terça-feira, outubro 02, 2007
Mentiras sinceras interessam?
Certa vez, quando eu era bem menino, minha mãe estava conversando com alguém que lhe perguntou a idade. Ela disse: “29”. E eu, que estava ao lado, lhe corrigi: “Não, mãe, a senhora tem 32!”
Minha mãe sorriu amarelo, disse para a pessoa que eu estava enganado e quando eu tentei argumentar, ganhei um baita beliscão assim... muuuuuito discretamente... Achei melhor ficar quieto. Quando saímos de perto da tal pessoa, a minha mãe me deu umas sacudidelas, com os olhos fuzilantes de raiva: “Nunca mais me desminta na frente das pessoas, está ouvindo?”. Quase que o tempo fechou para mim naquela hora. E eu, criança que ainda não entendia uma coisa chamada “mentira social”, fiquei sem saber o que dizer ou pensar. Eu tinha certeza da idade dela, ela se enganara. Por que tive que ouvir a voz de trovão da minha doce mãezinha?
Bem... Ela deve ter tido os seus motivos.
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Pois é. Viver em sociedade é ser obrigado a dizer pequenas mentiras a cada dia, sob pena de passarmos por pessoas desagradáveis. Alguém totalmente franco vai angariar mais inimigos que o George W. Bush no Iraque. Lembro de uma frase de Nelson Rodrigues que disse: “Se as pessoas pudessem adivinhar o pensamento uma das outras, não se olhariam na cara”.
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Dia desses, eu recebi um e-Mail com o título: “As mentiras mais contadas”. No texto, há o personagem e sua frase. Exemplo: O Dentista: “Não vai doer nada”; O Devedor: “Amanhã sem falta”; O Orador: “Apenas duas palavras...”; O Pobre: “Se eu fosse milionário distribuía dinheiro pra todo mundo!”; O Vendedor de sapatos: “Depois alarga no pé”. E vai por aí a fora.
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A mentira é cultural. A mentira está no DNA do ser humano. Os políticos mentem e a gente finge que acredita. O marido mente pra mulher e ela nem finge; não acredita mesmo, porque sabe que é caô, 171, papo de migué, embromação. Você que me dá o prazer de ler, já pensou em quantas mentiras diz por dia? Algumas até mesmo sem sentir, como: “Pode deixar que depois eu te ligo!”, “Aparece lá em casa!”, “Não, eu gosto. Só estou sem fome.”
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Claro que estas mentiras sociais são, na maior parte das vezes, inofensivas. Há mentiras mais sérias, que podem prejudicar, trazer prejuízo. Ou podem magoar bastante. Claro que existem ocasiões em que falar a pura verdade é muito mais complicado que deixar escapulir uma “cascata”, como chamávamos a mentira no tempo das antigas ternuras.
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E me diga você: mentiras sinceras interessam? Você acredita que uma boa evasiva, um torcicolo no pescoço da verdade pode salvar uma situação? Uma das frases que me fazem empalidecer feito defunto de véspera é: “você acha que eu estou gorda?” Ai do homem que ousar responder a esta pergunta, seja com que resposta for!
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Para os antigos vikings, Loki era do deus da mentira, do logro, do engano. Na cultura greco-romana, este papel ficava a cargo de Hermes/Mercúrio. Para a civilização judaico-cristã ocidental, o diabo é o pai da mentira. Como o ser humano é bom em arranjar desculpas e culpados para as suas próprias falhas, não é não?
A mentira não tem deus, nem pai. O ser humano mente, sempre mentiu e vai continuar mentindo, em qualquer tempo, em qualquer cultura. E nos tempos em que vivemos, parece que existe uma convenção sócio-econômica de que mentir é a melhor política.
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Nada é o que parece ser! Tem algo obtuso por trás de tudo e a gente nunca sabe o que é verdade e o que não é. Vejam os jornais. Vejam as propagandas. Olhem só para os anúncios. Alguém aí já recebeu uma pizza igual a da foto na loja? Um sanduíche igual ao do letreiro da lanchonete?
Pois é. E agora deram para mentir com o corpo! Você olha a bunda da mulher e pode ser falsa. Olha pro peitão e pode ser enchimento de espuma. Aquele cara que mostra um baita volume sob a calça pode estar usando uma cueca com recheio falso, só para a mulherada achar que ele é bem dotado (vejam a foto)! Até a cueca, meu Deus!!!
Estas são apenas reflexões livres, pensamentos soltos de quem estava até bem pouco tempo estirado no sofá, escutando cabelo crescer, e pensando em que historinha do boitatá eu teria que contar para não ir no ensaio de sábado. Tsc, tsc, tsc... Melhor não inventar mentira nenhuma. Dá um trabalho miserento sustentar mentira!
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De qualquer forma, acabo de me lembrar de uma figuraça de minha infância: Carlim Berreba. Uma vez, ele irrompeu uma roda de bate-papo, com olhos elétricos, cuspindo perdigotos, dizendo furibundo:
- As três maiores mentiras da humanidade são: “O trabalho enobrece o homem”; “dinheiro não traz felicidade” e “vou botar só a cabecinha!”.
O Berreba tinha cada uma...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Maria Bethânia cantando, do grande Tito Madi, “Cansei de ilusões”. Bela música, heim?
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26 comentários:
uma mentirinha branca faz mal?
mas toda e qq mentira tem perna curta... por isso, melhor optar sempre pela verdade primeiro.
obrigada pelas melhoras
beijos marco
Rssssss,ri muito com as mentiras finais,MARCO.
A verdade é ue a gente começa com as tais mentiras sociais,como vc disse e,qdo percebe,já entrou no rol comum dos outros exemplos que vc muito bem colocou.
Certo estava o grande Nelson Rodrigues,hehehe
Abração!
De fato, caro Marco,vivemos em uma sociedade em que é preciso mentir. Infelizmente. Mas, como você bem diz, mentirinhas inocentes não fazem mal, o mais grave são as mentiras, p ex, das "otoridades". Uma das qualidades que mais aprecio em uma pessoa é a sinceridade e eu gosto de cultivá-la, mas há ocasiões em que ser sincero demais vai ferir uma pessoa amiga. Há, sim, um limite para a sinceridade. É isso. Um abraço e um dia excelente.
Há mentiras e "mentiras", sabemos todos. Há, inclusive, as mentiraiadas dos "mentirosos" que são figuras folclóricas, ou dos artistas que fazem literatura fantástica. Adoro ouvi-los, adoro lê-los. Enfim, uma ótima postagem, a sua. E eu NÃO ESTOU MENTINDO NÃO, viu? Em tempo: encontro-me em Natal, no momento; não vi nada do Festival Rio, portanto. Abraços.
Deixaste a pensar nas minhas mentiras sociais. Então essa do: Gosto sim, apenas não tenho muita fome!, eu utilizo imensas vezes! loool
É que sou a verdadeira nortenha, adoro comida da minha terra, bem feita, bem temperada. Aqui no algarve eles fazem de um jeito que eu não aprecio muito. Daí eu utilizar tanto essa mentira social! loool
Mas, pensando bem, acho que realmente há certas mentiras que são muito necessárias, para bem da humanidade. Senão, é como diz Nelson Rodrigues: “Se as pessoas pudessem adivinhar o pensamento uma das outras, não se olhariam na cara”. loool
Beijos! *.*
olá..é minha 1ª visita ao seu blog. gostei muito do post, há alguns dias postei algo parecido, mas chamei de Máscaras, que é oq considero que certas pessoas usam para esconder quem realmente são. Qto à mentira, algumas, as brandas, até são toleradas, são as que usamos pra não magoar as pessoas. Como qdo aquela amiga corta o cabelo e fica horrível, e dizemos que ficou LInnnnnnDo!
A verdade assim sem tempero nenhum pode ser insuportável, Marco. Sou uma das pessoas menos mentirosas que conheço (quanta modéstia! mas é verdade...). Não gosto de mentira, acho desprezível inventar falsidades que vão desmascarar o mentiroso logo, logo. Mas socialmente ou até por respeito é impossível deixar de mentir um pouquinho. A saída é mentir muito discretamente, passando logo a outro assunto. E teu post está ótimo - de verdade! Beijos.
Marco, não gosto de mentiras grandes ou pequeninas...rs... mas quem não mente quando a moça pergunta se está gorda?
Duplo parabéns: pelo tema escolhido para este post e pela abordagem muito bem feita.
Mentira é caso sério. O mentiroso contumaz, vez por outra, esquece qual era a verdade e mistura verdade e mentira, embolando o meio de campo. Não raro, acaba desmentido por alguma nova situação.
Lembrei agora de uma das minhas antigas ternuras...hehehe. Moço ainda, namorei uma garota daquelas super religiosas. Mentir, na sua confraria, era pecado grave. Então eu perguntei a ela: "Mas e quando você fica sem saída? Como faz?" Ela respondeu: "Não minto nunca. Deixo de contar a verdade." !?!?!?
Mentir por omissão não é o mesmo que mentir deliberadamente? Esconder a verdade não seria mentir?...rs Melhor deixar este "causo" no pretérito mesmo...rs
Amigo, deixei um meme no APOIO para você dar continuidade aqui. Se já participou dele, não estive por aqui naquele dia...rs.
Forte Abraço.
Olá Marco!
Eu sou contra mentiras, não gosto mesmo. E na vida, às vezes, temos que mentir, por uma boa causa. Mas evitar é o ideal. Só acho que existem verdades que, por pura delicadeza, podem ser evitadas ou deixar de serem ditas perante os outros. Muitas vezes também as nossas verdades não são as dos outros e assim podemos criar um "incidente internacional"... Acho que vale o velho jogo de cintura e lembrar que omitir não é mentir...
Seu post está ótimo, como sempre!
Beijo!
Nossa MARCO é dificil vc encontrar alguém q NUNCA MENTIU.
Obrigada pela visita.
Big Beijos
oie meu amado Marco,rissss,nossa to rindo sozinha aqui ,vc existe mesmo?????,kkkkkkkkk,fala sério é verdade quantas mentiras bobas a gente faz ne,rissssssss,ai ai 171 mas falar idade acho que toda mulher nao gosta,as vezes por ser muito jovem e por outras por ter mais de trinta ,é a preocupaçao da opiniao dos outros ,meu querido quero que aceite a medalha de ouro por mérito numero 10 do paginas viradas,e estou fazendo um especial para vc,bjjsss doces,rissss,sabes que te adoroooo,e aquela foto ,sou eu sim ,mas como vc sabe????,as vezes acho que vc me conhece sabia, me passa seu email gostaria de falar com vc mais vezes,o meu é navespacial@hotmail.com.bjsssssssssss,
Oi Marco! Vim agradecer a sua visita no meu cantinho modesto e dizer que aprecio muito o seu blog pelo teor reflexivo e pelas boas do passado algumas já desaparecidas. Volte sempre, mi es su casa. Abraço!
ops, corrigindo
Pelas boas coisas do passado e mi casa es su casa.
Uma mentirinha de vez em quando, para se safar de uma situação embaraçante, não faz mal. Agora, querido, mentir diante de criança... É quase impossível! rsrsr Confesso que também levei alguns beliscões na infância. Ótimo post e adorei o maravilhoso fundo musical.
Um beijão!
amigo, este é um tema muito bacana. De modo geral detesto mentiras, chego até mesmo a ter dificuldade em mentir (mesmo qdo necessário, rs..)mas acredito que a vida em scoiedade só é possível porque há o recurso da tal mentinrinha branca...o problema é que uma mentirinha branca para vc pode ser um enorme desrepeito para mim (e vive-versa). O desafio de siatuar esta linha tênue sempre existirá, né..
bjos
Olá! Marco, eu nunca menti "ANTES"... rssss .Amei seu post. Beijinhosss MM
Ahhh algumas mentiras são necessárias né? A resposta para "eu estou gorda" quase nunca é a verdade...
Adorei o post. Detestei a cueca com enchimento. Valha-me Deus!
Beijão, Marco!
Vc fez um tratado sobre a mentira. É isso mesmo.O quê não pode é usar a mentira para fazer o mal.Embora tenha gente que considere até esta possibilidade.
OI Marco,
Já vim aqui algumas vezes e adoro seus textos!
Essa da mentir social ´1000!
Figura vc hein!rs..
Beijo!
Se quiser conhecer meu blog fique á vontade www.aliceeventos.blogspot.com
Buenas!!!
Mentira é sempre mentira...
E o engraçado é que a verdade depende muito do ponto de vista.
Abraços e boa semana!!!
De
Oi Marco! Nossa lembrei-me do dia em que fiz a mesma coisa com meu pai que engenheiro recém formado, disse para o peão que tinha ido lá em casa que tinha um apartamento na Barra! Na mesma hora eu o corrigi: "Só se for na BARRAta Ribeiro!" E saí correndo para o colo da minha mãe dizendo q ele queria me bater! HAHAHAHA!
beijos
Diz aí amigopratodavida se vez em quando não gostaria de ouvir uma mentirinha que inflasse seu ego e adormecesse tristezas? Pois é, existem mentirinhas que fazem um bem danado muito mais do que a verdade crua...
A tal necessidade de mentir faz parte da nossa cadeia genética só pelo prazer, hummm, até minto pra mim na frente do espelho, pisco e me digo, amanhã estará linda, ai, ai, ai...sou mentirosa que só.
Adorei as tiradas sinceras do seu amigo Berreba, ele sabia das coisas, rsrsrs
dias lindos queridoamigo
beijos
É certo que a humanidade mente, mas ela aprendeu desde tempo imemoriais que a verdade poderia feri-la ou atrapalhar seus planos. Não gosto de mentiras, mas fico sem saber o que fazer quando me deparo com uma daquelas situações em que não sabemos se contamos a verdade ou uma mentirinha leve para não magoar um amigo.
Adorei seu post.
Beijos espirais.
Acho que faz parte do nosso código genético, mas como parece ser o consenso aqui, depende dos fins, para ser considerado antiético ou imoral.
Abraços!
Um amigo meu está fazendo o mestrado dele com experimentos sobre mentira. Está ficando interessantissimo! O TCC dele já havia sido sobre o assunto, mas agora o experimento está elaboradissimo.
A, e claro: mentira não está no código genético não: e mais do que aprendida hehehehehe
beijos beijos
Oi, gostei muito do teu blog, principalmente as imagens de quadrinhos que eu curto.
Parabéns, está muito bacana.
Abraços.
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