segunda-feira, junho 05, 2006

Ah, o amor...


A simpática blogueira Michele, a Micha Descontrolada, do Carpe Diem, de Niterói, cidade que amo e onde me formei, me propôs um tema comunitário. Escrever sobre amor, respondendo às seguintes perguntas: vale tudo por amor? Até trair a confiança de uma pessoa? Até quanto vale ir por amor? Qual a maior loucura que você já fez por amor e qual a loucura que acha que jamais faria por ele?
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Topei participar. Vamos nessa. Mas no clima de antigas ternuras, é claro.
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Não acho que no amor vale tudo. Quem pensa assim, certamente assumirá os riscos daquele velho ditado: os fins justificam os meios, muito comum em Brasília de uns tempos para cá...
Vale a pena lutar pelo amor, mas com as armas de um guerreiro da luz – fé e carinho pela pessoa amada. Conseguir um amor usando de baixezas é conspurcar um sentimento que era para ser mais que lindo. No final de um “vale tudo”, vai ser óbvio que não valeu a pena. No passado, já me encontrei em diversas situações em que disputava uma criatura fêmea com outro cara. E perdi em todas. Perdi porque era tímido, porque me envergonhava de sê-lo, porque na minha timidez tinha medo de magoar a outra pessoa, porque perdia a chance de dominar meus medos internos. E assim, era derrotado por não querer vencer, por me diminuir perante minha auto-estima, por minha covardia e por ser medíocre. Mas guardava o galardão de ser sempre leal. A mim, ao meu concorrente, à pessoa que amava.
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Poucos verbos em qualquer idioma têm o peso de “trair”. Ofender com traição é ferir sem sangue externo. É ferir na alma. Às vezes sem cura. E sempre deixando cicatriz. Trair e amar aparentemente não têm nada em comum, a não ser pelo significado etimológico: trair vem do latim tradere, que quer dizer entregar. E no amor, o símbolo maior é justamente a entrega que fazemos ao nosso objeto amado. E qual a diferença? No primeiro, entregamos quem amamos ao sofrimento. No segundo, nos entregamos nós mesmos ao sofrer, pois mesmo quando o amor é prazer e é correspondido, sempre existirá o sofrimento pela nossa eterna dúvida em saber amar.
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Pelo amor, vale a pena ir ao fim do mundo, desde que de lá retornemos. Íntegros. Mais sábios. Mesmo que mais sofridos. O amor pode ser como o fogo, que queima, mas ilumina. Se pressentirmos que não conseguiremos voltar dessa viagem com integridade e sabedoria – seja em que dimensão for – então é melhor guardar o bornal para outras jornadas. Certa vez escrevi para alguém que amei: “...E no princípio era o Caos. De algum lugar, partiram dois pontos se deslocando no espaço. E em um segmento daquele Universo, seus olhos se cruzaram e aquele olhar contava da vida de cada um, tudo o que tinham visto, ouvido, sentido naquela vastidão. E perceberam que se amavam...mas como eram retas paralelas, estavam condenados a se encontrarem somente no infinito...”.
Às vezes temos de compreender que será nas lonjuras infindas que (re)encontraremos aquele nosso ser amado.
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Um gesto de amor, para quem ama, nunca será uma loucura. Uma vez, eu disse a uma pessoa que amava, que toparia deixar a minha vida no Rio para trás e iria viver com ela, lá no Planalto Central. Ela achou que era caô de carioca e não fez fé. E eu estava mesmo disposto a deixar tudo por ela. Mais uma das armadilhas do “E Se...” Pois bem. Não fui. E não ficou nenhum amargor. Só a sensação de quem contempla as estrelas, imaginando como seria a vida lá no espaço sideral. Mas que volta a olhar em volta e vê que Deus lhe deixou na Terra para se deliciar com mil maravilhas.
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Quanto a uma loucura que jamais faria, seria aquela que eu percebesse no ato que era uma loucura e não um gesto de amor. Quando amamos, nos tornamos uma espécie de Midas ecológico, onde transformamos tudo o tocamos em flores. Se algo que venhamos a fazer possa terminar em terra árida e seca, então não vale a pena. Pois amar, é ser um passarinho só para voar bem alto e escrever o nome de quem amamos em uma nuvem, segredar para o vento desse amor e esperar que a chuva conte pra todo mundo. Mas, com gotas de sorriso.
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Aí está, cara Michele. Minha participação no seu tema comunitário. Gostaria que todos os que lêem estas mal tecladas linhas participassem e também escrevessem em seus blogs sobre estas questões. Especialmente gostaria de ler a Claudinha, a Claudia, o Paulinho Patriota, a Márcia, a Suzi, a Ana Carla, a Fugu F., a Yumi... Pensando bem, é proposta para todos...Talvez fosse até um bom tema para a Família Morcegos.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Neither one of us”, por Gladys Knight and The Pips. E essa música vai pra moça da escada do Observatório...

22 comentários:

Anônimo disse...

Cara , pulei fora desse post comunitário , tal como todos os que falam sobre amor. Mas é legal saber a opinião de vocês , mais velhos e experientes...

Um abraço!

Anônimo disse...

meu querido poeta e cavalheiro,que lindo ve-lo falar de amor,essas imagens me trouxeram lindas e amargas recordaçoes,o amor é tão abstrato que só sendo verdadeiro conseguimos sentir o coração do outro,dificilmente se encontra a alma gemea,sempre amamos quem não nos ama,certa vez amei alguem que sumiu sem explicaçoes ,sem noticias sem bilhete ,mas foi melhor assim,há coisas na vida ,que é melhor nem conhecer o gosto de um beijo,do que sentir o sabor e depois nunca mais ter,o tempo se encarregou de apagar o que nem existiu,deixo meu carinho e uma linda segunda feira,tea doro,bjsssss

Anônimo disse...

humm... gostei do post comunitário, uma maneira inteligente e aberta de se conhecer mais dos amigos virtuais.
Amei ver seu parecer sobre estas questões tão 'pessoais'.

Taí, não fujo da raia meu querido, aceito o 'desafio', em breve estarei fazendo o meu post. *risos

Gostou da Hemengarda né? *risos
Pois é meu querido, eu podia ter dormido ontem sem essa, bastava não ter entrado no msn, é cada um que aparece viu!!

beijo, sonhe com os anjos!

Y. Y. disse...

poxa... boa pergunta... eu vivo escrevendo sobre amor, pra tentar desvendar, etender. mas, como eu disse no meu ultimo texto, nada do q eu entendo dura. ex: vc quer X, acaba gostando mesmo de Y. a unica coisa de absoluta no amor é q não há nada de absoluto no amor. & etc. hauhauha enfim. era isso... ahuuaauuahah complicado neh? um bjooooo

Fugu disse...

Marco, meu poeta querido. Irresistível seu convite. Só não entendi uma coisa: é para escrever aqui ou você quer que formemos uma corrente de blogs discutindo o tema? Me conta? Seja aqui ou no Fruit de la passion, o assunto dá tango ... beijo você.

Anônimo disse...

Mano Marco!

Arrebentou. Lascou o cano... Desta feita,este post deverá ser guardado num escrínio!

Só tu mesmo para analisar numa ótica pejada de lucidez sobre este sentimento magnificente,sem macular a paixão profunda,sem a "jogar no espaço,bolha de sabão",essa palavra que é "toda sigilo e nudez,perfeição e exílio na Terra".

Melhor que não pronunciemos termo tão transcendente: o absoluto amor - revel à sua condição de carne e alma,diria Drummond.

É um tema que me deixa ao mesmo tempo enleado,perplexo,diante do incomensurável. E fico de cabeça baixa. Emudeço. Daí minha congratulação a tua perspicácia.

Gostaria de prosseguir minha proposição,porém já o fizeste, clareantemente,o essencial ao intendível.

E amemos pelo amor do amor somente!

******

Tenho feito muita propaganda de Pernambuco por aqui,peço perdão,mas,mais uma vez,deixo algo do recifense cariocado Manuel Bandeira (1886-1968):

CHAMA E FUMO

Amor - chama, e, depois, fumaça...
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa...

Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor - chama, e, depois, fumaça...

Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimado o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa...

Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor - chama, e, depois, fumaça...

A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa...

Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linda a arder
Amor - chama, e, depois, fumaça...

Porquanto, mal se satisfaça,
(Como te poderei dizer?...)
O fumo vem, a chama passa...

A chama queima... O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas... tem de ser...
Amor?... - chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa...

*****

PS: ontem,no programa "Sem Censura",conduzido por Lêda Nagle,onde estavam dois artistas pernambucanos,ouvi o seguinte: o recifense é o mais carioca dos nordestinos em vários pontos. Concordo!

Bom dia,irmãozinho de alma cômpar!

Roby disse...

Markito bom dia!!!

Como sou ainda novata neste mundo da blogsfera, tentei imaginar o que sería "Post Comunitário"...
É um convite para que todos façam um post em seus respectivos blogs com o tema Amor?
É isso...??
Ah, se é acho "TRI LEGAL" !

Bah...mas falar em amor,é tudo de bom..
O desastre é falar em paixão. Tenho tantas lembranças das PAIXÕES VISCERAIS ..credo..(risos)..

Boa pedida Marco!!!

Um upaaaa desta sua amiguinha gaúcha aqui!

Anônimo disse...

Rsrs... Ana CLARA (não confundir com Ana GEMA) vai escrever lá no Mari e Ana. Você é sensacional!!

Anônimo disse...

vou responder, sim. em post. meu carinho, amigo.

Anônimo disse...

Só batendo cartão, Singular. Tempo escasso. Abraços.

Luma Rosa disse...

Dependendo da época de vida que a pessoa encontra o amor, pode até morrer por ele. Felizmente ou infelizmente, ainda não sei, mas com o passar do tempo o amor vai ficando mais lúcido, como se fosse passado à limpo várias vezes. Vai saber? Acho que estou com preguiça de saber. Da trabalho amar! (rs*) Beijus

Anônimo disse...

Marco querido,
foi-se o tempo em que faria tudo por amor, esse tempo se perdeu,não fiz loucuras, o amor em mim foi calmo,chegou e ficou com paciência, sem alarde e hoje não cabe lugar para extravagâncias, os gritos se entalaram na garganta e as pernas não obedecem a correria que a cabeça pede.
Não dei chance a insanidades e não me arrependo,foi bom,é bom!
Obrigada pelo convite, um dia eu farei um post contando essa minha nada louca vida de amor,rss
Lindo dia
beijosssssssssss

Anônimo disse...

Marco, vi seu comentário no blog da Ana Carla, revolvi vir conhecê-lo, não parei pra ler todos os textos, mas já me encantei, voltarei e lerei com mais calma!
Um beijo!

Claudinha ੴ disse...

Marco... Não sei o que houve, só hoje seu post apareceu aqui, acho que meu pc está com problemas na configuração...(cookies)
Este seu desafio será meu próximo post, então...
Gostei de seu jeito de ver as coisas, sensato e politicamente correto. Quanto a mim, aguarde então meu próximo post...
PS: esta música é tudibom!
Beijos!

Anônimo disse...

Hei amigo Marco,
sempre impecável.

Hum, entendi... ficou de vir morar no Planalto Central né? Acho que o lugar ideal prá você seria o Cruzeiro. Reduto dos cariocas, lugar de gente boa, e sede da Aruc.

Agora, falando de amor... só consigo falar do que sinto pela doce Isadora, fruto do amor maior, meu e de Mme. Yoko. (He he, de dois viramos três). Sua simples existência me fez dar duas guinadas gigantescas em minha inútil vidinha: abandonei o 'parafuso de caixão'(isso aí, sem cigarro, claro que virei uma bola de tanto comer para compensar a ansiedade, depois emagreço, correndo atrás de malandro que quiser namorar com minha filha, kkk (entendeu né Lúcio?)); outra, depois de uma noite acordado na recepção de hospital, sozinho, sem dinheiro, com celular pré-pago sem crédito, só tive uma coisa a fazer, e fiz, pedir ajuda ao Altíssimo. Claro que deu certo (todo domingo de manhã, vou à missa prá acertar as contas com o Homem)!

P.S. Gladys Knight é demais. (Achei que era a rádio Eldorado que estava tocando, só descobri que era coisa do DJ Ternura quando cheguei no final do post.)

Anônimo disse...

Foi você quem provocou... rs... Acho que é assim que as crianças se defendem, né? Escrevi um livro, lá no blog. Até descobri que tenho limite de caracteres!! rsrs... Quando tiver tempo (muito tempo) passe por lá. Smack!

Lena Gomes disse...

Só passei pra deixar um OOOOOOOOOOOOOOI e um beijinho. Ainda estou devendo a leitura q vc merece... e o "pior" (pra mim, claro), é q os posts estão cada vez melhores, né??? Não vejo a hora de vir "matar a sede". Beijos.

Anônimo disse...

Meu caro: Seus 20 MELHORES FILMES já se encontram no Balaio. Um abraço.

Dilberto L. Rosa disse...

"Maltraçadas linhas"?! Brincadeira, né? Rapaz, segues sempre a traçar pavimento firme de idéias em textos sempre muito bons! E sobre o amor, tanta coisa que condensaste... Concordo contigo, até na timidez das priscas eras, ré, ré! E o tema é bom mesmo, aproveitando para a reunião o mês dos namorados! Vamos ver! Abração!

Anônimo disse...

Marco, boa noite, bom dia.
Você nos deu uma linda, poética e verdadeira lição de amor. Fiquei lendo, relendo (é mania que tenho) e encontrando tantas poesias, tantas belezas neste seu desvendamento. Uma verdadeira doação.
Obrigada.

Beijos

Roby disse...

Marco!!
Pulei este tema e parti para os castelos medievais da Suiça..heheheh
E hoje dei outro pulo para os morangos, cerejas e framboesas suiças..
O amor?
Ah meu amigo..o amor fica para eu dar ao invés de escrever...
E tu , és o primeiro a receber meu carinho virtual nesta manhã!!!

Abraçooooo Markito!

Marco disse...

Falar de amor sempre desperta velhas emoções...

Grande Mutante: A minha "experiência" vem do fato de eu ter amado muito. Desde bem antes da sua atual idade. Mas é legal você estar atento a quem já passou por isso...

Doce Samara: É inacreditável alguém ter a bênção de despertar um forte sentimento em uma pessoa tão linda como você e aí desaparecer. O cara tirou uma MegaSena e não apareceu pra receber o prêmio...

Linda Suzy: Tenho certeza de que você terá belíssimas palavras para descrever o amor e as loucuras que ele nos submete. Fico só na expectativa...

Querida Yumi: O amor é complicado por que envolve seres humanos, esses sim, a raiz de todas as complicações. Mas sempre que eu leio seus textos aprendo a descomplicar um pouco mais.

Mano Paulinho: Os seus comentários tem a propriedade de um xeque-mate na gente. Ficamos sem saída, a não ser admirar o lance de um mestre. Sou de voto de São Drummond e de São Bandeira, avatares maiores que você citou. E essa poesia "bandeiriana" é de fazer a gente chorar lágrimas de esguicho, como diria Nelson Rodrigues, não por acaso, outro pernambucano de ótima cepa. Aliás, como você.

Mui querida Roby: Imagino que uma pessoa tão linda como você tenha uma história de paixões igualmente belas. Você escreveu sobre castelos, as casas das princesas de nossas histórias infantis. De uma certa forma, nossos amores são feitos para morar neles. Quando é um amor bonito, ficam neles, mesmo que nos nossos sonhos.

Querida Carlinha: Li, emocionado, o seu texto. Você é de muita sensibilidade. E uma pessoa para seramiga pra sempre e mais uma vida.

QueriDira: Meus olhos lacrimejam de expectativa pelas suas palavras.

Querida Vendetta: Li, adorando cada uma de suas palavras. Você é amiga, mesmo. Cada vez que te leio acendo uma lanterna sobre o conhecimento da alma feminina.

Grande Lúcio: Precisa aparecer mais vezes...

Querida Luma: Você me fez lembrar uma poesia de Vinícius: "Filhos, melhor não tê-los. Mas se não os temos como sabê-los?"
O amor é uma complicação. Mas não amar é uma bem maior, não acha?

Doce Marcinha: Sua resposta equivale a um longo post sobre o tema proposto. Também sou como você. Chego a esta altura da minha vida e embora ainda tenha ainda bastante carvão para queimar, posso dizer, como o apóstolo Paulo: "Combati o bom combate". No amor, assim o fiz e pretendo muito fazer até "completar a carreira e guardar a fé".

Prazer, Sheila! Seja benvinda! Vou retribuir a sua amável visita tão logo me seja possível.

Cara Claire: Na verdade, escrevi mais sobre o amor mesmo. A paixão nos tira um pouco o tino e nos deixa mais vulneráveis. Sim, concordo que nossa formação é importante e baliza a nossa forma de amar.

Minha doce Claudinha: Realmente, os provedores de blog andam aprontando pra cima da gente. Além do Blogger, o UOL Blog andou fazendo das suas nestes dias. Meu coração palpita mais forte só de ansiedade por ler o que você vai escrever sobre o tema.

Graaaande Ronie: Já nasceu a herdeira? Mas que felicidade! Um beijo carinhoso na Isadora e na "Madame Yoko". Puxa! Que coisa boa! Você está certíssimo, amigo. Falar de amor muda de figura quando se trata de filhos.

Doce Helena: Apareça quando quiser e quando puder. Aqui, você tem poltrona cativa.

Caro mestre Moacy: Já fui no seu excelente Balaio Vermelho e vi. Obrigado.

Grande "primo" Dilberto: Receber um elogio de um escritor com o seu talento é mais que agradável. Agente aqui faz o que pode. Vamos ver o tema da próxima reunião da nossa "Família".

Querida Saramar: Puxa...nem sei o que dizer...Talvez muito obrigado!

Valeu, moçada! Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim!