sexta-feira, abril 18, 2008
Que família, meu Deus!
Quando eu era menino, adorava ler a Bíblia por ser fascinado pelas suas histórias. Eu sempre gostei de uma boa história e a Bíblia está repleta delas. E como publico aqui regularmente a seção “A História tem cada história!”, hoje vou contar para vocês um adorável “causo” sobre a família de Jesus. Não sei se vocês sabem, mas entre os antepassados do nosso amado Mestre tinha um pessoal barra pesadíssima! Tem filho de incesto, tem prostituta, tem adultério... Olha, a impressão que se tem é que foi o Nelson Rodrigues quem escreveu essa parte do livro santo.
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Se eu fosse contar todos os babados fortes da família de Jesus, esse post iria ficar muito grande. E eu tenho me esforçado por escrever o menos possível, porque sei que é cansativo ler na tela e além do mais, vocês têm outros blogs para visitar. Portanto, vou contar só uma fofoca. Depois, se vocês quiserem, eu faço aqui uma revista “Contigo na Bíblia” e conto todos os outros podres daquela família da pesada.
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Vou começar pelo incesto (essa história pode ser lida no Capítulo 38 do livro de Gênesis, para quem quiser conferir).
Bem, vocês sabem: Abraão, gerou Isaac e este gerou os irmãos Esaú e Jacó. Este último teve 12 filhos, um deles foi José, abandonado pelos irmãos, vendido como escravo para mercadores egípcios, acabou como conselheiro do faraó e governador do Egito (aquele do sonho das vacas gordas e vacas magras). Pois é. O quarto filho de Jacó, que tinha o nome de Judá, era uma espécie de líder dos demais. Foi dele a idéia de vender o irmão José para os egípcios. Quando estava na idade de casar, ele deixou a casa de seu pai e foi tocar a vida. Conheceu um cananeu de nome Hira que tinha uma filha chamada Sua. Diz o versículo 2, do Capítulo 38 do Gênesis que Judá “tomou-a e entrou a ela”. Bem, “entrar a ela” é exatamente isso que vocês estão pensando.
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Judá pegou sua Sua e botou ela pra suar. Ela lhe deu três filhos: Er, Onan e Selá. Quando seu mais velho estava grandinho, Judá lhe arranjou uma esposa, chamada Tamar. Na verdade, Judá estava doido para ter netos e ver dali uma grande descendência. Isto era a grande aspiração dos hebreus da época. Er se casou com Tamar, mas não deu tempo de engravidá-la. Quer dizer, ele “entrou nela”, mas não a embuchou e acabou morrendo em pouco tempo. Diz o versículo 7 que o Er era mau e Deus mandou matá-lo. O Deus do Antigo Testamento era uma espécie de Don Corleone. Se alguém mijasse fora do penico com ele, acabava morto, estirado com a boca cheia de formiga.
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Daí, era costume na época que se um irmão deixasse uma viúva sem filho, ela passaria para o irmão seguinte. E o filho que este tivesse com ela não seria dele e sim do irmão falecido. Como no caso o morto era o primogênito e herdeiro de todos os direitos, o filho desta segunda união, mesmo não sendo gerado pelo mais velho, herdaria tudo. Judá mandou Onan “entrar na viúva” para gerar o neto que ele tanto queria. Só que o Onan pensou: “péra lá! Eu entro nela, faço o filho e o filho não será meu? Ah, tô fora!” E foi exatamente o que ele fez: entrava na mulher, mas gozava fora. Curiosamente, Onan entrou para a História como o inventor da masturbação (onanismo), e na verdade ele inventou o “coito interrompido”. Como se vê, ele não foi o cara celebrado como ídolo pela Sagrada Ordem dos Descabeladores de Palhaço, aquela gente que costuma fazer uma espécie de fisioterapia prazerosa no bigorrilho.
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Vamos adiante. Don Corleone, quer dizer, Jeová, quando ficou sabendo daquela sacanagem, passou o cerol em Onan (eu sei, no versículo 10 diz que “o Senhor o matou”, mas acho “matar” muito forte. Um pouco de eufemismo não faz mal a ninguém. Pô, o cara é Deus, não é?...). E Tamar perdeu o segundo marido sem gerar um neto para o já desesperado Judá, que estava inclusive viúvo. Sobrou o seu terceiro filho, Selá, que era muito jovem para entrar na cunhada. Judá prometeu que assim que ele estivesse crescidinho, mandaria o garoto botar o siri na toca da moça. E ela foi para a casa do pai e ficou esperando, esperando...
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O Selá cresceu e nada entrar nela. Não que o garoto não fosse chegado numa ostra kosher. É que esperava o pai dar a ordem e o velho parecia ter se esquecido da bi-viúva Tamar. Foi quando ela resolveu que alguém daquela família tinha que entrar nela e fazer um filho para acabar com aquela agonia. E seria o próprio Judá. Pôs-se a pensar até que teve uma idéia brilhante: fantasiou-se de prostituta e foi pra rua, no caminho que o Judá costumava passar. Ela tentou o velho que não a reconheceu e, cheio de tesão, pois há muito tempo não botava o kibe num forno, pediu para entrar nela (tá lá, no versículo 16, não estou inventando: “peço-te, deixa-me entrar em ti”). Ele propôs pagar um cabrito pela bimbada, mas estava sem nenhum naquele momento. A Tamar falou que tudo bem, mas que ele deveria deixar o selo, o lenço e o cajado como garantia de que pagaria pelos serviços dela. O Judá que já estava naquele estado em que não se pensa com a cabeça de cima, topou. E entrou na Tamar com tudo!
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Quando chegou em casa, mandou um amigo levar o cabrito e pegar os seus objetos de volta. Só que a esperta da Tamar já tinha se raspado dali. Passou um tempo, e correu a notícia de que ela estava grávida. “Mas como? Ah mulher adúltera!”, vociferou Judá, que já saiu de casa furioso, achando que a bi-nora tinha cometido adultério, não se guardando para o Selá. Já chegou lá gritando “eu mato! eu mato! vou queimar essa filha de uma camela!” Foi quando a Tamar mostrou o selo, o lenço e o cajado dele e contou toda a verdade. Ao invés de ficar irado por ter entrado na bi-nora que era considerada como filha por ele e daí o incesto, Judá disse que ela estava certa e reconheceu a paternidade daquela barriga. O filho que nascesse dali seria o seu herdeiro.
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Acontece que na hora do parto, a parteira percebeu que eram gêmeos. Caraco! E aí? Pois é, ser primogênito naquela época era coisa muito séria, já que seria o dono de tudo. Disse a parteira: “o primeiro braço que aparecer, eu amarro uma fita”. E no que surgiu um bracinho ali, na zona do agrião, a parteira mais que depressa amarrou a fita. Foi quando aconteceu o inesperado: o bebê recolheu o bracinho e voltou pra dentro da mãe. Cara! Isso é fantástico! O Moisés estava particularmente inspirado quando escreveu essa trama no livro de Gênesis! Sabem o que aconteceu? O do bracinho com a fita saiu em segundo lugar! O primogênito recebeu o nome de Perez e o da fita, Zerá. Da linhagem de Perez nasceria Jesus Cristo.
Viram só que história? Que novela das oito é o cacete! A Bíblia dá de dez a zero! Muito melhor que o Big Brother!
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Canção de Amor”, com a divina Elizeth Cardoso. Dedico esta música à pobre Tamar que passou de mão em mão e ficou sempre na saudade...
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24 comentários:
Olá,Marco!Sempre leio tudo ue vc escreve...mas comento pouco!E sua mãe está melhor?Torço por isso!Muitos beijos...sua fã,Cristina.
Judá pegou sua Sua e botou ela pra suar...kkkkk, só vc mesmo...
Saudades daqui e de você, querido!
Tô de volta!
Bisous.
Marco, eu conheco bem todas as histórias da Bíblia e a sua linguagem atual faz qualquer um entender.
Creio que essa sua linguagem deve ser a sua participacao na blogagem contra o analfabetismo?
Você é um ótimo contador de historias.
Obrigada.
Abracos
Mulher só como canal para entrar e sair... E o nome da coitada (literalmente coitada!)? Sua!
Eu já tinha lido essa história no texto original, mas relendo agora com vc ficou MUITO mais didática, para não dizer divertida!
Marco, amigo querido, espero que esteja tudo tranquilo aí contigo e com aqueles amados que te cercam.
Grande beijo!
Vim aqui para conhecer este blog e me embaralhei toda nesta confusão familiar, de entra e sai, sua, Sua. (brincadeirinha) adorei tudo aqui e pretendo voltar outras vezes. Abraço***
Sim, meu amigo, a Bíblia tem histórias impagáveis. Umberto Eco, em tom humorístico-ficcional, sugeriu nos anos 70 um título ótimo para o conjunto de certos relatos: "Os desesperados do Mar Vermelho". Abraços.
Querido, pra vc que gosta das história bíblicas, uma peça interessante é "A Mulher que Escreveu a Bíblia", com a Inês Viana! Beijos, Bella.
Grande Marco, imagino que deva estar tocando a sua série de biografias de atores do passado mas, após este post, que tal escrever uma nova versão para a Bíblia? Tenho certeza de que cairá nas graças do povo! Falando em livros, parabéns por sua entrevista no programa do Sergio Britto e pela matéria n'O Globo (esta não pude conferir)! Ainda sobre o "Popularíssimo", não sei se já lhe disse mas foi a minha saideira das férias. E não poderia ter sido em melhor estilo! Gostei muito! De novo: parabéns! Até a próxima! Abração!
Caraco,MARCO,nunca tinha ouvido falar nesta historia. O que não é novidade,heheheh. Cada uma,hem. Espero que vc volte com estas histórias,hehehe. Fiquei curioso. Abração e otima semana!
É, Marco, a Bíblia está cheia de histórias de arrepiar. Não por acaso muitos escritores buscaram inspiração nela. Seu relato está muito bem contado, com aquele humor a que você já nos acostumou. E que bom você colocar "Canção de Amor", uma música de que tanto gosto e tenho num CD da Elizeth, uma das minhas 4 ou 5 cantoras preferidas. Por fim, se você me permite, queria dar uma sugestão: a de você, ao colocar o nome da música e do intérprete, fazer o mesmo com o autor, ou autores. Que tal? Um abraço.
Eu ainda acho que o primeiro incesto aconteceu bem antes. Se Adão e Eva tiveram três filhos homens, alguém entrou na mãe para dar continuidade à linhagem. Tá, não quero denegrir a boa imagem da mãe da humanidade, qualquer problema, por favor, reclamem ao Darwin.
Adorei esta mini-iniciação à Bíblia! lool Mas, eu já li uma parte da Bíblia, Antigo Testamento, e recordo-me bem dessas histórias. E também do facto de eles viveram 200, 300 ou mais anos. Enfim... Realmente, há melhor? Duvido! lol
Beijos e boa semana! *.*
p.s.- e como está a tua mãe?
Cada babado hein?
Big Beijos e bom feriado.
Marco. Eu fico aqui imaginando você como "catequista", dando suas aulas de catecismo, na casa paroquial, e o padre da paróquia, ao lado, escutando...Só de pensar nisso, rio até as lágrimas!!! rs
Mas, que novela mesmo é o Gênesis! E haja ainda os demais livros do Antigo Testamento. Tem muito mais lá...Conte as demais... neste estilo jocoso...e mate a gente de rir! rs
Gostei!!!
Beijos.
Dora
Marco,
acho que você deveria criar uma "sessão" de histórias bíblicas no seu blog. Faria tanto sucesso quanto as demais. Sua prosa irreverente e repleta de humor tornaria a leitura do "livro sagrado" muito mais prazerosa.
Fofocando: e essa Sua, hem? Doida pra suar e os filhos de Judá negando fogo! Precisou o "velho" misturar seu suor ao da Sua para deixá-la prenha como uma camela. E de gêmeos, ainda por cima!
Abração.
Olá! Marco, estou rindo muito com seu post. Você é demais. Então, cadê o vídeo da entrevista com Sérgio Brito? Beijosss. Mais uma vez, PARABÉNS. Muito bom estar por aqui. MMartha
Marco, aguardamos, agora, seu livro sobre as personagens impagáveis da bíblia. Não demora, ok?
um bj
maris
Olá Marco!
Aprendi com a minha mãe que a Bíblia é um livro interessantíssimo e vejo que você o torna mais ainda. Estou escrevendo novamente, pois meu comentário não apareceu. Se aparecerem dois, por favor delete.
Adorei a novela bíblica!
Beijo!
Amigo Marco!
Bem oportuna a música que aqui ouço: a saudade me invade o coração, por isso cá estou "acabando" com a dita cuja...
Fizeram-me falta as suas letras, caro amigo... (adorei esse escrito!) mas, depois da tempestade sempre vem a bonança e, espero agora navegar em mares mais tranqüilos e poder visitá-lo com mais freqüência.
Beijocas mil,
Giulia
Oi, Marco: mais outra de suas histórias com o seu humor habitual.E a gente se delicia como sempre.
Um abraço...
Olaa! As referencias que tenho do blog sao otimas!! A mae do meu namorado (Ana Coeli) smepre fala muito bem! E hj vim mais uma vez conferir! Ta otimo o texto, uma maneira inusutada de falar sobre a biblia... talvez com uma versao assim menos cmplicada as criancas ate se interessassem mais pela lado religioso. No mundo complicado em que estamos é sempre bom acreditar em Deus por perto, pra nos ajudar, né??
Boa sorte sempre!
Marco, essas histórias são realmente hilárias. O pensamento antigo era muito mais saidinho do que o nosso. Somos mais puritanos.
Eles também eram meio arianos, pois a descendencia teria que permanecer numa mesma linhagem. Misturar uma linhagem com outra era absurdo.
Já não deixo meus sentimentos e valores modernos interferirem em culturas diferentes da minha, pois cada indivíduo é "livre" para viver como acha certo.
Beijos de feriado.
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