terça-feira, março 29, 2005

Carne Crua desafia o Capitão Marvel

Ontem eu passei numa banca de jornais para comprar o exemplar do mês da revista "História Nossa". Enquanto eu esperava o jornaleiro fazer o troco, olhei em volta para ver se tinha alguma outra novidade e percebi que a banca toda estava externamente coberta por revistas de mulher nua (vários títulos). Minha primeira impressão foi a de estar em um açougue, com diversos tipos de carne pendurados nos ganchos. Nenhuma novidade. Este tipo de revista já existe há muito tempo e inunda as bancas com a exposição de moças saradas em academias e nos photoshops da vida. Mas naquele pentelhésimo de segundo a espera do troco, eu me lembrei das bancas de jornais da minha infância/adolescência, lá em mil-novecentos-e-não-vem-ao-caso.
Naquela época, quando ia até uma banca de jornais, meus olhos juvenis se deparavam com uma infinidade de gibis de super-heróis e eu, maravilhado, contava e recontava os caraminguás, obtidos com sobras de mesada e frutos da minha iniciativa financeira (leia-se: venda de garrafas de refrigerantes vazias e algum alumínio/cobre/metal que tivesse conseguido e vendido nos ferros-velhos de antanho). Minha dificuldade era escolher, entre tanta oferta, qual super-herói eu iria levar para casa: Fantasma, Mandrake, Capitão América, Príncipe Submarino, Super-Homem, Superboy, Cavaleiro Negro... ou, o meu sempre favorito Batman.
Era o que revestia as bancas de jornais da minha infância: gibis de super-heróis. Hoje, não costumo ver crianças em bancas. Os gibis estão raros e caros. E adolescente quando entra numa banca, quase que invariavelmente pega revistas de televisão (se meninas) ou pega as "Sexy", "Playboy" e congêneres (se meninos). Não é preconceito, é estatística.
Antigamente, as bancas exibiam revistas que defendiam valores como bravura, honra, sagacidade. Hoje, mostram publicações em que o forte é desejo, tesão e invasão de privacidade.
Veja bem. Não estou fazendo nenhum comentário moralista. Diria que é um comentário "conformista". Sei muito bem que os tempos são outros, o público consumidor é outro, as mentalidades também.
Tudo isto é só uma constatação de que o que me movia para as bancas de jornais da minha adolescência era, por exemplo, aquela música do "Clube dos Super-Heróis Marvel":
Erga a cabeça
Altivo no andar,
Nunca se aborreça
Sorria do azar
Por mais que você cresça
É sempre bom lembrar
Que é melhor ser assim
Em tempos atuais, creio que uma das músicas que melhor define a ida às bancas é:
Baba, baby, Baby baba...
Não entro no mérito de qual época é melhor. Você, que me dá o prazer de ler, que faça a sua escolha. Talvez exista aquele que considere esta conversa como ociosa, visto que nada vai mudar, a Carne Crua venceu a luta contra o Capitão Marvel.
Mas a minha ida ontem à banca de jornais me deu a oportunidade de refletir em todas estas coisas. E isto nunca será ocioso. Como disse certa vez Millôr Fernandes, "livre pensar é só pensar". E foi o que fiz. Livre pensei.
M.S.

Um comentário:

Natalia disse...

Muito bom esse comentário, acho que assim como eu, muitas pessoas também refletiram sobre ele.