quarta-feira, maio 24, 2006

Meu Brasil brasileiro


Está em cartaz um filme que transborda brasilidade. Das películas brasileiras que eu vi nesse ano é, disparado, a melhor. Fala de um Brasil brasileiro, que muita gente esqueceu ou tem vergonha de lembrar. Chama-se “Tapete Vermelho” (Brasil/México/Portugal, 2005, dir. Luiz Alberto M. Pereira), com Matheus Nachtergaele e Gorete Milagres no elenco.
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Sempre digo que cinema é uma das minhas mais antigas e queridas ternuras. De vez em quando, gosto de fazer resenhas de filmes que tenham alguma ligação com o mote deste blog. Neste ano, a safra de bons filmes está magrinha, magrinha... Conto em uma mão os filmes que assisti e que me empolgaram. E “Tapete Vermelho” foi um deles.
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A história fala de um capiau (Quinzinho, bela composição de Nachtergaele), no melhor estilo “Jeca Tatu”, que nos tempos atuais sonha em assistir aos filmes do Mazzaropi. Tinha feito promessa ao filho de que o levaria para assistir a um deles, como o seu pai o tinha levado quando ele fez dez anos. Ele mora em um matão, daqueles como o do Sítio do Pica Pau Amarelo. Sua mulher (Zulmira, show de bola de Gorete Milagres, sem precisar recorrer ao bordão “Ah, coitado!...”), é uma benzedeira (já escrevi sobre isso, uma hora dessas volto a falar no assunto) pé no chão, que não vê serventia nesse sonho desesperado do marido em largar suas coisas para ir pra cidade atrás de cinema. Mas eles e o filho saem em peregrinação pelas cidades, primeiro atrás de um cinema e quando acham uma cidade com um que ainda não tenha sido transformado em igreja evangélica, eles não conseguem achar filmes do Mazzaropi em cartaz. Nessa jornada, eles encontram situações fantásticas como cobras enfeitiçadas, anjos e até um representante do diabo. Eles se envolvem também com o MST, o que é a parte menos interessante do filme.
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Uma das coisas que mais gostei em “Tapete Vermelho” foi ver encenadas histórias que ouvi quando criança. Uma delas, a da cobra que vinha roubar o leite de um bebê, é uma história que minha avó contava para minha mãe, ela contou para mim e na semana que vem prometo contá-la para vocês. A simpatia para tocar violão também conheço de meus tempos de menino: para virar um virtuose da viola, basta pegar o filhote de uma cobra coral, passá-las entre os dedos, soltá-la no mato e pronto! O cara passa a tocar violão melhor que Baden Powell, Toquinho e Andrés Segovia juntos!
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Tem uma cena no filme que eu acho extremamente simbólica. Num sítio onde a família chega para pedir pousada, na noite, os locais estão dançando a catira, uma dança do tempo dos escravos em que se usam os pés e as mãos para marcar o compasso da música – coisa mui linda! – mas o menino Neco, prefere ficar dentro da casa vendo desenho animado na televisão. Ali, o moleque estava perdendo a virgindade. A partir dali já não seria o mesmo. É curioso como abrimos mão de uma cultura muitíssimo mais rica em prol de uma bem mais pobre, mas com mais dinheiro. Fomos induzidos a achar que tudo em português é feio, pobre e sem charme. E que em inglês as coisas ficam glamurosas, chiques e melhores. Até palavras em inglês que são particularmente feias, como “impregnant” (“grávida”) são preferidas ao similar nacional. Tem uma loja de artigos para gestantes, na Barra, que tem esse nome horroroso.
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Por isso, assistir a filmes como “Tapete Vermelho” dão uma sensação de brasilidade que a gente só costuma ter em época de Copa do Mundo. Pois futebol é algo em que reconhecidamente somos os melhores. Mas houve época em que mesmo nesse esporte tínhamos complexo de “vira-latas”, como bem definiu Nelson Rodrigues. Já no que diz respeito a nossa cultura, não perdemos a nossa vira-latice. Abanamos o rabinho para bobagens como “Missão Impossível III” e vamos lá, despejar toneladas de dinheiro nas bilheterias, deixando de ver, ao lado, filmes com a nossa cara, com o nosso jeito, com o jeitinho do Brasil.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Romaria” (que está na trilha sonora do filme), com Almir Sater. Ê trem bão, sô!

19 comentários:

Y. Y. disse...

putz... vi em cartaz mas acabei não assistindo! droga droga droga!

Anônimo disse...

meu querido ,to achando que vc me conhece viu,rssss.brigaduuuuuuuuu,pelo elogio vc sempre gentil,sabes que moras em meu coração,te adoro,bjssssssss

Anônimo disse...

Querido Marco!
Narrado assim por você, o filme parece ser bom e dá vontade de assistir. Também aprecio essa brasilidade que vc cita, mas ultimamente não tenho visto muito desse transbordar nos nossos filmes aqui.
Com certeza, uma boa dica meu querido.
Um beijão grande.

Claudinha ੴ disse...

oi Minino do Rio!
Ah, estas histórias de roça... Eu acho incrível o trabalho do Matheus Nachtergaele , eu adorei sua atuação em O Auto da Compadecida, dentre muitos, ele é um artista e tanto e a tal Filó, tem um jeitão enorme para estes tipos caipiras. Deve ser ótimo, quem sabe um dia chega por estas bandas... E quanto à Romaria, esta eu adoro cantar... Beijão!

Anônimo disse...

Fui a um show do Renato Teixeira em março e ele comentou alguma coisa sobre esse filme. Diga-se de passagem , ele cantou também uma música feita especialmente pra o filme , que eu juro que não lembro o nome. Mas era muito bonita. De lá pra cá , me interessei muito pelo filme. Agora então...

Um abraço!

Anônimo disse...

Marco,
sou fãzoca de filme brasileiro,vejo-os com prazer,ainda não vi Tapete Vermelho que do jeitinho que você falou vou adorar.Mateus é excelente em tudo que faz,bom ator do drama a comédia, a Gorete nunca vi além da personagem chatérrima e sem graça da Tv.Valeu a dica, verei sem duvida.
Nosso Brasil é rico e tomara o povo o reconheça, deixando de lado os americanismos,rs
Linda noite meu querido,
beijossssssssssss

Anônimo disse...

E tem razão, amigo Marco; o cinema nacional parece que está ressurgindo com força total. Novos e talentosos atores, ao lado de veteranos vêm dando projeção ao cinema brasileiro tanto aqui como no exterior. Se não me engano, a Globo está com uma programação de nacionais para a semana próxima. Mas vamos ao Tapete! Beijosss

Anônimo disse...

por sua causa, quis assistir O Segredo da Brokback Mountaim, agora, vou ver esse, pq ler vc e suas impressões que vão além do filme é vontade de correr pro cinema. beijo, fantastico amigo.

Anônimo disse...

Mano Marco:

Neste rocio já avançado,adentro aqui um tantinho tristonho,depois que vi no comentário da Fantástica Claudinha um "rebuscado" (nossa,nunca cheguei nem perto de Lope Y Góngora - risos. Aliás,nunca o li!) para meu parecer sobre o post "Menina doida" no "Pensações"... Mas ela o fez sem nenhuma intenção de magoar-me,pois é um excelsa dama.

A usar termos ianques e gírias engulhantes,lugares-comuns que me fazem engendrar gaifonas à socapa,prefiro escarafunchar nas palavras da língua mais incomparavelmente bela do Universo! Não mudarei. Vai daí ser-te grato por teres matado a charada: sou meio neo-barroco,sem nenhum resquício de pedantismo - vade retro! Desde pequenino que amo palavras raras.

Matheus Nachtergaele: o mais nordestino dos paulistanos. É uma coisa estupenda! Dizem que ele foi de uma simplicidade e simpatia exuberantes com os habitantes sertanejos da pequenina Taperoá-PB,onde passou a infância o magnético Ariano Suassuna,nas tomadas fílmicas feitas naquela localidade de filhos da luz e da fauna indomáveis: como é sublime a flor do cacto mandacarú sob merídio nordestino!

Certamente que irei assistir esta película genuinamente brasileira,como os vocábulos que gosto de fincar nos blogs amigos.

Abraço cordialíssimo,maninho porreta.

Roby disse...

Bom dia Marco!

Depois que assisti "Cidade dos Anjos",perdi totalmente a empolgação por filmes brasileiros...
Mas com esta sua narração deliciosamente detalhada, acabei por ficar curiosa!
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Ahhh venha passear pra cá Marco!
Escolha uma das estações do ano e curta as maravilhas daqui...
Temos bons chocolates e queijos pra te oferecer!
Claro, além das belíssimas paisagens.
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Abraço amigo!

Anônimo disse...

Ah, Marco! Tenho o maior orgulho do cinema brasileiro, e me emociono cada vez que constato que estamos ficando bons nisso também!! Eu sou só mais uma caipira aqui do interior, e o cinema da minha cidade virou bradesco há muitos, muitos anos. Mas caminho alguns quilômetros pra me embriagar com a tal "fumacinha azul". Isso vicia. Obrigada pela dica!!

Anônimo disse...

Ah! Amigo de "estrombo delatado" também me fez rolar de rir!! rsrs...

Desiree disse...

pra variar, saio daqui morrendo de vontade de correr no cinema e assistir! ando numa correria tao grande, que ainda nao tinha lido nada a respeito e sou grande fã do Matheus!

beijos!

Anônimo disse...

Passeando pra desejar lindo dia de sol hoje, obaa!!
beijossssssssssss

Anônimo disse...

Acho que Jung passou por aqui novamente. Explico. Amanhã é dia de "Alvorada do Divino". É a abertura oficial da Festa do Divino aqui em Planaltina. Mais uma explicação (é prá ninguém ter que perder tempo pesquisando no google): antes da modernidade de JK chegar, pertenciamos a Goiás. Felizmente a tradição permaneceu, apesar dos tradicionalistas pregarem que antes era melhor. Festa popular que dura dez dias, com muita 'reza', comida (incluindo o pequi que vc tanto detesta, geróba, ou guariroba, chame como quiser), catira até de manhã e moda de viola. Claro que sem uma pinguinha não tem fé que aguente. Esse ano não vai dar prá ir, Mme Yoko não pode se permitir o desfrute. Vixe, me perdi: tem um monte de jeca na festa. Jeca no bom sentido, ingênua mais sem ser boba. O pior é que os verdadeiros jecas, no mau sentido, invadem a festa em ano eleitoral.

Lena Gomes disse...

Oi, amigo! Ainda não vim me deleitar "nas suas super hiper bem traçadas linhas"... só vim te avisar q é aniversário (hoje, 25) do nosso Personal Teacher, ok? Desculpe mas só deu pra vir agora! Beijos!!!

Dilberto L. Rosa disse...

Pela tua descrição, lembrou-me muito "A Marvada Carne", filme maravilhoso ingenuamente brasileiro... Assim que sair por aqui, darei uma boa vista! Salve, salve, flamenguista despeitado, nem comentou o textinho sobre a seleção, que é isso... O Vasco causa mesmo essas coisas!!!!! RSRS. Abração!

P.S.: tema da próxima reunião (domingo, dia 28 de maio) - A Copa do Mundo é Nossa! Como você tem se preparadop para a Copa? A Seleção é o único "time" para quem você torce? Você vibra muito com cada jogo ou convida os amigos para fazer yoga na hora de uma partida? Conte tudo no próximo domingo, que os meninos da família Morcegos já compraram a cerveja e as meninas já se enfeitaram de verde e amarelo!

Lembrando que a forma é livre, para que cada um adapte o tema ao seu jeito, ao seu blog... Ao seu futebol!!!

Anônimo disse...

Eeeh Marcão...
Como sempre te disse: O que falta ao brasil são Brasileiros!

Marco disse...

Esse filme deveria passar em todo interior brasileiro. Mas, exatamente como mostra na obra, a maior parte dos interiores do Brasil não tem mais cinema. Vamos aos comentários.

Querida gata Vendetta: Não vi esse "Concepção", mas o "Tapete Vermelho" você pode ir assistir com as minhas bênçãos.

Querida Yumi: mas já saiu de cartaz aí em São Paulo? Se saiu, espere o DVD. Você vai gostar.

Querida Angel: Seria um prazer conhecê-la. É bom saber que eu estou abrigado no seu coração.

Querida Suzy: Pois é. O Brazil não conhece o Brasil. O filme tem uma brasilidade irresistível.

Minha doce Claudinha: Eu sei que você gosta dessas histórias de roça...Aguarde as que vou contar na semana que vem. Eu adoraria vê-la cantando Romaria ou qualquer música...

Cara Claire: Fui o primeiro a escrever sobre o "Tapete Vermelho"? Beleza... O filme é muito interessante. E Romaria é uma grande canção.

Grande Mutante: Nos créditos, o Renato Teixeira é o responsável pela música do filme. E a trilha é bem legal. Pode ir ver sem susto.

Doce Marcita: Eu também admiro muito o trabalho do Mateus. Para mim, ele e o Selton Melo são os melhores atores da nova geração. Se você também acha exagerados os americanismos, imagino o quanto voc~e deve se irritar aí na sua "Miami carioca"...

Querida Giulia: Você está coberta de razão. A produção cinematográfica brasileira está de primeira qualidade. O "Tapete..." merece um tapete vermelho.

Querida Dira: Acredite: esse é MUITO melhor que o Brokenback! Pode ver e conferir.

Mano Paulinho: O Mateus passa mesmo uma impressão de ser boa-gente. Não o conheço pessoalmente mas adoraria trabalhar com ele. Não perca o "Tapete Vermelho". Com o seu conhecido gosto pela brasilidade, você vai adorar.

Querida Roby: Imagino que você aí da Suiça tenha perdido a chance de ver a moderna produção cinematográfica nacional. Temos visto coisas muito boas. Se você tem saudades do Brasil, esse filme vai te mostrar o quanto os que ficaram aqui também tem. Saudades de um Brasil que já foi.

Querida Ana Carla: Pois ande alguns quilômetros para ver esse. Você não vai se arrepender. Ainda mais morando no interior.

Querida Desirée: Sei que você vai amar este filme. O Mateus está muito bem e a Gorete Milagres mostrou que é boa atriz para composições e não está amarrada num tipo só.

Ô grande Ronie: Fiquei babando de inveja de vocês aí, no Planalto Central, que podem desfrutar ao vivo o que eu vi no filme. Puxa...Aproveite por mim. Até da cachaça, que não gosto, mas dou a maior força para você tomar uns aperitivos como o seu grande amigo Lula. Gosto de comida de roça, mas pequi e guariroba, nem morto!

Doce Helena: Já fui enviar os meus parabéns ao nosso querida personal teacher. O Paulo merece.

"Primo" Dilberto: Nada como falar com quem sabe...Rapaz! Você matou a charada. eu estava esperando algum cinéfilo dizer isso. O filme me fez lembrar muuuuito o "Marvada Carne", filme que é uma de minhas queridas antigas ternuras. Acertou na mosca, caro primo.
Quanto a participação na reunião da Família Morcegos, estou dentro! Vou escrever sobre a minha Copa do coração.
(P.S.- Você é um cara muito legal, apesar de ser bacalhoso...)

Amiguirmão Luiz: Está certíssimo. O país é lindo, mas o povinho, como diz naquela piada...

Valeu moçada! Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim.