sábado, março 04, 2006
No tapete vermelho
De maneira geral, a safra dos indicados para o Oscar não está lá essas coisas. Além dos indicados para Melhor Filme eu assisti a alguns outros concorrentes para outras categorias. E olha: o negócio está meio embaçado...
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Johnny e June tem lá os seus méritos – uma boa direção, bons desempenhos de Joaquin Phoenix e principalmente Reese Whiterspoon. É a cinebiografia de dois artistas que tiveram grande projeção lá nos USA. Tudo bem que Johnny Cash foi um dos “fundadores” do Rock, inclusive tocou em seu início de carreira com Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Roy Orbinson, estes bem mais famosos. Mas admito que tanto ele quanto sua parceira June Carter não eram dos meus conhecidos. O filme é assim, assim. Pelo menos a mim não empolgou. Mas a Reese deve levar “Melhor Atriz”.
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Orgulho e Preconceito deveria estar disputando “Melhor Filme”. De preferência, no lugar de “Brokeback...” Aí seria uma briga boa! Ele está indicado para quatro prêmios, mas só tem alguma chance em Melhor Direção de Arte. Esta produção inglesa até merecia que eu fizesse um post só para ela. É um filme magnífico, com desempenhos fantásticos, elenco afiadíssimo, com destaque para Brenda Blethyn (que faz o excelente personagem “Sra. Bennet”). Eu tenho o livro mas ainda não o li. Já está na minha mira. Recomendo a todo mundo, que gosta de um bom filme, que não perca. Nada como um filme falado no bom e velho sotaque britânico. É, definitivamente, outra história...
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Syriana – a indústria do petróleo poderia dar um bom thriller. Só que este saiu muito confuso, a gente se perde no meio da história com muitos personagens, muitas interligações. De positivo, temos uma boa discussão sobre a geopolítica internacional e como se faz um terrorista do Islã. Não vai arrumar nada no Kodak Theatre.
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Match Point para mim foi uma baita decepção. Antigamente, quando Woody Allen cismava de fazer “filme-cabeça”, só saía “Bergman de quinta categoria” (até o Walter Hugo Khouri faz melhor filme bergmaninao que ele!). Agora ele se meteu a fazer filme de suspense e virou um “Hitchcock de sexta categoria” (até o Brian de Palma é melhor que ele!). Para mim, que vi quase todos os filmes do Woody, esse nem parece filme dele. A história, eu já vi em pelo menos cinco filmes. Os diálogos são medíocres, não têm nada a ver com o brilhantismo habitual de Allen. Enfim: uma baita bola fora. Concorre a Melhor Roteiro Original, mas vai ganhar “o que a Ritinha ganhou atrás da horta numa noite de lua cheia”...
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Memórias de uma gueixa tinha tudo para ser um belo filme. Talvez na mão de um diretor chinês de primeira linha até virasse. Nessa produção do Steven Spielberg e direção de Rob Marshall, virou um xarope mexicano que eu vou te contar...
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O filme Sra. Henderson apresenta tem várias coisas que me agradam: é falado em inglês britânico, aborda o Teatro vaudeville – uma de minhas eternas ternuras – e tem Dame Judi Dench no elenco, o que é garantia de show de bola. Aliás, Judi está indicada para Melhor Atriz. Mesmo com tantos argumentos favoráveis, o filme é meio morno, não me pegou pelos olhos. Fala da história de um Teatro que existiu (acho até que ainda existe) o Windmills, que foi comprado pela sra Henderson e era administrado por Vivian Van Damm (Vivian é homem), diga-se de passagem, representado com excelência pelo sempre ótimo Bob Koskins.
Para marcar diferença, as produções do Windmills sempre traziam mulheres nuas. Por ordem do primeiro-ministro Chamberlain elas não poderiam se mover. Tinham que ficar lá, paradonas, feito estátuas de museu. O dado mais significativo do Windmills é que por estar localizado no subsolo, não era afetado pelos bombardeios, logo, não precisava fechar quando “o bicho estivesse pegando”. O slogan da Casa era justamente: “Nós nunca fechamos”. As chances de Dame Judi Dench levar o douradinho são baixas. Na verdade, para ela ganhar o Bob Hoskins teria que levar também. O desempenho dela está diretamente ligado ao dele, que nem foi indicado. Tem indicação também para Melhor Figurino, mas acho que não vai dar para a saída. Poderia ter levado uma indicação para Melhor Trilha Sonora. Aí eu até torceria.
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Em “Melhor Filme Estrangeiro”, vi Paradise Now, filme palestino, que deve causar o maior rebu na Academia de forte influência judaica. Aliás, soube que não queriam aceitar o filme inscrito pela Palestina porque esta não é país reconhecido. O filme pode fazer contraponto a “Munique” e um pouco a “Syriana”. Todos tratam de um problema que não tem solução. As pessoas envolvidas nessa luta acham que só matando vão convencer o adversário. Só que estão se matando uns aos outros há trocentos anos e não está nem perto de resolverem seus problemas.
Li sobre as dificuldades de produzirem este filme, que trata da questão dos homens-bomba. Claro que Israel não iria dar moleza para eles. Mas assim mesmo fizeram o filme, que é bem instigante. Vale uma conferida.
Vi também Uma mulher contra Hitler (eita nomezinho imbecil!), que é baseado no processo de julgamento dos irmãos Scholl, membros da organização Rosa Branca – alemães insatisfeitos com o regime nazista. Por este interessante filme comprovamos que havia um movimento de resistência gerado por alemães dentro da própria Alemanha. O filme capta bem a claustrofobia daquele regime, a arrogância de seus comandantes. E ainda fiquei sabendo que os condenados lá, em pleno século 20, foram para a guilhotina!!. Bom desempenho de Julia Jentsch, que faz a “Sophie Scholl” do título original do filme.
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Lamento pelo maravilhoso Batman Begins estar concorrendo somente em “Fotografia” (que não vai ganhar...). Merecia sorte melhor.
Em “Melhor Filme de Animação”, temos este ano os concorrentes mais fracos dos últimos, sei lá, vinte anos pelo menos. Talvez dê Castelo Animado...
Ainda estou esperando “Transamérica”, “A lula e a baleia” e outros mais. “Terra Fria” já estreou, mas ainda não vi.
Em Documentário, só vi o excelente A marcha dos Pingüins.
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Enfim, aí estão os meus comentários. Neste ano teremos uma concorrência morna. Nenhum papa-prêmios como “Titanic” ou “Senhor dos Anéis” e uma vitória anunciada: “O Segredo de Brokeback Mountain”.
Estarei torcendo pelos seguintes concorrentes:
Melhor Filme: Crash – No Limite
Melhor Diretor: Benett Miller (Capote)
Melhor Ator: Philip Seymour Hoffman (Capote)
Melhor Atriz: Keira Knigthtley (Orgulho e Preconceito)
Melhor Ator Coadjuvante: Matt Dillon (Crash – No Limite)
Melhor Atriz Coadjuvante: dureza...Qualquer uma das três – Catherine Kinner (Capote), Michelle Williams (Brokeback) e Rachel Weisz (Jardineiro Fiel) – que levar está bem entregue.
Melhor Roteiro Original: Crash – No Limite.
Melhor Roteiro Adaptado: Capote
Melhor Direção de Arte: Orgulho e Preconceito ou Boa Noite Boa Sorte
Fotografia: Batman Begins
Figurinos: Orgulho e Preconceito
Edição: O Jardineiro Fiel
Trilha Sonora: Orgulho e Preconceito
Efeitos Visuais: Crônicas de Nárnia
(Prefiro nem citar os outros prêmios, a raia miúda. Inclusive “Melhor Canção”, que tem os mais fracos concorrentes da história do Oscar...)
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Sei que não será nada empolgante. Mas estarei lá, diante da telinha, firme e forte na torcida por meus favoritos. Afinal, festa do Oscar é uma de minhas antigas ternuras...
(E chega de cinema! Voltaremos à variedade habitual)
M.S.
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13 comentários:
Bem, algumas de suas opiniões são discordantes em relação as minhas. Achei Ponto Final um filme bom, acho que Syriana leva Oscar de Coadjuvante (Clooney leva alguma coisa nem que seja na base da porrada), e eu gostaria que Munique levasse alguma coisa, já que é, junto com Boa Noite e Boa Sorte., o melhor filme concorrendo a categoria principal: Crash é, para mim, um filme pra lá de pretencioso, Brokeback é bom, mas tem melhores, E Capote é um filme compententíssimo. Enfim, vamos saber somente no domingo. Um abraço, até mais e aceite minhas sinceras desculpas pelo meu sumiço. Foi por uma boa causa.
Salve, Marcos, muito bom este seu espaço! Apesar de algumas discordâncias, também estou fazendo aposta lá no meu blog, juntamente com o Luiz - que tal fazer links para nós e juntar todo mundo? Abração!
P.S.: ah, adorei "Cauboiolas procurando o careca!" Ré, ré!!!
Grande Luiz: Eu entendi o seu desaparecimento. Claro que você deve ter tido as suas razões. espero que tudo já esteja resolvido.
Divergir é saudável e ainda nos dá motivo para debater. Sobre Ponto Final, olha, para mim que vi praticamente todos os filmes do Woody, este é muito fraco. Um argumento mais batido que milk shake do McDonald's. Justamente no quesito onde o Woody é campeão: a criatividade. Sobre Munique, acho difícil. Não vou torcer contra, mas acho que ele não leva nada. Depois de Crash - um filme de roteiro diferenciado mesmo - eu torceria por Boa Noite e por Capote, nesta ordem. Lamento muito Orgulho e Preconceito não estar nesta disputa. Cada vez mais me convenço que Brokeback é ralo e comum. Vamos aguardar o que vai rolar neste domingo. Um forte abraço!
Ô, Dilberto, prazer em tê-lo a bordo! Quanto ao link, pode deixar que já está saindo! Embora esteja tudo armado para os cauboiolas segurarem o careca, sempre existe a possibilidade de uma (improvável) zebra, não é? Ah, sim, o nome é MARCO, sem "S". Um abração e apareça sempre. Estarei de vez em quando te visitando também.
Oie!! Então, a gente REALMENTE não tem o mesmo gosto pra filme hauahuahu! Mas isso aí, vamos torcer pros nossos favoritos! Um beijooo. Obs.: Vc tem Orkut?!
E ah... também acho Brokeback mto fraquinho, depois vou postar minhas considerações no blog. bjooo
Estou mais perdido que cachorro em dia de mudança. Mas o Phillip Seymour leva em ator e bem que podia sobrar pro Jake Gyleenhaal como Coadjuvante.
Um abraço!
Marco, compartilho totalmente de suas opiniões sobre "Orgulho & Preconceito". E olha que só fui vê-lo meio que arrastado. Teria perdido um dos filmes mais deliciosos da temporada. Agora, quando você disse que seu post sobre "Brokeback Mountain" seria politicamente incorreto, não estava brincando, hein? No mais, parabéns pela "maratona Oscar" do AT. Bom Oscar! Grande abraço!
Que bom saber, Yumi, que temos gostos parecidos. Pelo que li dos seus textos no seu excelente blog, a honra disso é toda minha. Fico aguardando as suas considerações. Um beijo. (Não, não tenho Orkut)
Eu também, doce Claire. Tudo o que "Orgulho e Preconceito" estiver concorrendo terá a minha torcida. Ele só não está concorrendo a "Melhor Filme" por puro orgulho e preconceito. Da Academia. Beijão!
Grande Bruno; Você está meio perdido talvez por não ter visto todos os concorrentes ou por conta dos indicados deste ano não serem nenhuma Brastemp. mas vamos lá, sorte para os seus indicados. Um abração!
Paulo: Obrigado. Para você também, bom Oscar.
Meu Caro: De fato, sou o Cirne do IACS. O Balaio (pré-internet) começou em 1986; você já tinha se formado, então? Mudando de assinto: Numa primeira leitura, gostei bastante de seu blogue. Voltarei, claro. Quanto ao Oscar, prefiro o Oscarito. Um abraço.
Muito obrigado pelas tão honrosas palavras, Marco, obrigado mesmo! Também gostei muito deste seu espaço, e em breve o destacarei lá nos Morcegos! E vejamos quem vencerá a aposta! Abração!
Meu caro professor Moacy Cirne: Que prazer em tê-lo por aqui. Vou fazer um post especial recomendando o seu Balaio. E com direito a link e o escambau. Eu sou da turma que se formou em 1983 (turma da Alda, do Sergio du Bocage...)
Oscarito realmente vale mais que mil Oscars.
Um forte abraço!
Valeu, Dilberto: Deu Crash na cabeça e os cauboiolas sifu...
Caro Evandro: Você tem razão no seu comentário sobre a discriminação do povo da baixada quanto à programação cinematográfica. eu já morei lá e sei o que você está falando. Mas mesmo assim, como bom cinéfilo que você é, deveria fazer um esforço, pegar o possante e ir ver NOS CINEMAS os bons filmes em cartaz.
Um abração.
Oi, Marco!
Muito legal o seu blog!!! hehehe... Quer dizer que somos amigos de infância? Gostei dessa!!!
Vou linkar o seu blog no meu!!
Kisses
Ora, Fernandinha...
Com tantos pontos de contato, só consigo me imaginar como seu amigo de loooonga data! Obrigado pelo link, Vou colocar você no Outras Palavras. E volte sempre. Aqui você sempre vai encontrar minha cristaleira cheias de pequenas e antigas lembranças...Beijo procê.
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