O mundo esportivo e espectadores que acompanham a Copa do Mundo andam estarrecidos com o comportamento do técnico da Seleção Brasileira (cargo que muita gente diz ser o segundo mais importante do Brasil, abaixo somente do presidente da República...) que parece não ter papas na língua e vocifera cobras e lagartos contra a imprensa ou quem mais ele elege para ser seu inimigo (pode ser um outro jogador ou mesmo uma equipe inteira).
*
Pois é. Uma boa oportunidade para voltarmos com a seção “A origem de expressões cotidianas que não sabíamos de onde vinham”. Faz tempo que eu não escrevo sobre isso. E a escolhida da vez é justamente:
Não ter papas na língua.
*
(Mas antes, que tal ouvir, enquanto lê este texto, mais uma obra do nosso cancioneiro popular que a minha, a sua, a nossa Rádio Antigas Ternuras – a Rádio que toca no seu coração - traz até você.)
*
Isso se diz de uma pessoa que habitualmente fala com excessiva franqueza, sem se conter, doa a quem doer. Como se sabe, uma pessoa muito franca, via de regra, costuma ser extremamente rude, pois não utiliza filtros sociais que facilitam a convivência interpessoal.

Podemos dizer que o citado Dunga se enquadra neste caso. E mais: ele tem demonstrado um comportamento ressentido, como se guardasse uma mágoa forte de alguém, ou de um coletivo de “alguéns”. Há quem diga que ele nunca perdoou a imprensa por ter denominado como “Era Dunga” a malfadada - para o Brasil - Copa de 1990. Ele já teve uma oportunidade de desabafar esta mágoa que lhe oprime o peito por ocasião da entrega da taça de 1994. Historicamente, o Bellini (1958) levantou a taça, sorriu e agradeceu; o Mauro (1962) sorriu e agradeceu; Carlos Alberto (1970) sorriu e agradeceu; o Cafu (2002) sorriu, agradeceu e fez declaração de amor à esposa. Já o Dunga, virou-se para as câmeras e começou a vociferar impropérios. Pois é... “Cada um dá o que tem dentro de si”, já dizia minha finada avozinha.
*

Mas, com mil vuvuzelas, qual é a origem da expressão?
De acordo com o filólogo João Ribeiro, a expressão provavelmente vem do espanhol “no tienes pepitas en la lengua”. E pepitas, no idioma de Cervantes, de Don Quixote e Maradona, é uma película chamada pevides, que costuma revestir a língua de algumas aves, o que lhes traz problemas até para beber água. E pevide também pode ser um tipo de disartria em que o infeliz que padece desse troço fica com dificuldade de pronunciar articuladamente palavras com R. Quero crer, que diziam ter pepitas, os que tivessem dificuldades para falar. E não tê-las significava poder falar livre e desimpedidamente. Posteriormente, o pepitas virou papas, que em espanhol é batatas. Ainda assim, o sentido semântico da expressão está mantido, uma vez que falar parecendo ter batatas na boca é um impeditivo, uma dificuldade para quem quer se comunicar.
*
Olha que tem hora que dá vontade de enfiar uma batata na boca do Dunga, para impedi-lo de falar as asneiras que ele costuma dizer.
*

Aliás, uma coisa curiosa o apelido de “Dunga” que lhe pespegaram. No sul, “dunga” é gíria para pessoa metida a valente. Creio que o epíteto do ogro brasileiro venha daí. Mas “Dunga” é também o nome do simpático anão da turminha da Branca de Neve. Conhecendo a personalidade do técnico da seleção e lembrando do personagem do conto dos Irmãos Grimm, magistralmente representado no célebre desenho animado produzido por Walt Disney, em 1939, vemos que o Dunga não tem nada a ver com o Dunga. Um é antipático, o outro é gentil. Um fala cuspindo marimbondos, cobras e lagartos, o outro nem fala, nem faz esforço para falar, comunicando-se de outra maneira. Um parece que vive chupando limão, o outro está sempre rindo.
*
O mais curioso é que no original, o anão sem barba do séquito da Branca de Neve se chama “Dopey”, palavra que, verifiquei em vários dicionários, significa “stupid, foolish, silly, clumsy” (estúpido, idiota, tolo, desajeitado). E eu pergunto a vocês que me leem: estes adjetivos cabem perfeitamente no Dunga ou no Dunga?
M.S.
***********************************************
P.S. – 1: Este post já estava pronto quando recebi um e-Mail cujo título é: “O Dunga enfrenta a Rede Globo – Merece uma estátua”. A mensagem conta uma história esquisita, envolvendo a Fátima Bernardes, a Rede Globo, dizendo que o técnico da Seleção “lavou a honra dos brasileiros, mijando (sic) na emissora toda poderosa”. Por conta disso, o texto brada “Viva o Dunga” e conclama todos os brasileiros a passarem um dia sem sintonizar na Globo, como desagravo ao rapaz corajoso. Para mim, o texto é ridículo. Não tenho nada a favor da Globo (praticamente só vejo TV a cabo), mas também não tenho nada contra os funcionários que trabalham lá e são tão dignos como qualquer pessoa. Não concordo, de jeito nenhum, que o Dunga mereça uma estátua por ter destratado o Alex Escobar aos palavrões diante dos jornalistas do mundo inteiro.
***********************************************
P.S. 2: Este post já estava pronto quando vi na TV o Dunga pedir desculpas ao “povo brasileiro” por seu destempero, por ter falado palavrões diante de todos. Sinal de que foi aconselhado e bem assessorado a voltar atrás em seu comportamento. E ele fez da mesma forma que o Maradona, que quando classificou a Argentina aos trancos e barrancos, mandou os jornalistas “chuparem” um negócio aí e depois pediu desculpas ao “povo argentino”. Para mim, ambos jogaram para a torcida. Mas sempre é melhor pedir desculpas e reconhecer que pisaram na bola do que chutarem as canelas dos outros. Mas o meu texto acima está mantido. Mesmo com o ogro brasileiro dando uma de Schrek.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Marisa Monte cantando “Esqueça”.