quarta-feira, julho 30, 2008
De rosto colado
Recentemente, recebi pela internet um power point que falava sobre a importância da dança. Segundo dizia ele, antigamente as pessoas dançavam juntinhas e esse era um fator determinante para ajudar às mulheres a escolher o homem para com ela conviver. Pelo texto, a maneira de o homem pegar na dama, de conduzi-la com segurança e leveza, se ele cometeria erros, se pisasse no pé dela, como se desculparia e se se desculparia, tudo isso contava na hora de fazer a escolha. Hoje essa forma de seleção está bem mais limitada. A chamada dança de salão é desafortunadamente bastante restrita a freqüentadores de gafieiras. As boates mais freqüentadas só tocam música (?) para chacoalhar a caveira. Os corpos ficam separados. Os ouvidos agredidos por aquele bate-estacas imbecil. As mulheres perderam este importante fator de escolha e, disse o texto, talvez por isso haja tão más escolhas...
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No tempo das antigas ternuras, a gente dançava juntinho na maior parte das vezes e separado em outras. Para nós, os tímidos, era aterrorizante e ao mesmo tempo prazeroso tirar uma moça para dançar. A possibilidade de recusa eqüivalia a uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, assim como a eventualidade de, durante a música, acontecer um certo intumescimento de determinado órgão da anatomia masculina. O que, via de regra, acarretava em abandono pela dama no meio do salão. Eu já escrevi aqui sobre isso. Dava um trabalho danado controlar os passos para não pisar nos delicados pezinhos das moças e pensar no Sagrado Coração de Jesus caso a “cobra caolha” começasse a se empolgar.
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Mas eu concordo com o texto no power point. Dançando, dava às moças e rapazes o fundamental impulso para entabular conversação. Eu lembro que mandava um “embromation” – aquele inglês estropiado – no ouvidinho da menina, cantando a música que estávamos dançando. Se ela estivesse gostando, sorria significativamente. Caso não aprovasse aquelas intimidades, fechava a cara e eu tratava de, literalmente, cantar noutra freguesia.
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Eu não era nenhum pé-de-valsa. Por ser tímido que dava nojo, ficava na maior parte das vezes como discotecário (esse negócio de “DJ” ou “didjei”, graças ao bom Deus não existia na época...). Eu e o Alcir, meu obi wan kenobi em termos musicais, tínhamos os melhores discos do pedaço. O Alcir era guerreiro, partia pra cima da mulherada e sempre se dava bem. Daí, o seu “assistente”, ou seja, moi, ficava pilotando o toca-discos. Uma das músicas que eu gostava de tocar era esta que vocês estão ouvindo nesse momento. Eu gostava mesmo dessa música. Em casa, colocava o disco para tocar e ficava olhando a lua, pensando naquela que talvez estivesse em algum lugar, olhando para a mesma lua e pensando em mim...
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Quando eu colocava este disco no prato, os casais iam se formando na pista e eu tratava de escolher uma pra mim também. Às vezes, quer dizer, muitas vezes, eu sobrava. Mas não perdia a pose e ficava lá com cara de quem sabe animar um baile...
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Eu ficaria muito feliz se algum dia, alguém me contasse: “Olha, Marco, eu comecei a namorar o meu marido naqueles bailinhos que você tocava seus discos...”
Não sei se aqueles mela-cuecas de antanho deram em algum casamento. Dos amigos que eu conhecia, com certeza, não. Mas tinha muita gente que eu não conhecia. Quem sabe? Ah, seria um enorme prazer saber que eu ajudei uma mulher a fazer a sua escolha por ter nos braços alguém gentil e atencioso, que lhe fez ebulir os hormônios, ao ouvirem as Supremes cantando essa canção bossanovística e deixar que a melodia e o destino lhes guiassem os passos...
“Precious little things (precious little things)
You mean the world to me...”
Sim, claro, essas pequenas e preciosas coisinhas significam mais que o mundo para todos nós...
(Ei, duvido você pegar agora a sua esposa, o seu esposo, namorado, namorada, noivo, noiva e tirá-lo para dançar essa música de rosto colado! Garanto que você vai agradar totalmente!)
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve The Supremes, cantando essa delícia que é “Precious Little Things”. Ah, meus tempos!
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24 comentários:
Olá!
Passando para conhecer seu espaço.
Amei!
Beijocas 1000
Oi Marco!
Ah, velhos tempos! Saudades daqueles bailinhos em que aproveitávamos para dar um grude quando dançávamos... Eu dançava sempre de olho se meu pai vinha me buscar (puxa como era chato isto!). Não dancei muito The Supremes, dancei mais Barry Manelow (?), Bee Gees (How deep is your love), Elton John dentre outros. Mas vejo com tristeza que ninguém mais dança coladinho. Aqui só em bailes da terceira idade!
Eu menina, doida pra sair de casa, ficava sonhando com estas danças...
Belo post meu amigo, me trouxe as minhas ternuras de volta!
Um beijo!
Como era gostoso dançar musica romântica, nem saíamos do lugar, também pra que né? rosto colado, mão[respeitosamente] nas costas, respiração traidora e assim fazíamos nossas domingueiras passarem na felicidade, tínhamos histórias para a semana toda, ô coisa boa...
Amigopratodavida, deliciosas antigas ternuras.
lindos dias meu querido
beijos
Oi Marco!
Dançar é sinônimo de bem amar! E eu amo muito tudo isso. Lindo, lindo post. Obrigada. Let´s dance!!!
beijo grande querido amigo, lindo dia.
Tbem sempre fui mjuito timido,MARCO. Acho que não só por saber-me "diferente",mas tbem por personalidade. Qdo alguma garota vinha falar comigo,eu ficava vermelho como pimentão. Daí que naquelas festas obrigatórias ( casamento em sua maioria ),eu morria de medo de ter que dançar obrigado.
Mas,depois dos 30 anos,qdo me assumi de vez,eu até que gostava qdo era obrigado,rsss
abraços!
Marco,
Nunca fui um dançarino. Claro que cheguei, estimulado pela bebida, a dançar, mas não aprendi de fato, apesar de ter uma irmã que era ótima dançarina e tentou me ensinar, sem êxito, devido à minha falta de jeito, de ritmo. A dança é uma coisa maravilhosa, por isso gosto dos filmusicais, principalmente quando são com os gênios Astaire e Kelly. Um abraço.
Marco. Eu danço bem(e sou modesta também...rs). Mas, meu parceiro de dança, o eterno maridão, é uma lástima! Então, passamos a vida(desde o namoro) a tentar entrar em sintonia nas danças de salão(aquelas que a gente dança agarradinho). Ele é tímido, como você. Mas, adora dançar! Então, pontuamos nossa vida a dois pela dança e pelas pisadas nos pés...(Nunca consegui ensiná-lo a dançar bem! Meu testemunho deixo aqui...rsrs).
Adorei você falar de dança!
Beijão!
Dora
É, meu terno Amigo.
Já não se fazem danças como antigamente.
Os bailinho eram um martírio. Eu sempre achava que nenhum menino ia me convidar para dançar. Que pesadelo!
Pior, meu companheiro dança que nem um bujão, ou seja, arrasto-o!
te beijo
Taís
ah,mas eu que ficava mais com a vassoura em bailinhos, adorei crescer e poder dançar sozinha na disco.
coisa que aliás, faz tempo... ui, saudade!
Ternurinha, Ternuróvski, vc não quer é contar quantos corações deixou palpitando com os seus pés, não é?
Mas acho que vc sempre foi bom é com as palavras.
Abraços e beijos da amiga que lamenta não poder ter te encontrado no julho que passou
Os bailes de antigamente... há, os bailes de antigamente... Na minha época, as orquestras - no interior - tocavam Glenn Miller. E boleros! Abraços.
ACHO AS DANÇAS DOS DIAS DE HJ TÃO NÃO-DANÇAS.
QUERIA TER NASCIDO NA ÓPOCA DA DISCOTECA OU DE DANÇAR JUNTINHO.
Eis a melhor forma de dança. Não existe outra que a substitui, exceto é claro a dança do amor.
PS.: comentário no post do Batman.
Beijos de lua.
É, Marco, acho que estamos nos esquecendo o significado do termo "calor humano", não apenas voltado para os sentidos e sentimentos físicos, mas também para aquilo que gera prazer apenas pela companhia de uma outra pessoa (mesmo esta companhia sendo apenas temporária, durante uma música). Já pensou se as pessoas voltassem com a moda de dançar em pares? Seria algo bem proveitoso para uma sociedade que esqueceu a importância e o valor da aproximação com outras pessoas. Seria realmente uma das antigas ternuras que poderiam, realmente, mudar o mundo.
Abraço pra ti e bom fim de semana, meu amigo!
Sempre gostei muito de dançar embora nunca tenha sido uma boa dançarina e ter amado a minha vida toda alguém pior do que eu para dançar. Mas que dá saudades dá, das musicas antigas, do rosto colado e sobretudo dos vinte anos,
Uma boa noite pra vc, bons sonhos ou boas baladas...
Puxa, que pena. Maridão não esta por aqui no momento para dançarmos. Gostaria de ter vivido nessa epoca, acho esse tipo de dança muito romantica. O namoro, as emoçoes parecem ser muito maiores, bem diferentes de hoje.
Olha, me desculpe pelo ultimo comentario, espero que não tenha ficado chateado comigo. rsrs... eu falo demais mesmo rsrs..E fique a vontade quando quiser falar, questionar ou argumentar, eu costumo levar em consideração a opinião de todos, acho que isso contribui muito para meu aprendizado.Voce é uma pessoa que admiro e gosto muito das coisas que escreve.
Abraço!
Querido, amei seu texto!!! Que delícia, que nostalgia boa... Nada como lembrar das festinhas da minha época de adolescente, quando rolava a "dança da vassoura", embalada por "Your latest trick", do Dire Straits. E viva Fred Astaire, Gene Kelly e cia, que não nos deixam esquecer de que a dança é um belo de um remédio!!! Beijos.
Finalmente fiquei em dia com os seus textos!
Tb morria de timidez, tinha de beber um par de cubas libres para me soltar. Levei muitas tábuas, mas valia a pena esses pequenos impecilhos. Dançar colado, eita tempinho bão !!!
Outra razão para visitas esporádicas tem sido o seu excelente livro, que finalmete chegou às minhas mãos. Bom demais!Que lindo trabalho de pesquisa! As ilstrações! Parabéns e obrigado pela linda obra!
Rapaz, senti uma brisa fresca de nostalgia agora... Lembrei-me das primeiras dancinhas de rosto colado no tempo do colégio - que, logo depois, deram lugar ao frisson dos balançoes e das danças soltas e sem estilo... Belo texto e belas fotos! Abração, primo!
Passando para deixar abraços... e para reler mais um cadinho esse espaço.
Sem a presença dos computadores, eram comuns em algumas casas as enciclopédias, com seus livros grossos e páginas marcadas com pequenos fitilhos de papel, que facilitava o acesso aos textos preferenciais.
Nossas vidas são marcadas por pequenos fitilhos, que registram e facilitam o acesso ao nosso passado, aos momentos diferenciados por aquele detalhe, como a música que marcou aquele encontro, aquele livro, aquele filme ou até mesmo as sensações registradas pela dança, pelo perfume, pelo toque...
Um dos fitilhos da minha vida é uma revista chamada seleções. Não estou falando das novas edições, falo daquele formato antiguinho, pequenino, que muitos aqui devem ter ao menos folheado um exemplar. Ainda garoto, no final dos anos setenta, eu não podia ver uma revistinha daquelas, era mais bacana que gibi. Eu adorava o formato da montagem das matérias, as ilustrações e o conteúdo, que muitas vezes eu não entendia, pois como disse, ainda era um garoto, lia só pra ficar folheando aquelas páginas um pouquinho mais.
Hoje, em plena era digital, revirando o universo dos Blogs, encontro um em particular que me transporta ao final dos anos setenta, e fico aqui, como um garoto, admirando e “folheando” os posts, lendo as “Antigas Ternuras”, olhando as ilustrações, fascinado com o extremo bom gosto dedicado ao formato do Blog e ansioso pelo próximo Post. Parabéns e um grande abraço a todos!
Ai que delícia de post, Marco!
Adorei.
Antigamente é que era bom dançar! E eu gostava de bailar no meio do salão com uma boa parceira. O que seria uma delícia e diferente de hoje em dia, nada de rosto ou corpo colado. Bom mesmo era o 'coladinho'!
São ternuras e carinhos que não voltam mais. Pena tal mudança de hábito, não?
Um abraço...
Eu amo dançar, e nada dessas coisas que hoje tocam onde as pessoas ficam se sacudindo descordenadamente, faço dança de salão desde os 15 anos!
Sabe que a primeira vez que saí com o Espanhol fomos dançar em uma boite no centro da cidade e mesmo parecendo ridículos não pensamos duas vezes: ele me pegou pela mão, nos abraçamos e dançamos coladinhos em meio aos executivos engravatados...rs
É... acho que fiz uma ótima escolha.
Bisous.
Tenho maior vontade de realizar um evento temático voltado a resgatar esses tempos bons. Boas Musicas, Pessoas solteiras, livres, casais felizes. Tudo em nome do romantismo, da paquera , do "encostar, sentir e se envolver".
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