sexta-feira, junho 13, 2008
Uma estrela na terra, uma estrela no céu
Houve um tempo em que eu vivia com o ouvido grudado num radinho. Estava sempre antenado, em busca de uma nova canção, alguma novidade musical, com meu velho radio Sharp amarelo, também companheiro de jornadas no Maracanã, onde ouvia a narração e os comentários em jogos do meu amado Flamengo.
Mas ele estava comigo sempre, a não ser quando eu optava por meu gravador Sanyo, de quem já falei aqui. O procedimento era o seguinte: eu ouvia a música no radinho e, se me agradasse, esperava ela tocar novamente e a gravava no Sanyo, em uma fita Basf 60. Foi assim que ouvi pela primeira vez a Karen Carpenter cantar “Yesterday Once More”. Uma música cuja letra dizia: “Quando eu era jovem, eu ouvia o Rádio, esperando por minhas canções favoritas. Quando elas tocavam eu cantava junto. Aquilo me fazia sorrir”.
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Na mesma época tocava uma outra música, cantada por ela, da qual eu gostava muito também: “Sing”. Era uma canção de deixar a gente feliz. Que nem “I wanna hold your hand”, dos meus adorados Beatles, presença constante em minha vida desde a minha infância. E os Carpenters, dupla de irmãos talentosíssimos, também eram fãs alucinados dos quatro rapazes de Liverpool, tendo gravado algumas músicas deles.
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Eu, jovenzinho, descobri os Carpenters e especialmente descobri a voz maravilhosa de Karen Carpenter. Virei fã incondicional. Quando eles estiveram no Rio não pude vê-los tocar por estar fora, viajando. Fiquei decepcionado e por isso me prometi que na segunda vez que eles voltassem, eu os veria de qualquer jeito. Nunca mais vieram. Mas eu já estava definitivamente encantado pela voz de Karen. Na minha modesta opinião, ela faz parte do meu Panteão de maiores cantoras de todos os tempos, ao lado de Ella Fitzgerald, Elis Regina, Elizeth Cardoso, Sade Adu e Zizi Possi. Essas daí, até cantando “Atirei o pau no gato” vira clássico imperdível. Lamentavelmente, só as duas últimas ainda estão entre nós. Eu nunca vi nenhum show da Sade, mas tenho esperanças. Da Zizi, assisti a vários. E sempre vou depois até o camarim para paparicá-la até dizer chega. Teve uma vez que ela chamou o presidente do fã-clube dela e falou para ele: “Você não me diz as coisas que este rapaz está me dizendo”. Fiquei todo bobo...
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Eu queria ter dito muito mais para a Karen. Ah, o tanto que eu diria!... Eu iria fazê-la levitar com tantas palavras carinhosas, retribuindo o enorme prazer que ela me proporcionava cantando. A voz dessa moça tinha em mim propriedades calmantes, alucinógenas, revigorantes, valia mais que uma superdose cavalar de endorfina combinada com serotonina e oxitocina.
E eu a achava tão lindinha...
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Pena que ela não se considerasse lindinha... Desde muito nova, implicava com uns quilinhos a mais. Certa vez, um garoto no colégio a chamou de “chubby” (gordinha, em inglês). Ah, pra quê! Começou a fazer dieta, exercícios o escambau para perder peso. E conseguiu! Ficou uns dez quilos mais magra. Mas daí em diante, entraria numa rotina perversa de remédios, laxantes, vomitórios e uma total aversão por comida.
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Eu não quero fazer aqui uma biografia da Karen. Nem caberia num espaço de um blog. Prefiro falar de como ela me comovia como artista e é maravilhoso quando um artista nos comove. Para conhecer mais sobre a sua vida, pedi pela Amazon um livro não lançado aqui no Brasil, chamado “The Carpenters – The Untold Story: An Authorized Biography”, de Ray Coleman. Quando chegou, eu devorei o livro. E fiquei pasmo por ler sobre uma morte anunciada, causada por uma doença terrível.
Todos a sua volta viam que ela estava definhando, menos a própria Karen. Fizeram de tudo para convencê-la a se tratar, mas não houve Cristo no mundo que a fizesse perceber estar morrendo por inanição. Seu irmão, Richard, quase tentou arrastá-la para um médico, mas ela se recusava, berrando com ele que a saúde dela não era da conta de ninguém. De temperamento calmo e cordato, virava uma leoa ferida quando alguém tentava fazê-la interromper a sua busca incessante por um corpo perfeito. Não bastava a ela ter uma voz perfeita, ela queria estar satisfeita com a própria carcaça. Só que a maldita anorexia nervosa não deixa ninguém satisfeito. Quem padece desse mal fica só pele e ossos, mas se vê como se fosse uma hipopótama grávida, com problema de obesidade. Quando Karen pediu ajuda, já era tarde demais...
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Volta e meia eu faço uma “sessão Carpenters” na minha casa. Tenho todos os discos deles, incluindo o solo que ela gravou e que, para a sua tristeza, foi detonado por seu irmão, Richard, e pelo produtor Herb Alpert (um dos donos da então gravadora A&M, onde eles gravavam). Só bem depois da morte de Karen o Richard liberou o lançamento do disco-solo dela, para alegria de nós, seus fãs.
Lembro que o primeiro disco deles que eu comprei foi o “Now and Then”, talvez o melhor de todos. Recordo-me bem, eu o comprei com o dinheiro de mesada, numa filial da Ultralar (er...melhor pular essa parte, visto que a Ultralar já acabou desde o tempo em que a Serpente do Paraíso era só uma minhoca...)
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Se me perguntam qual música cantada por ela eu mais gosto, não sei dizer. Eu gosto igualmente de todas, e mais especialmente de umas 20, estando entre elas, como exemplo, “One fine day”, “Our day will come”, “I can dream, can’t I?”, “Sometimes”, “One love” e outras mais. Richard também lançou discos-solo. Num deles, tem a música que ele fez para ela, chamada “Karen’s theme”, que é um diamante de rara beleza. A primeira vez que eu a ouvi, fiquei com os olhos molhados.
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Em 2008, mais precisamente no dia 4 de fevereiro passado, completou-se 25 anos que o mundo deixou de ouvir uma voz de anjo.
Talvez o Paraíso Celeste estivesse carente de mais uma estrela, e por isso Deus a levou para o Alto, onde sua voz ressoa pelos siderais, interrompendo o fluxo de cometas e asteróides, que param para ouvi-la cantar. Como diz em sua sepultura, no jazigo da família, em Westlake Village, na California, era “uma estrela na Terra, uma estrela no Céu”.
Uma das canções que ela imortalizou, essa mesma que vocês estão ouvindo agora, diz:
“E quando minha vida acabar
Lembre-se de quando estivemos juntos
Nós estávamos sozinhos
E eu cantei uma canção pra você”.
Sim, Karen, eu me lembro. E vou me lembrar sempre...
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê duas das maiores cantoras de todos os tempos: Karen Carpenter e Ella Fitzgerald cantando em duo um medley de grandes melodias. Imperdível! Não me agradeça. Agradeça a Deus por te proporcionar este espetáculo para olhos e ouvidos... Tenha paciência, deixe carregar e veja com tranqüilidade. Eu assisti chorando...
Para ouvir este vídeo, antes clique no “X” lá em cima, na barra de ferramentas. Assim, interromperá a música que está tocando ao fundo.
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Song for You”, de Leon Russel, na voz celestial de Karen, tocada pelos Carpenters.
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38 comentários:
amigopratodavida,
me lembro bem e gosto igualmente, cada música me remete a momentos maravilhosos, um misto de saudade e nostalgia, no melhor sentido.
Essa Ultralar aí pegou pesado, aff! século passado como se fosse hoje ;)
Eu tinha um rádio de pilha forrado de couro marrom, seu botão emperrou na Rádio Tamoio, adorava ouvir um programa que as musicas eram coloridas, lembra? musica lilás, rosa, azul, etc...
lindo final de semana
beijos
*sua mãe está melhor? carinho nela.
Gravei muitas músicas nas basfs e ainda hoje, remexendo a garagem para botar um pouquinho de ordem na bagunça, encontrei uma caixa cheia dessas fitas, abandonadas. Gostava demais dos Carpenters, as favoritas eram Close to You, We've only just began. E ouvi muito a voz cristalina de Karen na fase que eu estava tentando aprender inglês. E quero agradecer a você e a Deus pelo medley do post!!!
Vou voltar a falar mais com vc a respeito do livro do centenário e também do Popularíssimo.
Um ótimo fim de semana!
Olá Marco! Que grande post!
Eu também adoro The Carpenters. Minha favorita é Sometimes e acho que foi por causa dela que resolvi estudar piano (aliás, ela é o toque principal do Edson, o meu celular). Eu canto desde que me entendo por gente, mesmo sem saber o que significavam as palavras, já as repetia. É uma pena que ela tenha sucumbido a anorexia nervosa...
Nossa e ela junto com Ella... Vou colocar este vídeo no meu You tube.
Beijo e ótimo final de semana!
Meu pai era fã dos The Carpenters. A curiosidade é que eu faço aniversário no mesmo dia da Karen, 2 de março.
Big Beijos
Marco, essa foi demaaaaais!!
Ouvir Karen Carpenter é maravilhoso!
O que eu não conhecia eram as apresentações dela com outros artistas, como essa com a Ella Fitzgerald. Fantástica e memorável! E não para por aí, ao verificar pelas outras apresentações disponibilizadas no YouTube, fiquei mais feliz do que "pinto no lixo". Muito obrigado por esse presentão! Abraços,
Sergio
Mas eu tava DOIDA para esse post sair!!!
Tenho por Karen o mesmo sentimento que você e gosto de todas as músicas deles, mas sempre tem aquelas que mexem mais o ritmo do coração...
Adorei o vídeo, mesmo-mesmo!
Tow aqui, direto, só ouvindo e vendo.
Esse teu post eu vou guardar como um presente.
(Agora não me diz que quando eu estiver aí, vc vai estar aqui, né? bom, vou mandar mail pra ti...)
beijos e mais beijos
Voltei para contar como conheci Os Carpenters:
Era criança e vi um filme sobre a vida dos dois. Foi amor a primeira vista, pela voz e pela história tão sofrida.
Fiquei tão curiosa sobre o rosto da moça... e naquele tempo não tinha google nem nada. Um tempinho depois, fui xeretar na caixa de k-7 de uma tia e achei uma só com músicas deles. Roubei bem roubado com a permissão dela. Tenho até hoje, apesar de não ter mais toca-fitas...mas quanto mais escuto, mais volto a me apaixonar.
;-)
Infelizmente, Karen se foi antes de minha chegada, então, nem pude conhecê-la como você e tantos outros, Marco.
Mas no minuto em que ouvi "Sing" pela primeira vez, me encantei perdidamente, e vivo em busca de todos os discos que puder encontrar deles para mim. AMO a voz desta moça de paixão profunda e ardente...
Grande abraço!
É, meu amigo, eu também gostava muito deles. Foi a partir daí que comecei a conhecer essa doença psicológica com graves efeitos físicos. Bom domingo.
Marco,
novamente uma viagem no tempo, que nos leva, inclusive, a relembrar das lojas Ultralar... risos. Mas o melhor mesmo foi relembrar os magníficos Carpenters e a "voz de cristal" da saudosa Karen. Realmente, com sua partida daquí da Terra, uma nova estrela se instalou no Céu.
Grande abraço.
Marco, as canções marcam nossa vida, assim como alguns artistas. Tb gosto de Karen e sua música. Assim como dos Beatles (até hoje maravilhosos). Grande beijo e ótimo fim de semana.
Entendo como você se sentia quando ouvia as canções de Karen, eu não tive o prazer de ouvi-la, mas a musica bem cantada realmente exerce um poder fantastico em nós. Uma pena que mesmo depois de ter conquistado multidões com a belissima voz entregou-se ao poder da vaidade. Que fim tragico.
Uma pena mesmo.
Marco,
Sei que é um defeito, mas me ligo pouco em cantores/cantoras estrangeiros. Gosto de Sinatra, Crosby, Doris Day, Nat King Cole, os Beatles, uns poucos mais. Não é questão de nacionalismo besta, deve ser por não entender/falar nenhum outro idioma, a não ser o espanhol, porque é quase português. Mas pela amostra que nos dá, essa cantora tinha uma bonita voz. Pena que tenha feito aquela infeliz opção que acabou matando-a ainda jovem.E gostei de saber que estamos juntos na nossa admiração por Elizete.Grande abraço
Querido, depois passa lá no meu blog. Tem uma surpresinha procê. Beijos.
Grande MARCO.
Adorei as recordações. Viajei muito tempo nos embalos dos irmãos. Musicas mesmo inesquecíveis.
Grande abraço!!
Linda homenagem. Fiquei com vontade de ouvir as músicas.
Beijos de chuva.
Tirando o futebol, bem que temos gostos bem parecidos. Também sou fã dos CArpenters desde guri, influência de um irmão mais velho que já comprava discos enquanto eu andava de calças curtas. A primeira música que me vem à mente é "Mr. Postman" que aprendi a cantar antes de aprender o que significava "yellow".
Olá! Tudo bem Marcos. Desculpe sua amiga ingrata. Você sempre educado e carinhoso comigo. Delícia os recadinhos no meu Mural. Obrigado amigo. Muito bom estar aqui, vi o vídeo da sua entrevista no Sérgio Brito. Você é o máximo. Ler você é tudo de bom... rssss Beijinhos carinhosos. Cuide-se. MMartha
Adar com um texto maravilhoso.
muito boas, mo' gostou muito, da mesma maneira que o blog, obrigado muito,Beijinhos
Há pessoas verdadeiramente especiais, que nascem com dons que parecem vindos de alguma força superior. Porém, as pessoas que parecem ser abençoadas dessa forma, também parecem acabar por perecer devido a algum problema, a alguma fraqueza... Talvez por estarem mais expostas... Não sei!
Acho que são pessoas muito frágeis!
Adorei ver e ouvir!!! :)
Beijos *.*
Oi querido
Ah...nem me fale.
Adoro a voz de Karen Carpenter, fui embalada por ela toda minha juventude por força do meu irmão...ele a amava.
e consequentemente eu também.
um beijo no coração
Fiquei tão emocionada, Marco!
COm seu texto, belíssimo, suas lembranças tão bonitas e as músicas.
Eu também gosto muito deles, apesar de não ter nenhum disco daquela época.
Obrigada por nos dar estes presentes. Devemos sim agradecer a você, pela sensibilidade de suas "antigas ternuras".
beijos
P.S. Eu estava sem conexão, estou voltando depois de mais de uma semana sem blogar.
Morte prematura a de Karen. linda voz angelical.
Querido! Que bom que vc gostou do prêmio!! Não esqueça de fazer o mesmo: fazer um link para o meu e indicar mais quantos quiser! Vamos fazer circular a boa informação!!! Beijo, Bella.
Ai, Desculpe meu comentário idiota... mas como li e passei aqui, não poderia deixar a visita em branco.
minha mãe gostava de ABBA, meu pai de músicas estranhas orientais e do tal do Richard Clayderman.
Eu, sempre gostei da MPB de raiz...
Os carpenters ficaram um pouco longe do meu conhecimento musical.
te beijo
Ah eu também gosto muito.
A história dela é triste. As músicas são lindas.
Beijos!
Marco, por incrível que pareça, só descobri o "The Carpenters" há relativamente pouco tempo. São mesmo sensacionais. Não sabia desse final da Karen. Mas, sempre é bom divulgar, como alerta para essa terrível doença que vem se propagando. Agora, até homens vêm manifestando isso.
Bom, como comentário final... "A Ultralar dá pé". Abração.
amigopratodavida, vim deixar beijos de lindo dia
Adorei seu blog! abraços!
Voltei pra lhe desejar um feliz São João. Vamo pulá foguera sô.
Beijos ternos.
Aprendi a gostar de Carpenters com eu pai: mais um motivo para amá-lo.
Belo post.
Bisous, querido.
Um dos posts mais doces que já li aqui.As suas palavras foram pungentes e delicadas e trespassaram o amor que vc sentia pela Karen.Um amor assim não morre nunca, pois a "arte existe para que a realidade não nos destrua" já diria Nietze.
Olá,Marco!
Tudo bem? Aeu blog me faz ter boas recordações!
Karen sofreu de anorexia,e muitos pensam que bulimia e anorexia são doenças da atualidade, de Top Models!
Vim ver as 9dades por aqui e dizer que tem
mais 2 Capítulos de VIDAS DA VIDA que acabei de postar.
"A vida é a arte do encontro, embora haja tantos
desencontros pela vida." (Vinicius de Moraes)
Ótima Sexta!
Beijos, MARYAM.
bom dia!
gosto muito do sua pagina!
sou adm. do blog “o fogo anda comigo”(thefirewalkswithme.blogspot.com).
o blog tem como ideal um SARAU AMPLIFICADO onde TODOS divulgam suas ideias e, o principal, poemas.
gostaria de ser um parceiro seu!
OBRIGADO!
ofogoandacomigo@yahoo.com.br
Ai, ai, Marco!! Que coisa linda!! Eu nao sabia que ela tinha morrido de anorexia, pensei que fosse câncer na garganta.
Eu ensaiei uma coreografia com uma música dos Carpenters "Only yesterday" - sing forever! Já vi gente chorar ouvindo Close To You.
Tenho boas lembranças dela. Bom fim de semana! Beijus
AMO a Karen! aliás, vc me lembrou, vou escrever sobre ela no blog tbm! ai, parceiro... qdo eu descobri q ela morreu, e eu tinha uns 12 anos, eu chorei tanto! auhuhaauhahu sério! :***** obs.: e a minha preferida na voz dela é Trying to get the feeling again.
Olha só que boa idéia pro Hilarius, hem? Só não vou pedir a matéria emprestada porque já te explorei antes! bj eu também adoro os manos! E ela, em especial.
bj
Nossa, que coincidência! Também acho Now & Then o melhor disco deles, junto com Horizon, e também escolho One Fine Day e I Can't Dream, Can't I? como as de que eu mais gosto!! E a voz dela, não há palavras que possam expressar o que sinto; a cada vez quero elogiar mais, mas fico aquém.
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