Estava eu no vagão, pensando na morte da bezerra, quando entrou um cidadão gritando esta frase. Eu tive que rir. Não satisfeito, ele emendou a segunda: “Mulher feia é igual a ventania: só quebra galho!” Eu ri um pouco mais alto. Aí ele emendou a terceira: “O dia que suor tiver valor, sovaco de pobre seca”. A esta altura eu já estava gargalhando. Eu sou assim: se eu acho alguma coisa verdadeiramente engraçada eu rio sem me segurar. Mas se eu não acho graça, não há Cristo que me faça rir. Por isso não gosto de ver “A diarista”, “Sob nova direção”... Não consigo sequer esboçar um sorriso com essas besteiras.
Mas o homem que entrou no trem, anunciando uma revista com uma seleção das melhores frases de pára-choques e de cara me ganhou. Custava só um real. Irresistível.
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Desde pequeno, sempre gostei destas gotas de sabedoria popular. Onde eu morava, tinha um caminhão (do Seu Valdemar) onde ele escreveu no pára-choque: “Um dia tropeçarás no teu orgulho e cairás nos meus braços”. Aqui pra nós, é bonito pra caramba, não é? Tenho de confessar: já usei esta pérola como cantada. Não arrumei nada, mas ela sorriu.
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Até chegar ao meu destino fui lendo a revista e me deliciando com as máximas que o povo cria, adapta ou copia. Sei que teve gente que fez até tese de mestrado sobre frases de pára-choque de caminhão. Mas são ótimas, mesmo. Uma espécie de filosofia universal. Algumas são claramente inspiradas em filósofos, como a socrática: “Só sei que não sei de nada...” Outras, poderiam ser assinadas por um Platão, um Aristóteles, vejam se não: “Quando nosso amor virar cinzas, lembre-se que eu mandei brasa.” ou “Tantos pedestres, tão pouco tempo.” Olha que coisa mais cartesiana, do tipo “penso, logo existo” que “Tudo na vida muda, até a surda muda” e “Rico acompanha procissão, o pobre persegue o santo”.
Diga-me com sinceridade se Schopenhauer, com todo o seu niilismo, não poderia dizer: “Tivemos 500 anos para aprender...E ainda deu errado!”
Existe toda uma lógica formal na frase: “Mulher é igual a lençol: da cama para o tanque, do tanque para a cama.” Só não vê quem não quer.
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Eu me orgulho do meu povo em saber que caminhões brasileiros estão correndo pelas estradas, levando escrito no pára-choque delícias como: “Jesus salva!...E passa para Moisés que chuta e é goooooooollll...” A força da modernidade globalizada inserida na sentença: “É nóis no DVD, porque fita é coisa de pobre...”
E o amor filial, tão decantado entre caminhoneiros, que pode ser verificado na frase: “Devo tudo à minha mãe, mas já estou negociando.”
Nenhuma sinalização de trânsito poderia ser mais pragmática e com mais conteúdo simbólico do que: “Você deve ter mais cuidado ao ultrapassar que o Capitão Gancho ao coçar o saco”. E por falar em pragmatismo, temos esta pérola de objetividade: “Quem dá aos pobres nunca será uma bicha rica”.
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Não tem jeito: “Quem gosta de motorzinho é dentista”. Afinal de contas, “Bom mesmo é dinheiro, muié e bicho de pé”.
E frase de pára-choque caminhão. É claro.
M.S.
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4 comentários:
oi... não estou sumida, estou sem tempo e agora com o pé torcido... de molho, em casa. Mas tb não dá pra ficar muito no pc...
Adorei as frases, mas dou risada com A diarista, muito de vez em quando, e com Sob nova direção também.
Adorei a frase do DVD, e a da goteira. E acrescente aí mais uma: Tudo na vida passa. Até uva passa!!! Adoro essa!
Beijos.
Você precisa ver a revista! Tem cada uma fantástica! Olha só: "Se chiar resolvesse, sal de frutas não morria afogado."
Melhoras, tá?
essa foto está demais Marco!!
Oiiiiii, obrigada. Adorei falar com vc... vozeirão... hahaha... falando sério (se é q é possível), essas frases estão "felomenais"... continue "publicando"! Beijos!
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