segunda-feira, dezembro 12, 2005

Cheia de encantos mil...

Dia desses fui ao Centro do Rio, resolver uns assuntos. Atravessei a Rua Uruguaiana, da Presidente Vargas até o Largo da Carioca. Neste trajeto, que normalmente dura uns dez, quinze minutos, fiz em 40 minutos e tive experiências absolutamente marcantes. Vi um pastor exorcizando pessoas com um hip hop ao fundo, um cachorro que sabia soletrar e um cara que transformava pedaços de jornal em notas de 100, 50, 10 e um real.
Você deve estar achando que eu estou maluco, não é?
Esta experiência está ao alcance de qualquer um. Basta transitar por lá à tarde, como eu fiz.
No Mercado Popular, nome bonitinho para o camelódromo que se instalou em torno da estação do metrô da Uruguaiana, vende-se de tudo.

Acho até que quem quiser comprar um deputado ou um juiz de futebol vai encontrar lá. Pois é. Lá é possível ver uma barraquinha que vende CD pirata, especialmente de hip hop, rap e de “pancadão”, ao lado de um estande onde um pastor faz o seu culto diário, tirando o cramulhão das pessoas a base de oração e palavras de ordem. Fica assim de gente em volta.
Mais adiante, perto das Lojas Americanas, tem um cidadão que diz poder ensinar qualquer vira-latas a ler, somar e dividir.

E para provar, exibe o seu cãozinho, garantindo que ele consegue soletrar o nome de qualquer pessoa. O bicho não fala, é lógico. Colocam um círculo de plaquinhas de madeira no chão, cada uma com uma letra. O professor pergunta a alguém como ela se chama, o totó vai lá e pega uma a uma, formando direitinho o nome da pessoa. Meninos, eu vi. O cachorro formou os nomes “Elaine” e “Andréia” na minha frente. Nem eu, nem ninguém percebeu o truque. Fiquei tentado a pedir para o intelectual canino soletrar o nome “Washington”. Mas preferi não complicar a vida dele... E vamos que ele soletrasse e ainda me perguntasse: “Are you satisfied?”, com que cara eu ficaria? Esses cães de hoje em dia são muito espertos...

No Largo da Carioca, estava o inimigo do Banco Central, que transformava jornal em dinheiro. Ele também fazia uma pessoa botar um ovo e ainda fazia aparecer um pinto dentro dele, ao som de palavras mágicas e de perguntas do tipo: “você está sentindo o pinto entrar?”
Naquele mesmo dia, fui ao Unibanco Artiplex e vi uma exposição de fotos de Marc Ferrez, retratando o Rio do início do século 20. Olhando aquelas fotografias, onde pessoas tão bem vestidas, flanavam pelas ruas do Centro, fiquei imaginando o quanto a cidade mudou. Para bem? Para mal? Certamente para alguma coisa muito diferente. Às vezes eu me sinto como se fosse um alienígena que foi abduzido de um planeta da constelação de Alfa Centauri e despejado aqui na Terra. E olhasse tudo isso com cara de cachorro que caiu de mudança. E cachorro que não sabe soletrar...
M.S.

12 comentários:

Anônimo disse...

Genial... tenho q voltar pra comentar mais. Hehehe... beijos.

Bruno Capelas disse...

Como já dizia Ary Barroso... "Isto aqui ô ô , é um pouquinho de Brasil iá iá...". É esse o Brasil e não o que a gente vê nas novelas...

Um abraço!

Anônimo disse...

Marco:

Vamos começar pelo impagável,que me fez muito mais ameno neste dia já começado de Santa Luzia,e foi como a canonizada me fizesse ver a vera-efígie de tua narração:

"Fiquei tentado a pedir para o intelectual canino soletrar o nome “Washington”. (...)
Esses cães de hoje em dia são muito espertos..." Hahaha.

Sou fascinado pela condição humana que habita os centros urbanos. Lá no Recife,perambulo sem rumo pelo pitoresco bairro de São José e me deparo com tipos semelhantes ao que mencionaste aqui,num lídimo portento de descrição.

Não,rapaz. Existem iguais a Você nessa nostalgia sã... alguma coisa muito delicada. Existem sim. Procuremos.

*****

Amigo,veja quantos links tenho no ZOOM... conta-se nos dedos.

Eu penero,meu grande,eu filtro. O que me interessa são esses seres estranhos que fogem da mediocridade,análogo aos supimpas que freqüentam este terno TERNURAS.

Nota: quanto a coisas do tipo que Você citou,como a da "surfistinha" arrependida (?),apenas faço como Dante Alighieri: "Raggionar (Non) di lor,ma guarda e passa".

Bom dia,alba nublada que desponta aqui na minha cidade; bom dia,Vocês do Marco Santos, ensolarados de bom gosto!

Anônimo disse...

Faltou só os baianos com pomada de gordura de poraquê "pras juntas". Conheces? Os caras oferecem uma pomada que deixa o sujeito flexível a ponto de pular pelo interior de um aro de bicicleta com várias lâminas voltadas pro interior. E pulam. Não sem antes chamar a atenção pra outro lado, pra distrair os "olhos venenosos". Quem viu, viu. Quem não viu, só na próxima vez. Não sei o que admiro mais: a coragem, a habilidade, ou a capacidade de manter a atenção dos curiosos por quinze, vinte minutos. Conversam mais que o "homem da cobra", mas aí já são "other five hundreds".

Theo G. Alves disse...

e dizer duramente que a vida é assim...

um abraço!

Anônimo disse...

Aqui em Brasília tem vários locais desses tipo de ... mercado de rua. Neste dezembro chuvoso, o melhor está bem no centro da cidade, na calçada entre o Conjunto Nacional e o CONIC. Prá quem não conhece, o primeiro é o shopping mais antigo da cidade, o segundo é um conjunto de prédios geminados que se transformou em centro de cultura. No meio do caminho, à esquerda, tem a Plataforma Superior da Rodoviária, à direita, a Torre de TV. Descrição feita, vamos ao que interessa: ao lado das piratarias onipresentes, co-existe um impressionante mercado de frutas. Goiabas, uvas, mangas, pêssegos, jaboticabas e, o sucesso do planalto, pequi. Tem pequi por todos os lados. Dono de um aroma inconfundível, acompanha bem arroz e galinha caipira. Pode ser servido, também, com açúcar ou farinha de mandioca: vai do gosto do freguês! Até o final de fevereiro é o que há: pequi por todos os lados.

Anônimo disse...

oi...testando

Anônimo disse...

parece que deu certo

Anônimo disse...

deu certo

Marco disse...

Helena: Volte...Você sabe, a casa é sua...
Mutatis: Tem razão. Isso não passa na TV. Cada vez que eu vou ao Centro, vejo coisas do arco da velha.
Paulinho grande Patriota: Não sei o porquê mas acho Recife muito parecido com O Rio. Tipos como estes devem ter aos muitos por aí, não?
Lúcio: O "homem da cobra" normalmente fica nos arredores da Central do Brasil. Ele vende pomada do peixe-boi ou qualquer outro medicamento que levanta defunto e outras partes da anatomia humana. O que pula pelo aro cercado de facas faz ponto no Largo da Carioca.
Theo: Que bom tê-lo por aqui! Pois é. Como diria Nelson Rodrigues, "a vida é assim".
Ronie: Pequi? ARGH! Uma vez, eu estava em Goiânia e me deram para experimentar arroz com pequi. Parecia que eu estava comendo arroz com gasolina! Cruz credo!
Claudinha: Viu como deu certo?Valeu, amigos! Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim! Até o ano que vem!

Anônimo disse...

Marco, o pequi tem sabor forte, admito (imos). Mineiros, goianos e demais cerradenses já nascem consumindo, então fica mais fácil. Você deve ter provado um arroz saturado de pequi, extra hard. Recomenda-se começar aos poucos, com moderação na quantidade. Ah, também experimentei o gosto de gasolina que você sentiu. Vale a pena insistir, na medida do próprio paladar, claro. Assim, você poderá entender a razão de existir crianças "do tempo do pequi". Explico: o óleo é altamente energético. Logo, afrodisíaco.

Anônimo disse...

Querido, o pior é saber que muito humano não sabe soletrar nem o próprio nome, imagina os de outros...rsrsrs... beijos de mim