Aqui no Antigas Ternuras tem algumas seções fixas. Além das origens das expressões de uso corrente, tem a que eu falo que a História tem cada história. E tem também uma outra que eu adoro fazer: a de resenhas de antigos seriados de TV.
Acho que qualquer quarentão lembra dessa introdução que está no título. E do programa de TV também. Ah, o velho Bat Masterson! Vivido nas telinhas pelo ator Gene Barry... Para quem não conheceu e para quem gostaria de lembrar, eis aqui um pouco do mais famoso “almofadinha” (era como se dizia na época) do Velho Oeste. Eu via este programa na TV Tupi, lá pelos idos de mil novecentos e não vem ao caso.

Tinha o patrocínio do sabonete “Cinta Azul”, que eu pedia à minha mãe para comprar só por causa do programa (eita, acabo de entregar a minha idade... Agora é que vão pensar que eu fui garçom na Santa Ceia...). Aliás, tinha uma brincadeira das meninas em que elas batiam as palmas das mãos uma nas outras de forma cadenciada ao som de uma paródia da música-tema deste seriado. Quem lembra? Eu começo e vocês terminam:
“O sabonete Cinta Azul
Tem o prazer de apresentar...
O novo filme de caubói...”
O personagem-título se apresentava muito bem vestido, com seu chapéu-côco, sua bengalinha, contrastando com o figurino rude dos velhos caubóis que todo mundo conhece. A propósito, era uma cena comum na série: Bat Masterson chegava numa cidade, entrava no Saloon e todos os vaqueiros ficavam de gozação com seus trajes. De vez em quando, algum ia se engraçar com ele de forma mais violenta e acabava tomando uns sopapos do Masterson, que brigava bem pra dedéu.
Ele andava armado, obviamente. Mas nunca com aqueles coldres que todo mundo conhece de filme de bangue-bangue. Ele tinha um revólver pequeno, que guardava num pequeno coldre por dentro do paletó. Quando ele apontava aquela coisa ridícula, tinha gente que não levava fé. E acabava tomando uns pipocos no corpinho.

O que muita gente não sabe é que o personagem Bat Masterson realmente existiu. E que ele foi contemporâneo e amigo de outro grande mito do Oeste americano: Wyatt Earp. Aliás, outro que também tinha seu seriado na TV.
O nome original do playboy do faroeste era William Barclay Masterson (1853-1921). O apelido de “Bat” veio de uma situação pra lá de prosaica: no dia do seu batismo, um morcego entrou na sacristia da igreja. Ele poderia ter sido o primeiro Batman da História, mas ele sequer era americano. Acredite se quiser, o grande herói americano era canadense, tendo nascido em Quebec, na parte francesa do Canadá. Ao migrar para os USA, ele foi caçador de búfalos, batedor do Exército, jogador de pôquer profissional, delegado federal, e, pasmem, jornalista, dono de uma coluna sobre esportes num jornal de New York. E foi deputado federal também! O velho Bat morreu de ataque cardíaco, não numa mesa de pôquer no Texas, mas em sua escrivaninha, enquanto escrevia a sua coluna no jornal New York Morning Telegraph.
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A série de TV foi ao ar de 1958 a 1961, na NBC norte-americana. No Brasil, reprisaram os 108 episódios trocentas vezes, em mais de um canal. Seu ator principal, Gene Barry (nome original Eugene Klass), nasceu em 14 de junho de 1919, em New York. Ou seja: ele foi contemporâneo do herói que popularizaria pelo mundo! Ambos viveram na mesma cidade!
E olhem que interessante: o Gene Barry ainda está vivo, com os seus 88 anos e ainda segurando a bengalinha (bem, quanto a isso, há controvérsias...)
Por falar nisso, no meu tempo o seriado provocou uma verdadeira febre de bengalinhas e semelhantes. Era um tal de marmanjo ir para o campo com uma varinha enfeitadinha... Eu conheci vários que não largavam a sua, usando para coçar as costas, apontar os outros na rua, e até bater com ela nos menores. Soube depois que censores brasileiros implicavam com a série justamente por causa da bengala. Com aquelas mentes poluídas que todo censor tem, ficavam vendo símbolo fálico no inocente artefato. Tsc, tsc, tsc...
A série fez tanto sucesso por aqui nos anos 60 que convidaram o Gene Barry para vir ao Brasil. E ele veio. Tinha uma multidão esperando por ele no Aeroporto do Galeão. Fez shows no Copacabana Palace, no Maracanazinho, foi recebido pelo então presidente Jango Goulart, sorteou bengalinhas entre os fãs. Parece que o cabra foi muito simpático aqui em Pindorama.

Gene Barry apareceu recentemente fazendo uma participação-relâmpago no filme “A Guerra dos Mundos” (2005), do Spielberg, aquele com o Tom Cruise. Tão relâmpago que eu nem me lembro dela. Acho que o Steven quis homenageá-lo por ele ter participado da primeira edição do filme, aquela feita em 1953. Seu último papel de destaque aconteceu no Teatro, na Broadway, fazendo, em 1984, “A Gaiola das Loucas” (vejam só, quem diria... Bat Masterson acabou numa boate gay!).
Para toda a minha geração, Bat Masterson será sempre o caubói elegante. Que brigava com os homens, amava as mulheres, atirava nos bandidos e jogava pôquer. Não necessariamente nesta ordem...
Relembrem a letra completa do tema do programa, que foi gravada por Carlos Gonzaga.
“No Velho Oeste ele nasceu
E entre bravos se criou
Seu nome em lenda se tornou
Bat Masterson, Bat Masterson
Sempre elegante e cordial
Sempre o amigo mais leal
Foi da Justiça um defensor
Bat Masterson, Bat Masterson
Em toda canção contava
Sua coragem e destemor
Em toda canção falava
Numa bengala e num grande amor
É o mais famoso dos heróis
Que o Velho Oeste conheceu
Fez do seu nome uma canção
Bat Masterson, Bat Masterson...”
M.S.
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Para quem gosta de antigos seriados: a partir deste sábado, no blog Playground dos Dinossauros, vocês podem ler um post que eu fiz sobre um outro antigo seriado de TV, outro herói que cavalgava pelas pradarias do Velho Oeste com seu cavalo branco...
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Na TV Antigas Ternuras, você assiste a um trecho final do programa Bat Masterson, contendo a música-tema.