domingo, abril 08, 2007
Pé de pato, mangalô três vezes!
O tema hoje é: superstição. (toc, toc, toc!)
Vou começar teclando com a mão direita pra dar sorte. Mas, antes, deixa eu beijar a minha figa. Isso afasta aquela palavrinha horrível com quatro letras. Não gosto nem de pensar nela. Deus me livre! Isola!
*
Bem, agora podemos tratar do assunto.
Este post faz parte da seção “A origem das expressões que utilizamos e que não sabíamos de onde vinham”. Quem me acompanha há mais tempo já leu aqui posts que eu fiz com minhas pesquisas nesta área (que são antigas ternuras minhas). Vou apresentar hoje a origem de duas expressões relacionadas com superstição. A primeira é:
Entrar com o pé direito
Essa é do tempo da Antiga Roma. O costume e a expressão nasceram lá, embora tal prática tenha se espalhado pelo mundo. Segundo consta, nas festas que os romanos davam era costume dos convidados entrarem nos salões dextro pede – ou seja, com o “pé direito”. Diziam eles que isso afastaria o mau agouro. Vai ver eles pretendiam encher a caveira, e, por isso, não queriam atrair má sorte. Se iriam enfiar o pé na jaca, que fosse o direito!
*
Hoje em dia, especialmente jogadores de futebol, uma das raças mais supersticiosa que eu conheço, fazem questão de entrar em campo com o pé direito. Nem sabem o porquê fazem isso, mas repetem como macaquinhos o que um outro faz.
*
A outra expressão que eu quero explicar é a:
Bater na madeira
Uma amiga minha, atriz, só entra em cena se bater na madeira três vezes. Um dia perguntei a ela porque ela faz isso. “Para dar sorte”, me respondeu. Eu insisti (sou muito chato e implicante, de vez em sempre, coisas de virginiano): “estou perguntando se você sabe por que se bate na madeira para dar sorte?”
Ela não sabia.
Aí eu expliquei:
O costume de bater na madeira é muito antigo, provavelmente de origem celta. Acreditava-se que em cada árvore existe uma divindade. Por isso, ao se entrar numa floresta era hábito bater nos troncos para despertar o deus que lá estava e invocar proteção. Especialmente para afastar maus espíritos. Se antes se procurava um tronco para as tradicionais pancadinhas, no ambiente urbano as pessoas começaram a procurar mesas, portas, o que fosse feito de madeira para o mesmo ritual (embora o deus não estivesse numa mesa; no que derrubaram a árvore, ele teria buscado outra planta pra morar; aliás, que deus mixuruca esse que nem a própria casa ele conseguiu proteger!)
*
Sei que alguns diriam: “Bobagem! Superstição é besteira, invencionice do povo ignorante!”
É. Pode ser.
Mas o costume está mais arraigado do que pode pensar a nossa vã filosofia. E existe traços de preconceito nisso também. De certa forma, confunde-se religião com superstição e aí o bicho pega, porque consideramos nossos hábitos litúrgicos como religião, e os dos outros, diferentes de nós, como superstição. Costuma-se vincular superstição ao paganismo. E não está de todo errado quem pensa assim. Mas está equivocado quem acha que o seu hábito religioso é legítimo e o dos outros, não!
O cara que faz o sinal da cruz quando passa diante de uma igreja, acredita de pés juntos que seu gesto não é superstição. Agora já tem jogador de futebol (sempre eles!), que quando chuta a bola para fora, faz o sinal da cruz (provavelmente pedindo perdão a Deus por isolar a bola na arquibancada...) e acham que isso é devoção, pedido de proteção, o escambau.
No que isto é diferente de bater três vezes na madeira? De se entrar com o pé direito em um lugar?
*
O autor, ator e diretor Fernando Peixoto costuma contar uma história curiosa. Ele teve uma secretária doméstica que num dia entrou em casa reclamando de uma pessoa que estava no mesmo ônibus que ela, com um cordão largo com um crucifixo, e que ao balanço do veículo ficava com a cruz batendo no braço dela, incomodando bastante.
Fernando tentou contemporizar:
- Mas é a cruz de Cristo! Símbolo de devoção! Você estava sendo abençoada!
Ela respondeu, mais fula ainda:
- Que mané devoção, que nada! Cruz era objeto de tortura! Queria ver se Jesus tivesse morrido na cadeira elétrica se as pessoas iam andar com uma cadeira pendurada no pescoço! Aí que iria incomodar os outros mesmo, ter uma cadeira num cordão, balançando e batendo na gente!
*
Sei que vai ter gente considerando este argumento um sofisma, mas, aqui pra nós, a mulher está careca de razão! (Já imaginaram fazer o “sinal da cadeira” diante de uma igreja???)
*
Claro que este post não vai e nem pretende mudar os hábitos de ninguém. Talvez, no máximo, levá-los à reflexão sobre o efeito prático de algumas superstições. Especialmente no que diz respeito às confusões com religião.
Superstição e religião são coisas diversas. Uma, a segunda, trata da vida espiritual; a outra, a primeira, pretende trazer benefícios imediatos e sempre terrenos, concretos.
Na superstição não há... não há... (Eu queria lembrar de uma palavra, mas esqueci... Ô meu Deus... Como era mesmo?... Huum, espera aí, deixa eu dar três pulinhos e dizer: “São Longuinho! São Longuinho! São Longuinho!”... Ah! Lembrei:)
Não há lógica científica!
M.S.
*************************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo o delicioso clássico brega “Sorte tem quem acredita nela” do sempre inacreditável Fernando Mendes.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
30 comentários:
Boa Páscoa para você também, meninoamigo. Com o coelho de dedos cruzados. Bjs.
Superstição ou não, confesso que bato na madeira até quando tenho um pensamento ruim.
gd ab e ótima Páscoa
Olá, Marco!
Aproveito para felicitar o teu trabalho, que é espectacular; e desejar-te um bom final de semana.
Bem Marco eu não sou muito de acreditar em sorte, pra mim as coisas acontecem por que devem acontecer e tenho muitos motivos e provas para acreditar nisso. Sorte aquele trevo de quatro folhas, gostava de comer quando pequena, era azedinho.
Não me considero uma pessoa supersticiosa, mas costumes antigos são difíceis de serem mudados.
Beijos frágeis.
pois é
no final a gente sempre acaba ... batendo na madeira...rs, ainda que de um "deus" pra lá de fajuto...rs, mas o povo brasileiro em si é muito mistico e com a gente não podia ser diferente...
Um beijo querido...
Antes de mais, adorei a piada da Loool..ga. Fenomenal mesmo! Ainda não parei de rir.
Adorei, mais uma vez, o teu post. Sou supersticiosa, muito mesmo. Às vezes tento controlar-me, mas não consigo. Uso um fio fino de ouro, com uma medalha pequenina da Nossa Senhora da Conceição. Tenho de beijá-lo todas as noites antes de deitar e sempre que o coloco ou tiro. Se não o fizer, sinto-me mal! E imagina quando me esqueço de coloca-lo... É o caos! loool
Espero que a Páscoa tenha corrido bem!
*.*
Marco, amei seu post, super interessante! de maneira geral não sou supersticiosa, mas se disser que nunca bati na madeira, estarei mentindo..rs..rs... Bom, que vc use seus pés de coleho, cruzes, fias e etc.. para lhe protegr e ter uma ótima semana! Bjo!
Marquinho..
Saudades absurdas de ti querido amigo!!
Vim te ver...porque aqui posso te ver bem de pertinho!!
*
*
Nossa, há coisas que acredito demais Markito..
Cresci ouvindo falar isso ou aquilo..
O que podemos ou não fazer..
Levo na risca..rs
Nunca se sabe né??
*
*
Concordo em relação a cruz (como pingente de correntinha)..
Quero ver se Jesus fosse morto a tiros, se alguém levaría no pescoço um trintaoitão..rs
*
*
Abraçãoooooo kilido.
Sôdade.
Algumas coisas acho que não é superstição, é prevenção. Por exemplo, passar debaixo de escada. Vai que caia algo na cabeça?
No mais, não custa nada bater na madeira.
Boa semana! Beijus
Olá Marco!
Ótimo texto,o ser humano é muito inventivo. Boa sorte para você!
Beijo.
Ótima postagem, meu caro. Só que, no meu caso, minhas superstições futebolísticas não me têm dado sorte. Aproveito para recomendar a leitura de um excelente livro do Mestre Luís da Câmara Cascudo: "Superstições e costumes" (Rio: Antunes, 1958). Parece-me que a Global relançou-o, recentemente. Um grande abraço.
Queridoooo! Espero que você tenha passado uma páscoa bem gostosa, com muito chocolate! Amei o post, na verdade adoro esses seus posts sobre curiosidades!
bejos
Marco, adorei o post. Aliás, "pé de pato, mangalô três vezes" já foi título de um post meu também... quando meu pé de dólar morreu...kkkk...superstição, todo mundo tem alguma! Bisous!
hahahahaha, Marco, eu também sou virginiana e compartilho de algumas chatices. Mas veja bem, a empregada tem razão. odeio quem usa cruzes no peito!
te beijo
Taís Morais
No blog do Marco a gente sempre aprende alguma coisa nova! Adoro saber sobre a origem das palavras e das expressões! Não sabia sobre essas!!!
Kisses
Marco:
Gostei de saber que quando faço toc, toc, toc estou querendo despertar um deus. Mas será que ele está também na cidade? Tenho minhas dúvidas.
Marco, saudade de você! Estou numa falta de tempo, você nem imagina!
Amei o seu post, muito esclarecedor! Quase morri de rir da história da cadeira elétrica!kkk
Quando eu era criança, tinha pavor de ver Jesus pregado na cruz. Aliás, ainda tenho. Mas gosto de crucifixos, não pelo significado, é simplesmente algo com que sempre simpatizei, tanto que tenho uma coleção deles.
Bjão!!
rsrsrsrsrsrs....
Marco, você é demais!
Como sempre, ensina com um humor leve e agradável.
Eu não sou nenhuma coisa nem outra: nem religiosa, nem supersticiosa. Acho muito interessantes essas crenças e os objetos ou hábitos que as caracterizam. Considero que todas são apenas parte da tradição e, como você mostrou com o exemplo da atriz, há muito perderam o significado, ficando apenas o hábito, a cópia.
beijos
Marco,
Embora os seus outros temas sejam atraentes, me amarro mais no que trata da origem de expressões, ou de palavras. Vc não avalia como isso é boa, pelo menos, pra mim: saber porque, de onde vêm, tais palavras e expressões. E um atrativo extra: o seu estilo brincalhão, quase sempre irreverente, que retira a mínima intenção de exibicionismo erudito, que se vê em alguns caras. Um grande abraço.
Olá Marco: tais superstições ainda são o marco(sem trocadilho)da ingenuidade de um povo. Conheço uma amiga daqui que só sai de uma casa pela mesma porta que entrou, claro, se a dita (ou um apartamento)tiver duas portas de saída. E não arreda pé de seu hábito. Excelente postagem a sua!
Um abraço...
Caro amigo,
ento explicar lá nas Janelas (sempre) Abertas o quanto a saudade que sinto de todos vocês me alimenta e me machuca. São as nossas antigas ternuras em ação...
Abraço, saudade.
Voltar aqui, meu caro Marco, é ter a certeza de encontrar um texto de qualidade, bem humorado e rico do ponto de vista antropológico (não me pense um intelectual metido a besta, que nem intelectual sou). O tema da postagem de hoje me é útil até mesmo no consultório, onde sempre estou às voltas com esses "pensamentos mágicos".
Forte abraço, meu caro amigo.
Pelo sim, pelo não, acredito em tudo que espanta coisa ruim! Um beijo!
Nossa, já pensou a pessoa ficar escrava disso td?...rs... Loucura, né?
Mas acho q todos nós temos alguma superstiçãozinha, sim.
Boa noite, beijos*.*
Marco, vou fazer uma reclamação: vc não pode ficar tanto tempo sem postar, senão eu fico ansiosa pra vir aqui beber um pouco do néctar de suas palavras, hahahahahhaha!!!!
Bjos
Marco,
não resisti e voltei aqui para contar que vou apelar para são Longuinho pois perdi um documento importante!
Beijo!
Essa é a maneira mais gostosa de aprender algo: rindo! Mais um excelente texto, Marco.
Um grande abraço!
oie querido Marco,nossa to rindo aqui sem parar,saudades dessas suas historias e explicaçoes ,essas de supertiçoes é demais,saudades dessas musicas ,essa é linda ,como todas que vc coloca nas antigas ternuras,adoro tudo aqui e vc tb,deixo um carinho e uma linda sexta feira 13, sem supertiçoes viu,risssssssssss.bjssssssssss
Acho que eu estou ficando doido,MARCO.
Lembro-me de ja ter comentado este seu post
Mas sumiu...
:(
Bom fds!!
Abração!!
Uia! eu comentei aqui não? sumiu ou eu endoideci de vez? rsss
Falei na Luma que não sou superticiosa mas precavida.
E ando de dedos cruzados para evitar problemas,rsss
amigopratodavida, loviú
beijosssssssssss
Postar um comentário