90 anos não vai dar para encarar uma viagem de 15 horas de avião para fazer reluzir aqui seus cristais musicais.
Uma coisa curiosa: ele está a cara do Paul Newman, quando velhinho!
*
O maravilhoso show começou com uma introdução de “What the world needs now is love”. E dali, emburacou num pot-porri incluindo “Walk on by”, “I say a little prayer”, "Make easy on yourself", “This guy’s in love with you”, “Do you know the way to San Jose” (eita, como eu gosto deste baião que ele compôs e que a Dionne Warwick canta maravilhosamente!). E eu cantando junto, empolgadamente, a ponto de minha namorada me pedir para cantar mais baixo, já que eu estava virando quase um backing vocal dali da platéia.
*
Mas quando chegou o segmento de canções de cinema, não deu para segurar. Nem eu nem o público que soltou o gogó, cantando junto “Raindrops keep fallin’ on my head” (de “Buth Cassidy e Sundance Kid”), por exemplo. Mas ele abriu o medley cantando uma das suas músicas de que mais gosto, “The look of Love” (de “Cassino Royale”), conforme vocês podem ver no iutiúbe em anexo. E em seguida vieram “Arthur” (de “Arthur, o milionário”), “What’s new pussycat” (de “O que é que há, gatinha?”), “World is a circle” (do excelente “Horizonte Perdido”, embora a crítica deteste este filme, dane-se, pior para a crítica), a lindíssima “April Fools” (de “Um dia em duas vidas”, assim como a famosa "I say a little prayer"), “Alfie” (de “Alfie, o sedutor”), “Wives and lovers” (que apareceu em vários filmes).
*
Em determinado momento, Burt foi ao microfone e dedicou a música seguinte (“That what friends are for”, trad: “É para isso que servem os amigos”) a “dois amigos”: Lula (vaiado) e Barack Obama (aplaudidíssimo). Ele já tinha dito que adora vir ao Brasil, que aprecia a música brasileira, especialmente Milton Nascimento, Ivan Lins e Djavan.
*
Embora cantando a sua voz seja fraquinha, fraquinha, o seu inglês me permitiu entender tudinho o que ele falava nos intervalos entre as canções. Numa desses intervalos ele falou que tocaria seus quatro primeiros sucessos, “que vocês até podem não gostar mas eu me orgulho muito deles”, segundo disse. Eu não conhecia estas canções, mas achei uma delas, um chá-chá-chá com direito ao som de rolha estourando feito com a boca pelo saxofonista, bem legal. Ele também anunciou uma canção dizendo que ela tinha sido gravada pelos Beatles (falou isso duas vezes!): “Baby, it´s you”, incluindo o “shá-lá-lá” do trio de ótimos cantores que o acompanhavam: Josie James, John Pagano e Donna Taylor.
*

Fim do show, depois dele ter dado um baita bis, a platéia foi ao delírio quando ele voltou e nos pediu para cantar com ele “Raindrops keep fallin’ on my head” E eu soltei a voz...
Saí do Vivo Rio cantando todas as letras que eu sabia de cor do velho Burt. No dia seguinte, tasquei um CD dele no aparelho de som e me deliciei com essas antigas, mas muito caras ternuras, meus cristais de Bacharach...
M.S.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “That what friend are for”, com Dionne Warwick, Stevie Wonder, Luther Vandross e Gladys Knight. No mês que vem, tem Dionne Warwick com Gal Costa no Vivo Rio. Tô dentro!
Na TV Antigas Ternuras, você vê duas gravações amadoras feitas no show de Burt Bacharach, de “A house is not a home” e “The look of Love”. Para assistir aos vídeos, você já sabe: clique no “x” no alto, na barra de ferramentas, que interrompe a canção.