sábado, junho 03, 2006
Escutando cabelo crescer...
Estava eu no meu sacrossanto lar, estirado no sofá, sem nada para fazer, só escutando cabelo crescer, quando me lembrei que o meu velho pai, depois de aposentado, gostava de fazer a mesma coisa. Só que em vez do sofá, ele preferia armar a cama DragoFlex no quintal, debaixo de uma árvore, e ali ficar bestando ou cochilando.
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Só que uma vez deu zebra. Para quem não conhece, deixe-me apresentar a cama DragoFlex. Ela era feita de uma armação de canos de ferro, onde uma faixa de lona ficava esticada por molas. Parecia uma maca, só que era dobrável e tinha pés. Pois é. Um dia, meu pai botou um short confortável (leia-se: bem largo) e foi puxar um ronco na DragoFlex armada no quintal. Numa hora lá, ele virou-se de lado. O saco do velho escorreu pelo short largo e foi pousar justamente em cima de uma das molas da cama. Com o peso dele, a mola estava distendida, logo, com espaços entre as suas espirais. A pele fina daquela parte da anatomia entrou por entre a mola e quando ele se mexeu, a mola reduziu a tensão, ou seja, ela se contraiu, prendendo um pedaço deste sensível adendo masculino.
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O berro que o meu velho deu faria o rugido do leão da Metro parecer miado de gatinho filhote. Com o susto, minha mãe foi ver o que tinha acontecido. E eu também. Meu pai urrava de dor. Eu e minha mãe aflitos, perguntando o que ele estava sentindo, se queria que a gente pegasse o remédio do coração, ou sei lá o quê. O velho lá, gritando, sem conseguir falar, só apontando para baixo. Com muito custo, minha mãe entendeu e foi ver o que o estava afligindo. Aí foi só fazer pressão na mola para ela esticar, o velho removeu o sofrido apêndice e pôde respirar aliviado. Nunca mais ele quis saber de se deitar na DragoFlex de short largo.
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Ao lembrar desta história, automaticamente me recordei de que algo semelhante e igualmente dolorido aconteceu comigo. Aliás, foi até cena do filme “Quem vai ficar com Mary?”.
Sábado a tarde, estávamos sentados na beira do campinho lá perto de onde eu morava, esperando o sol amainar para jogarmos a nossa pelada sagrada. A “lua” diminuiu, dois tiraram o par-ou-ímpar para escolher os times. Pronto. Já estava tudo certo para começar. Com o intuito de jogar completamente aliviado, fui até a beira do campo, botei o centroavante pra fora para aquela mijadinha de lei. A bola já estava no meio de campo, o meu time me chamando: “vam’bora, Marco! Vai sair a bola! Vam’bora!” E eu ainda terminando as últimas gotas e gritando: “Péraí! Péraí!”. Nisso, eles não esperaram e deram a saída. Na pressa e na fome de bola de não perder nem um segundinho do jogo, encerrei logo aquele xixi e puxei o fecho-eclair da bermuda. O berro que se ouviu, fez parar o jogo instantaneamente. Na pressa, eu havia me esquecido de guardar o “garoto” antes de puxar o fecho.
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Que dor condenada, meu Deus! O fecho-eclair ficou preso na pele do...do...vocês sabem do que. Logo, fui cercado pelo pessoal da pelada e os palpiteiros começaram a dar pitaco: “Ih, vai ter que amputar!”, “Corta em volta com uma gilete!”, “Respira fundo e puxa de uma vez!”... E eu mandando os palpiteiros pra tudo que era lugar, os mais sórdidos que vocês podem imaginar. Era eles sugerindo e eu gritando os RAPA, RATO, RAPU e FÉLA* a plenos pulmões. (*RAPApontequiospartiu! RATOmánobanho! RAPUcarái! FÉLAdasunha!, na hora eu disse as expressões no original, sem cortes. Ninguém sentindo aquela dor desgracida iria rezar o terço naquele momento...)
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Entre gargalhadas, eles me convenceram a respirar fundo e puxar o fecho-ecláir de uma vez. Tomei coragem, e fiz. CARACO! Que dor miserenta! Pedi a um cara para soprar e ele quis sair na porrada comigo. Mandou minha mãe soprar, olha só que povo sem coração, não é?...
*
Mesmo com dor, continuei jogando, que não seria uma dorzinha daquela que me tiraria da pelada, tás pensando o que? Fiquei uma semana com uma baita mancha de sangue pisado no local. Mas sem maior gravidade. O acidente não deixou seqüelas, graças a Deus!
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Agora vocês vêem como são as coisas. Eu estava deitado no sofá, estiradão, só escutando cabelo crescer, pensando na morte da bezerra, que nem o malandro aí da foto...Como é que estas lembranças me adentraram a mente?
E o pior: como é que eu tenho a pachorra de vir aqui abusar da paciência de vocês, contando estas histórias? Mas, levanta o mouse aí o cara que nunca sofreu um acidente com o bigorrilho!
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Doce de Coco”, pela flauta mágica de Altamiro Carrilho.
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17 comentários:
Marco, meu querido, a última vez que gargalhei assim em frente ao PC até sair lágrimas nos olhos, faz tempo, e foi com uma crônica do Luiz Fernando Veríssimo, "um dia de modess na vida de um homem"
Fiquei aqui a imaginar a cena com seu pai e depois a sua. Não me leve a mal, meu querido, mas foi divertido rir da 'desgraça' de vocês dois. Aliás, vcs homens, vivem em 'acidentes' com os 'garotos' né? *risos.
A melhor parte foi ler vc pedindo alguém pra soprar. Imagine a cena, a posição do infeliz soprando. hahahaaaa...
Ganhei o dia, Marco!
Beijo grande
ahuauhauhauhauhuah aaaaaaaaaaiiii coitado do seu pai!! hauhauhauhauh e olha... a coisa q eu mais faço é escutar meu cabelo crescer auhhuahauhua adorei a expressão! um bjooo
Marco, estou aqui morrendo de rir... Ótimo o seu post! Imagino as cenas, coitados! No filme, eu chorei de rir da cara do moço no banheiro da Mary. Meu primo Mário já passou por isto no dia do seu níver e foi "resgatado" em cima da mesa de aniversário. O Szafir foi esconder da mãe e deitou no formigueiro, saindo de lá aos berros... Enquanto escuta cabelo crescer, fica aí lembrando... Viu? Não sou só eu que tenho Apuros!
Ótimo final de semana prá você!
Beijos e gargalhadas, desculpe,mas mandar soprar ainda? rsrsrsrs
Pobres meninos!
Marco querido,
não deu pra segurar a gargalhada nem com a dor de vocês, caraca!!
Tadinho do seu pai,eu que já dormi muito numa Dragoflex,recordei a expessura da bendita mola e pude imaginar o volume da dor de seu pai!!
Quanto ao seu fecho-ecláir,ui..que horror! Você foi até bem educado ao desfiar o rosário de palavrões,mas pedir ao amigo para soprar foi demais né?rssss
Adorei a expressão "escutando cabelo crescer",não conhecia e te digo que meu marido era pra ser cabeludaço,pois passa muito tempo a escutar os tais cabelos que parecem não crescem tanto,rsssss
Obrigada por essas recordações engraçadíssimas,embora doloridas.
Lindo findi meu querido,
beijosssssssssssss
Mano Marco...
Vamos que vamos: Altamiro Carrilho calhou num resplendor para esta mais que descontraída narrativa.
Desentupir as artérias da tensão. Se possível numa rememória assim,que faze-nos pular de rir,sem sair no lugar,no entanto,porém ficando espetado na ponta de algum astro luminoso: estrela da tua recordação!
Saborosidades do tempo anterior,vinde a nós para sempremente.
Sabe de uma coisa,meu irmão,Você nunca perdeu o teu pai,repito,repetindo o "bruxo" Jorge Luis Borges: tu o retiveste. E ele está mais vivo do que nunca.
Seu Ferreira: muito obrigado por deixar um pedaço de ti por esse mundão.
PS: aqui em Pernambuco,quando alguém fica naqueles ócios,diz-se espiar a massaranduba do tempo.
Abraço cordial,meu chapa.
Notas ao post anterior:
1 - Leia-se: sem sair do lugar.
2 - Massaranduba (talvez não exista um figurativo dicionarizado para este termo)com dois "S" mesmo,para distingüir de Maçaranduba,a árvore.
Até o próximo texto,amigão.
Marco, éa primeira vez que venho ao seu blog e simplesmente adorei. Chorei de rir da sua, digamos, aventura! Você é ótimo e voltari sempre.
Bom final de semana.
Grande Marco. Que situação, hein? Tanto a do seu pai quanto a sua. Agora, pedir para assoprar foi o cúmulo. Não é para menos que o cara quis apelar para a ignorância.
É sempre muito bom vir aqui no Antigas Ternuras e me divertir com teus textos sempre impecáveis!
Um grande abraço!
ahahha desculpa, mas tive q rir...os dois casos foram hilários (e doloridos, imagino), mas não deu pra segurar...
e claro q pode participar com atraso do post comunitário, fica a vontade.
beijosssssss
Eu nunca tive acidentes com bigorrilho! (rs*) Hilária as suas histórias! Tenho uma pra contar: Aconteceu algo assim com uma pessoa que não conheço, em pleno MacDonalds da Dutra - lotado em dia de feriado - o cara saiu do banheiro dos homens, correndo com o "bigorrilho" na mão. Imagina!
Estou indo lá visitar Claudinha! Bom fim de semana! Beijus
Markito meu lindo..
Se tu soubesses o susto que meu marido deu ao acordar com minha gargalhada aqui no quarto onde dormimos...
Huahuahuahua...
Ele perguntou-me o que ouve?
E eu respondi:
- " Foi o saquinho do pai do Marco que ficou engatado na mola"...
hahahhahahah
*
Ai ai meu amigo...
Fazia tanto tempo que eu não gargalhava assim tão gostoso...
BARRABÁS!!!!!!!!!!!!!!!
Obrigada Marco..rsrs
GENIAL!!
Foi engraçado mesmo. (risos) Quem não riu deste post? So de imaginar as cenas...
Abraços...
Céelia
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
marco vc é hilário, como pode nos fazer rir desse jeito de sua tragédia? Caraca!! Amei, ops...amei a crônica, perdão aí. Beijo.
Rapaz, que histórias!!! Eu hein, que saco! Ops, desculpé o trocadilho! Muito engraçado, mas muito sádico, rindo assim do seu pobre velho!!! E Tapete Vermelho estreou finalmente aqui, vou conferir nesta semana e dai a gente se fala! E não perca o post dos Morcegos! Você vai gostar, estou finalmente estabelecendo uma sessão fiza sobre Cinema! Abração!
Marco,a citação do seu blog é bem merecida. Você faz um trabalho bem feito e que chama a atenção até de quem não vivenciou a época.
Desuclpe se não li seu texto. É que estou de férias e só vim aqui postar este texto que achei proposital para a época.Abraços.
Marco, passando pra dar mais uma olhada na história dos 'garotos' desatentos. *risos
Boa noite de sono, meu amigo!
Gostaram, né? Pois é. HOJE, as histórias são mesmo engraçadas. Até nos dias atuais minha mãe conta esta história do meu pai às gargalhadas. Ainda diz que o saco dele ficou do tamanho de uma berinjela! Vamos aos comentários:
Querida Suzy: É tão gratificante saber que pessoas como você se divertiram com minhas histórias! E ainda me botou no pé de igualdade do Veríssimo! Esse pobre marquês não merece tanto...
Querida Yumi: Ah, coitado SÓ do meu pai, né? E de mim, cê não teve pena, não? é porque você não sabe o que é prender o fecho-ecláir no "natanael jebão". Depois a mulherada diz que dor de parto dói...Hum!
Minha doce Claudinha: Pô, essa do seu marido enfiar o bigorrilho no formigueiro é digna de um Mr. Bean, heim? Rá! Rá! Rá!...Ué! Eu tinha que pedir pra soprar! Estava ardendo...Foi muita má vontade do cara...Rá! Rá! Rá!...
Doce Marcinha: Você lembra da DragoFlex? Pois é...Pelo meu pai, a cama se chamaria "DornoFlex"...O seu marido fica escutando cabelo crescer? Descansado o rapaz, não? Ré! Ré! Ré!...Você não ouviu esta expresão ainda porque fui eu que a criei.
Gostou, mano Paulinho? Pois é...A gente faz o que pode... Sobre suas palavras amáveis a respeito de meu pai, olha, tenho certeza de que onde ele está ficou muito feliz. Sinto muita falta dele...Sempre senti.
Aqui no Rio, quando se está da papo pro ar, se diz que "está coçando saco" ou, no caso das moças, só "coçando". Também se diz "ficar largadão". Mas eu criei esta expressão. Acho que traduz melhor o estado de largação.
Querida Saramar: Prazer tê-la aqui. Já fui retribuir a sua amável visita. E foi ótimo o que vi.
Grande Evandro: Ré! Ré! Ré!...Mas não custava nada...uma sopradinha só...
Querida Michele: Pode rir, mesmo! Hoje a situação é pra lá de engraçada. Mas naquele momento...
Querida Luma: Pô, sair com o bilau pra fora em pleno McDonald's é forte, heim? Rá! Rá! Rá!... Você deve ter adorado o blog da Claudinha, não é? Ela é DEZ MIL!
Roby, querida: Coitado do seu marido! Acordar com a sua gargalhada e ainda ouvir uma explicação dessa! Rá! Rá! Rá!...
Que ótimo que você gostou e se divertiu, querida!
Prazer, Célia, el tê-la por aqui! Já fui retribuir a sua visita e seus gifs são muito bonitos.
QueriDira: Que bom que você está sorrindo, meu anjo...
Primo Dilberto: Ei, rindo só do meu pai? E de mim, não conta? Já fui ler o teu post.
Querida Vendetta: Que bom saber que você gosta de minhas histórias. Você é muito gentil, viu? Foi a única que se preocupou em soprar o garoto...Rê! Rê! Rê!...
Valeu, Rubo! Um abração! E boas férias!
A todos, abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim! Valeu, gente!
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