quarta-feira, novembro 09, 2005

Allons enfants de la patrie!


1789: a França arruinada vê a burguesia e os trabalhadores clamarem por reformas que acabem com o Absolutismo para instaurar um governo constitucional que proporcione liberdade, igualdade e fraternidade. A nobreza e o clero resistem e em 14 de julho uma rebelião popular derruba o rei Luís XVI.
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1871: Estoura a Comuna de Paris. A Comuna era composta por conselheiros municipais eleitos nos bairros da cidade. Seus membros eram operários, membros do proletariado que resolveram se insurgir contra o Estado burguês corrupto. Eles pregavam o fim do exército permanente e a quebra do poder da Igreja, afastando-a inclusive dos colégios e universidades, para que o saber científico proliferasse longe dos dogmas retrógrados. Durou cinco dias. Foram esmagados pelas forças do Estado, que romperam as barricadas postas nas ruas da capital.
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1968: Quase cem anos depois da Comuna de Paris, barricadas foram novamente erguidas nas ruas da cidade-luz. Estudantes universitários influenciados pelas idéias de Proudhon, Lênin, Lacan, Sartre, Barthes ocupam as ruas pregando uma revolução utópica que acabasse com o conservadorismo do Paris. Incitados por pichações nos muros, como as famosas “Corre, camarada, o Velho Mundo está atrás de ti” e “É proibido proibir”, estudantes esquerdistas tentavam atrair trabalhadores e camponeses para a sua luta. Foram vencidos nas ruas e politicamente.
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2005: Na atual França globalizada, carros são incendiados e a polícia é recebida a bala nos bairros da periferia de Paris. Há uma vaga motivação baseada na fratura social que marginaliza imigrantes e seus filhos, tratando-os como cidadãos de segunda classe. Mas o certo é que gangues de rua, baderneiros, vândalos urbanos aderiram e tomaram de assalto as ruas e o movimento está se alastrando por outras cidades francesas. Não há líderes, nem reivindicações objetivas. Apenas o gosto pela adrenalina da destruição. Somente, e tão somente, pelo prazer de destruir.
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Como diria Cazuza: “ideologia, eu quero uma pra viver”.
M.S.

7 comentários:

Anônimo disse...

Nestas horas, deve-se aplicar o que a Democracia determina: restituição do Estado de Direito imediatamente. Polícia neles!

Anônimo disse...

Meu caro Marco:

Em meio a tanta labareda do desencontro,seria bom parar um poucochinho para relembrar Jacques Brel:

"(...)Esquecer o tempo dos mal-entendidos
E o tempo perdido a querer saber como
Esquecer essas horas,
Que de tantos porquês,
Por vezes matavam a última felicidade"(...)

("Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheure")

Regenere-se a dignidade na França.

Você sempre de olho no furacão humano...

...E boa quinta-feira,se Deus quiser.

Marco disse...

Pois é, Ronie. A polícia já está fazendo isso. Mas o problema é que a Europa está assentada numa bomba que a qualquer hora vai explodir (já está explodindo). A globalização disseminou o que há de ruim na natureza humana. O atual problema da França é a ponta do iceberg. Tenho parentes na Suiça. E me dizem que nunca a vida por lá esteve tão pior. Refugiados de outros países, especialmente da antiga Iugoslávia, levaram o caos urbano para a tranquila terra do chocolate, do relógio de pulso e dos depósitos do caixa 2 brasileiro.
Paulinho grande Patriota: belas (e proféticas!) palavras de Brel. A última esperança estertora. Mas espero que seja como samba, no dizer de Nelson Sargento, que agoniza mas não morre.
Um forte abraço aos dois.

Anônimo disse...

E eis que a França incendeia...
mais uma vez.
Não acha que nós, brasileiros poderíamos fazer mestrado por lá.
Quem sabe a gente acorda
beijos....

Marco disse...

Já está mais que na hora de acordarmos do berço esplêndido. Beijão, Claudinha.

Anônimo disse...

Muito bacana teu blog! Bons textos e visual pra lá de agradável! Gostei bastante!

Marco disse...

Valeu pela visita, Marcelo e apareça quando quiser. Como diria Cazuza, aqui você vê "um museu de grandes novidades". Abração!