quarta-feira, julho 11, 2007

Moleque Gonzaguinha


Nesta manhã o Gonzaguinha me tirou do reino de Morfeu. Quando chega 6h, o rádio-relógio é implacável e canta para me dizer que é hora de ir pro batente. E desta vez, quem cantou para eu despertar foi Luiz Gonzaga Jr., o Moleque Gonzaguinha, como ele mesmo admitiu ser chamado.
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A música era a belíssima Ponto de Interrogação (quer ouvir a música? Clique no título, mas antes clique no “X” para interromper a que está tocando no blog). Aquela cujo refrão diz:
Eu preciso é ter consciência
Do que eu represento nesse exato momento
No exato instante, na cama, na lama, na grama
Em que eu tenho uma vida inteira nas mãos.
Fala, ou melhor, pergunta ao homem se ele verdadeiramente se importa com a mulher que ele tem nas mãos, no momento sublime e prazeroso do ato de amor.
Só essa música, daria um post de três laudas. Mas não é disso que eu quero falar hoje.
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Já tem um tempinho que eu não escuto músicas na voz do Gonzaguinha. Ele morreu em 1991, num trágico acidente de carro, e se durante um tempo era muito comum ouvir suas belas canções no rádio, naquela sua voz rascante ou sendo interpretada por outro cantor, hoje em dia, nem tanto. O que é uma pena.
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Eu gostava muito de suas músicas. Gosto ainda. Lembro de ter visto um show dele memorável. Foi naquele projeto criado pelo saudoso Albino Pinheiro - o Seis e Meia, onde dois artistas se apresentavam, no João Caetano, sempre naquele horário, a preços populares. Eu assisti a toda primeira temporada da série de shows, que começou com João Bosco e Clementina de Jesus. Coisa maravilhosa!
O Gonzaguinha fez o dele junto com a célebre Marlene, aquela das batalhas de fãs da Rádio Nacional. O show foi tão bom que eu voltei no dia seguinte.
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Não o conhecia pessoalmente (pena, porque eu adoraria!), mas travei conhecimento com duas mulheres que mantiveram romance com ele. Fiz escola de Teatro com uma, a Lelena, e fui companheiro de elenco de outra, a Sandra Pêra. Ambas falavam muito bem dele. Aliás, na época em que ele morreu, eu estudava Teatro na Casa de Artes Laranjeiras, a CAL, com a Lelena. Quando ouvi no rádio que ele tinha falecido, foi nela a primeira pessoa em que pensei. Eles já não estavam mais juntos, mas segundo ela, o Gonzaguinha foi o seu grande amor. Ele inclusive lhe compôs uma canção: “Avassaladora” (essa que vocês estão ouvindo). Quando a Lelena me contou que o cara tinha feito essa música pra ela, eu até exclamei:

- Caraco, Lelena, você faz tudo isso? Parabéns, heim, minha filha!
E ela, toda modesta, disse:
- Que nada! O Gonzaga ‘viajou’! Os músicos da banda dele ficavam me sacaneando, dizendo era culpa minha, deles ficarem gravando várias sessões da música, até que o Gonzaga se desse por satisfeito...
E eu, enxerido que só eu, ficava botando pilha:
- Ah, não vem com essa, não! Se ele fez uma música com essa letra, alguma coisa tem a ver! Conta aí, vai... Na hora da saliência entre vocês, rolava isso?
A moça era muito discreta. Fechou-se em copas e não consegui arrancar nada!
Quando ela soube do acidente com o Gonzaguinha, entrou em choque e teve de ser sedada. Depois eu e colegas da turma de Teatro fomos visitá-la. A bichinha estava em pandarecos...
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Lembro de ter lido uma entrevista no Pasquim com a Rita Cadillac, em que ela foi bem mais... huuum... efusiva e reveladora que a Lelena. Disse ter sido ele um dos melhores homens que passaram pela sua cama. Segundo ela, “o Gonzaguinha sabia dirigir o Cadillac”, se é que vocês me entendem... Ah, moleque!
Um elogio assim, vindo de uma mulher que deve ter se deitado com metade da humanidade é valiosíssimo!
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A Sandra Pêra teve uma filha com o Gonzaguinha, a Amora. Hoje é cantora também. Quando estávamos fazendo a peça “Na Era do Rádio – o Show”, a Sandra conversava com a gente do elenco e falava com muito carinho do pai de sua filha. Dava para perceber o brilho nos seus olhos, como se uma estrelinha cadente desabasse do céu só para reacender brasas que nunca se apagaram...
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Quando eu era mocinho, teve uma música do Gonzaguinha que me consolou um mal de amor. Eu estava apaixonado por uma criatura que praticamente desconhecia a minha existência. E eu ficava ouvindo Espere por mim, morena, e pensando na menina. Curtindo uma fossa daquelas de beijar rabo de cachorro, com a voz do Moleque Gonzaga me consolando: “espere por mim, morena... espere que eu chego já... o amor por você, morena, faz a saudade me apressar...”
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Em Começaria tudo outra vez, Gonzaguinha, com o verso “a cuba-libre da coragem em minha mão, a dama de lilás me machucando o coração...”, traduziu melhor do que ninguém o que era o adolescente que fui, nos bailinhos na varanda da casa do Jurandir.
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E no lusco-fusco da madrugada de hoje, o Moleque cantou pra mim, me fez ganhar o dia sem que eu sequer tivesse tirado da cama o meu corpinho sensual.
Pra você, Gonzaga... cujo grito de alerta faz tanta falta nos dias de hoje...para você, eu mando um abraço apertado de irmão saudoso, de menino amoroso, de compatriota orgulhoso de ter vivido no seu tempo... Diante de tudo o que minhas retinas cansadas olham, meus tímpanos gastos ouvem, faço minhas as suas palavras:
É, a gente não tem cara de panaca
A gente não tem jeito de babaca
A gente não está com
A bunda exposta na janela
Pra passar a mão nela
É, a gente quer viver pleno direito
A gente quer é ter todo respeito
A gente quer viver uma nação
A gente quer é ser um cidadão!
Viva Gonzaguinha!
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Avassaladora”, a música que o Moleque Gonzaguinha fez pra Lelena.

23 comentários:

Anônimo disse...

Eu gostava muito de ouvir Gonzaguinha tbm. É engraçado como as coisas passam.. a gente esquece.. e de repente a gente lembra.. ouví Gonzaguinha hoje no rádio, entro aqui e vc tá falando dele.
Me lembro quando ele morreu.. ele morava numa casa atrás do meu colégio, aqui em BH (ou pelo menos morava qdo tava aqui,.. rsrs) Foi triste pacas...

Tem certas musicas que marcam e ficam com a gente pelo resto da vida...e Ponto de Interrogação é uma delas, prá mim.

Beijos

Claudinha ੴ disse...

Oi Marco!
Eu adoro todas estas músicas e ele. Tenho um LP que tem "Espere por Mim Morena", onde ele fala: "São coisas desta vida tão cigana"... Frase que mexe muito comigo. Este ponto de interrogação deveria tocar a consciência de todos os homens. Me lembro da notícia de sua morte na tv. Puxa você teve oportunidades de conhecer pessoas fantásticas, heim?
Foi bom lembrar destas músicas todas e esta última deveria ser hino de todo cidadão brasileiro. Ótimo post!
Beijo!

Tina disse...

Oi Marco!

Essas duas músicas citadas são legados de Gonzaguinha: legados de amor. E eu gosto, de verdade.

beijos querido,

Anônimo disse...

Fazes-me viajar por tempos que não são os meus, com pessoas que não são nem nunca serão as minhas. Mas, por incrível que pareça, sinto-me com eles, nesse tempo, a ouvir essa música.
A tua escrita é divinal! :)

Beijos!*.*

p.s.- Que tal, quase que ficava sem o meu famoso "loool"! loool :P

Luciana L V Farias disse...

Ele era fantástico mesmo, não é???

beijocas...

Renata Livramento disse...

"Viver e não ter a vergonha de ser feliz..."

Me lembro dele assim.

bjos querido!

Anônimo disse...

Poxa,MARCO,vc tocou num ponto importante: realmente era muito comum ouvir as canções dele com mais frequencia. Hoje até parece que ele não existiu. Faz séculos que não ouço músicas dele.
E as que vc citou são realmente muito boas.
Traz lembranças!!

Grande abraço!

Anônimo disse...

Sem nenhuma dúvida, Marco, Gonzaguinha é um dos mais expressivos nomes da geração da MPB surgida depois da Bossa Nova. Muito bonita e oportuna a sua homenagem a ele, que, de fato, está fazendo muita falta a este pobre país. Um abraço e uma ótima noite.

Sandra Leite disse...

Adoro Gonzaguinha, poeta!
Saudade aue a arte e genialidade dele eternizou!
Eterno.
valeu pela linda música,
valeu pela arte!
beijos,
sandra

Chellot disse...

Saudades é isso o que sinto e não há forma melhor do que ouvir suas músicas para voltar a conhece-lo.

Beijos perfeitos.

Moacy Cirne disse...

Gonzaguinha merece o carinho de alguém que cultiva, com tanto esmero e perfeição estilística, as Antigas Ternuras que nos embalam nostalgicamente. Em tempo: o que foi feito da amiga Fugu? Desapareceu sem deixar pistas virtuais? Um grande abraço.

Anônimo disse...

Que delicia entrar aqui e dar de cara com esse moço tão querido, sou fã de Gonzaguinha, de sua poesia cantada, de suas idéias e seus ideais que com ele se foram, não deixou herdeiro mas recebeu de herança um pai emocionado e dividido entre um amor de mulher e o do filho.
Emocionante um DVD que tenho onde os dois dividem lágrimas, canto e abraço de amor tão apertado que mais parece remissão de pecados.
lindo findi,amigopratodavida
beijos

Anônimo disse...

dDiga lá, meu coração... Afff! Adoro Gonzaguinha. Felizmente adoro arádio e felizmente as rádios daqui tocam muito o "moleque". Sempre bom ouvi-lo: tanto quanto ler você. Beijos e ótimo fim de semana!

Anônimo disse...

Ouço Gonzaguinha até hoje. Com a mesma emoção...Mas, minha canção preferida, sem dúvida, é "Grito de Alerta", frase por frase: "primeiro você me zucrina/me entorta a cabeça/ me bota na boca/um gosto amargo de fel...........E por aí vai, rasgando o coração da gente....
Eu gosto dessas antigas ternuras demais da conta, moço!
Sempre saio daqui, com minhas memórias impressionantemente vivas e vigorosas!
Um saudoso abraço a esse moleque Gonzaguinha!
E outro enorme abraço de agradecimento a você!
Dora

Saramar disse...

Marco, que mania essa sua de me emocionar!
Eu adoro o Gonzaguinha. Tenho alguns discos dele (LP's, imagine) e ouço sempre.
Sempre achei sua imagem tocante, frágil, doce, apesar das poderosas músicas.
As histórias que você contou das mulheres dele só confirmam o que sempre imaginei dele: um anjo, colorindo vidas.

beijos, bom domingo.
P.S. Nem sei como agradecer seu comentário no blog do Leo. Foi demais para mim. Obrigada.

Anônimo disse...

Aplausos de pé para esse post. Adorei, sou fã incondicional de Gonzaguinha. Você já ouviu "Palavras" dele? É tudo.Como todas as suas canções um verdadeiro poema! Gostei de tudo que vi por aqui. Deixo meu registro de carinho.

Anônimo disse...

Foi muito bom ler este texto; me fez muito bem relembrar o Gonzaguinha.
Fico imaginando o Gongaguinha vivo, vivendo esses tempos sombrios...
Obrigado por me fazer buscar os velhos discos e ouví-los. Me fez bem, repito.
Um forte abraço, meu caro Marco.

Anônimo disse...

Marco, que excelente recordação. Gonzaguinha, a meu ver, é o ápice do talento.

Luma Rosa disse...

Marco, você me emocionou com esse texto; o artista perdido, o amor perdido, a ilusão das nossas almas, tudo que de bom tinhamos para ter esperanças, e aquele tempo que não volta mais!! boa semana! Beijus, Luma

Marta Bellini disse...

Linda música... Volto no tempo e lembro-me em Ribeirão Preto, SP. 1976 e 1977. Gonzaguinha dormiu em nossa república para glória das meninas!

Marta Bellini disse...

teu blog está indicado no meu...


abç

Marta

Fernanda disse...

Acho que conheço pouca coisa do Gonzaguinha...

Fui hoje assistir HP novamente! Consegui terminar o filme dessa vez... hehehe...

Kisses

Anônimo disse...

de fato o melhor mpb