sexta-feira, abril 13, 2007

Cada uma que aparece...


Dia desses, recebi pela Internet uma mensagem de um parceiro meu. Eis o conteúdo:
O que significa a palavra "Família"?
Você tem consciência de que se morrêssemos amanhã, a firma onde trabalhamos nos substituiria rapidamente?
Mas a família que deixamos para trás, sentirá a nossa falta para o resto das suas vidas.
Pensando nisto, já que perdemos mais tempo com trabalho do que com a família, parece um investimento muito pouco sensato, não acha?
Afinal, qual a moral da história?
Você sabe o que significa a palavra Família em inglês?
FAMILY = (F)ATHER (A)ND (M)OTHER (I) (L)OVE (Y)OU'
Pai e Mãe Eu amo Vocês!
Legal! Eu não sabia disso!
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Que coisa linda!... Que coisa meiga!... Que coisa errada!
Não a primeira parte do texto, obviamente. De fato, passamos a maior parte do tempo longe de nossas famílias e justamente ela que nos dá o necessário reforço emocional.
O errado aí é a “explicação” sobre “family”.
Não sei de onde tiram idéias de jerico como essas, juro que não sei! Às vezes, acho que tem uma pessoa na Internet, que fica sozinha, tadinha, solitária, sem mais o que fazer além de ficar inventando lendas urbanas, bobagens que são repassadas e acabam ganhando “fundo de verdade”. Eu parto do princípio que 99% das coisa que recebo pela Internet são coisas erradas, falsas, sem nenhuma comprovação científica. E são mesmo! A quase totalidade de textos atribuídos ao Luís Fernando Veríssimo e ao Arnaldo Jabor está aí mesmo para comprovar.
*
Sobre a origem da palavra “Família”, respondi para o meu amigo o seguinte:
Família vem do latim "famulus", que significa "escravo doméstico". Este termo (e conceito) foi criado na Antiga Roma para designar um novo grupo social que surgiu entre tribos latinas, tão logo foram apresentadas à agricultura e ao trabalho forçado com justificativa legal.
Inicialmente, "família" eram todos os que pertenciam ou estavam ligados a um mesmo patriarca. Na Idade Média, passou-se a admitir como "família" somente os ligados por laços de consangüinidade e/ou decorrentes de matrimônio.
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Por sorte, eu conhecia a origem da palavra “família”. Mas poderia não conhecer; não sou nenhum sabichão, desconheço muitas, muitas coisas. Vai que eu acredito nessa explicação bonitinha (mas ordinária) e saio repassando por aí, fazendo as pessoas acreditarem em mais esta lenda urbana, olha a situação...
*

Tem outra. Tão inacreditável quanto.
Nesta semana, de segunda a quarta, estive em Porto Alegre para fazer algumas palestras e participar do lançamento do segundo volume do projeto onde atuo, no meu principal emprego. Na segunda-feira, estivemos eu e meu coordenador, na TV RBS para participar de um programa de entrevistas. Era uma espécie de mesa redonda, com um âncora e outros participantes. Entre estes, havia um professor de português (imagino eu...). O público telespectador mandava perguntas com dúvidas sobre a nossa língua e ele respondia no ar.
Estávamos lá, esperando a nossa vez, quando o âncora leu uma pergunta dirigida ao tal professor:
“Atualmente existe uma recomendação oficial para não usar a palavra aluno e sim estudante, pois, segundo dizem, aluno em latim significa ‘aquele que não tem luz’. É verdade isso, professor?”
*

Eu, no meu canto, quase tive uma síncope, prendendo o riso (estava no estúdio, não podia fazer barulho) diante de uma bobagem sem tamanho como aquela.
O professor esclareceu, até usando de muita galhofa (eu teria feito pior, debochado do jeito que eu sou...), que aquilo era um erro colossal, que aluno, em latim alumnu, na verdade significa: “criança que se dava para criar” (segundo o Aurélio), ou “criança em fase de aleitamento”, recebendo o “leite do saber”, evidentemente (segundo o Houaiss). Pois é. Está nos dicionários. No “nosso pai” (o “pai dos burros”). Bastaria que a pessoa o consultasse para ver que é uma enorme bobagem essa de aluno ser “pessoa sem luz”... E pelo que o professor falou, tem gente do Ministério da Educação passando esse tipo de recomendação às escolas, vejam vocês...
*

As lendas urbanas estão espalhadas por aí e a Internet se transformou num excelente veículo para transmiti-las. Como sempre há olhos crédulos para por fé nas coisas que chegam pelas infovias da rede, estamos diante de uma espécie de “Febeapá” internáutico. Stanislaw Ponte Preta deve estar no túmulo se revirando de rir...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Aviso aos Navegantes” com o sempre ótimo Lulu Santos.

21 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco!
Adorei este post. Eu tenho uma birra danada com as coisas que recebo e só dou alguma razão se vêm com links e eu procuro. Eu recebo mais sobre coisas da minha área, e me valho de sites contra farsas e pesquisas falsas. O último foi da Coca-cola e a bala mentus terem matado um garoto. Rendeu até uma aula de explosão de garrafa pet e explicação sobre as diferenças do "in vivo" e"in vitro"...Gostei de ver o seu esclarecimento, mandou bem.
Ótimo final de semana! Beijo.

Renata Livramento disse...

não adianta ter informação sem ter capacidade crítica, não é mesmo?! mas como vc mesmo disse, a gente acaba se divertindo...
Bjo e bom fds!!!

Anônimo disse...

O pior é que, muitas vezes, essas baboseiras se transformam em "verdades universais". Acredito que a falta de leitura em "livro de papel" colabore enomermente para tanto. Um beijo, querido!

david santos disse...

Em relação à palavra família, conhecendo-lhe a origem, não estou nada de acordo com ela. "escravo doméstico", não me parece ser uma boa palavra para se aplicar a coisa que consideramos tão importante, a família, mas de facto é esse o seu nome. Por isso, considero a palavra família repognante. Quanto ao resto também concordo. Pois neste mundo em que o materialismo é a fonte da nossa sobrevivência, quase somos obrigados a vender a alma ao diabo.
Parabéns.

Anônimo disse...

Marco, pra dizer a verdade, a maioria das coisas que recebo via internet nem abro. Principalmente e-mails de estranhos. Tem tanta bobagens, cada um querendo passar sei-lá-o-quê...
P.S. estou tendo problemas com o blogger, em abrir. Nao tenho atualizado a minissérie por isso.
- Mandei um e-mail pra vc. Tô esperando o retorno.
Abraços, bom fds.
http://napontadolapis.zip.net http://dulcineia.blogspot.com

Francisco Sobreira disse...

Que coisa, Marco, essa origem da palavra família. E não por acaso, a suposta (e ridícula) origem da palavra vem do inglês, a língua hoje dominante no mundo. Quando adolescente, li, talvez na Cinelândia, mas pode ter sido na Seleções, que a origem do nome da primogênita de Ingrid Bergman (do seu primeiro casamento), PIA, era uma combinação da primeira letra do nome dos pais (Peter e Ingrid) com a primeira da palavra "Alwais" (não sei se a grafia está correta). Na época , pela minha pouca idade, acreditei PIAMENTE nessa história, tanto que a repassei para muitas pessoas, mas hoje tenho minhas dúvidas. Pode ser verdade, mas pode não ser. E, como se sabe, a união de Peter e Ingrid, muito ao contrário, não foi para sempre. Um abraço e um excelente final de semana.

Anônimo disse...

OLAAAAA

O POST FICOU ÓTIMO

ADOREI MESMO

BEIJOS

HAIRYBEARS
http://hairybears.blogspot.com/

Anônimo disse...

A verdade é que do jeito que as coisas andam,a internet deixará,cada vez mais,de ser um veículo confiável,MARCO.
Gostei de saber das origens.
Não as conhecia.
Aproveito pra te agradecer e avisar que vc é o PAPIRO AMIGO de hj por la.
Abração!!!

Lila Rose disse...

Oi! Adorei o post, sempre esclarecedor. Eu não abro metade das mensagens que recebo por e-mail e acho que as escolas deveriam ensinar como fazer pesquisa na internet. Essa semana recebi alguns trabalhos na faculdade onde os alunos seguem aquele estilo "copia-cola" e não preciso contar a quantidade de porcarias neles contida. Bisous!

Chellot disse...

Muita informação e pouco esclarecimento é o que vemos todos os dias nesse mundo virtual. Se eu quiser inventar um significado para uma palavra, algo plausível, ams não correto, muitos irão acatá-lo como oficial, pois estão mal informados. É sempre bom ler seus textos, pois sempre aprendo algo novo.

Beijos de Sol e de Lua.

Julio Cesar Corrêa disse...

Infelizmente custei a entender o quão importante é uma família em nossa vida.
gd ab

Anônimo disse...

Adorei este post.
Adorei porque fala da minha língua, língua que amo, e que é tantas vezes maltratada.
Mal comecei a ler ri pois pensei comigo: "Coitado "do" latim. Já não conhecemos a origem da nossa língua!"

Uma das disciplinas que tive no secundário foi latim e cada vez mais reconheço a importância desse conhecimento.

Venham mais post deste Marco!

Uma boa semana! *.*

Anônimo disse...

Não era mais para ficar surpreso com algo que vem de tua inteligência e sensibilidade, meu caro Marco.
Esse senso de responsabilidade intelectual, aliado a um texto de excelente qualidade, faz de você um autor extraordinário.
Já disseram tudo. Eu resumiria o que escrevi acima com essa frase extraida de teu texto:
Que coisa linda!... Que coisa meiga!... Que coisa errada!
.
Forte abraço, meu caro amigo.

Stephanie Torres disse...

Nossa, Marco, ri demais deste post!! É cada bobagem que a gente escuta (ou lê), que só aquele protetor de ouvido da foto para nos ajudar!
Tenho um professor na faculdade que sempre diz "cuidado com o que lê na internet!".

Bjão!!

Anônimo disse...

Marco:
Também recebi esta bobagem por email e concordo no que se refere a crer em tudo que falam. Basta uma pequena consulta ao "nosso pai" para mostrar o que está errado. Mas o comodismo - e a burrice - prevalecem.h

Lara disse...

Oi querido! Adorei o post! Você não tem noção da quantidade de porcaria que recebo via internet... é cada uma! Realmente não podemos confiar!
beijos

Anônimo disse...

Ainda não estamos totalmente seletivos sobre o que lemos via internet e existem desavisados que aceitam como definitivo qualquer texto e repassam com orgulho de dever cumprido, obrigada amigopratodavida, pelo carinho e zelo que tem conosco desvendando e ensinando as verdades que nem sempre temos como descobrir.
Família? tudo de maravilha que há nesse mundo entre tapas, beijos e alegrias,rsss
beijosssssssssss

Fernanda disse...

Ih, eu acreditei nessa história e repassei para o pessoal... rs rs...

Kisses

Anônimo disse...

Olá Marco! Como você está? Fiquei uns dias sem net, mas agora estou de volta... :)

É duro... a da "family" na hora em que li já saquei que só podia ser abobrinha... mas, a do aluno eu já encontrei até em textos academicos!!!

Duro...

beijos

Anônimo disse...

Muito legal. É muita baboseira e irresponsabilidade na net, mas muita coisa boa tb, como o seu site com esses textos maravilhosos.
Um grande abraço!

Marconi Leal disse...

Mais uma aula de tirar o chapéu...